EU QUERIA QUE FOSSE NATAL TODOS OS DIAS!
Capítulo 1
Aquele dia estava,sem dúvidas,a maior correria do ano.É claro que na semana natalina,as pessoas parecem ficar trinta vezes mais ativas do que o normal,e isso acaba deixando todos irritadíssimos.
E com a gente não foi muito diferente.
Para fazer o papel da "boa amiga",aceitei o convite de Keiko para ir até o mercado comprar as guloseimas para a noite da ceia.Não sei por quê,já que ela fingiu que eu não existia e só notou minha presença quando pediu informações sobre a quantidade de gordura trans que o peru tinha.
-Em um país tão moderno como o Japão,é claro que não vão fabricar perus adulterados,recheados de gordura trans.Acho que é a opção mais saudável,a não ser que queira cear sushis. – respondi.
Mas acho que ela não ficou tão convencida assim.De qualquer forma,jogou o peru dentro do carrinho como se fosse uma jaca podre.
Olhei horrorizada para aquela cena,afinal morria de dó daqueles pobres animais que não tinham que escolher entre passar férias no Caribe ou servir de alimento para pessoas alteradas por causa do estresse natalino.Eles simplesmente não tinham escolha.
Ao comentar isso com Keiko,senti ela me fuzilar com os olhares,mas fingi que não estava sabendo de nada.
-Vamos levar o peru logo,porque ele nem vai precisar tomar sol no Caribe para ficar torradinho.
Keiko me olhou de forma mais carinhosa.
Acho que todos nós realmente deveríamos fazer um regime super reforçado após as festas de final de ano,porque tinha muita porcaria naquele carrinho.Chocolates,panetones,chocotones,as mais oleosas amêndoas e castanhas,nozes,e tudo o que possa fazer você engordar só de pensar.
Pelo menos,ninguém reclamaria que faltou isso ou faltou aquilo.
Sem contar o preço super salgado no final das compras,tenho certeza que Keiko queria voar no pescoço da moça que ficava no caixa,mas deve ter contado até dois para se acalmar.Ninguém mandou ela querer pagar tudo sozinha...
Na volta para casa,Keiko dirigia o carro feito uma louca,e eu não estava entendendo o por quê daquilo.
-Keiko,você está assim por causa do preço final? Não se preocupe,nós podemos...
-Não é por causa disso! – berrou,me interrompendo,quase batendo em um carro que mais parecia um monte de latas velhas.Me desculpei mentalmente ao perceber que era uma pobre velhinha que dirigia o "veículo",e ainda acenei para ela,mas acho que não foi uma boa idéia.Ela estava tão irritada quanto Keiko.
-O que foi então?!
-Acabei de pensar...onde é que faremos as festas?
Senti um soco no estômago.No meu minúsculo apartamento,que não.Nem no de Kuwabara,muito menos no de Shizuru.Por que raios nós tínhamos que viver no Japão?
-Não sei. – respondi de forma gélida.
-Como não sabe?! – perguntou horrorizada,como se eu fosse alguma espécie de oráculo-organizador-de-festas-natalinas.
-Não sabendo? Keiko,você não quer que eu faça um jantar no meu apartamento,que mal cabe eu,minha gata e seus filhotes,não é?!
-É claro que não.Eu preciso de sugestões! – cada vez que ela se exaltava,tirava as mãos do volante,fazendo o carro serpentear levemente.Eu adoraria afirmar que não estava com medo,mas seria mentira.
-Vamos pensar...
-Eu não quero pensar sozinha,nem com você.Vamos fazer uma reunião de cúpula,na casa do Yusuke.
-Que por sinal,é sua casa também.
-Oh...me esqueci que sou casada... – um brilho enorme surgiu nos olhos dela,e eu jurava que ela largaria o volante do carro e começaria a suspirar,fechando os olhos.
Graças a Deus,não o fez.
Chegando ao local,concluímos que não seria preciso armar a reunião de cúpula,porque todos estavam ali.
-Pelo visto,vocês já estão fazendo a prévia do Natal. – comentei,enquanto jogava as sacolas com as compras nos braços de Yusuke,Kuwabara e Tiyu.
Eles riram,como costumavam fazer quando bebiam cerveja a manhã inteira.
Ao terminar de guardar as compras,Keiko chamou todos para a tal reunião.Eu tentei alertá-la de que estariam parcialmente bêbados,e o raciocínio seria lento,o que ia irritá-la ainda mais,mas ela não me deu ouvidos.
E ficou durante incontáveis minutos fazendo a mesma pergunta,enquanto os obrigava impiedosamente a pensar e pensar.
Olhei de soslaio e percebi que Kurama não desgrudava os olhos da minha expressão de descontentamento por causa de Keiko,e ainda por cima estava rindo.
Que figura encantadora.
Pisquei várias vezes para processar o que eu estava pensando.
Sim,ele era encantador.No mínimo.Eu sempre aproveitei quando estávamos perto um do outro,porque ele é um colírio para os olhos!
Ah,mas no que aquela simples troca de olhares ia resultar?
Ele namorava uma menina chamada Maya,mas não posso falar muito dela porque não a conhecia,afinal.
É engraçado,porque às vezes pegava Hiei resmungando algumas coisas sobre ela,do tipo que era uma menina chata e insuportável,metida e fútil.Será que ele pensava essas coisas horríveis de mim,de Keiko,de Shizuru e Yukina?
Acho que de todas,ele só gostava de Yukina,mas só porque era irmã dele.Nunca entendi a causa de tanta amargura.Devia ser falta de mulher.
Mas,eu estava falando de Maya.Eu a vi somente uma vez,no aniversário de Yusuke.Ao meu ver,ela e Kurama não pareciam muito felizes,porque de todo o tempo que reparei nos dois,só vi a existência de um diálogo quando ela perguntou onde ficava o banheiro.
Mas,agora eu não sabia mais se eles estavam juntos ainda.
E nem cabia a mim saber,a não ser que eu começasse a me interessar realmente por ele.
Quebrando totalmente aquela série de pensamentos estranhos,a voz amanteigada dele nos deu a solução do problema.
-Vamos fazer as festas no templo de Genkai...
Todos permaneceram boquiabertos diante dele,como se o que ele havia dito merecesse um prêmio Nobel.
-Por quê você não é tão eficiente quanto ele? – esbravejou Keiko,enquanto passava por Yusuke de forma imparcial.
A véspera do natal era no sábado,e em plena sexta feira,eu estava reunida com as meninas,pensando em qual raios de decoração íamos usar.
Eu andava para lá e para cá com um amontoado de festões,não sabendo onde eles iam ficar.A poeira dos enfeites começou a trafegar em minhas narinas,e eu estava ficando cada vez mais impaciente e nervosa.
-Alguém pode me dizer aonde vão estes festões,pelo amor de Deus?! – berrei,e acho que até os ancestrais de Genkai acordaram por causa da altura.
-Pode colocá-los naquela parede ali... – disse Yukina,da forma mais doce possível.Acho que foi um sermão indireto,porque depois da sua resposta tão calma,pensei duas vezes antes de berrar novamente.
Minha barriga roncava de fome.
Pensei que ir até a cozinha beliscar alguma coisa não seria um pecado,afinal ninguém estava nem aí mesmo.
Ao chegar lá,tive uma surpresa ao avistar Kurama sentado à mesa,lendo uma revista,comendo um pedaço de chocotone.
Ele levantou o olhar,ainda mastigando o pedaço do doce.
Eu me senti muito intimidada e estranha,e não tive reação alguma.Por que me senti daquele jeito novamente? O que ele tinha de novo que eu não conhecia que estava me intrigando tanto?
Ele era compromissado,afinal.
-Acho que seria uma boa idéia você me dar um pedaço desse chocotone aí.
-Pode pegar,fique à vontade.
Assim que fui me aproximando,achei que seria uma boa idéia me sentar junto a ele.Quem sabe assim não começávamos a conversar e ficar mais amigos?
-Vocês estão precisando de ajuda lá fora? – perguntou de forma super-prestativa,mas acho que era só para puxar assunto.Acho,não.Tenho certeza que ele queria manter a maior distância possível de Keiko e seus estresses constantes.
-Ah,não sei não.Ninguém me fala o que devo fazer,parecem um bando de surdos! Não vou voltar lá tão cedo...
Ele riu da forma como falei,e quase me desfiz em quinhentos pedacinhos,porque ele era maravilhoso!
Arregalei os olhos ao pensar naquilo.Os meus hormônios estavam tão à flor da pele que eu não podia parar de reparar nele um minuto sequer?
-Bem,concordo com você.Achei melhor vir aqui e atacar esse chocotone solitário.- disse Kurama.
-Ele deve estar feliz agora que tem companhias.Mas ainda deve estar triste por ser separado de sua família de chocotones que moravam no mercado.
-Deve ter sido melhor assim.Pelo menos ele escuta vários elogios de como é gostoso,e não corre o risco de mofar em uma prateleira.
-Oh,isso é verdade.
-Mal posso esperar pela ceia amanhã.Eu gosto muito do Natal.O espírito das pessoas muda totalmente,não acha?
-Sim,apesar de todos estarem fora de controle e insanos por um peru,eu também adoro essa época do ano.
-Eu preferia que fizesse calor no Japão,assim como nos países tropicais.Festas na praia,ao ar livre...
-Mas aí não existiriam os bonecos de neve nem as renas.E o que seria do Natal sem as meias penduradas na lareira?
-Você pendura meias na lareira? – perguntou incrédulo.
Demorei alguns segundos para responder.
-Sim.Só como decoração. – sorri para ele.
-Confesso que adoro fazer bonecos de neve no jardim.
Ambos rimos daquelas confissões ,mas era legal saber que não existia só uma imbecil no mundo todo que fazia coisas ridículas de Natal.
Não que ele fosse imbecil,é claro.
Só seria se dissesse que acreditava em Papai Noel,mas acho que não era da sua índole acreditar no velho barbudo.
Quebrando todo aquele momento mágico,regado de conversas sobre chocotones depressivos e meias de natal,escutei Keiko berrando meu nome pela milésima vez naquele dia.
Ela entrou na cozinha como se estivesse fugindo de um ladrão.
-Botan! Preciso que vá agora ao mercado comprar um tender!
-O QUÊ?
-Sim,um simples tender.
-Você comprou um peru de quase cinco quilos e ainda quer um tender?
-Botan,sem questionar por favor.
Eu queria estrangular Keiko e assá-la no lugar do tender.
-Eu vou como,voando na vassoura?
-Se precisar,eu te levo Botan. – Kurama disse,com o jeito prestativo de sempre.
-Pronto,sem mais dramas. – disse Keiko por fim,fantasiando flores com as mãos.
O supermercado estava o verdadeiro Makai.
E eu xingava Keiko de todos os nomes imagináveis.O que me consolava é que eu estava ao lado de uma pessoa agradável e bonita.
-Vamos andar rápido Botan,ou perderemos a queima de estoque de tenders.
Corríamos dentro daquele estabelecimento como se estivéssemos brincando de pega-pega.
Kurama parou subitamente com o carrinho,fazendo com que eu trombasse contra seu ombro.
Ele permaneceu segundos parado,como se estivesse congelado.
Eu não estava entendendo nada,até avistar a figura pequena de cabelos castanhos.Oh,não.O que ela ia pensar ao avistar seu namorado com outra? Eu queria me esconder no meio dos pacotes de salgadinhos,para evitar qualquer confusão que fosse.Ela parecia ser muito ciumenta e esquentada.
Tudo o que consegui fazer foi sair de perto dele,fingindo ter achado uma barraquinha para experimentar queijos suíços.
Eu sempre me metia em saias justas inexplicáveis.E tudo por culpa da Keiko.E agora,o que eu ia dizer para Kurama? "Me desculpe,não queria que sua namorada me achasse uma fura-olhos,mas quem ofereceu a carona foi você,portanto imaginei que não haveria problemas se..."
Ora,eu nem lembrava mais que ele tinha uma namorada.
Um clima horroroso de fossa invadiu aquele lugar,quando começou a tocar "White Christmas" no rádio.
-Que terrível...- lamentei quase num sussurro,enquanto fingia ler atentamente o rótulo de um pacote de absorventes internos.
Ao sentir uma mão tocar meu ombro,me virei rapidamente.Fechei os olhos ao ver que era Kurama.
-O que foi? Por que está lendo o rótulo de um pacote de absorventes internos?
Sua voz estava normal,provavelmente a namorada dele era burra e nem ligou que eu estava ao seu lado.
Ao perceber o que estava nas minhas mãos,joguei o objeto de volta na cesta,com um certo nojo.Kurama não precisava saber que eu gostava de ler rótulos de absorventes internos.
-Nada,eu apenas estava vendo se são melhores do que absorventes convencionais.Onde está sua namorada?
Ele arregalou os olhos,mas logo normalizou a expressão.
-Que namorada?
Como assim? Que tipo de homem ele era,não assumia seu compromisso diante de pessoas conhecidas?
-Maya?
-Ela não é mais minha namorada...
E queria gritar,como se uma tarântula estivesse subindo pelas minhas pernas.O que foi que ele disse? Não estavam mais namorando?!Eu não acreditei...era o evento do ano!
-Oh...sinto muito. – mais falsa,impossível.Agora eu ia querer desfilar com aquele monumento ao meu lado por toda Tóquio,sem a consciência pesada.
-Não precisa.Não foi nada de mais,apenas não estava mais dando certo.Bem,o que importa é que consegui pegar um tender.
-Oh,que ótimo! Só espero que Keiko não peça mais nada de última hora. – suspirei aliviada.
Voltando ao templo de Genkai,me perguntava o por quê daqueles milhares de degraus.O que as pessoas aprenderiam quando subissem aquela infinidade de escadas? Acho que nada,porque todas sempre reclamavam quando tinham que chegar até o templo.
Era por isso que Genkai estava inteira.Sabe-se lá quantos anos ela tinha,mas a energia para subir e descer a "escada das trevas" era contínua.
Por falta de exercícios físicos,comecei a ofegar e não estávamos nem na metade.Morri de vergonha,porque Kurama parecia adorar estar subindo aqueles degraus.
Ao chegar ao topo,finalmente,avistei Keiko vir correndo em nossa direção.
-Vocês conseguiram o tender? – perguntou de forma esperançosa,como se um grupo de alienígenas estivesse pronto para devastar a última geração de tenders do mercado.
-Está aqui. – respondi,entregando a sacola nas mãos dela.
-Que ótimo.Bem,logo logo o jantar estará pronto.Acho que já podemos descansar...
Graças a Deus! Era notável que a decoração estava pronta,e devo admitir que estava linda.Eu estava com um cansaço enorme nas pernas,por causa da escada gigantesca,e acho que Kurama notou.
-Botan,por que não nos sentamos ali,naqueles banquinhos do jardim?
Oh,que convite adorável.O jardim das cerejeiras...Era tão simpático aquele lugar!
Caminhamos até lá e nos sentamos,lado a lado.Eu não me senti estranha estando ao lado dele.Acho que é porque descobri que ele não estava mais compromissado,então ninguém me olharia torto caso me visse ali.
Notei que ele também suspirava bastante.Malditas escadas,não?!
-Acho que essas escadas deveriam ser explodidas. – disse,com a maior convicção do mundo.
-E aí,deveriam adotar o método dos teleféricos para nos transportar para cima. – completou Kurama.
-Ia ser tão romântico...
Ele parou alguns segundos,piscando várias vezes e olhando em minha direção.Eu fiz o mesmo.Será que ia acontecer? Toda vez começava assim,e agora não poderia ser diferente...
Aproximou o seu rosto do meu,e a distância foi ficando cada vez menor e menor...
E aí,a gente se beijou.
Foi tão rápido e indolor que,quando nos separamos,começamos a rir da situação.
Ele continuou a olhar nos meus olhos,sorrindo.
-Você gostou? – perguntou.
Que coisa de colegiais!
-Gostei,e você?
-Eu também.O que acha de fazermos de novo?
Não deu tempo de eu responder,e já estávamos nos beijando novamente.Mas dessa vez,não foi tão rápido assim,mas continuou indolor.Ficamos um pouco mais atrevidos e aprofundamos o beijo.
Até Keiko nos interromper pela milésima vez naquele dia,anunciando que o jantar estava pronto.
Ela não nos viu por causa dos galhos de cerejeira,que nos escondia dentro do jardim.
Mas gostei tanto,que agora eu nunca mais ia deixar de olhar Kurama com outros olhos.
E tenho certeza de que as festas seriam ótimas,regadas de muitos beijos,abraços e gracinhas.Além dos presentes,é lógico.
Ah,não.Essa não era uma parte boa a se lembrar,porque no amigo secreto eu tirei Hiei.
O que eu ia dar de presente? Eu nem sabia que ele gostava de participar de amigos secretos...
Pensei em dar um bonequinho dos Cavaleiros do Zodíaco,mas um bem sombrio...Todos estavam esgotados,e fiquei totalmente desesperada.
Pensei em pedir ajuda para Yusuke,mas tenho a certeza de que ele ia querer tirar um sarro do pobre Hiei,então fiquei na minha.
Meu Deus!
Mas eu tive uma brilhantíssima idéia!
Como não havia pensado nisso antes?!
Continua...
N/A.: Bem,como vocês puderam ver,Botan está mais nonsense do que nas outras fics.Mas quis deixar ela do jeito que é,bem louquinha,porque o objetivo aqui é um humor.Então,não estranhem.
Vai ter mais um capítulo,é uma shortfic de Natal,presente pra todos que lêem as fics da Line!
Beijão...
