Marlene estava encarando a parede repleta de fotos antigas absorta. Havia se perdido nelas há algum tempo, e se divertia com os retratos em preto-e-branco que se mexiam por cima do console da lareira. Ela estava naquela sala da sede da Ordem da Fênix pela primeira vez, já que era uma integrante da Ordem há pouquíssimo tempo.

Ela assustou-se quando a porta de madeira abriu-se inesperadamente, dando lugar a um homem alto e de ombros largos que lhe lembrava muito alguém conhecido.

- Quem é você? – o homem perguntou, estacando no meio de seu caminho até um enorme armário de carvalho ao fundo da sala.

- Marlene McKinnon – ela falou, séria, apesar de ter achado graça na atitude defensiva do homem – E você?

Ele hesitou.

- Black. Sirius Black – e estendeu a mão, claramente constrangido.

Marlene apertou a mão à sua frente, segurando-se para não rir. No momento em que tocou a mão de Black, ela viu um lampejo, e lembrou de algo que acontecera há muito tempo.

Uma Marlene jovem, de aproximadamente 13 anos, estava correndo por um largo corredor com paredes de pedra. Estava vestida com o uniforme de uma escola, que a Marlene atual reconheceu como sendo de Hogwarts. Segurava alguns livros na mão, e arfava por causa da corrida. De repente, ao virar um corredor, colidiu fortemente com algo à sua frente e caiu, tentando diminuir o impacto com o chão com as mãos. Seus livros caíram no chão com estrépito.
- Me desculpe – falou um garoto de olhos cinzentos e profundos – Mas, sabe, quando se está correndo pelos corredores é melhor olhar por onde anda – ele sorriu e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
- Eu estava olhando,mas você se materializou do nada! – Marlene resmungou, massageando os pulsos e aceitando a ajuda.
- Ninguém pode se materializar do nada aqui em Hogwarts – o garoto revirou os olhos, e recolheu os livros do chão – Você devia saber disso.
- Você entendeu o que quis dizer. E obrigada, ah... – ela falou, apanhando os livros.
- Black. Sirius Black – ele falou, e mostrou um sorriso branco e charmoso – E você?
- Marlene McKinnon – ela respondeu, colocando o cabelo castanho para trás da orelha, nervosa – Bem, Black...
- Sirius, por favor – ele interrompeu.
- Sirius, obrigada, mas estou com pressa. Estou atrasada para Transfiguração.
- Percebi a pressa. Mas vá, vá logo, a Minerva é dura – ele sorriu de novo.
- Prazer em conhecê-lo! – ela gritou, já correndo.

- Espere... O Sirius Black de Hogwarts? – Marlene arregalou os olhos incrivelmente azuis.

- Sim... Porque?

- Por nada. É que... Nós nos conhecíamos, da escola. Eu... Era amiga de Lily – ela quase não consegui falar.

- Ah. Desculpe, não me lembro de você – ele desviou os olhos dos dela e foi até o armário – O que está fazendo aqui? – ele perguntou, mais gentilmente.

- Eu sou nova aqui. Estou esperando para saber quem vai ser meu parceiro em uma missão.

Sirius subitamente parou de mexer no armário, e suas costas se enrijeceram.

- O que foi?

- Nada, nada. Apenas não achei o que precisava – ele sorriu pela primeira vez, ainda que nervosamente – Acho que me lembro vagamente de você, de quando James e Lily começaram a...

Mas antes que ele pudesse terminar de falar, a porta se abriu e um homem de baixa estatura chamou:

- Marlene McKinnon? Dumbledore está te esperando, venha comigo.

- Obrigada – a moça falou e acenou para Sirius ao sair pela porta.

Alguns dias depois...

- McKinnon? – Sirius exclamou, incrédulo - i Você /i vai ser a minha parceira?

- Bem, eu também não estou propriamente satisfeita com isso, mas... – Marlene deu de ombros.

- Amber não vai gostar nada disso... – ele resmungou.

- Amber?

- Minha namorada.

- Ah... Estranho, sempre imaginei que você fosse do tipo que nunca se amarrasse, e agora está submisso a uma mulher – Marlene riu.

- Eu não sou submisso a ela, apenas...

- E você não é o único com problemas relacionados a isso – Marlene interrompeu-o, mostrando uma aliança de noivado.

- Bem, menos pior. Assim, se você for fiel, fica um pouquinho mais fácil resistir ao meu charme – ele sorriu.

- Ah, finalmente estou vendo o Sirius Black convencido de quem todos falavam! – ela riu.

- Eu não sou convencido... Mas penso que vai ser muito difícil para você resistir a mim nos próximos dias em que passaremos naquela casa.

- O que? – ela perguntou, confusa – Desculpe, ainda não me deram as instruções para essa missão.

- Tudo bem, eu é que tenho de fazer isso. Nós vamos passar alguns dias disfarçados numa pequena aldeia bruxa onde há suspeitas de que Voldemort esteja reunindo seus seguidores. E temos de convencer a todos de lá que somos um casal comum, que está lá para férias ou temporada – ele falou, sério.

- Casal?

- Sim.

- E... Por quanto tempo?

- Até descobrirmos se as suspeitas são verdadeiras ou não.

- Ah, ótimo – Marlene revirou os olhos e sentou-se a uma cadeira perto da lareira. Ela e Sirius estavam naquela mesma sala em que se reviram há alguns dias, e que agora ela conhecia tão bem.

Marlene preocupava-se com o que seu noivo, Andrew, diria sobre isso. Ela mordia o lábio e enrolava o cabelo castanho entre os dedos, visivelmente transtornada.

- McKinnon? McKinnon? – Sirius chamou-a - Marlene? – aumentou a voz, e ela despertou.

- Quê?

- O que foi?

- Nada, nada.

Marlene deixou seu queixo e suas malas caírem. Ela e Sirius haviam acabado de aparatar em frente à tal casa de campo em que viveriam nos próximos dias.

- É nessa... "Casa" que vamos morar? Está certo disso? – ela virou-se para Sirius, que estava tão transtornado quanto ela.

A casa estava longe de ser pequena; pelo contrário, era enorme e imponente. Mas o problema não era esse. O lugar estava literalmente caindo aos pedaços. As tábuas de madeira estavam maltratadas pelos efeitos do sol e da chuva, e muitas pendiam quase soltas, sustentando-se como que por magia.

- Vamos entrar e ver como está tudo lá dentro – ele falou, engolindo em seco e apanhando suas malas do chão. Marlene fez o mesmo e o seguiu, subindo as escadas que levavam à varanda da casa.

Sirius caminhou até a enorme porta, também de madeira, e enfiou a chave que tinha nas mãos na fechadura. Esta sequer entrou, pois ambas, a fechadura e a chave, estavam enferrujadas. Eles se entreolharam. O moreno afastou-se, arregaçou as mangas, e bateu com o corpo na porta fortemente. A madeira estremeceu levemente, mas permaneceu firme.

- Ótimo, a única parte da casa que ainda é resistente é justamente a que precisamos que seja mais frágil – Marlene revirou os olhos e passou a mão nervosamente pelo cabelo.

- O único jeito é usar magia – falou Sirius, apanhando a varinha.

- Espere! – ela falou, segurando a mão dele que pegara a varinha e olhando em volta preocupada.

- O que foi? Esqueceu que estamos em um povoado bruxo?

- Ah... É, é verdade. Desculpe.

Sirius abriu a porta com um aceno da varinha e imediatamente uma lufada de ar os atingiu. Era uma mistura de madeira podre, poeira, e algo que ficou fechado por muito tempo.

Eles entraram na casa e Marlene abriu todas as janelas também com sua varinha. Assim que o interior do local foi iluminado, vários sofás, poltronas, mesas e cadeiras cobertas por lençóis imundos foram reveladas. Eles caminharam até a cozinha e viram que esta, como a casa, algum dia já fora bonita, mas isso deveria ter sido há muito tempo.

- Nós vamos ter muito trabalho para tornar isto aqui habitável – Marlene gemeu quando descobriram que no andar de cima havia apenas um quarto com cama de casal, e que apesar do que parecera por fora a casa não era tão grande assim.

- Ao menos podemos usar magia, o que torna tudo mais rápido – ele tentou ser otimista.

- É, mas sou uma negação em feitiços domésticos.

- Vamos ter de nos virar.

- AH! – um grito agudo e muito alto foi ouvido no andar de cima. Em um segundo Sirius já estava lá, com um estalo.

- O que foi?

- Acho que tem um rato ali! – Marlene apontou um canto sombrio do quarto, apavorada.

- É só isso? – ele perguntou o mais pacientemente possível.

- Como 'só'? Aquele rato é enorme e mais desprezível que o normal!

- E pra que serve mesmo uma varinha?

- Sirius, eu não vou usar uma maldição imperdoável! Mesmo num rato.

- Eu não estou falando disso – Sirius falou, irritado – Por que não usa o que aprendeu em Transfiguração?

- Acha que eu prestava atenção nas aulas de Transfiguração? – ela ergueu uma sobrancelha.

- Tudo bem, deixe que eu faço – ele falou, indo até lá e murmurando algum feitiço. Em seguida voltou e entregou uma pequena caixa ornamentada por fora.

- Você prestava atenção às aulas de Transfiguração?

- Não, nunca precisei – ele deu de ombros, e saiu.

- Obrigada! – Marlene gritou, e abriu a caixinha. Ah, era apenas mais uma daquelas de guardar jóias. A morena deu de ombros, e guardou o presente na mala.

Ao final do dia, a casa não parecia mais a mesma. A madeira gasta fora restaurada e pintada de branco, o interior estava limpo, arejado, e parecia novo. Havia cortinas nas janelas, tapetes no chão, e lençóis na cama.

Marlene saiu para admirar o resultado. Haviam feito um ótimo trabalho ali. Acenou a varinha na direção de um balanço de madeira caído na varanda, e de repente ele estava consertado e pintado de azul.

Ela fechou o casaco e foi em direção ao povoado. Depois de alguns minutos andando, avistou pequenas casas com fumaça saindo de suas chaminés. Sorriu. Aquele lugar parecia ter saído de um romance trouxa, calmo e pequeno. Esperava sinceramente que as suspeitas da Ordem estivessem erradas. Por mais que quisesse sucesso em sua primeira missão de verdade, andando pelas ruas estreitas e vendo as criancinhas brincando nas ruas e as pessoas andando e conversando calmamente, desejou que aquele lugar permanecesse daquele jeito para sempre.

Entrou em um pequeno mercado e comprou todo o tipo de comida que achou; desde pães e geléia, até algumas frutas como melancia. Tudo o que poderia servir de alimento durante a estada dela e de Sirius ali.

Voltou rapidamente para casa, já que já estava escuro.

- Sirius! Comprei algumas coisas para comermos! – ela gritou, enquanto guardava as coisas na cozinha.

Ela estranhou o silêncio, e procurou-o na sala. Não estava. Subiu as escadas, mas ele também não estava no andar de cima. Marlene sentou-se na cama macia e imaginou onde ele poderia ter ido, mas então ouviu uma porta se abrindo no corredor e ele entrou no quarto molhado, apenas com uma toalha amarrada à cintura.

Marlene prendeu a respiração e desviou o olhar, ao ver a barriga e tórax perfeitamente definidos, como se desenhados, que o moreno tinha.

- Marlene? Por onde andava? – ele sorriu de leve ao perceber o que causara na mulher.

- Fui ao povoado comprar comida – ela respondeu, ainda olhando para todos os lados, menos para ele – Me desculpe, eu não...

- Tudo bem. Já guardou tudo lá embaixo?

Ela balançou a cabeça.

- Então vou comer, estou faminto – Sirius falou, indo em direção à porta aberta – E você já pode olhar – falou, fazendo Marlene corar com uma adolescente boba antes de sair.

"Por que Andrew não pode ter um corpo assim?" , ela pensou, antes de entrar no banheiro.


N/A - Apenas mais uma fic minha, água com açúcar, sem nada demais. A grande novidade é: eu não gostei dela caso alguém não tenha percebido, estou sendo sarcástica. Maaaas, como minha beta me encorajou a mandar a fic pro challenge mesmo assim, e como não custava nada... Aí está!


N/A2 - Quem diria que eu ganharia o primeiro lugar, hein/feliz/ Espero que gostem da fic!

Beijos,
Litxa