Damon recostou-se à sua poltrona, pousando a pena sob a folha de linho de seu diário encadernado em couro marrom. Sua mão direita alisou o pescoço pálido, dedilhando despreocupadamente as pequenas marcas na região. Marcas de dentes.
Os dentes brancos e afiados de Katherine deixavam várias marcas em seu corpo. As marcas de amor, pensava ele. Mas não somente nele. Stefan também continha as mesmas pequenas marcas em seu pescoço.
Seu sangue palpitava cada vez que pensava em Katherine e Stefan juntos. Isso o incomodava muito, como uma coceira que era impossível de alcançar, uma ferida não cicatrizada que nunca se curaria.
E Stefan...
Aqueles lábios bem desenhados, combinando perfeitamente com o rosto inocente lhe causavam sensações engraçadas. Os olhos verdes brilhantes que escondiam toda a inocência que todo o irmão caçula tem de ter.
Saber que Katherine estava interessada, tanto nele, quanto em Stefan, lhe dava uma sensação de ciúme. Sabia muito bem que se aqueles pensamentos impuros fossem parar nos ouvidos de seu pai, ele seria condenado à morte.
Observou a enorme janela de fronte a escrivaninha de madeira envernizada. O sol brilhava de forma regular sob a grama bem aparada, alguns pássaros cantavam e voavam sob a fonte de pedra branca bem na porta de sua casa. Damon podia ouvir os pingos de água caíndo sob a rocha, e, bem ao fundo, o riso doce de Katherine.
Os olhos aguçados de Damon se ergueram ao ouvir a voz de seu irmão e Katherine. Passeavam de mãos dadas pelo jardim, conversando. Katherine com seus cabelos louros platinados, caindo soltos e lisos por seu cólon branco-pálido, escondido sob o tecido rosa claro de seu vestido. Os olhos azuis safira transbordavam inocência.
Stefan mexia em seus cabelos castanhos, ajeitando-os. Seus lábios estavam presos num sorriso fraco, porém, sincero. Os olhos verdes passeavam pelo rosto delicado de Katherine, examinando suas expressões, enquanto ela própria desenhava com um cuidado especial seu queixo másculo com as mãos cor de leite, escondidas sob luvas de renda.
Katherine e Stefan pararam perto da enorme árvore do jardim. As mãos delicadas de Katherine passeavam pela camisa de linho do maior, à procura de sua pele amorenada. Dedilhou as covinhas de seu rosto, puxando-o de encontro ao seus lábios.
Damon observou a cena atentamente, como se estivesse analisando o que seu irmão fazia, vendo como eram delicados seus movimentos contra o corpo pequeno de Katherine, de como suas mãos desenhavam as pálidas maçãs de seu rosto e desciam por sua cintura fina coberta pelo espartilho rosa bebê.
Aquilo era demais... Não conseguia pensar. Sabia muito bem que Katherine tinha uma afeição parecida (ou senão igual) por ambos, e ele sabia. O tanto que ela o amava, era o mesmo que Stefan.
E isso o irritava.
Muito.
Não por ela. Mas saber que Stefan estava sendo usado e cobiçado era demais para sua cabeça. Por saber que aquele rapaz inocente era levado para um caminho sem volta na trilha sanguinária de Katherine... E não havia como impedí-lo.
A menos que... Sim, ele sabia que se Katherine morresse, Stefan ficaria muito zangado e seu coração, mesmo gelado daquele jeito, não aguentaria vê-lo ser consumido lenta e dolorosamente pela ira. Tudo por uma mulher, isto é, se ela fosse considerada humana.
Katherine era a coisa mais bela de Veneza. Com seus olhos azuis brilhantes que transbordavam a mais pura e cativante inocência, os cabelos louros platinados perfeitos, caindo sob seus ombros branco pálidos num tom uniforme, as pequenas mãos delicadas onde descansava no dedo médio, um anel com uma pedra lápis-lazúli linda, adornada por pequenos detalhes em ouro.
Damon Salvatore sacudiu os ombros largos, apoiando as mãos na sacada, fingindo que observava algo que ia além da árvore onde Katherine e Stefan estavam, mas não podia... A apaziguante montanha ao longe era quase um sonho esquecido, comparado com a queimação na boca de seu estômago, algo diferente de tudo que já sentira a respeito do irmão...
Ciúme.
Não por ele estar com ela... Damon sussurrou a si mesmo, mas ela estando com ele o incomodava. Muito. E sabia que aquilo era errado, mas simplesmente... Não se importava.
