Abstract
(Capítulo Um ~ Servidão)
"Em tempos de paz, o céu maquia sua forma mais sombria, ocultando os sentimentos desesperados de um ser em solidão."
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Quanto tempo já se passara? Naquela prisão clara reinava o tédio, e a vontade de fugir era quase vexatória. Aqueles que moram sobre a Terra acreditam que o Céu é o paraíso eterno, a felicidade, o amor, os prazeres que buscam unidos em um único local. Contudo, se o conhecessem, se decepcionariam. Tudo não ia além do que seus olhos eram capazes de alcançar. Um eterno deserto sem prazer algum.
"Jesebel...há tempos não o encontro. Por onde tem andado? Observar esses seres que experimentam, os mais diversos prazeres e sentimentos pode ser interessante, e para isso é que fui criado. Guardar suas vidas, viver sob um senhor, usar a minha vida para proteger outro ser. Isso realmente é algo honrado?"
-E, pelo visto, esse rapaz que tenho o dever de vigiar não faz nada além de jogar o dia todo! Isso cansa. – disse o anjo, revirando-se no ar com uma expressão irritada.
-Akel!- gritou outro anjo, voando velozmente em sua direção.
Akel estava quase dormindo no ar, tamanho seu tédio, e não percebeu a chegada do irmão. E, logo, Jesebel esbarrou no irmão caçula.
-Ai, Jesebel...Olhe por onde anda! Tanto espaço aqui e você sequer é capaz de desviar.- disparou Akel, desamassando a roupa.
Usava uma blusa longa com desenhos em azul e dourado, o mesmo padrão se repetia nas calças. Observou a face de pálido, mas com um sorriso que traía um misto de nervosismo e euforia.
-O que houve?
-E-eu preciso te contar o que aconteceu hoje, Akel!- gaguejou o mais velho. – Você tem que me prometer que guardará segredo.
Jesebel segurou os ombros finos do irmão com força, seu olhar direto e amedrontado.
-Está certo, está certo. Vamos, fale o que aconteceu.-
Akel não dava muita atenção ao medo do irmão. Ele devia estar exagerando com algo insignificante, era sempre exagerado em contar as coisas. Tirou as mãos de Jesebel de seus ombros, estavam machucando, e continuou fitando-o.
-Certo, certo...Segredo...Não se esqueça. Eu estava vigiando o humano ao qual fui designado. Aquela mulher parecia tão contente com o que fazia que tive vontade de experimentar essas coisas do dia-a-dia deles...Então eu...eu resolvi tornar-me um humano!- sua voz era completamente assustada. Era possível ouvir seus dentes baterem enquanto falava, e suas mãos estavam geladas.
-Enlouqueceu? Onde estava com a cabeça ao violar as regras? Alguém mais sabe disso? Vamos, me responda!
Akel estava abismado com o que havia escutado. Não podia aceitar algo assim de seu irmão.
-Não, somente você sabe sobre isso. Por isso pedi segredo. Precisa experimentar...sei que tem tanta curiosidade quanto eu em relação ao mundo deles. Sempre estivemos juntos, eu sei o que se passa em sua mente. Vamos! Esse será nosso único segredo, merecemos um descanso.- segurava as duas mãos do irmão e o observava com um sorriso gentil e esperançoso. Queria ter seu irmão aproveitando junto a ele.
Akel permaneceu refletindo sobre a proposta. Sua expressão estava vaga e seu olhar longe. Não era possível decifrar o que se passava por sua mente.
- Está louco, só pode ser isso. Se quiser morrer nas mãos do Senhor, vá sozinho. – Akel retirou suas mãos de perto do irmão e deu a volta, indo para outro lugar. Sua voz tinha um tom bravo.
- Akel, eu não imaginava que tivesse tanto medo de alguém que nunca entendeu, por não possuir a liberdade de escolha dos seres daquele mundo. Decepcionei-me com você, irmão. – Jesebel falou num tom baixo, mas que alcançava os ouvidos do irmão, e sua atenção. Ele parara.
Akel limitou-se a virar a face de lado com um sorriso forçado.
-Diga o que quiser.
E voltou a voar, indo embora dali. Seu corpo já não estava perto de Jesebel, mas sua mente ainda guardava vivamente as palavras dele.
Akel resolveu acompanhar de perto seu ser humano, para observá-lo. Entrou no apartamento escuro – a escuridão e a frieza do apartamento arrepiavam o anjo – observou tudo e notou como o local era bagunçado. Chegava a ter alguns insetos, devido a sujeira. Então, próximo a uma janela fechada com venezianas que deixavam pouca luz do Sol entrar, ficava uma TV com um videogame no chão. O adolescente não tirava um segundo sequer o olhar da TV. O anjo que flutuava sobre o chão cruzava os braços, estava desapontado com tudo.
- Que desperdício de tempo!- um tom de tristeza era possível notar em sua voz. Suspirou.
- Desperdício nada! Estou quase zerando o game!- o adolescente respondeu automaticamente, sem notar que era o único no local.
Akel arregalou os olhos ao perceber que o que falara havia sido escutado por aquele que nunca deveria perceber sua presença. O rapaz demorou cerca de um minuto para se dar conta da situação. Então pausou tranqüilamente o jogo e se levantou, tremulo, do chão. Olhou rapidamente para trás, certificando-se de que não havia mais ninguém no quarto.
- Você consegue me ouvir?- o anjo não conseguia conter suas perguntas, desejava entender aquela situação. Percebeu que o menino não podia vê-lo.
- S-sim...Quem é você? O QUE QUER DE MIM?- o rapaz, instintivamente, apanhou a primeira coisa ao alcance de sua mão: um copo de vidro.
- Acalme-se, eu sou seu anjo. Não consigo entender como você consegue me ouvir, mas isso pode ser ótimo, poderei aprender várias coisas sobre vocês!- estava entusiasmado com essa possibilidade, então, enquanto falava dava alguns passos na direção do adolescente.
O menino sentia a voz cada vez mais próxima dele, e começou a andar para trás até encostar-se à parede.
- Anjo? Meu anjo? Alguém tão idiota como eu não merece nem isso! Ninguém me deu atenção até hoje, ninguém se importou comigo. Sempre fui excluído na minha escola, minha família mal fala comigo. VOCÊ SÓ PODE SER UM DEMÔNIO! FIQUE LONGE DE MIM! FIQUE LONGE!
O adolescente fechou os olhos e saiu correndo para fora do quarto, abrindo-os quando já estava fora, mas continuou olhando para trás enquanto caminhava. Sua respiração estava forçada.
- Acalme-se, não sou um demônio. Sou seu anjo, estou falando sério.- Akel ia na direção do menino a fim de acalmá-lo.
- SUMA! EU NÃO VOU PARA O INFERNO, EU NÃO VOU...
O rapaz andava rapidamente, indo em direção à sacada. Naquela velocidade não conseguiria parar e era possível que caísse da sacada. Assustado, o anjo agora gritava.
- PARE DE CORRER, OU...
Não teve tempo de terminar a frase. No momento seguinte, o menino já estava havia caído da sacada. Akel abriu suas asas e voou para fora, tentando salva-lo. Tinha esperança de que o jovem não morresse. Faltava pouco para segurar sua mão quando o garoto voltou a falar.
-Você era mesmo um anjo...Então eu nunca estive só? Que bom.- as lágrimas escorriam por seu rosto, e um sorriso sincero mostrava que o anjo havia sido visto naquele instante.
Quando Akel achou que conseguiria pegar o garoto, repentinamente abriu os olhos e viu-se em um local totalmente azul, sem nuvens. Alguns poucos vultos brancos iam e ser os arcanjos. Então, ouviu a voz do "Absoluto".
-Meu filho, você interferiu na vida de um humano. Não poderia ter feito isso.
Era impossível descobrir de onde vinha a voz, ela apenas estava presente naquele local que não possuía um fim. Para todos lado que olhasse apenas era possível ver o azul e alguns vultos espalhados ao seu redor. Voltou a lembrar-se do garoto, e caiu de joelhos por sua fraqueza. Olhou suas mãos tremulas. "Será que ele...não pode ser, ele estava tão próximo. Não, o senhor o salvou."
Meu senhor, e o menino?- tinha medo de perguntar, mas sempre falavam do amor que o senhor possuía por seus filhos. Sim, certamente ele havia sido salvo.
Ele morreu, Akel..
Akel arregalou os olhos e bateu naquele chão que não oferecia dor. Lágrimas começaram a escorrer pela face do anjo. Ele prensava os dentes com força. Era uma mistura de raiva e tristeza que invadia o corpo daquele ser celestial. Começou murmurando.
Faltava tão pouco, eu ia conseguir. Não precisava terminar assim, não podia terminar assim...SE VOCÊ É MESMO CHEIO DE AMOR, DE COMPAIXÃO, COMO PODE DEIXAR SEU FILHO MORRER?
- Akel, acalme-se.
- NÃO! EU NÃO VOU MAIS ESCUTAR! ESTOU FARTO, VOCÊ É... – antes que ele pudesse finalizar sua frase sentiu um mal estar repentino e desmaiou.
Agradeço, meu filho. Akel é jovem e tem muito que aprender.
O soberano, com a voz calma e gentil, dirigia-se ao arcanjo que saia do vulto e se mostrava. Possuía uma armadura prateada com detalhes em ouro branco. Os cabelos loiros do arcanjo eram tão claros que chegava a parecer branco como suas asas. Os detalhes em ouro branco formavam imagens curvas, transmitiam tranqüilidade quando vistas. A parte dos pés era toda branca, cristalina, e reluzia diante ao azul. O arcanjo pegou o corpo de Akel nos braços e o levou embora.
- Não se preocupe, Senhor, Akel há de aprender.- a voz era calma e gentil. Eles sumiam ao longo do caminhar.
Akel ficou muito tempo desacordado, já era noite quando ele abriu seus olhos dourados. Via então os pontos reluzentes no céu, e a lua cheia iluminando seu rosto branco. Sentou-se e observou. Não compreendia porque ainda estava no céu. Todo anjo adormecido tende a se espatifar na Terra, causando apenas o barulho, mas jamais sendo visto. Franziu o cenho.
- Não está caído porque eu não permiti. – Dizia o arcanjo que estava atrás de Akel em pé.
O anjo virou-se ao ouvir a voz de seu superior, e observou, admirado, a forma daquele ser celestial. A armadura, os cabelos quase brancos, olhos verdes claros, pele clara como uma nuvem. O arcanjo vendo que Akel não o responderia, continuou a falar.
- Não sei o que passa pela sua mente jovem, mas como seu superior e pelas minhas experiências não tente mudar o certo. Todos têm trabalhos, obrigações a serem cumpridas, se não fizermos corretamente o equilíbrio é desfeito. Deus nos criou para manter a ordem entre os quatro mundos.- aproximou-se do anjo acariciando-lhe a cabeça com um sorriso. Sua voz tinha uma tranqüilidade e amor contido em cada palavra.- Então, por hora, apenas aceite. Logo entenderá tudo.
O arcanjo sorriu, mostrando seus belos dentes brancos. Logo depois tirou a mão da cabeça do anjo e foi embora, desaparecendo em meio à escuridão da noite. As estrelas que deveriam fazer aquela bela armadura brilhar mais do que uma estrela ou até o próprio brilho da Lua, atravessavam direto, deixando-a mais sombria.
Akel voltou a deitar no céu, olhando a imensidão escura. Nada ao seu redor era visível a não ser a noite. A noite sim era verdadeira. Mostrava seu brilho e sua vontade, quando sentia vontade dava o prazer de ver a Lua tomar sua atenção assim como as estrelas. Quando não queria que elas roubassem sua atenção simplesmente às cobria deixando o céu com seus verdadeiros sentimentos. Se o céu era capaz de fazer isso, por que eles não podiam?
"Manter o equilíbrio entre os mundos..." pensava o anjo. "Então somos apenas ferramentas usadas até a ultima vontade e logo depois descartadas ou punidas quando não cumprimos os deveres? Meros brinquedos sem vontade? Sim, é o que aparenta. Meros servos."
Comentários- Bem, resolvi escrever está história ela é original minha. Não me inspirei em nenhum outro anime que vi. Já que travei em " A Familia Yagami" resolvi continuar com esse. Espero que gostem da história.
Queria fazer um agradecimento a minha beta Mithiel, graças a ela essa história ficou bem melhor do que meu original. E espero que gostem desse primeiro capítulo. Estou me esforçando para terminar o segundo capitulo. De coração espero que gostem do Abstract e de sua história. Nos vemos no capítulo 2. E assim que possível irei terminar o capitulo da Familia Yagami.
