Summary: Ora se parecia com abismos, ora com sorrisos irônicos ou até mesmo com gargalhadas, dragões, escuridão. Não importava sua forma, o objetivo era o mesmo: afastar você de mim. – MelloxMattxNear – Mello's PoV


O Nascer da Apatia.

"A indiferença tem muitas formas, e cada uma se mostra mais impiedosa que a outra."

Anne Asakura


Tristeza.

Parece que hoje resolveu invadir todo meu ser, tragando cada resquício de sanidade que me restava.

Talvez seja a melancolia de ter alguém tão importante próximo à mim, mas não pude deixar de sentir dor por aqueles olhos.

A indiferença estava prostrada neles.


Não foi de propósito que isso aconteceu. Simplesmente aconteceu e pronto.

Quando eu vi, estava distante de você e próximo dele.

Não foi de propósito.

Eu não quis que acontecesse.

Apenas aconteceu.

E eu nunca fiz nada para mudar.


Eu nunca tinha notado, mas aquela indiferença me assustava.

Eu não sei quando, nem como, mas quando dei por mim, já estava tragado por aqueles olhos escuros e sombrios.

Os olhos da indiferença.

E eu me sentia preso à um pesadelo sem fim. Porque eu estava te perdendo.

Para a indiferença e para o meu orgulho.


Não é desde sempre que brigamos assim.

Nós já fomos o que se pode chamar de grandes amigos.

Eu e você.

Naquela época, a sua indiferença não me assustava, porque eu parecia ser imune à ela.

Até que ele apareceu.

E a indiferença não me pareceu tão distante assim.


Eu o conheci em uma roda de conversas. Ele já estava lá há algum tempo e nós fazíamos parte do mesmo time de futebol.

Mas eu nunca tinha trocado muitas palavras com ele.

Até aquele dia.

Os olhos verdes, expressivos. O sorriso no rosto, a animação.

Matt.

Ele era um cara legal.

Mas você não pareceu gostar da nossa aproximação.


Depois que eu e Matt nos tornamos amigos, a nossa relação se tornou conturbada. Nossas conversas se resumiam à poucas palavras e você preferia permanecer no seu mundo.

Preferia passar horas estudando e montando seus quebra-cabeças, como se aquilo lhe aliviasse de alguma forma.

Você estava se tornando distante e meu orgulho não permitiu que eu perguntasse o porquê. No fundo, eu sabia.

Mas então Matt me chamava e eu preferia jogar futebol à te observar montando quebra-cabeças que não o levariam a nada.

Aquele foi o primeiro passo.

A minha aproximação com Matt.

O primeiro passo para a beira do abismo.

O abismo da indiferença.


Ela tinha várias formas.

Ora se parecia com abismos, ora com sorrisos irônicos ou até mesmo com gargalhadas, dragões, escuridão.

Não importava sua forma, o objetivo era o mesmo: afastar você de mim.

Nossa distância se tornou quase palpável, mas havia um muro entre ela. Um muro invisível que eu podia sentir.

E então eu descobri uma nova forma para a indiferença. Ela também podia ser concreta, assim como um muro.

Foi aí que eu comecei a sentir: eu estava perdendo você.


Eu gostava dos dias chuvosos, ninguém entendia porquê.

Eu passava horas e horas na sala de brinquedos observando a chuva cair e as gotas fazerem caminhos pela superfície lisa do vidro. Parecia alguma espécie de corrida sem linha de chegada. Portanto, sem vencedor.

E havia o barulho.

O barulho de gotas de chuva, de gameboy e de peças.

Peças de quebra-cabeças que não pareciam se encaixar.

E então, Matt puxava assuntos e nós conversávamos e riamos.

Você nunca disse nada naqueles momentos.

Apenas pegava seus brinquedos e os apertava com uma força considerável. Uma força que ninguém notava.

Apenas eu.

E então eu vi um brilho diferente nos seus olhos.

Outra forma para a indiferença ou apenas ódio?

Eu nunca soube responder.


Horas e horas à fio, as quais você passava na biblioteca. Horas de estudo e silêncio, onde apenas o barulho das páginas sendo folheadas era escutado.

Foi aí que eu senti o gosto da indiferença pela primeira vez.

E ele era amargo. Amargo demais para mim.

Você se tornou o primeiro, como se sempre fosse capaz disso.

E eu senti que um enorme pedestal te erguia, enquanto eu permanecia abaixo.

A indiferença tinha o sabor da derrota.

E eu nunca gostei de sabores amargos.

Eu odiava a derrota.


Daquele dia em diante, você se tornou meu rival.

Não havia mais conversas, nem mesmo curtas. Quando elas existiam, se limitavam a no máximo três palavras, nada mais que isso.

"Eu venci, Mello."

Apenas isso.

Três palavras, doze letras.

A sua voz exalava indiferença.

Talvez fosse apenas minha imaginação, eu não sei.

E nunca descobri.

Dali para frente, nossos caminhos se distanciaram cada vez mais.


Nós lutávamos por um único objetivo em comum: suceder L.

Matt havia se tornado meu melhor amigo e eu tentava fingir indiferença para Matt, dizendo que não me importava com você.

"Não adianta, Mello," Ele dizia, um sorriso em seus lábios. "você não sabe fingir para mim. Eu sei que você se importa. Você tem medo."

"Não seja ridículo, Matt." Eu respondia. "Near não é nada para mim, por que eu teria medo?"

"Um dia você vai entender."

Matt estava certo. Ele sempre estava.


"L está morto." Roger disse.

"Eu não tenho interesse nenhum em suceder L, Mello. Eu apenas faço isso para te irritar."

Eu preferia mil vezes ter escutado isso do que ter me deparado com seu olhar naquele dia.

Eram aqueles olhos, frios como metal, também afiados como tal, que me encaravam naquela escuridão.

E chovia.

Chovia muito.

Você não disse sequer uma palavra quando eu parti. Apenas me encarava, como se encarasse à morte. Não havia medo neles, apenas aquele sentimento.

Apenas indiferença.

E ela me dominava, me sucumbia ao medo.

Sem que eu percebesse, minhas pernas tremiam, o ar me faltava. E aquela palavra se repetia em minha mente, eu podia toca-la se quisesse.

I

n

D

i

F

e

N

ç

A

Você tem medo?

E então eu compreendi o que há muito devia ter entendido.

Sim, eu tinha medo.

Tinha medo da indiferença que envolvia os seus olhos. Medo da indiferença com a qual você me tratava. Nenhuma palavra, apenas o olhar.

Mas era eu quem havia criado esse monstro, certo?

A partir do momento em que escolhi aquele maldito destino.

Eu não queria abrir mão da amizade de Matt, tampouco da sua.

Mas eu devia ter percebido, eu devia ter notado.

Seu mundo era branco demais para aceitar outras cores que não fossem o negro.

Porque sua luz ofuscava minha sombra, mas não poderia combater o verde.

Sua indiferença jamais afetaria Matt.

Porque ele era indiferente a você.

No fim, perdi os dois.

Talvez tenha sido esse o meu maior erro:

Ter criado um bicho de sete cabeças.

Um bicho chamado indiferença.

E aqui, em meu leito de morte, digo aquilo que não tive coragem de dizer a você.

"Eu sinto muito, Near, por ter criado este monstro..." Os orbes azuis encaravam as chamas e iam lentamente se fechando. "Sinto muito por ter te apresentado à indiferença."

E então tudo ficou negro. Mas não tinha problema.

Aquela era apenas mais uma das formas da indiferença:

Uma forma chamada morte.


N/A:

Isso foi um surto de criatividade, confesso a vocês. Eu não pude deixar escapar essa chance porque é raro eu conseguir trabalhar tão bem em um PoV.

Eu não acho que o Mello tenha ficado OC por opiniões que eu recebi, mas peço desculpas caso isso tenha ocorrido. Eu gostei do resultado final, acho que retratei bem o que queria.

A indiferença pode ser assustadora. Pobre Mello...

Ah, quero agradecer à Raayy, meu chaveirinho, por ter opinado na fic e me ajudado e por outras coisas. Valeu, Raayy!

Bem, é isso.

Usarei uma frase de Peeh, uma das minhas escritoras favoritas:

Se eu não quisesse reviews, escrevia fics e guardava no Baú da Felicidade do Silvio Santos.

#Mostra os cartazes do Movimento anti-Baú da Felicidade#