Escolhas
Capitulo 1
Eu sentia o vento passando pelo meu corpo. A sensação de liberdade era maravilhosa e estimulava meu corpo de uma forma quase indecente. Era como se as amarras se desfizessem, liberando o meu eu verdadeiro. Eu gostaria de poder correr tão veloz quanto a minha moto, com as minhas próprias pernas. Olhei para a mata que me cercava, já me encontrava nos limites entre Port Angeles e Forks.
Uma placa enorme, bem na divisa, me deu as boas vindas à cidade onde minha mãe nasceu. Naquele momento me senti sendo transportada para o outro mundo, um mundo verde e úmido. O cheiro de mato me atingiu em cheio, era a mata densa da floresta de Forks que estranhamente me atraia, me fazendo sentir-se conectada a ela, como se olhos me seguissem. Não, mais do que isto! Eu tinha a nítida sensação de que uma voz me chamava.
Então, aos pouco, fui diminuindo até parar perto do acostamento de terra. Retirei o capacete e a mochila pesada não me importando se quando voltasse eu encontraria as minhas coisas lá. Tomei o cuidado apenas de pegar uma coisa, a urna.
Depois entrei na mata ignorando o enorme aviso de perigo com o desenho negro de um lobo. Era um aviso para os campistas. Eu apenas queria sentir todo aquele verde, toda aquela umidade, não iria passar a noite na mata. Vivi por quase dezenove anos no árido do novo México. Lá nunca chovia. Neve então, nunca vi em toda a minha vida, somente pela televisão. Fascinada, eu me abaixei e tomei do solo molhado, o cheiro do musgo era fascinante. Depois ergui a minha cabeça, cheguei mesmo a rir, pois parecia um cão perdigueiro, fungado tudo ao meu redor.
Verde! Natureza viva!
Não aquelas de estufa, mas tudo molhadinho, cheio de odores e cores, sim a natureza viva era colorida. Caminhei me embrenhando para dentro da mata. A temperatura era agradável também. Eu ouvia o canto dos pássaros e havia algum roedor próximo. Fiquei impressionada, pois parecia que os bichos não tinham medo de mim. Chequei até um declive e cogitei a melhor forma de descer sem me preocupar como subiria depois. Mas perdi a linha do raciocínio assim que vi o sol se pondo por entre as frestas das arvores. Era diferente de tudo, como um quadro vivo que se movimentava lentamente. Nenhum artista iria conseguir reproduzir aquilo, acho que fiquei sem respirar por um longo tempo, pois meu peito começou a arder e tomei com gosto do ar úmido que entrou rasgando gelado pelas minhas narinas até chegar aos meus pulmões.
Havia um gosto a mais no ar e um cheiro forte de...de cachorro molhado?
Olhei ao redor e gritei!
Um par de olhos cinza me observava acima de um longo focinho negro. Perdi o equilíbrio e rolei o declive, quando parei, bati minhas costas em alguma coisa pontuda.
_Merda! – sussurrei por entre meus dentes e me ergui lentamente sentido cada extensão do meu corpo. Tudo em ordem, nenhum osso quebrado! Mas havia um rasgo do tamanho de um bonde na minha jaqueta. Soltei outro palavrão. Era a jaqueta que eu mais gostava. Eu gastei um soma indecente comprando ela no brechó. Pude ouvir a voz da minha mãe retumbando nas minhas orelhas.
_"De tanta gente tola no mundo, você tinha mesmo que ser mais uma?"
Funguei ressentida. Daria tudo o que tinha para poder ouvi-la falando novamente. Olhei para cima, agora estava quase escuro. Eu coloquei minhas mãos na encosta e comecei a escalar. Fiquei me perguntando como havia parado ali, tá um cachorro maldito me assustou, mas antes disto e, repentinamente, me senti leve demais. Parei a subida e comecei a tatear os meus bolsos.
_Merda das merdas! – eu havia perdido as cinzas da mamãe. Será que eu iria conseguir fazer alguma coisa direito algum dia? Olhei desesperada a minha volta, lá estava, no lugar onde cai. Suspirando, me virei e desci, mas esquiando de bunda, e ao invés de meio molhada, ficaria molhada por inteiro.
_Desculpe mãe!
Que tristeza!
Eu me voltei e subi tudo novamente. Acho que em menos de cinco minutos eu já estava no topo. Não fiquei olhando e andei ligeira para fora da mata, eu ainda tinha muito chão para queimar. Com alegria sai no acostamento, ta um pouco distante de onde havia deixado a moto e minhas coisas, mas estava tudo lá! É a cidade era tranqüila mesmo, como li na placa de boas vindas. Rapidamente coloquei o capacete, guardei a urna com cuidado na mochila e a coloquei nas costas e montei na minha moto.
_Ui! – não era reconfortante a sensação de gelo na bunda. - Depois liguei minha belezinha e voltei para a estrada. Tive que ligar os faróis, percebi que a noite caia muito rápido naquela região, devia ser por causa da mata que era fechada.
Quem diria? Sempre achei que minha mãe era da terra árida, do sol forte. Quem diria que ela veio de um lugarzinho no fim do mundo chamado Forks?
Na verdade eu não sei por que estava tão surpresa, mamãe sempre fora tão fechada! Acho que nem papai sabia ao certo com quem havia se casado! Leah C. Taylor era uma mulher forte, em toda a complexidade da palavra. Mas fechada em seu mundo, fechada para o marido e para mim, sua filha. De mamãe herdei o porte, alta com cabelos negros e lisos. Herdei também o gênio do cão, perdi a conta de quantos colégios fui expulsa ou em quantos marmanjos soquei a cara. As vezes isto me deixava deprimida, principalmente nos bailes. Os caras sempre escolhiam as meninas frágeis e meigas. A primeira e ultima vez que fui a um baile, eu nunca vou me esquecer, pois ameacei um menino do colégio a me levar, qual era mesmo o nome dele? Dany Simpson.
Depois jurei que nunca mais iria me sujeitar aquilo. De papai herdei os olhos, de um azul forte, e o talento para gostar de animais, papai era veterinário. Lembrar dele sempre me fazia sorrir, eu tinha boas lembranças de nós dois juntos. Senti que uma lagrima escorria pelo meu rosto, tentei enfiar um dedo por dentro do capacete quando vi um vulto enorme parado logo a frente na estrada.
_Que diabos é isto? – Era um cachorro e era enorme!
O pessoal deveria mudar os dizeres daquela placa lá na frente, pois o bicho era assustador de tão grande!
Ele arreganhou o focinho para mim, eu vi os dentes grandes e pontudos e perdi o equilíbrio da moto. Senti meu corpo caindo no chão e meu pé preso à moto, estavamos indo de encontro ao enorme cão. O trepidar estava tirando minha consciência e eu me perguntei como fui parar naquela cidade esquisita? Dizem que quando estamos perto de morrer nossas vidas passam diante de nossos olhos como um filme. Para mim foi estranho, pois me lembrei apenas de estar falando no telefone:
_Alô?
_Por favor, Seth Clearwater?
_Leah, é você minha irmã?
_Não, eu sou a filha dela!
continua...
