Personagens não me pertencem, não ganho dinheiro com isso, bla bla bla...


Eram quatro da tarde e, como em todas as outras tardes de sua vida, Luke estava à mesa com sua mãe, comendo os sanduíches que ela preparara e os biscoitos que ela queimara. Havia tanto doces nos supermercados ali perto; dezenas de pacotes de biscoitos recheados, centenas de potes de iogurte, amontoados de bolos, pães doces, doces enlatados, frutas em calda, e mais tantas outras coisas... Ainda assim, May não comprava nada. May passava suas manhãs fazendo biscoitos e sanduíches e suas tardes comendo-os com seu filho.

Era tudo tão aborrecido.

Ele percorreu a mesa com os olhos. Eles tinham um açucareiro muito bonito, de porcelana, branco e azul. Uma das poucas coisas que May ainda não quebrara em seus acessos esquisitos. Era branco com detalhes delicados em azul escuro. Tinha uma asa bem curva e fina. A tampa parecia um chapéu pequenininho colocado delicadamente no topo do pote, como se o açucareiro fosse uma moça.

O prato que continha os sanduíches triangulares era de plástico e era laranja. Um prato qualquer que May pegara no armário, jogara os sanduíches dentro e pusera sobre a mesa. Os copos eram díspares, de cores e formas e materiais diferentes. Nada tinha sentido na vida daqueles dois, por que se preocupar com as combinações de pratos e copos?

No entanto, tudo dava à mesa um ar de simplicidade e desleixo.

Menos o açucareiro.

A mesa não estava coberta por uma toalha de mesa. Havia suportes embaixo dos copos, dos pratos e do açucareiro, mas eles eram feios. Suportes de palha.

"Quando eu era menina" May falou subitamente "meu pai me comprou este açucareiro. Era a coisa mais legal da época."

Luke a encarou em silêncio, sem piscar.

"E quando eu fiquei grávida, eu queria que fosse uma menina".

As frases não tinham nada a ver. Como os pratos e os copos. Como o açucareiro e os suportes. Como a mesa e as cadeiras.

Como May e a realidade.

"Eu queria tanto que fosse uma menina" ela continuou, fazendo círculos na madeira da mesa com os dedos "Comprei roupas de menina, brinquedos, prendedores de cabelo..."

A essa altura, o pequeno Luke já estava se sentindo mal. Se sua mãe queria tanto uma menina, não devia ter gostado de ter um menino. Não devia gostar dele.

"Oh, como eu fiquei decepcionada quando nasceu um menino!"

Luke virou o rosto e tentou não chorar. Será que sua mãe não percebia que o estava magoando? Será que não via que aquilo o machucava?

Uma formiga andou ligeira pela mesa e subiu no açucareiro, apenas para encontrá-lo tampado. Luke começou a prestar atenção aos detalhes da mesa, os desenhos da madeira, para não pensar no que sua mãe dissera. Tão insensível da parte dela! Ela não percebia quando machucava as pessoas.

Então ela riu alto, como se achasse algo a coisa mais engraçada do mundo, e Luke teve que se segurar bastante para não chorar.

"Céus!" ela exclamou batendo na testa com a mão "Como eu era boba!"

Soltando de uma vez o ar que prendia, aliviado, Luke sorriu.

Sua mãe era daquele jeito, não combinava com nada. Não fazia sentido.

Como o açucareiro.


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Outra desses dois. Espero que gostem ._.

R&R

kisses