Disclaimer:
- Cowboy Bebop não me pertence e todo Blues devia ser azul...
o blues "Foxy Lady" pertence ao gênio Jimi Hendrix, e eu aconselho a ouvir. O blues já faz todo o hentai por si...
betagem - e ameaças de morte - por Wanda Scarlet
A Cor Do Blues
Bar. Fumaça, mesa, uma dose dupla de whiskey pela metade no copo.
Jet Black olhou mais uma vez para a mulher de cabelos ruivos que segurava uma bolsa ao colo. Micro-chips bancários de quatro estações roubados na semana passada estavam lá dentro. Ia valer uma boa grana. A mulher jogou os cabelos para trás, rindo com o garçom. Ele se afastou levando outro copo de Martini vazio.
Ela abriu a bolsa, pegando um batom cor rubi e passando lentamente sobre os lábios. Rodou os olhos pelo recinto, tomando um gole farto da bebida.
Agora.
Jet se levantou, caminhando lento em sua direção. A fumaça lhe enchia os pulmões, e quase sem querer, ele sentia que seus pés se moviam no compasso quente do blues que infernizava aquele cubículo vermelho.
A mulher parou o olhar sobre ele, com um sorriso vulgar.
Certamente aquela não era uma ladra de classe. Era burra o bastante para não só ser seguida, mas como ser encontrada bêbada e sozinha num bar qualquer dos confins de Marte.
Não era o tipo de recompensa que lhe dava gosto, mas bom, a grana valeria a pena.
Estava já próximo da mesa quando sentiu um movimento atrás da mulher.
Uma arma em sua nuca, e um vulto que parecia se chacoalhar denso entre a fumaça escura.
De repente aquela voz saltando sobre os trompetes, atrevida e impetuosa, como sempre.
-Parece que eu cheguei primeiro, cowboy.
O sorriso sacana murchou do rosto da garota ao se deparar com o rosto carrancudo do caçador de recompensas.
-Faye Valentine.
E depois tudo aconteceu muito rápido.
A mulher jogou a bolsa contra Faye, que acabou largando longe a arma. Um gás se espalhou rápido pelo pequeno bar, vindo de alguma das bijuterias falsas que usava, enquanto a mulher saía correndo. Jet correu atrás da ladra de chips, até sair do bar.
A fumaça e o gás se confundiam em sua respiração, o cansando. Os olhos ficaram turvos por um momento, mas ele não se deixou cair. Continuou a correr, até encontrar uma portinha de ferro, por onde saiu.
Lá fora, num beco escuro – como devem ser todos os becos – tudo que Jet alcançou foi o ronco da moto que ao longe, rasgava a avenida em alta velocidade.
Recostou-se na parede úmida e escura, colando as mãos no joelho e forçando o fôlego a voltar ao normal.
Não demorou para que aquela porta se abrisse, e um cheiro forte de mormaço lhe invadisse as narinas. Respirou com mais força, levantando a cabeça e fechando os olhos, quando sentiu o aroma inconfundível do tabaco.
-Não era grande coisa, mesmo.
Virou-se com os olhos irados para a mulher do seu lado. Não era grande coisa! Então aquela maluca aparecia do nada, arruinava sua caça, e ainda debochava!
Jet deu um passo em sua direção, o rosto ardendo de raiva.
-Eu teria pego aquela recompensa se não fosse por você, sua encrenqueira!
Faye deu uma tragada longa, se espremendo contra o beco. Sorriu, desafiante:
-Ei, cuidado, cowboy. Você pode ofender uma dama com esse tom.
O ex-policial teve que respirar fundo para não perder a postura. Ia dizer umas verdades praquela ladra arrogante! Ia dizer que tipo de dama ela era, isso sim!
Mas desistiu.
Fez apenas um gesto de mão, virando-se em direção da porta de ferro e entrando novamente no minúsculo bar.
-Ah, esqueça, Faye.
Fechou a porta atrás de si.
Quanto tempo? Pelo menos três anos. Não se viam há três anos e já brigavam como se tudo tivesse acontecido ontem.
Ou como se nunca tivesse acontecido.
Às vezes o tempo passa e fica difícil reconhecer a realidade das coisas...
Sentou-se na primeira mesa inteira que encontrou. O bar estava um pouco vazio agora, mas a banda continuava a tocar como se nada tivesse acontecido.
O bar todo era uma sala pequena, com um balcão no fundo, um tablado na outra extremidade e meia dúzia de mesas. Todo o lugar era iluminado por quatro lâmpadas dispostas nas paredes e uma no centro do balcão de bebidas. As luzes vermelhas piscavam histéricas, e o barman decidiu trocá-las. Não havendo outra cor, foi azul mesmo.
Jet mexia nos olhos com os dedos, tentando se acostumar com a nova luz, quando uma sombra parou na sua frente. Abriu os olhos lentos, e viu aquela figura azulada e mal vestida com um meio sorriso nos lábios e uma arma nas mãos.
-Ei, Jet,
-Hun? – murmurou, voltando a fechar os olhos.
Um barulhinho bom dos pratos da bateria encerrava a música.
-Como... como você está?
-Ahn?
Dessa vez ele a encarou, e sorriu de volta.
Tocavam um blues azulado e quente naquele cubículo infernal no meio do nada de Marte.
Empurrou uma cadeira com a perna e logo havia garrafas e copos sobre a mesa.
Afinal, havia três anos...
-Então, como é a solidão na Bebop?
-Não é tão ruim.
Faye soltou uma gargalhada alta, levantando o copo e o batendo contra a mesa. Arqueou uma sobrancelha e se debruçou na mesinha frágil de madeira.
-Sei!
-É bom não ter garotas problemáticas por perto, para variar... – Jet a olhou de soslaio, como se quisesse ressalvar a indireta, e voltou a fitar a banda.
-Definição nova para mulher nenhuma.
Faye riu novamente.
O caçador acendeu mais dois cigarros, dando de ombros, e jogou um para a ladra entre as garrafas vazias e os copos pela metade.
-Caçar recompensas me ocupa o bastante.
-Do que você tem medo, Jet? De sentir uma mulher de verdade?
Ela continuava debruçada sobre a mesa, os seios saltando entre os braços, e o pescoço esticado em direção de Black como se ele fosse uma presa.
Instigar era o sete de paus.
Não importava o que, realmente. Ela só queria instigar Jet Black.
Ao seu lado, o caçador de recompensar estreitou os olhos, e a fitou com uma seriedade forçada que há muito ele perdera naquela mesa.
Pela bebida ou por ela.
-Eu já tive uma mulher de verdade.
-E foi o bastante pra uma vida inteira?
-Você bebeu demais, Faye.
-Faça uma posta comigo, Jet. Se eu não conseguir, te pago o valor dessa recompensa que você perdeu. Senão, você me paga o dobro.
Ela arqueou o corpo, jogando as costas suavemente contra o encosto da cadeira. Ela falava sério. Jet a fitou por longos instantes, e sabia que ia se arrepender em perguntar.
Mas arrependimentos nunca mataram ninguém.
-E o que você espera conseguir, Faye?
Ou matavam?
Faye se inclinou maliciosamente sobre ele, arrastando sua cadeira e chegando sua boca até próximo do seu ouvido.
-Vou te fazer o homem mais feliz, por uma noite.
-E depois?
-Depois, tudo volta a ser abóbora, cowboy.
Foxy, Foxy
you know you are a cute little heart breaker
Raposa, Raposa
você sabe que é uma pequena e doce destruidora de corações
Foxy yeah,
and you know you are a sweet little lover maker
Foxy
Raposa, sim
e você sabe que é uma doce e pequena fazedora de amor
Raposa
I wanna take you home, yeah
I won't do you no harm
you've got to be all mine, all mine
ooh Foxy Lady
Foxy, Foxy
eu quero te levar pra casa, sim
não vou te machucar
você tem que ser toda minha, toda minha
Ah, Lady Raposa
Raposa, Raposa
now I see you come down on the scene
oh Foxy
you make me wanna get up and scream
agora eu vejo você descer do palco
ah, raposa
você me faz querer levantar e gritar
Foxy, oh baby listen now
I've made up my mind,
I'm tired of wasting all my precious time
Raposa, baby, ouça agora
eu já me decidi
estou cansado de perder todo o meu precioso tempo
you've got to be all mine, all mine
você tem que ser minha, toda minha
ooh, Foxy Lady
Ooh, Foxy Lady, yeah yeah
you look so good, Foxy
oh yeah Foxy
ah, lady Raposa
ah, lady Raposa, sim, sim
você parece tão bem, Raposa
ah sim, Raposa
yeah, give us some, Foxy
Foxy Foxy
Foxy Foxy
Foxy Foxy
sim, nos dê uma chance, Raposa
Raposa, Raposa
Raposa, Raposa
Raposa, Raposa
Jet sentou-se na cama, sem fazer barulho, mas em vão.
Aqueles olhos semi-cerrados o fitavam silenciosos em cada movimento. A mulher sorriu quando a bandeja foi depositada ao seu lado.
-Bom dia, Cinderela.
Faye deu um sorriso enigmático.
-Bom dia, Abóbora.
O caçador de recompensas acendeu um cigarro, jogando os pés contra as almofadas, deitando-se invertido sobre a cama.
Faye pegou o primeiro pedaço de fruta, e se recostou sobre a cabeceira de ferro. Comia lenta e vagarosamente, olhando para a janela da Bebop.
-Dizem que a Terra está com um clima bom nessa época do ano. – ela murmura.
-É, é o que dizem.
Tragou mais fundo o cigarro, e soltou o ar observando a jovem que devorava seu café da manhã. Faye era linda, e isso era incontestável.
Mas tinha algo mais que o prendia a ela.
A única coisa que não se deve prender a ninguém: liberdade.
Faye não era uma ladra por acaso, não, ela era uma espécie de raposa rara. Alguém esperta e inteligente demais para ser presa emocionalmente. Alguém que morreria se vivesse por muito tempo no mesmo lugar, com as mesmas pessoas, com a mesma vida.
Ela era uma mulher que inventava a si mesma todos os dias.
Sozinha.
-Talvez eu pegue uma carona até lá. – disse, mais para si mesma que para ele, e se levantou, procurando as roupas pelo quarto.
Jet continuava a observá-la.
Como um cão que fareja antes de se aproximar da caça.
Era isso que ele era. The black dog, como sempre o haviam chamado. O cão negro que nunca largava depois da primeira mordida.
Alguém que precisava de sua rotina, de seu trabalho, de suas certezas.
De objetivos concretos e que se prendia a eles com toda força, até que eles se desfizessem. Então criaria outros e outros, num círculo sem fim de deveres existenciais.
O tipo de espécie que já nasce com as próprias amarras.
-É melhor eu ir, antes de perder a carona.
O tipo de raça que tem um instinto peculiar de caçar raposas.
-Faye.
-Até um dia, cowboy.
Ele se levantou devagar, premeditando cada gesto.
Quase um deja-vu do momento.
Puxou-a pelo braço, encerrando a porta semi-aberta por onde ela passava. Encostou-a contra o metal frio e colou sua boca na dela.
Quando se afastou, os olhos azuis estavam mais vivos e assustados do que nunca.
Ele sorriu.
-Hoje é esse dia, Faye. E amanhã, e depois... porque você pode fugir o quanto quiser, eu sempre vou achar você.
Afastou-se, acendendo outro cigarro.
Faye permitiu que um sorriso suave brincasse no canto dos lábios, acenando para ele enquanto deixava o quarto do único membro da Bebop.
Talvez, um dia, a raposa fosse acabar se deixando pegar.
E a jovem ladra esperaria por esse dia, ansiosamente.
OWARI
