Disclaimer: Naruto não me pertece. Pertende ao Kishimoto-sensei, tudo bem eu nunca gostei muito de loiros mesmo...
(Nota da Autora): As caracteristicas vampiricas, citadas nessa história, são uma junção, das caracteristicas, criadas pelas autoras Stephenie Meyer, e Anne Ricce, créditos a essas maravilhosas escritoras, eu nunca conseguiria criar algo assim sozinha.
Fanfic sem fins lucrativos
Boa leitura
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- Vamos Hinata empunhe a espada direito! – gritou meu pai dessa vez, com um comando mais firme na voz.
Eu vi a lamina de sua espada, vir em minha direção brilhando com sua luz prateada, enquanto os últimos raios de sol faiscavam no crepúsculo. Meus dedos instintivamente se apertaram no cabo de minha própria espada, tentei lutar contra minha vontade de fechar meus olhos. Eu sabia que aquilo não adiantaria de nada apenas deixaria meu pai ainda mais irritado, eu era péssima nas aulas de esgrima, um fracasso total e completo. Não conseguia ser boa nem mesmo quando me esforçava tanto.
- Olha a guarda! Conserte isso agora! – berrou meu pai perdendo o resto de paciência, contida na sua voz.
A espada na mão dele, acertou a lamina da minha com tanta força que ela trincou, não pude segurar o golpe monstruosamente poderoso, eu deixei minha espada cair no chão com um baque surdo, a poeira mal se ergueu quando o objeto prateado tocou o solo. Se aquele tivesse sido um combate de verdade, eu sabia que naquele momento eu já não estaria respirando. Em todos os combates que eu tivera com o meu pai desde que nossas aulas de esgrimas haviam começado, eu havia perdido em batalha. Eu sabia que aquilo era humilhante para ele.
Eu tentei não ver mais uma vez sua expressão de desapontamento, escondi meus olhos, por debaixo de minha franja farta, eu não sabia mais como olhar para meu pai, nem o que dizer a ele. Eu era um tremendo fracasso.
- Hinata – ele disse finalmente quebrando o silencio constrangedor entre nós - eu não sei mais o que fazer com você. Nós treinamos todos os dias aqui à tarde, e você não melhorou em absolutamente nada.
Eu sabia que aquilo era verdade. Talvez fosse por isso que eu me sentia tão horrível. Meu pai estava pessoalmente me treinando, e eu simplesmente não progredira. De nada havia adiantado, meus treinos noturnos as escondidas, nem a ajuda que Neji havia me dado, eu continuava tão ruim como no começo, ou talvez ainda pior.
- Você consegue entender como sua situação é grave? – perguntou meu pai, fazendo com que meu estomago se remexesse ainda mais convulsivamente – dentro de pouco tempo você completara dezoito anos, e será considera realmente como herdeira do clã. E você nem ao menos consegue empunhar uma espada decentemente. Como posso transformá-la em minha herdeira? Na primeira batalha que for disputar será morta! O que será então do clã sem uma líder?
Eu senti um calafrio percorrer minha espinha, eu nunca antes havia estado em batalha. Eu sabia que depois que eu fosse considerada herdeira oficialmente, aquilo iria mudar. Eu teria de enfrentar a noite, teria de enfrentar seus perigos, finalmente eu seria colocada cara a cara contra um vampiro. Eu teria de matá-lo ou seria morta. Não era um futuro que me empolgava.
- Você sabe que estamos passando por uma situação muito difícil – explicou meu pai pela milésima vez, num tom muito severo – os vampiros vem se mostrando cada vez mais agitados, e não sabemos o motivo. Eles estão se alimentando mais, e com maior freqüência. Mês passado nós tivemos uma grande baixa.
Eu deixei meu animo ser atingido por aquilo, como se ele tivesse levado uma grande bofetada. Eu sempre me sentia mal, quando ouvia os sermões do meu pai, eles me faziam me sentir ainda mais inútil. Eu realmente era alguém sem salvação.
Eu pude ouvir o suspiro resignado, de meu pai, levantei meus olhos apenas um pouco e pude perceber que ele não olhava mais para mim. Seus olhos prateados como os meus estavam parados nos últimos raios de sol que ainda perduravam, no céu. Algumas estrelas já brilhavam através da neblina difusa da noite, a lua ainda não havia aparecido.
- Essa será uma noite fria – eu pude ouvir a voz de meu pai, mas não soube se ele estava se dirigindo a mim – É melhor você entrar. Está esfriando rápido.
Eu acenei simplesmente com a cabeça e continuei no mesmo lugar onde estava meu pai se abaixou e pegou a espada que até alguns instantes atrás eu estava brandindo. Eu sabia que ele tinha medo que eu me machucasse simplesmente enquanto eu tentava guardar minha espada. Ele estava certo, eu era extremamente desajeitada.
Eu vi seus cabelos, cor de chocolates caírem por sobre seus ombros, e mordi meu lábio inferior. Doía mais do que ele podia entender o fato de eu ser tão insignificante. Eu não merecia ser filha daquele homem tão valente tão corajoso, eu não merecia ter nascido neste clã. Eu pensei em pedir desculpas, pela minha incapacidade, mas não o fiz; aquilo só me deixaria em uma situação ainda pior. Eu sabia que meu pai nunca aceitaria minhas desculpas.
Eu vi suas costas largas se afastarem rápido, o jeito dele caminhar altivamente e com tamanha, graça e firmeza sempre iriam me encantar. Se eu não tivesse os meus olhos prateados, que Hyuuga Hiashi, eu apostaria que era adotada.
Uma leve respiração, atrás de mim chamou minha atenção. Eu sabia que ele estava ali me observando, ele sempre me observava, esse era seu trabalho. Preparei-me tentando conter a vermelhidão do meu rosto para encarar o rosto calmo e sereno do meu primo Neji.
- Eu não acho que você não tenha evoluído nada Hinata-sama – meu primo disse tentando me animar – eu achei seu jogo de pés dessa vez muito melhor.
Eu não pude não sorrir ao ouvir aquele comentário. Somente meu primo podia, ver uma melhora inexistente nas minhas aulas de esgrimas, com certeza ele era o professor mais paciente do mundo, eu me sentia mal por saber que também o estava decepcionando. Pelo menos pra ele eu podia pedir desculpas.
- Me desculpe ni-san – eu murmurei baixinho, mas sabia que ele estava escutando com atenção – não importa o que eu faça, simplesmente não consigo, melhorar, é tão frustrante.
Eu senti o olhar de meu primo sobre mim. Eu não conseguia entender, porque ele me olhava daquela maneira tão forte. Meu coração sempre disparava quando aquilo acontecia, ele percebia minha reação, então desviava seu olhar.
Caminhei em sua direção e nos dois sentamos nos degraus de pedra, da ala leste do castelo. Ficamos durante um bom tempo em silencio, as luzes do sol já haviam desaparecido, mas eu ainda podia enxergar vagamente o contorno do rosto do meu primo. Eu não tinha medo da noite quando ele estava do meu lado.
- O que você fez hoje? – eu perguntei tentando quebrar o silencio entre nós.
- Treinei com o Rock Lee, não existe pessoa no mundo mais insistente. Simplesmente não consegui dizer não para ele, mas deveria ter dito, o treino dele quase me matou.
Eu sorri ainda mais ouvindo aquilo. A amizade completamente estranha entre aqueles dois era algo impar. Eu fiquei feliz pelo meu primo. Ele era sempre tão serio e retraído, era bom para ele ter alguém como Rock Lee alegre e descontraído para lhe tirar um pouco de sua rotina tão desgastante.
- Eles ainda não o encontraram... – disse Neji, como se nós estivéssemos falando sobre o assunto. Eu pude sentir a preocupação e a raiva misturada, em seu tom de voz, baixa e contida, aquilo me deixou ainda pior, eu sabia que Neji estava passando por uma situação muito difícil, e eu não era capaz de ajudá-lo em nada.
- Eles vão achá-lo Neji, não se preocupe – nem eu mesma pude confiar no meu tom débil.
- Já faz mais de uma semana. Sem nenhuma noticia, ou sinal, parece que ele simplesmente desapareceu no ar. Eu não entendo porque Hiashi-sama não me deixa ir procurá-lo...
- Não fique com raiva dele ni-san, ele também está preocupado, afinal é irmão dele...
A noite já havia caído por completo mesmo assim, eu pude sentir o olhar de prata do meu primo sobre mim, seu rosto forte e bem feito estava voltado em minha direção. Eu conhecia-a tão bem que mesmo na escuridão podia visualizá-lo como na luz do dia. Sua testa alta, suas maçãs do rosto firme, os lábios finos de contornos delicados, as sobrancelhas que ornavam perfeitamente, com a cor de seus cabelos chocolates.
- Seu pai é forte Neji, eu tenho certeza de que ele está bem. Ele é um bom guerreiro, um bom caçador de vampiros. De um voto de confiança a ele.
Eu pude sentir o suspiro de Neji se perdendo na escuridão, seus ombros fortes e largos descontraíram um pouco e se mostraram mais relaxados.
- Tem razão Hinata-sama. Ele não será vencido tão facilmente.
O céu estava pipocado de estrelas aquela noite. As luzes no castelo já haviam sido acendidas, mesmo assim eu e Neji permanecemos durante um tempo muito longo embaixo daquele manto azul estrelado sem falar nada. Era sempre tão fácil ficar na presença de Neji, ele nunca me cobrava uma palavra, ou se incomodava com meu silencio. Eu gostava muito do meu primo, eu realmente gostaria que ele pudesse ter nascido como meu irmão... Como meu irmão mais velho.
Nós estávamos muito quietos, por isso foi fácil ouvir o barulho de passos sendo arrastados com dificuldade, não muito longe de onde nós estávamos. Eu senti meus nervos tencionaram imediatamente, e vi Neji pular como um gato ficando muito ereto nas pernas, esperando o próximo som.
Mais uma vez o som de passos pode ser ouvido, a noite estava muito silenciosa, então para nós parecia que era um barulho muito alto, apesar de que na realidade aquilo não passava de um pequeno ruído. Meus olhos percorreram todos os lugares nas sombras do campo de treinamento. Eu podia sentir toda a concentração do meu primo que havia se colocado na minha frente em posição de defesa. Eu ordenei as minhas pernas que se levantassem, mas demorou um tempo razoavelmente longo para elas me obedecerem.
-Hinata-sama – chamou a voz do meu primo que estava bem diante de mim – corra até o castelo e peça ajuda, eu não posso saber quem está espreitando na escuridão, e não vou deixá-la sozinha para ir verificar isso.
- Não vou deixá-lo aqui sem ajuda ni-san...
- Para de ser teimosa e me ouça, você pode me ajudar muito mais indo, chamar alguém.
Eu mordi meu lábio inferior, tentando decidir a coisa certa a se fazer no menor tempo possível, eu não queria deixá-lo sozinho, mas não seria de nenhuma ajuda para Neji ficando aqui. Se fosse realmente um vampiro (um vampiro bem barulhento por sinal) então meu primo, teria dois trabalhos, alem de lutar contra a criatura, teria o trabalho de me defender.
Os passos se tornaram de repente mais altos, e mais vacilantes. Meu coração ribombou alto nos meus ouvidos e eu pude sentir meu corpo tremer. Eu não sabia o que fazer para poder ajudá-lo numa situação como essa.
Meus olhos mesmo com toda a escuridão, conseguiram divisar a sombra de algo, se movendo ao longe perto do portão de entrada para o campo de treinamento. A sombra se mexia, lentamente, parecia ter muita dificuldade ao andar, os pés raspavam grosseiramente contra o chão poeirento e cheio de pedras, tropeçando nas plantas que ficavam no caminho.
Os olhos prateados de Neji focalizaram, na sombra e não se mostraram menos hostis, com uma agilidade incrível meu primo desembainhou sua espada, e colocou-se em postura de ataque. Nós esperamos silenciosamente algum movimento agressivo por parte daquela sombra, ela pareceu cambalear, e caiu com um baque grave no chão, soltando um gemido. Eu reconheci aquela voz... Algo gelado de repente, pareceu escorregar para dentro do meu estomago. A voz de Neji cortou a escuridão noturna.
- Pai!
O corpo de Neji se projetou muito rápido para frente em direção ao corpo do meu tio caído no chão, eu não tinha duvidas de aquela sombra era meu tio Hizashi.
Minhas pernas permaneceram algum tempo paradas, como se tivessem sido pregadas no chão. Eu podia sentir o vento que percorria o lugar, e o silencio anormal, o castelo não estava longe, e através da minha visão periférica, eu podia enxergar as luzes alaranjadas, projetadas através da noite. Somente uma parte de mim estava consciente de tudo aquilo, minha concentração estava voltada para o corpo caído de meu tio, e para meu primo ao seu lado. Eu suspirei, enchendo os meus pulmões de ar, depois soltei-o devagar, tomei um pouco de coragem e segui os mesmos passos de meu primo.
O cheiro de sangue fresco atingiu meu rosto, com tamanho impacto que fez minha cabeça girar. Ajoelhei-me ao lado de Neji, prendendo minha respiração, o rosto de meu tio estava coberto pela escuridão, e eu não podia ver quase nada. Ele sussurrava palavras desconexas, e não respondias as perguntas do meu primo.
- Pai! Pai! Me responda você está bem?
A voz de Neji saia entrecortada, eu podia sentir o pânico latente naquelas palavras, eu não sabia o que fazer.
Eu percebi a cabeça do meu tio se inclinar ligeiramente, na direção da voz do meu primo, os sussurros desconexos pararam por alguns momentos. Ele parecia ter voltado a si.
- Ne... ji – a voz do meu tio estava fraca, não passava de um murmúrio lamentoso – Vá chamar meu irmão pra mim... Rápido!
- Não, pai, você está muito ferido eu vou te levar para dentro!
- Neji, ouça-me pelo menos uma vez o que estou dizendo... Vá chamar meu irmão...
Eu senti os olhos perolados, do meu primo sobre mim. Eu sabia que ele não negaria aquele pedido, a seu pai, ele iria me deixar sozinha, e aquilo ia contra todas as suas obrigações. Eu queria dizer que estava tudo bem, que eu não me importava de ficar alguns instantes sozinhas, que eu não tinha medo, mas minha garganta estava seca demais, eu não achava que fosse capaz de pronunciar nenhuma palavra naquele momento. Eu vi meu primo se levantar como um gato, e começar a correr muito rápido, em direção a porta do castelo, eu sabia que não era longe, mas ele teria que procurar por meu pai. E aquilo podia demorar.
Eu soltei minha respiração pelo nariz provocando um chiado o cheiro do sangue do meu tio estava ainda mais forte agora que eu estava mais próxima dele. Ele havia mergulhado novamente naquele mundo de palavras desconexas do qual eu não conseguia entender. Meus olhos esquadrinharam o corpo de meu tio, eu não conseguia ver onde ele estava ferido, mas eu podia ver não muito nitidamente a poça de sangue formando debaixo de seu corpo. Aquilo me deixou alarmada, eu olhei para o céu vendo as estrelas, e sem conseguir enxergar a lua. Será que o cheiro de sangue fresco atrairia algum vampiro? Eu sabia que eles costumavam rondar as florestas que ficavam próximas ao castelo, nós éramos um grande grupo de pessoas que viviam, juntas e bem afastadas da vila mais próxima, atacar algum de nós os pouparia de ter que ir a vila mais próxima. Eu senti meu corpo estremecer, devido aquele pensamento, meus dedos buscaram inutilmente o cabo de minha espada inexistente, naquele momento ela devia estar guardada sobre o dossel de minha cama, limpa e polida. Eu estava sozinha, e sem nenhuma arma para defender a mim e ao meu tio se algum vampiro tentasse nos atacar. Não que eu conseguisse lutar contra algum vampiro, ou fizesse muita diferença, eu sabia que se seria morta na mesma hora depois que um vampiro pousasse seus olhos em mim.
O tropel de passos chamou minha atenção, eu pude divisar mesmo ao longe um grupo de pessoas vindo em nossa direção, eles carregavam tochas e iluminavam vagamente a escuridão noturna, eu senti um alivio imediato inundar meu ser, eu pude ver que quem liderava o grupo era meu pai e Neji. A expressão de desespero no rosto de meu primo fez meu coração bater dolorosamente. Ao meu lado eu ouvi os gemidos de meu tio se tornarem mais intensos.
- Hinata afaste-se dele! – gritou meu pai mesmo a distancia.
Eu obedeci num impulso pulando para longe, alguns segundos depois meu pai e Neji se prostraram ao lado de meu tio, no mesmo lugar que eu estivera alguns instantes atrás.
- Hizashi! Meu irmão onde você está ferido? – a voz retumbante de meu pai, ecoou por todo o lugar.
Eu pude ver o grupo de pessoas que agora se aproximavam com passos cautelosos, às tochas iluminaram a escuridão, a poça de sangue sob meu tio era muito maior do que eu havia imaginado, eu não tinha percebido, mas as palmas de minha mão e meus joelhos estavam sujas, meu estomago revirou-se convulsivamente dentro de mim. Eu puxei o ar com força para dentro de meus pulmões e não soltei minha respiração por um longo tempo.
O rosto de meu tio estava cheio de cortes profundos onde o sangue já estava seco, sua roupa estava quase totalmente rasgada, eu não podia mais ver sua espada então imaginei que ele havia perdido em algum lugar. Sobre o peito de meu tio havia um pequeno calombo coberto por sua capa negra, eu não sabia o que era aquilo, mas enquanto eu encarava o objeto escondido meu corpo tremeu incontrolavelmente, meus olhos desceram para o braço direito de meu tio e se arregalaram diante daquela visão. Meu tio não havia perdido a espada, alguém havia lhe arrancado junto com sua mão. Eu fechei meus olhos com força, podendo enxergar a imagem que continuava gravada através das minhas pálpebras. Havia marcas de dentes por todo o braço direito e por suas pernas, eram profundas, e pareciam estar infeccionadas. Eu sabia que eram marcas das presas de um vampiro.
- Hiashi! – falou a voz de meu tio, dessa vez mais forte, seus olhos dançavam loucamente em suas órbitas – eu consegui, eu o matei. Eu não sou o primogênito, mas eu o matei!
- Fique quieto! Hizashi, nós vamos cuidar de você agora...
- Não me ouça! Eu sei que estou morrendo, eu vou morrer, mas veja eu não morrerei sozinho eu o matei, eu matei a criatura sanguinária sozinho!
Os olhos de meu tio estavam dilatados, e dançavam em suas órbitas com uma loucura que eu jamais vira. Ele não parecia ser aquele mesmo tio bondoso, que sempre tentava me animar, depois que eu levava alguma bronca de meu pai. Meus olhos pousaram em Neji que estava ao lado de meu pai, seus lábios finos estavam abertos e mesmo assim ele parecia não estar respirando, seus olhos prateados estavam sem foco, era como se ele não estivesse vendo aquela imagem agonizante de seu pai na sua frente. Ele estava tão imóvel, que eu tive vontade de me ajoelhar ao seu lado, e colocar meus braços em torno de seus ombros rígidos. Eu não tive coragem.
A mão esquerda de meu tio buscou o objeto coberto por sua capa, eu vi a capa toda rasgada cair de cima de seu corpo. Um calafrio anormal percorreu minha espinha, antes mesmo que eu pudesse pensar em algo, meu corpo prendeu a respiração, meus olhos se arregalaram e meu coração bateu de maneira descontrolada dentro de meu peito de tão rápido. A mão esquerda, de meu tio segurava fortemente a cabeça de Uchiha Itachi, o líder vampiro do clã Uchiha.
Os cabelos negros compridos estavam sendo segurados, pelos dedos fortes de meu tio, a pele extremamente branca se mostrava frágil como se fosse à folha de um papel muito fino, as enormes presas estavam à mostra, como se ele estivesse rosnando, mas sem nenhum som, os olhos vermelhos muito arregalados, mas sem foco, brilhavam de forma demoníaca em suas órbitas. Eu senti minhas pernas fraquejarem, meus olhos não conseguiam desviar dos olhos escarlates, meus pulmões berravam por ar, mas eu não ousava respirar. Eu senti a vertigem tomando conta de meu corpo, e senti-o indo escorregando para trás muito lentamente, até que alguém parou minha queda abruptamente. Eu olhei para cima, inalando com muita força o ar. Meus olhos se encontraram, com olhos que pareciam chocolate de derretido. Os olhos de Tenten estavam cheios de dor, ela desviou seu rosto do meu, e eu segui seu olhar. Ela olhava na direção do meu primo, como uma expressão de dor imensa. Eu sabia que ela estava sofrendo, vendo Neji sofrer, eu sabia que ela faria qualquer coisa no mundo para tentar aplacar a dor de meu primo. Eu sabia que Tenten detestava ser uma pessoa inútil, mas diferente de mim Tenten nunca tinha sido uma inútil.
- Hizashi! Como você o matou? – a voz de meu pai ecoou no silencio da noite. Eu podia ver a fúria inflamando em seus olhos.
Meu tio não respondeu a pergunta de meu pai, ele mergulhou mais uma vez num mundo onde suas palavras não podiam ser decifradas, seu corpo se debateu, e mesmo assim sua mão esquerda permaneceu erguida segurando a cabeça do vampiro, como se fosse um troféu a ser exibido.
- Tolo! – murmurou meu pai, mas todos os presentes puderam ouvi-lo – por que fostes procurar a própria morte?
- Eu o matei Hiashi! – meu tio repetiu, e dessa vez sua boca mostrava um sorriso deformado e sem alegria – o mais forte de todos eles, o mais antigo, eu o matei! E eu não sou o primogênito Hyuuga!
O riso do meu tio ecoou, nos muros de pedra do castelo, era algo sem vida, algo agonizante, meu coração encheu-se de pena. Meu primo estava muito parado ao lado do meu pai, seu rosto estava indecifrável, toda cor havia fugido dele.
Meu pai estava sem palavras, o vento percorreu o pequeno grupo fazendo as tochas balançarem ao sabor do vento, as sombras mudaram rápido de lugar devido ao movimento continuo do fogo. Eu não conseguia sentir a mão de Tenten, nas minhas costas, mas eu sabia que elas estavam lá, senão eu tinha certeza que estaria no chão naquele momento.
O riso do meu tio foi parando lentamente, um filete de sangue rubi, escorreu de sua boca em direção ao seu queixo, Eu não tinha percebido que o sangue dele havia secado em minhas roupas e em minhas mãos.
- O mais forte – ele repetiu com sua voz fraca, os olhos prateados, estavam fixos nas estrelas, mas iam perdendo o brilho – eu sou... O mais forte Hyuuga...
Meu tio ficou muito imóvel, a cabeça do vampiro que ele estava segurando caiu no chão junto com seu braço, ela rolou para a escuridão e ninguém pareceu se importar. Os dedos de meu pai pousaram sobre as pálpebras de meu tio, e as fechou lentamente pela ultima vez.
- Você sempre foi o mais corajoso Hyuuga... E o mais irresponsável também... – a voz de meu pai parecia estar sem vida, com uma tristeza que eu nunca tinha ouvido lá antes.
O corpo de Hyuuga Hizashi foi coberto e carregado num esquife de madeira em direção ao castelo, a mão de meu pai procurou na escuridão, pela cabeça do vampiro. A cabeça foi erguida contra a luz, os olhos ainda não haviam perdido o vermelho vivo. Eu não podia imaginar que aquilo era a cabeça de algo morto... De alguma forma, parecia ainda haver uma centelha de vida naquele objeto inanimado. Era algo tão terrível, mas eu não conseguia parar de observar, mesmo aquela face, estando completamente deformada numa agonia que somente a morte poderia trazer, eu via ainda uma centelha de beleza ali, uma beleza maligna que dentro de mim eu sabia que não devia existir.
- Ele era o mais antigo do clã – a voz de meu pai, era tensa sua testa exibia uma ruga profunda – eles buscaram vingança...
Ninguém daquele grupo pronunciou uma única palavra, a noite de repente pareceu aos meus olhos ficar mais clara. Eu olhei para cima e pude ver a imagem da lua minguante saindo de trás de nuvens brancas translúcidas. Os passos de meu pai seguiram em direção ao castelo, seus ombros estavam caídos e de alguma maneira ele exibia a postura de um homem derrotado.
No lugar onde estivera o corpo de meu tio, eu Tenten meu primo e Rock Lee, permanecemos em silencio, meu primo ainda continuava ajoelhado como se ainda pudesse enxergar o corpo de seu pai. Eu olhei em direção a Rock Lee, e vi-o segurando uma tocha, enquanto ele observava meu primo, ver seu rosto sempre tão cheio de vida e alegria transformado numa mascara de tristeza e pesar, mexeu com meu coração. A mão de Tenten ainda continuava em minhas costas me dando apoio, minhas pernas pareciam serem feitas de fracos gravetos, mesmo assim eu usei tudo o que sobrava de minha determinação, e caminhei com passos vacilantes em direção a Neji, eu não consegui me ajoelhar ao lado dele como gostaria, mas ele pareceu perceber minha presença.
Seus olhos prateados e mil vezes mais bonitos que o meu buscaram meu rosto. Ele parecia com alguém que tinha acabado de acordar de um grande pesadelo, seu rosto estava rígido e muito pálido. Suas pernas se flexionaram e com muita lentidão ele se ergueu e ficou diante de mim. Ele era um ano mais velho que eu, e quase vinte centímetros mais alto, eu ergui levemente meu queixo encarando seus olhos sem brilho, Eu queria lhe dizer varias coisas, eu gostaria de ter a coragem suficiente de abraçá-lo, ou ter força suficiente para poder arrancar aquela dor, que estava tão visível em todo seu ser. Mesmo assim eu não fiz nada, a não ser olhá-lo por um longo momento, torcendo para que ele pudesse ver através de meus olhos o quanto eu sentia muito por sua perda.
A mão de meu primo se ergueu num movimento muito lento, seu dedo pálido e macio acariciou uma mecha do meu cabelo que caia ao lado de meu rosto. Aquele era um gesto comum para nós dois, mas um gesto que ele fazia apenas quando estávamos sozinhos. Ele parecia não estar notando a presença de Rock Lee ou Tenten.
- Me desculpe Hinata-sama – a voz de Neji era fraca, e estranha, não parecia ser sua voz – eu não queria tê-la deixado aqui sozinha. Eu sei que você não gosta do escuro...
As palavras tão simples, aquele pedido de desculpa tão singelo, fizeram meu coração se contorcer numa agonia incrível, sem que eu percebesse meus olhos se encheram de lagrimas, que escorreram muito rápido por meu rosto, meus passos vacilantes foram na direção de Neji, meus braços circundaram seu corpo forte e vigoroso, e eu enterrei com vontade minha cabeça em seu peito, como se naquele gesto eu pudesse me esconder de todo o mundo, eu senti seu cheiro familiar invadir minhas narinas, enquanto minha garganta ressecada e ardida deixava meus murmúrios serem ouvidos na noite. Eu senti o queixo de Neji sobre minha cabeça, e o abracei ainda mais forte, como se naquele ato eu pudesse permitir que ele não se desmoronasse. Meu primo parecia alguém prestes a se partir em muitos pedaços. Uma das mãos de Neji acariciou meu cabelo, eu não me senti reconfortada com aquele gesto.
Eu não sei por quanto tempo fiquei ali, naquele estado chorando. Eu somente sabia que estava chorando por mim, por meu tio, por meu, pai, por todos os caçadores de vampiros que tinham aquela maldita sina de perseguirem criaturas tão malignas que não deviam existir no mesmo mundo que os humanos. Eu chorava por meu primo, eu derramava lágrimas por ele, porque eu sabia que Neji nunca ousaria chorar.
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O corpo de meu tio Hyuuga Hizashi, foi enterrado na manhã seguinte. O antigo cemitério Hyuuga ficou repleto de pessoas, que trajavam em respeito ao luto de minha família a cor negra. As arvores exibiam folhas douradas, vermelhas, e alaranjadas, que indicavam que o outono estava no seu auge, o chão estava repleto de um tapete multicolorido, e fofo. Eu trajava meu único vestido de luto, o mesmo vestido reformado que eu havia usado tantos anos atrás no enterro da minha mãe. Eu tentei inutilmente não desviar meus olhos para os nomes escritos na grande lápide de mármore, onde a família principal, meus antepassados repousavam, foi fácil encontrar o nome da minha mãe e muito doloroso também.
Meu cabelo negro estava preso numa grande trança que descia até minhas costas, eu retorcia minhas mãos nervosamente, Neji estava do meu lado todo vestido de preto, havia grandes olheiras roxas debaixo de seus olhos, e eu tinha certeza de que ele não havia dormindo sequer, uma hora durante na noite passada.
Meu pai, também usava preto, mas sua capa era branca e azul, as cores do clã Hyuuga, ele exibia seu porte altivo de líder, e todos os homens presentes pareciam mais baixos que ele, sua voz enquanto discursava era forte e firme, e eu não podia mais perceber nenhuma semelhança, com a voz triste e fraca da noite passada.
Eu pude ver vários rostos conhecidos na multidão, eu vi Tenten ao lado de Rock Lee, eu pude ver Gaara o jovem estrangeiro caçador de vampiros que havia se juntado há pouco tempo ao clã ao lado de Shikamaru, eu vi minha sensei Kurenai olhar em minha direção, e desviei meu rosto, seus olhos cheios de bondade, deixavam meu coração apertado, e eu não podia chorar na frente de tantas pessoas.
O vento outonal fazia meu vestido balançar como se fosse um sino aberto, a capa negra de Neji enrolava em suas pernas e ele parecia não perceber. Neji havia ficado do meu lado durante a maior parte da noite enquanto eu chorava encolhida num canto do grande salão.
Ninguém havia descansado no castelo na noite passada, as sentinelas haviam sido redobradas, e qualquer barulho na floresta fazia os guardas pularem em posição de ataque, muita gente sentiu-se aliviado quando viu o sol dourado escalando as cordilheiras no leste. Eu tentei ficar acordada a noite inteira, mas eu sucumbi ao sono, e havia acordado em minha cama quente e agasalhada, o cheiro de Neji recendia em todo meu corpo, eu poderia apostar com qualquer um que ele havia me colocado na cama pra dormir, eu fiquei morrendo de vergonha, ele deveria estar sendo cuidado não eu.
Eu respirei fundo tentando conter o enorme nó que havia dentro da minha garganta, eu conseguia ouvir somente com metade da minha atenção as palavras do meu pai, o caixão que carregava o corpo do meu tio, já havia descido, para o tumulo de pedra, em sua lápide haviam escrito os seguintes dizeres:
Hyuuga Hizashi
Bom pai, Valente Caçador de Vampiros.
Eu achei que as palavras não combinavam com a imagem que eu tinha do meu tio, seu rosto alegre e bondoso tão diferente de seu irmão gêmeo, meu pai de rosto austero e severo. Mas, eu sabia que as palavras haviam sido escritas, pelo meu próprio pai, então ninguém iria contestá-las. Os últimos ritos foram realizados, não havia mais nada para ser feito. Algumas mulheres se adiantaram em silencio, e jogaram as flores que poderiam sem encontradas no outono, eu fui uma delas, mas em vez de jogar uma única flor, eu joguei uma coroa delas, feita com uma florzinha pequena que brota em todo canto no outono, suas pétalas, são alaranjadas meio amarelas, eu sabia que não era uma flor considerada bela, mas eu achava, a sua cor alegre e vibrante me lembrava muito do sorriso do meu tio, ninguém pareceu notar minha coroa. Apenas os olhos de Neji que se iluminaram com aquele meu gesto. Quanto tempo iria demorar para meu primo se recuperar. Quanto tempo ele ficaria naquela fortaleza inexpugnável que ele havia construído em torno de si mesmo...
Eu segui meu caminho de volta se colocando mais uma vez ao lado do meu pai. Os homens tiraram suas espadas das bainhas e ergueram-nas em direção ao sol outonal, todas faiscaram como se fossem estrelas, todas as espadas permaneciam firmes em suas mãos, nenhuma delas tremeu ou vacilou uma única vez, nem mesmo a de Neji. Os caçadores guardaram suas espadas e se retiraram silenciosamente do lugar. Meu tio havia sido o primeiro Hyuuga a ser enterrado sem sua espada.
Eu permaneci no mesmo lugar ao lado do meu primo, eu ficaria com ele até o momento que ele se considerasse pronto para voltar ao castelo, o vento percorreu o cemitério enfunando meu vestido negro, junto com a capa de Neji. Eu não notava os passos as nossas costas, deixando-nos sozinhos, eu não percebi meu pai ir embora.
Meus olhos estavam fixos na fumaça azulada, ou esverdeada eu não sabia definir que subia no céu azul daquela manhã de outono. Tenten havia me dito que a cabeça do vampiro Uchiha Itachi havia sido queimada, no mesmo instante em que meu tio estava sendo enterrado. Eu sabia que a única maneira de se matar um vampiro era separar sua cabeça de seu corpo, e atear fogo, ao seus membros, ou deixa-los expostos ao sol forte. Mas nós morávamos muito no norte, nem mesmo nosso sol do meio-dia podia queimar os corpos imortais, apenas provocava-lhes algumas feridas, por isso que sempre queimávamos os corpos dos vampiros capturados.
A fumaça subiu ao céu, com sua cor indefinida, eu estava muito longe do local, mas podia sentir um cheiro pungente de algo muito doce, aquilo fazia meu estomago se revirar. Eu desviei meus olhos e os pousei, nas grandes montanhas atrás do castelo, ali em algum lugar nós sabíamos que estava o covil de um dos mais poderosos clãs vampirescos. Eu podia sentir a tensão claramente na atmosfera do ar, no silencio pesado que rodeava a todos nós.
Eu sabia de uma maneira assustadora e sem duvidas de que eles viriam atrás de nós, os vampiros iriam querer vingança, eles iriam vingar seu líder morto. Eu senti meu coração bater lentamente num compasso doloroso. Eu não tinha muitas esperanças, eu não sabia o que pensar.
Eles viriam atrás de nós, e nós teríamos que lutar contra eles.
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Eu não sei quanto tempo permaneci ao lado do meu primo, em frente ao tumulo de alguma forma muito estranha o tempo parecia não mais fazer diferença...
Eu podia sentir a raiva percorrendo todo meu corpo, passando por minhas veias queimando-as deixando-me num estado de fúria completo. Mas, eu estava enganado, não era raiva que eu sentia, era o mais puro ódio.
Eu flexionei os dedos da minha mão sabendo que com aquele aperto eu seria capaz, de esmagar um grande pedaço de pedra e reduzi-lo a pó. Eu queria reduzir a pó varias coisas naquele momento. Eu senti minhas presas apontando sobre meu lábio inferior, eu sabia que se não parasse de fazer aquilo acabaria me machucando, mas eu não me importava. Nada naquele momento me importava. Nem mesmo a sede de sangue. Eu estava transtornado, minha sede não era nada comparada ao meu ódio, a minha raiva. Minha sede queimava minha garganta ressecada, me deixando ainda com mais raiva, eu queria matar, eu precisava matar, liberar o assassino sanguinário que residia dentro de mim, o predador insaciável. Mas, minha mente estava muito alerta eu não me contentaria em matar qualquer pessoa, eu desejava matar uma pessoa exclusivamente!
Hyuuga Hizashi! O nome explodiu em minha mente, provocando ondas de ódio que varreram meu corpo. Eu soltei um rosnado feroz, expondo minhas presas para a noite. Maldito fosse o homem que havia tirado a vida do meu irmão! Um humano, um mero e insignificante mortal! Eu sabia que ele estava morto, se ele estivesse vivo então eu não estaria parado na amurada do castelo, tentando conter meu ódio insano. Eu o estaria caçando, eu iria encontrá-lo, eu mataria toda a corja Hyuuga se fosse necessário, apenas para por minhas mãos sobre sua carne flácida, mortal e destrincha-la. Mas, o maldito caçador de vampiros estava morto. Eu odiava os humanos e sua fragilidade, o homem que matara meu irmão, o mais antigo de nós um dos mais fortes, estava morto, longe do alcance de minha raiva da minha fúria, ele havia ido para um lugar que me estava negado. Eu desejei ter certeza de que o inferno existia assim eu poderia me sentir melhor, sabendo que Hyuuga Hizashi arderia eternamente nas chamas infernais, mas isso não me acalmou, não fez meu ódio ser menor. Eu não acreditava em nada depois da morte, eu não tinha que me preocupar com aquilo, eu iria viver para sempre.
Eu apertei meus punhos de maneira tão forte que pude sentir minhas unhas de aço se infiltrando em minha carne translúcida, eu não senti nenhuma dor, apenas uma sensação incomoda, olhei a palma de minha mão e vi o ferimento cicatrizar instantaneamente na frente de meus olhos, não deixando nem sequer uma marca visível.
A noite estava tão estrelada, eu podia ver com minha visão perfeita a luz das estrelas brilhando de forma tão intensa como diamantes contra o sol sem nem mesmo sequer prejudicar minha visão. Eu podia ouvir mesmo estando à milhas de distancias os pequenos barulhos provocados pelos animais noturnos, o bater silencioso das asas de uma coruja, o coração pulsante de uma raposa, os ratos do mato se mexendo em seus buracos embaixo da terra. Eu podia ouvir o sangue circulando pelas veias de todos esses animais, e aquilo me dava mais sede. Já fazia muito tempo que eu estava sem beber, e a sede ficava mais forte, enquanto as horas da noite iam se arrastando, mas eu não ousaria sair do castelo, nenhum vampiro ousaria.
Eu pensei em meu irmão, e senti a onda de ódio me percorrendo. Como ele havia se deixado abater tão facilmente? Eu tinha de destruí-lo, eu iria matá-lo... Aquele era meu destino, e agora ele estava morto e não havia ninguém no mundo que pudesse receber minha vingança. Eu queria rosnar alto, urrar como o animal incontrolável que eu era, eu queria cravar minhas presas assassinas em algo quente e vivo e me deixar levar pelo êxtase de sentir o sangue robusto e quente na minha boca, entorpecendo minha língua, enquanto eu o engolia refrescando minha garganta que parecia conter areia, de tão seca. Mas, eu não queria caçar, eu tinha de refrear meus instintos por pelo menos aquela noite.
Eu podia ouvir os gemidos e os rosnados dos outros vampiros do salão. Todos estavam proibidos de sair para caçar, todos esperavam uma decisão minha, eu não queria decidir nada por ninguém, eu sabia que teria de descer alguma hora e encarar aquele grupo, que buscava vingança assim como eu. Eu não queria liderá-los. Olhei para as sombras da floresta, tentando encontrar algo que me entretece eu não tive sucesso, eu não sei por quanto tempo permaneci parado na mesma posição, sem mexer nenhum músculo, sem piscar apenas deixando os pensamentos passarem pela minha cabeça numa desordem confusa, e enlouquecedora.
Passos na escada chamaram minha atenção mesmo assim eu não me movi nenhum centímetro. Eu sabia quem era eu não precisava olhar para trás. Eu me mantive estático, como a estatua sem vida que era.
- Eles não iram se conter por muito mais tempo, você é o líder, você precisa fazer alguma coisa... – eu ouvi a voz de Sai controlada saindo da escuridão, como se suas palavras não pudessem me atingir.
Eu não me virei para trás, em nenhum segundo, eu sabia que os olhos deles estavam apontando diretamente para minhas costas. Mesmo assim eu não me importei, eu ouvi quando ele se virou lentamente e desceu para o salão se juntando aos outros, meus olhos buscaram a lado leste das montanhas, a noite ainda era um manto escuro, mas em menos de duas horas o sol começaria a nascer, eu podia sentir a temperatura noturna ir aumentando gradativamente. Estava na hora eu não podia adiar mais.
Desci as escadas de pedra em caracol, eles sabiam que eu estava me aproximando, os murmúrios, os gemidos cessaram. Eu entrei no salão ricamente decorado, sendo seguido por vários pares de olhos avermelhados, assim como os meus. Eu podia sentir a raiva contida naquele lugar, eu podia ver o desejo de vingança estampado, em cada rosto de uma brancura sobrenatural. Eles estavam se contendo, estavam se segurando para não se deixarem serem dominados pelo instinto primordial, e ir caçar, buscar a vingança, aplacar a sede. Eles desejavam o mesmo que eu.
Eu andei silenciosamente pelo meio do salão principal, o bando de vampiros me seguiu, observando cada mínimo passo que eu dava em direção a cadeira que havia pertencido ao meu irmão. Eu queria prolongar aquele momento, estende-lo ao máximo, eu não gostaria de me sentar naquela cadeira. Meus passos me levaram inexoravelmente ao lugar onde, durante incontáveis noites meu irmão havia presidido nossa assembléia vampiresca, onde nós havíamos nos reunidos noite após a noite e assim teria sido durante toda a eternidade senão fosse pela intromissão de um reles humano. Meus dedos tocaram o encosto dourado da cadeira, sentindo com muita nitidez, as pequenas saliências esculpidas na madeira, eles desceram pelo estofamento, e dentro da minha mente vampirica, eu podia ver meu irmão claramente sentado naquele lugar me olhando atentamente, cuidando do meu bem estar. A onda de ódio parecia ser impossível de ser suprimida.
Eu me sentei e permaneci muito rígido, os olhos vermelhos seguiram meus movimentos com atenção, e eu pude ver a alegria do bando a me ver tomando o lugar do líder.
Sai, adiantou-se no meio da multidão, carregando algo entre os dedos anormalmente brancos. Eu pude ver o brilho do rubi a distancia, a pedra engastada num anel de ouro, devia ser valiosíssima, mas para nos seu valor era outro. Somente o líder Uchiha a carregava em suas mãos. Aquele anel havia permanecido no dedo de meu irmão por mais de 200 anos.
Os olhos de Sai eram negros, apesar de seu desejo de vingança, e de sua fome avassaladora mesmo assim seus olhos nunca haviam ficado escarlates, ele era o vampiro mais controlado que eu conhecia. Ele me lembrava muito um humano, eu não conseguia confiar nele.
O anel foi posto em minha mão direita, eu apreciei o brilho vermelho, achando que aquela cor não combinava muito comigo, eu preferia o vermelho arroxeado da cor do sangue. Eu não tinha a mesma postura que meu irmão. Eu não seria um bom líder.
Um vulto muito rápido passou por entre os vampiros e se atirou aos meus pés. Eu senti o peso leve da cabeça de Sakura sobre meus joelhos, seus olhos verdes esmeraldinos, haviam se transmutado no vermelho escarlate, seus cabelos róseos estavam desarrumados, mesmo assim ela não havia perdido sua graça, sua boca pequena estava aberta e mostrava as presas salientes, seu rosto ainda mantia a mesma jovem expressão de seus 15 anos, quando ela havia sido transformada numa imortal. Seu rosto estava corado, as lagrimas rubi escorriam por sua face, manchando sua pele quase translúcida.
- Sasuke-kun... – eu ouvi a voz sonora de Sakura encher todo o salão – todos estão sofrendo, nós queremos vingança...
Os rosnados se intensificaram, tornando-se quase um brado de guerra, a sede era tão intensa. Eu senti as mãos de Sakura buscarem meus dedos, a mão dela se entrelaçou com a minha, e eu não consegui rejeitar seu toque, apesar de desejar fazer aquilo. Eu não conseguia mais visualizar muito bem os rostos vampiricos na multidão, o ódio estava me cegando. O sol iria escalar as montanhas, e nós desceríamos para o calabouço daquela fortaleza buscando refugio por mais um dia. Nos iríamos reinar durante a noite, toda nossa sede seria saciada.
Minha visão se desanuviou quando eu tomei minha decisão, minha voz soou alta e clara para todos os vampiros presentes:
- Essa noite, quando o sol se por no oeste, nós atacaremos o clã Hyuuga. Eu serei o líder, nós teremos nossa vingança.
Os rosnados se intensificaram presas foram deixadas à mostra, as lágrimas escarlates de Sakura pararam de escorrer, sua cabeça rosada continuava deitada sobre meu colo, e eu pude ver seus lábios rosados virarem para cima num sorriso gentil, ela sentia prazer em matar. Eu queria que ela não estivesse ali. Eu teria minha vingança, mesmo que ela não conseguisse aplacar por completo meu ódio. Eu iria me alimentar de sangue humano aquela noite, do sangue do clã Hyuuga.
Continua?
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