CAPÍTULO I

I

O tempo acomete os amados à morte, inesperada e impreterivelmente. Quase sempre cruel e imprevisível; pode até mesmo mudar o imutável, quebrar o inquebrável, romper o irrompível, designar o que está por vir, tudo sem qualquer relance de pesar. Este é o poder de quem domina o tempo: reverter até mesmo a morte, que é, supostamente, a única verdade irrevogável da humanidade. Este fora o poder dado ao Sábio dos Seis Caminhos; e ele é o único que habita a fronteira do espaço-tempo, num local onde avançar no tempo é o mesmo que escalar uma montanha, e retornar seria como descer um vale.

"Eis que o poder de driblar a morte jamais deveria ser dado aos humanos", seria a lógica correta de Deus. Mas que seria um deus para uma raça que transcenderia os limites impostos sobre si mesma? Assim fez Orochimaru, ao deturpar o Edo Tensei do Segundo Hokage; e assim fez Nagato, ao ressuscitar os mortos no ataque à Folha; assim fez Obito, ao ressuscitar, mesmo que contra sua própria vontade, Uchiha Madara no alto da Quarta Guerra; assim fez Uchiha Sasuke ao trazer os antigos Hokage de volta à vida. Assim teria feito qualquer um, no auge do desespero e da dor, com o simples desejo de rever a pessoa que ama. Pois assim é humanidade: efêmera e carente de amor.

Muitas mortes ocorreram durante a Quarta Guerra. Hoje era um dia marcante, onde na Vila da Folha comemoravam o aniversário dessas mortes. Curiosamente, também era comemorado o aniversário de Uzumaki Naruto, o Herói que se exilou da Vila. Para muitos, os motivos do exílio eram infundados; para outros, menos importantes que fumar um cigarro. Mas havia muitos segredos por detrás de tudo que acontecera, e muitos deles eram ocultos para as pessoas.

Neste dia, treze anos após o término da Guerra, acordavam os Shinobi da Folha um pouco mais tristes que o comum. Não eram todos que sabiam do aniversário de Naruto; e aqueles que sabiam sentiam-se um pouco mais tristes que os demais. Prestavam homenagens aos mortos de guerra, cuja lista era extensa e, em grande parte, desconhecida por outras tantas pessoas. Mas dentre eles estavam entes queridos, excepcionalmente queridos, como Hyuuga Neji e Uchiha Sasuke.

Nesta ocasião, o Hokage prestava homenagens primeiramente aos mais velhos. Depois vinham os mais novos, como Neji. A seguir, vinha Uchiha Sasuke, pois não fosse por ele todos ainda estariam presos num sonho eterno, vívido e atraente, mas ilusório como qualquer outro sonho. Antes dele vinham outros nomes que as pessoas se forçavam a respeitar; mas a natureza humana não é perfeita, e nos atemos a fingir o mínimo de condolências às mortes das pessoas que desconhecemos. Desse jeito soaremos mais amorosos e menos hipócritas… Mas há quem diga que a vida é aliada indispensável da hipocrisia.

— Odeio esse dia. — Resmungou o pré-adolescente carregando o copo de saquê, conforme treinado na Academia. Os copos eram distribuídos entre os túmulos, simbolizando que todos eram irmãos na guerra.

— Cale a boca, Soki. — Disse Hikari, seu colega de equipe. Queria ajustar os óculos no rosto, mas isso parecia impossível à medida em que a procissão avançava. — Faça pela sua mãe. Coitada. Parece tão feliz ao vê-lo aqui.

Soki encarou Hinata na multidão, que juntava as mãos em frente ao corpo e expunha um sorriso orgulhoso. Era uma mulher esplêndida, sem sombra de dúvidas, mas Soki tinha um espírito quente demais para ser domado. Mesmo por sua adorável mãe.

— Isso é mórbido — continuou resmungando conforme avançava —. Não acha um tanto cruel despejar bebida sobre os mortos? Quem quer que tenha inventado isso precisa aprender uma coisa ou outra.

— Cale a boca. Depois conversamos. — Hikari rangeu os dentes.

O ritual passou em quinze minutos. As crianças, simbolizando a esperança para o futuro, despejavam algumas gotas de saquê sobre o túmulo, que simbolizava a purificação, e por fim deixavam os copos sobre eles, um do lado do outro, representando a irmandade. Soki se compadecia especialmente de Sasuke, principalmente pela história que ouvia na escola: fora um traidor da Folha, buscando vingança contínua contra o próprio irmão. O caso era realmente trágico. De certa forma, entendia-o bem. Não saberia como reagir à pequena possibilidade de sua mãe morrer, ou Hikari, ou Ten-chan, ou Sakura-sensei. Ele sabia bem como era ser amado explicitamente, mas questionado implicitamente: o único Hyuuga que não possuía o Byakugan. Como isso pode acontecer? Ninguém sabia a resposta.

Quando o ritual terminou, Hatake Kakashi, o Sexto Hokage, apareceu à frente dos túmulos e encerrou a cerimônia:

— Todos somos parte de um lar: o nosso Lar. — Disse ele, no mesmo tom desanimado de sempre. Ainda assim, era um excelente orador, fato este que não passava despercebido por ninguém. — Uma Vila representa a aliança de várias pessoas para um bem comum: a paz, que foi arduamente conquistada por todos os heróis de guerra aqui presentes. — Seu olhar desviou-se para o horizonte, muito adiante do que as vistas pareciam alcançar. Sua cabeça inclinava-se para o Norte, mas sua mente estava em qualquer direção. Qual seria poucos sabiam de fato, mas via-se que ele tentava procurar alguém. Algum possível faltante ao seu lado. — Vocês, crianças, representam nossas maiores aspirações para o futuro. Mas não temam pela responsabilidade que recaem sobre vocês, pois é para isso que servem os mais velhos: guiá-los, orientá-los e ajudá-los, até que estejam prontos para caminharem por conta própria. Deste dia em diante, peço que façam de suas vidas uma extensão das vidas ao redor de vocês. Peço que vivam não somente por si mesmos, mas pelo próximo: pelos seus pais, irmãos, tios, tias, avós, primos, amigos, companheiros de equipe, amantes, inclusive estranhos. Pois da mesma forma que agora têm sobre si um teto, uma casa; há muito tempo, os primeiros a habitarem essa Vila botavam ao redor de si os primeiros tijolos. Não se esqueçam que ao redor de si existe o verdadeiro e real lar: a Vila Oculta da Folha. — E este discurso foi encerrado com chave de ouro, pelo menos na visão de Soki.

As pessoas aplaudiram em silêncio. Era uma época muito turbulenta, na qual a maioria das pessoas ficava triste. No entanto, as crianças que nasceram após, inclusive nas vésperas do fim da guerra, como foi o caso de Soki e tantas outras, não entendiam toda aquela comoção. Mesmo Hinata, sua adorável e alegre mãe, parecia bastante triste quando o 10 de outubro se aproximava.

Absorto em pensamentos assim, Soki não previra o cascudo que levava no cume da cabeça.

— Ei, Soki, seu pirralho idiota? Por que ficou tagarelando durante a cerimônia, hein? Acha que eu o ensinei a fazer tudo direitinho para ferrar com a apresentação no dia D? — Resmungou sua mestra, professora, Haruno Sakura. Seu gênio era conhecido desde a guerra, quando se tornou uma heroína bastante estimada entre as nações.

— Foi mal, Sakura-sensei. É só que essas coisas não fazem sentido para mim. — Ele continuou resmungando enquanto massageava a parte atingida na cabeça.

Sakura, por uns instantes, pareceu mais triste do que o normal. Seus olhos se direcionaram para o horizonte, da mesma forma que os de Kakashi agora pouco, mas de um jeito diferente… Mais arrependido, talvez.

— Vocês que vivem agora não têm de saber dessas coisas. É melhor assim, imagino. — Ela desfez a carranca e pôs um sorriso no lugar. Era muito linda, no auge dos 29 anos, embora permanecesse solteira por motivos desconhecidos. Pretendentes era o que não faltava, dizia-se por aí.

— Bom, se for assim tanto faz. Não tenho que forçar comoção por isso, tenho? — Resmungou Soki, novamente.

— Não precisa agir como um imbecil, também! — Retrucou Sakura, quase bipolar, desferindo um novo golpe sobre o aprendiz.

Soki já estava acostumado. Era o único a apanhar por motivos óbvios e conhecidos. Sua inclinação sagaz para comentários nada sutis e maliciosos o colocava em posição crítica contra sua mestra. Contudo, Sakura amava aquele garoto, assim como amava os outros aprendizes.

— Ainda devo treinar com o Pervertido-sensei enquanto você está resolvendo aquelas questões? — Soki fez uma carranca infantil.

— E eu com a Ino-sensei? Ela é assustadora. — Disse Tenshi sentindo uma gota escorrer pela testa. Ela e Hikari, os outros companheiros da equipe, reuniram-se assim que viram Sakura e Soki brigando.

— E eu com o Chouji-sensei? É meio insuportável, devo dizer, pois a cada nova lição que ele passa devemos parar para comer. — Hikari coçou o queixo, desconsertado por retratar assim o grande chefe da família Akimichi.

— Não sejam resmungões. Sabem que preciso participar ativamente da preparação para o exame Chuunin. Todos vocês foram inscritos, e estrategicamente concordamos em treiná-los separadamente para melhorarem suas características individuais. Os treinos em equipe serão feitos daqui a quinze dias, então não reclamem. — Sakura falou com convicção. — Além disso, todos os professores têm suas particularidades. Eu mesma tenho umas. — Todos assentiram assustados. — Mas eles são incríveis; principalmente o Konohamaru-sensei, Soki, que é cogitado para ser o próximo Hokage.

A verdade é que Soki não se importava muito com isso. Hokage isso, Hokage aquilo. Para ele, todos eram Shinobi capazes, mas nem de perto os mais fortes. Tome por exemplo Uchiha Sasuke ou Uzumaki Naruto, que foram os verdadeiros heróis de guerra, e nenhum deles tornou-se ou apresentaram prontidão para serem Hokage. Quer dizer, ao menos na cabeça de Soki era assim.

— Você fala até muito bem daquele cara, Sakura-sensei, mas ele é um depravado, desengonçado e… — Na falta de um adjetivo melhor, Soki preferiu se calar e cruzar os braços. — Deixe para lá. Não vai adiantar mesmo.

Sakura olhou com ternura para suas pestes adoráveis. Eles eram Genin incríveis, cada um com sua especialidade. Contudo, não lhe passava despercebida a falta de jeito que Soki levava para o estilo de luta dos Hyuuga. Mesmo Hinata, que era uma profissional de primeira classe, não conseguia ensiná-lo apropriadamente ao garoto. Parecia que lhe faltava algo mais Hyuuga em seu DNA; e isso o incomodava bastante. Principalmente o fato de o pai, um civil da Folha que morreu nos últimos instantes da guerra, ter desposado a mãe sem autorização prévia da família. Isso o tornava um bichinho acuado, constantemente exposto, para todo o Clã. O nome Hyuuga Soki lhe soava meramente ilustrativo. Além disso, faltava-lhe as pupilas claras e dilatadas do Clã Hyuuga, as mesmas que despertavam o famigerado Byakugan. Bastava isso para fazer com que os velhotes de sua família o tratassem como um estranho. Soki não se sentia um Hyuuga. Não mesmo.

O ritual ocorreu numa quarta-feira. Sendo assim, apenas a parte da manhã se encontrava livre de afazeres. Brevemente, Sakura-sensei deveria se apresentar a uma reunião com o Hokage, assim como sua mãe, Hinata, e outros tantos conhecidos. Além disso, Hinata não deixou de comparecer e delicadamente cumprimentar o filho. Era um dos rarefeitos momentos nos quais Soki se encontrava constrangido. Sua mãe era, para todos efeitos, a pessoa mais bela que ele iria conhecer.

Os treinos com Konohamaru-sensei aconteciam em diferentes pontos da Vila. Ora nas termas, ora na Montanha, ora nas florestas que cresciam nos arredores, ora dentro das termas, onde frequentemente escapavam de garotas furiosas. Soki sequer sabia por que Konohamaru se enfiava em situações daquele tipo, pois até onde sabia, o professor substituto era um figurão e tanto entre as mulheres. Herdeiro de um Clã poderoso, neto do lendário Terceiro Hokage, aprendiz "torto" — não havia definição melhor que esta, no ponto de vista do garoto — do Herói, entre outras tantas proezas. Por que invadir termas e espiar garotas?

— Para se divertir, é claro! — Ele respondeu, com um sorriso singelo. — Além disso, invadir banheiros femininos requer uma grande habilidade em disfarce e espionagem. Estas são técnicas importantes para qualquer Shinobi.

Soki não deixou de olhar com suspeita para a resposta do mestre. A bem da verdade, aquilo mais parecia um hábito copiado do que autêntico.

— Tudo bem. Tudo bem. O que faremos hoje? — Perguntou o garoto.

— Boa pergunta. — Konohamaru olhou nos arredores. Estavam beirando as fontes termais, onde os banheiros femininos se encontravam para dentro de uma casa de banho. Ele sorriu de forma sagaz, o que trouxe uma constatação enganosa para Soki, mas logo o professor lhe apontou o lago fumegante. — Vou lhe ensinar a andar sobre as águas.

Soki não era incrédulo quanto a isso. Já viu muitos Jounin dos Hyuuga executando essa técnica. Mas era algo que lhe soava esplendoroso.

— Ótimo. Imite bem tudo o que eu fizer, sim? — Disse Konohamaru, fazendo um selamento simples e liberando uma quantidade pequena de chakra para os pés. — Libere chakra para os pés, faça-o expandir até o fundo do lago e finja que está pisando sobre ele. É realmente bem simples: basta fingir que está andando sobre o lago, quando, na verdade, é o seu chakra lhe equilibrando sobre a água. — E lá estava o professor pervertido, caminhando calmamente sobre as águas.

— Ah, é quase como andar pelas paredes ou pelo teto, só que sobre um fluido. — A perspicácia de Soki era bem diferente da de Konohamaru na sua época de infância. Aquilo lhe trouxe boas risadas.

Ainda assim, era apenas um garoto e tinha muito o que aprender. A cada vez que pisava sobre o lago, acabava por cair e ter a pele furiosamente queimada pela temperatura da água. Ia para a margem aos prantos, enquanto Konohamaru gargalhava gostosamente.

— Mais um pouquinho e vai dar para servi-lo cozido, Soki-kun.

E para cada piada de Konohamaru, Soki lhe retornava um severo xingamento. Quando chegava a quinta tentativa, já conseguindo se manter um pouco de pé sobre a água, Soki equilibrava-se de forma desengonçada sobre o lago fumegante. Konohamaru admirou-se, tal como Ebisu diante de Naruto anos atrás, e isso lhe tirou a atenção por um momento.

— Acho que isso não é tão difícil, afinal — o garoto disse com a voz trêmula.

Soki balançou os braços no ar, inclinou-se para frente e para trás, e antes que conseguisse recobrar o equilíbrio, sentiu-se novamente pender para baixo, rumo ao lago de água fervente. Konohamaru, distraído e absorto nas memórias de outrora, só sentiu uma presença crescendo ao redor de si no momento em que Soki era tragado pela água. Repentinamente, havia ao seu lado uma figura encapuzada, mascarada e misteriosa, que não seria vista por uma pessoa a menos que esta estivesse capacitada a seguir velocidades extremas. Antes que o Jounin pudesse reagir, sentiu uma mão ágil, mas incrivelmente pesada, sobre o seu ombro direito. Com um simples empurrão fora afundado até a base do lago, onde lá teria permanecido pelos próximos segundos, surpreso e dolorido, quase como numa vingança arquitetada por Soki por fazê-lo passar por aquilo.

Antes que Konohamaru recobrasse a compostura, a mesma figura misteriosa reapareceu ao lado de Soki, quase instantaneamente, e desapareceu ao tocá-lo. Reapareceu longe dali, quase do outro lado da Vila, com um intenso brilho laranja desfazendo-se pelo caminho percorrido. Soki permaneceu imóvel, sem saber como reagir, só depois percebeu que estava sendo carregado, com um braço estranho apertando-o pela barriga contra o corpo de uma pessoa. Um homem, alto e de porte atlético, trajando uma vestimenta escura, maltrapilha e grossa; e uma máscara na forma de raposa, que poderia ser facilmente confundida com a vestimenta de um ANBU Raiz.

— Caramba. — Soki olhou para longe. — Cara, você me salvou de uma queda infeliz. E ainda derrotou aquele chato do Konohamaru sem que eu pudesse ver. Como fez isso?

A surpresa e notável admiração do garoto despertou a curiosidade do homem.

— Se liga, não achou muito estranho alguém como eu aparecer do nada e te pegar desse jeito? Além de agredir um Shinobi da Folha, seu companheiro? — Indagou o homem, que tinha uma voz rouca e irreconhecível.

— Ah, se você fosse inimigo teria me levado realmente para longe daqui. Paramos no meio da Vila, e tenho certeza que se fosse mesmo um inimigo já saberíamos disso de antemão. — O homem pareceu ponderar sobre aquelas palavras. De fato, a primeira parte parecia coerente, mas o resto era otimista demais. — Além do mais, que motivos teria você para me capturar? Nesses tempos de paz? Isso soa estranho. Imagino que seja alguma confusão com o Konohamaru-sensei ou sei lá. Qualquer coisa do tipo. O que me basta é que você me salvou dele, por enquanto.

Soki parecia genuinamente feliz, sem ao menos se importar de descer do colo do homem estranho.

— Então, qual é o seu nome? — Perguntou o garoto, finalmente posto no chão.

— Se liga, cara. Você é uma figura. — O homem pareceu rir sob a máscara. Soki achou seu linguajar um tanto singular. — Ruto. Pode me chamar de Ruto. Você é aprendiz do Konohamaru, é?

— Ah, então o conhece? Não, não na verdade. Sou aprendiz da Sakura-sensei. Sabe quem é? Uma brutamontes com o coração do tamanho do mundo. Ela não pode me treinar porque está cuidando do Exame Chuunin que se aproxima. Deve agora mesmo estar com o Hokage, aquele pervertido enrustido. — O homem pareceu rir novamente com as palavras.

— Ah, sim. Acho que sei do que está falando. — Ele respondeu com simplicidade.

— Claro que deve saber. Não estou falando de pessoas comuns: estou falando de Sarutobi Konohamaru, o novo candidato a Hokage, de Hatake Kakashi, aquele que copiou mais de mil técnicas com seu Sharingan (que foi perdido na guerra, pelo que sei, por isso é meio duvidoso), e Haruno Sakura, a incrível Kunoichi médica, herdeira de Tsunade-sama e parceira de equipe dos heróis — os olhos de Soki brilharam.

— Heróis, é? Que heróis? — A voz do homem pareceu vacilar ao ouvir alguns dos nomes

— Como assim que heróis? Uzumaki Naruto, que está desaparecido ou morto, e Uchiha Sasuke, que está efetivamente morto. — Soki cruzou os braços.

— Ah, sim. Esses heróis. Se liga, você convive perto de gente muito importante, garoto. Não pode decepcioná-los, sim? Agora vá. Se cuida, não fuja dos treinamentos, coma bastantes vegetais e respeite sua mãe. — O homem virou-se de costas e, antes de ouvir os protestos e interrogações do jovem Soki, virou-se de volta: — E como anda Hinata, por falar nisso?

O garoto pareceu bastante surpreso ao ouvir o nome de sua mãe.

— Como sabe o nome da minha mãe? — De repente, aquele homem havia se tornado inteiramente suspeito.

— Se liga, não está vendo que sou um ANBU? Não tenho mais idade do que sua mãe tem. Posso ter sido colega de sala dela, talvez. — Respondeu ele com sólida confiança, mas Soki era mais esperto do que parecia. Infelizmente.

— Essa sua máscara não é da ANBU. A princípio, pensei que fosse. Mas na academia aprendemos todos os animais cujas máscaras da ANBU são baseadas. A sua, de raposa, seguramente não é uma delas. Pelo menos não mais. — Soki pontuou com convicção.

O homem suspirou sob a máscara. Decerto, aquele garoto era mais sabido das coisas do que transparecia ser.

— Você não é um perseguidor dela, não é? Não foi por isso, também, que decidiu me tirar das termas, não é? Para pegar dicas sobre como se aproximar da minha mãe? — Soki apontou o dedo para Ruto.

— Se liga, moleque. Eu tenho mais coisas para fazer. Eu só quis dizer um oi para o Konohamaru e, quando vi você, pareceu-me muito com uma pessoa que eu conhecia. — O homem se explicou, mas sem indicar qualquer obrigação ao fazê-lo. — Além disso, eu conheço sua mãe há muito tempo. E também não sabia que tinham passado a ensinar essas coisas na Academia, sobre ANBU e tal. Se liga, arranjei essa máscara para nada.

Soki riu um pouco da explicação do homem. Por algum motivo nada especial acreditava nele; talvez pelo fato de ele ser incrivelmente forte, a ponto de derrubar o candidato a Hokage metros abaixo da água sem que se tivesse ao menos um relance, e ainda por ele dispor seu tempo para explicar coisas que, caso fosse uma pessoa efetivamente má, não o teria feito de bom grado.

— Está se escondendo de algo, Ruto-san? — Perguntou o garoto.

— Sim, estou. — Respondeu novamente com simplicidade.

— E com quem eu me pareço para que tenha desejado me ver de tão perto? — Perguntou o garoto, começando a soar irritante para o pobre homem.

— Com um amigo de infância. Se liga, chega de perguntas. Eu estou com muita fome. Poderia entrar naquela tenda e pegar uma tigela de lamen para mim? — Perguntou, apontando para o Ichiraku Ramen.

Soki sentiu-se intrigado.

— Por que não entra você mesmo e pede? É bem simples, na verdade. — Soki resmungou.

— Se liga, são dois motivos: não quero ser reconhecido e não tenho dinheiro. — Explicou o homem, que não satisfatoriamente, aliás, agora ainda menos, convenceu Soki a cumprir seu pedido.

Na verdade, o garoto bem que o devia uma simples refeição para agradecer a ajuda com Konohamaru. Aliás, deveria encontrar uma justificativa bastante plausível para o sumiço diante do professor. Tendo visto que o homem parecia ser legal e, aparentemente faminto (inda mais se considerar os grunhidos de seu estômago), decidiu que era justo ajuda-lo.

O velho Teuchi era um homem legal. Frequentemente cumprimentava os jovens que passavam por ali em suas árduas missões. Tinha sempre um sorriso triste, como se sentisse falta de alguma coisa. Sua filha, Ayame, era uma moça linda e atenciosa. Casou-se há alguns anos com um bom cozinheiro, que possivelmente herdaria a tenda Ichiraku e continuaria com a tradição do sogro. Era ali onde Soki aprendia a maioria das coisas sobre os heróis e sobre o tempo da guerra, e sobre as proezas de sua mestra, Sakura, que nos velhos tempos vivia frequentando o lugar com um de seus companheiros de equipe. Soki, por algum motivo, acabara de esquecer o nome do dito cujo, mesmo que se lembrasse dele continuamente. Ainda mais pela cerimônia prestada logo de manhã, onde todos o diziam com grandes saudades e tristezas. O nome, aliás, parecia ser um tabu para sua mestra.

— Toma. Desculpe a demora, é só que é muito difícil sair da tenda sem que Teuchi-jii-sama conte uma alguma história cômica daquele herói. Curiosamente, nunca se fala muito sobre Sasuke. Acho que foi por causa da saída dele da Vila quando ainda era uma criança. — O homem pareceu ignorar completamente o que fora dito, estando completamente concentrado na tigela de lamen que lhe foi ofertada. — Caramba, você está mesmo com fome, hein?

Ruto não respondeu essa pergunta. Na verdade, retornou outra pergunta a Soki:

— Você vem muito por aqui, garoto?

— Não muito, mas minha mestra vem conosco, quero dizer, minha equipe e eu, vez ou outra. Não sei se para ver Teuchi-jii-san ou rever as histórias de seus antigos companheiros de equipe. — Respondeu prontamente, sentando-se ao lado de Ruto e observando-o comer.

O homem deglutia o lamen quase numa tragada só. Parecia chorar sob a máscara. Soki perguntou-se se era só a fome que causava aquela reação.

— Oh, então ela faz isso, é? — Ruto fez uma pausa e deixou escapar esse pequeno comentário. Imperceptível, porém, era seu significado profundo para um garoto como Soki, que sequer imaginava as coisas que teriam ocorrido anos atrás.

No entanto, havia questões mais importantes, ou melhor, mais imediatas, a serem tratadas entre eles dois.

— Sabe, Ruto, você não parece ser um cara muito esperto. — A máscara de raposa encarou-o com certo desdenho. Soki riu de seu próprio comentário, mas não se deixou abater. Prosseguiu: — Mas parece ser muito, muito, muito forte. Mais até que Konohamaru-sensei, — essa parte lhe deu certo amargor na língua, pois gostava de Konohamaru e, no fundo, respeitava-o como professor; mas era inegável que Ruto era mais forte, e se queria se tornar um Chuunin, o mais forte dos mais fortes era melhor do que alguém simplesmente forte —, mas não me leve a mal por dizer isso, por favor. — Ruto permaneceu quieto enquanto Soki formulava melhor seu pedido. — O que eu quero é que você me ensine aquela técnica. Aquela que o fez parecer voar como um raio. Desaparecer e reaparecer aqui, num instante.

A máscara de raposa, que estava levemente inclinada para cima, deixando aparecer somente um relance da boca de Ruto, de repente voltou a cobrir seu rosto logo após ele limpar os respingos de caldo que se espalharam ao redor da boca. Por um momento, a atmosfera teria ficado tangivelmente séria.

— Se liga, é impossível para você. Sinto muito. — Ruto disse, voltando a inclinar a máscara para trás e a engolir seu lamen com paixão.

— O quê? — O garoto soou incrédulo. — Como assim impossível para mim? Só para mim? Ou para todo mundo?

Novamente se passaram alguns segundos antes que Ruto desse uma resposta:

— Impossível para todo mundo. Se liga, isso não é algo que humanos possam fazer. — A explicação soou um tanto imbecil para Soki. Se humanos não pudessem fazer, por que Ruto podia? — Mas há algumas variações por aqui e por ali que eu poderia ensinar. E também outras técnicas legais, ora. Se liga, não existe só um tipo de técnica que faça um Shinobi forte. É como sempre digo: a combinação inesperada é a que faz grande diferença.

Soki tirou de seu bolso um pequeno bloco de notas, onde anotou aquela frase particularmente forte.

— Então você faria isso por mim, Ruto-sensei? Você me ensinaria essas combinações incríveis? — Os olhos do garoto brilhavam em excitação. Imaginou-se pulando velozmente de prédio em prédio, lutando como uma partícula invisível em meio aos adversários do Exame Chuunin. Viu-se sendo digno de herdar a liderança do Clã Hyuuga mesmo não possuindo o Byakugan. Finalmente, viu-se sendo respeitado por ter conquistado sua própria e incrível força. Bastava apenas aquele homem lhe dizer sim.

No entanto, o tempo passava e Ruto parecia cada vez mais sério. Eis que, como num déjà-vu, o homem limpou o rosto com as costas da mão e deixou que a máscara recaísse sobre si. Só então deu uma resposta:

— Sim, mas terá que fazer algo para mim. — Seu tom sério deixou Soki atordoado. — Pegue mais duas tigelas, por favor.

Soki se mostrou incrédulo ao ver a tigela estendida para si.

— O quê? Acha que eu tenho tanto dinheiro assim para comprar lamen para estranhos? — Resmungou o garoto.

— Como assim o quê? Antes eu era aspirante a professor, agora sou estranho? E, se liga, larga de ser mesquinho! Acha que não sei o tanto que os Hyuuga são ricos? Larga de ser mão de vaca, pirralho! — Ruto inclinou-se contra Soki, sacudindo a tigela na direção dele.

— Seu velhote arrogante! Só por que é forte pensa que tenho que comprar seus ensinamentos? Tenho certeza de que a Sakura-sensei é mais forte do que você! Só que, como ela não pode me ensinar agora, quero que assuma temporariamente como meu professor! Não confunda isso como um compromisso! — O garoto retrucou, grosseiramente. Ruto queria rir desse comentário, mas decidiu seguir com a discussão.

— Está me tratando como um garoto de aluguel, pirralho? É assim que trata quem lhe salva de uma piscina fervente? — Ruto esbravejou. — Certo. — Depois de uma leve reflexão, pareceu ceder aos caprichos do jovem. — E se eu lhe pedir só mais uma tigela, ainda teremos um acordo?

Soki pareceu satisfeito.

— Sim. — Disse, estendendo a mão para pegar a tigela.

— Mas com uma condição: ninguém deve saber que eu estou lhe ensinando. Aliás, ninguém deve ao menos saber que você me viu. Se contar isso para alguém — Soki sentiu um arrepio lhe percorrer — eu mato você. Se ligou?

Mesmo que a ameaça fosse vaga, Soki achou que era um preço justo: o poderoso mestre anônimo, que lhe ensinaria incríveis combinações e técnicas das mais variadas, a fim de passá-lo no Exame Chuunin e tornar-se digno do nome Hyuuga. Parecia bastante plausível.

— Me liguei. Agora me dá a tigela para buscar mais lamen.

Dessa forma, surgia uma pequena amizade que porventura mudaria os rumos dessa nova era. A paz consolidada há mais de dez anos era, como se dizia pelas grandes nações, o maior tesouro conquistado desde a fundação das Vilas Ocultas. Nunca se teve um momento tão pacífico como agora; ou, pelo menos, era o que parecia.

Ruto não era um professor calmo. Diferente de Konohamaru e, quem sabe, mais parecido com Sakura, preferia os campos de treinamento aos diferentes lugares encontrados sobre a Vila. A primeira técnica que mencionou era o famoso Shunshin no Jutsu, aquele mesmo que permitia a locomoção em altíssimas velocidades. No entanto, Soki sabia que a técnica de Ruto estava num nível acima. Bem acima.

— Ainda está lento, garoto. Acumule mais chakra antes de correr. — Ruto disse, enquanto se sentava calmamente no galho de uma árvore. Parecia bastante admirado pelo campo de treinamento.

Soki, contudo, enervou-se com o comentário. A verdade é que já imaginava estar muito rápido – o suficiente –, e ainda continuava treinando essa mesma técnica. Ele queria ser rápido, mais rápido que qualquer um, e não apenas aprender coisas que qualquer um poderia fazer.

Depois de várias tentativas falhas, viu-se tentado a testar a tenacidade de seu professor substituto. Utilizou o Shunshin no Jutsu para aparecer atrás de Ruto, e quando tentou desferir um golpe sobre este, notou que estava socando nada além do ar. Quando estava prestes a retornar para o chão, frustrado por ter sua tentativa falha, sentiu alguém segurá-lo pelo pé. Era Ruto, agarrado à árvore somente com as pernas e de cabeça para baixo, segurando o garoto como uma sacola de batatas.

— Sabe por que não está pronto para ir adiante, garoto? — Ruto sacudiu o corpo de Soki e atirou-o no chão, fazendo-o tombar bruscamente. — Porque é arrogante demais para ver que ainda está lento. Se liga, — Ruto voltou a se sentar sobre a árvore — não é o nível da técnica que a torna de fato poderosa, mas sim o modo como a usa. Não adianta conhecer noventa e sete técnicas de nível A ou S, mas usá-las sem nenhuma estratégia. Acredite, eu já fui assim. É melhor seguir meus conselhos e esperar pacientemente até que esteja pronto.

Soki irritou-se com a forma com que fora tratado, mas principalmente por ter que admitir que Ruto estava certo. No entanto, o tempo era curto, e o Exame Chuunin aproximava-se cada dia mais. E naquele dia específico não havia progredido nada.

Quando Soki chegou em casa, Hinata terminava de colocar a comida à mesa. Geralmente comiam apenas os dois, pois Hiashi, pai de Hinata, e Hanabi, sua irmã, ficavam na Casa Principal. Soki e Hinata moravam a noroeste de lá, mais por escolha própria do que por convenção. Hinata era muito tímida e reservada, por isso queria um espaço privado para cuidar de seu filho. O avô tratava-o muito bem, até mesmo participava de alguns treinos quando via que Soki estava praticando sozinho. Sua tia, Hanabi, era ainda mais gentil, embora a visse raramente agora que tinha entrado para a ANBU. Na verdade, isso era segredo. Ninguém além deles sabia desse fato; e, claro, isso excluía o Hokage. Apenas ele sabia de tudo que acontecia na Vila.

Soki largou os calçados na entrada e entrou diretamente para o quarto. Hinata, seguindo-o taciturnamente, viu-o jogar-se sobre a cama, murmurando algo ininteligível. Normalmente, o garoto chegaria em casa com a fome de três Akimichi. Contudo, dessa vez, ele parecia cheio de arranhões e todo maltrapilho. Tudo muito fora do padrão.

— Está tudo bem, Soki? — Hinata perguntou ternamente, aproximando-se com cautela.

— Aham. — Respondeu afável.

— Por acaso Konohamaru-kun pegou anormalmente pesado com você hoje? Nunca o vi desse jeito. — Hinata pareceu preocupada. Não queria se intrometer no treinamento do filho, tampouco em seu caminho ninja, mas aquilo lhe parecia um tanto exagerado.

— Não foi o Pervertido, — ele respondeu reticente — eu treinei sozinho hoje.

Hinata pareceu ainda mais confusa. Viu que o filho não queria tratar mais do assunto e, sem motivos aparentes para desconfiança, deixou de lado.

— Não quer comer alguma coisa? Parece tão abatido. — Novamente sendo a pessoa mais bela do mundo. Soki não conseguiu, mesmo que sua vontade inclinasse a isso, ignorar a doçura de sua mãe.

— Não se preocupe, mamãe. Eu estou bem. Daqui a pouco eu como alguma coisa.

A bela moça contentou-se com aquela resposta. Soki era um garoto carinhoso. Apesar dos maus modos, tinha um coração referto de bondade. Deu um leve sorriso e deixou que o garoto dormisse. Pelo jeito o dia seguinte também seria difícil.

E de fato foi, pois Ruto pegou ainda mais pesado que anteriormente. Os dias passavam e o homem não se dava por satisfeito com os progressos feitos no Shunshin no Jutsu. Quando Soki o questinou sobre o quanto seria necessário, Ruto simplesmente respondeu:

— Quando conseguir percorrer mais de um quilômetro em um segundo, mais ou menos.

Portanto, Soki assumiu-o como sua meta de vida. Mesmo quando não estava com Ruto treinava furiosamente o Shunshin no Jutsu. Algumas vezes, até além de seu limite. O garoto, contudo, tinha uma boa gama de talento; e uma reserva de chakra bastante alta, cabe mencionar. Hinata espiou-o uma vez, e viu-se surpresa por ele estar treinando aquela técnica. Imaginou se não seria inviável para o tipo de prova que o garoto ia prestar, mas se Konohamaru achava válido, então lhe cabia a confiança.

Mas Konohamaru não estava tão absorto. Achava sobretudo suspeito aquele homem aparecer e, de forma tão curiosa quanto seus gestos, o fato de que Soki esteve treinando com ele. Cinco dias após o ocorrido, decidiu abordar o garoto na esquina do Ichiraku, onde faria a compra de mais uma tigela para seu professor temporário:

— O que está indo fazer, Soki? — Indagou Konohamaru. — Por que não tem ido treinar comigo?

Soki engoliu seco. Lembrou-se das palavras claras e firmes de Ruto: jamais mencioná-lo para qualquer pessoa da Vila, inclusive Hinata. O garoto virou o olhar para longe.

— Eu tenho treinado sozinho, seu pervertido. Depois daquela queda ridícula, duvido que seja capaz de me treinar. — Konohamaru viu a mentira por trás das palavras de Soki.

— Você não viu que eu fui empurrado para dentro d'água? — Indagou o jovem Jounin.

— Empurrado? Você simplesmente não conseguiu controlar seu chakra e caiu. Agora dá licença, que eu preciso comer muito lamen para ficar forte e continuar treinando. Sabe como é, né? Sakura-sensei volta a nos treinar daqui a dez dias e eu quero estar com tudo em cima. — Disse, enfim, desvanecendo-se do aperto de seu antigo professor temporário.

Konohamaru deu-se por satisfeito. Notou, após segui-los por dias, que havia algo surreal por trás daqueles acontecimentos. Só conhecia alguém capaz de driblar todos os seus sentidos, sobretudo andar com uma vestimenta gritante daquelas. Além disso, havia uma peça que encaixava tudo no lugar.

— Lamen? — Murmurou Konohamaru, lenta e delicadamente, como se apreciasse o som da palavra deixando seus lábios.

Ao notar sua descoberta, deixou rapidamente aquela pequena avenida e seguiu para o escritório do Hokage. Seu Shunshin no Jutsu era bastante hábil, chegando ao local em poucos segundos. Ao adentrar pela janela, chamou a atenção de Kakashi, Sakura, Shikamaru e Shizune, a comissão da Folha responsável pelo Exame Chuunin, e Temari, Aotsuchi, Karui e Ao, representantes da Areia, Pedra, Nuvem e Névoa, respectivamente.

— Kakashi-sensei, descobri algo incrível! Kakashi-sensei! Descobri algo incrível! Kakashi-sensei, — quando os olhos de todos estavam sobre si, Konohamaru notou o quão ansioso parecia. Ainda assim, não conseguiu conter as lágrimas que irrompiam teimosamente de seus olhos — eu descobri algo incrível. Sensei…

Todos acharam aquilo muito estranho, mas Kakashi foi todo ouvidos ainda assim.

— O que foi? — Perguntou.

— Nii-chan… — Gaguejou Konohamaru. Sakura, neste momento, sentiu o coração saltar uma batida. Kakashi também não esperava para tal notícia. — Naruto-nii-chan voltou à Vila!

Todos ficaram estupefatos. A fama de Uzumaki Naruto não era restrita à Vila da Folha. Em seu papel na Grande Guerra, salvou não somente aqueles que considerava seus amigos, mas cada companheiro de guerra que esteve a seu alcance. Os túmulos cravados em cada país seriam imensamente mais numerosos não fosse a força e determinação daquele Shinobi, desaparecido por treze anos após velar o corpo de seu antigo companheiro de equipe, também consagrado como herói. Ninguém desabou mais, na época, que Haruno Sakura, que nutria uma paixão intensa por Uchiha Sasuke. Diante disso e da sua promessa quebrada, a mesma que jurou proteger por toda sua vida, Naruto desapareceu poucos meses depois do término da guerra, mesmo diante das expectativas de suceder Hatake Kakashi como Sétimo Hokage.

Kakashi sentou-se desconfortavelmente sobre sua poltrona. Se aquilo fosse verdade, muitas variáveis passariam a constituir este problema. Se Naruto realmente voltou, por quê? Quais seriam seus propósitos? Teria ele obtido alguma informação substancial ou simplesmente decidira retornar ao lar? Conhecendo-o como conhecia, Kakashi achou a primeira opção mais provável. Era um mero palpite, mas seus palpites costumavam ser certeiros.

No entanto, Haruno Sakura era mais passível que seu mentor. Aproximou-se lentamente de Konohamaru, com os olhos intensos e brilhantes, repletos de expectativas, mesmo que sua carranca demonstrasse que iria socá-lo para além das fronteiras do País do Fogo. Quando se aproximou do Jounin, agarrou-o pelo colarinho e disse entredentes:

— Você tem certeza do que está dizendo? Tem certeza, Konohamaru? — O jovem Shinobi, contudo, não se deteve de medo.

— Acha que eu faria uma pegadinha com isso, Sakura-nee-chan? É ele mesmo. Eu tenho certeza. É ele quem está com o Soki nos últimos cinco dias. Ninguém mais seria capaz de fazer comigo o que ele fez! — Gritou Konohamaru, lembrando-se de cada momento gravado em sua memória. — Não tem visto o Soki? Ele comprou umas dez tigelas de lamen nos últimos cinco dias. Eu os segui e os vi brigando exatamente por isso. O cara se diz chamar Ruto, como se não bastasse! E ainda por cima anda com uma máscara de raposa. De raposa, Sakura-nee-chan. Só um tolo para não suspeitar de cara. — Konohamaru agarrou a mão de Sakura e tirou-a de seu colarinho.

A Kunoichi, ao receber tais informações, deixou as mãos caírem em frente ao corpo. Só depois teve forças para levantá-las até sua boca, tampando-a a fim de evitar os soluços que escapavam teimosamente com as lágrimas. Todos se comoveram, inclusive Kakashi. Ainda assim, ou Sakura estava num estado de negação, ou simplesmente não acreditava no que Konohamaru acabava de dizer. Precisava ver com os próprios olhos.

— Vamos interromper a reunião. Precisamos averiguar isso com absoluta urgência. — Disse Kakashi. Todos concordaram sem ressalvas.

II

Sakura, por sua vez, não conseguia se manter tranquila. Constantemente seus pensamentos voltaram-se àquela época, quando viu Naruto surgindo no horizonte e caindo de joelhos, fazendo todo esforço possível para manter Sasuke erguido em seus braços; quer dizer, em um dos braços, pois o que havia restado do outro estava coberto de faixas, tingidas de um intenso vermelho-sangue.

— Sakura-chan, Sakura-chan, — disse aos prantos — me perdoe! Me perdoe, Sakura-chan! Eu não consegui evitar! Eu não consegui!

Não importava o quanto perguntassem a ele o que tinha ocorrido, tudo o que saía era eu não consegui evitar ou eu não consegui. Dada a enorme perturbação que acometia Naruto, pediram à Yamanaka Ino que investigasse sua mente a procura de respostas. Descobriram que, após a batalha contra Kaguya, houve um fervoroso combate entre Naruto e Sasuke. Um ataque frio e cruel de Sasuke teria causado um ferimento mortal em Naruto, que àquela altura recusava-se a se defender.

— Se liga, Sasuke. Eu não quero matá-lo — disse, quando viu o antigo companheiro avançando sobre si.

Sasuke aumentou sua velocidade ao ver que Naruto não se defenderia. No entanto, fora interrompido por Kakashi, que avançou sobre o antigo aluno com um Raikiri. Desta vez, Naruto entrou na frente de seu professor a fim de proteger Sasuke. A cena era assombrosa: Naruto com um Raikiri perfurando o braço, e Sasuke perfurando o braço de Kakashi com um Chidori.

— Não se intrometa, Kakashi. — Disse Sasuke, observando Naruto ranger os dentes. — Isso é entre mim e ele.

— Isso não é entre você e mais alguém, Sasuke. Isso é entre você e você mesmo. — Disse o futuro Hokage, também ignorando a dor cruciante em seu braço. — A dor de seu irmão ter morrido, a dor do ódio que o assombra, a peleja contra Naruto; tudo não passa de uma projeção na sua cabeça. Se quer resolver os problemas do mundo, como tanto diz, deveria começar por si próprio.

Sasuke tornou a se afastar, preparando um Chidori enegrecido com as chamas do Amaterasu.

— Pois bem, — disse — só há uma forma de saber o quão errado eu estou: parem-me, se forem capazes.

E Sasuke avançou sobre Naruto e Kakashi, nutrindo o que mais parecia uma intenção assassina real. Contudo, desviou seu caminho propriamente a Kakashi, sabendo que o Ninja Copiador havia perdido seu Sharingan e não conseguiria ler seus movimentos a tempo. Portanto, quando estava prestes a matá-lo, sentiu uma dor cruciante invadir seu braço: Naruto havia o arrancado fora com um ataque brutal, utilizando o chakra da raposa para expandir sua velocidade. Contudo, o ataque foi pouco eficaz, pois o fogo do Chidori negro começou a queimar parte de sua roupa, logo lhe atingindo a carne.

— Naruto! — Kakashi exclamou ao ver o aluno sendo consumido pelas chamas negras. Desesperou-se ao se lembrar de que aquelas chamas não podiam ser paradas senão pelo próprio usuário. Kakashi caiu de joelhos, temendo ter falhado.

Sasuke permaneceu imóvel, encarando seu melhor amigo gritando de dor no chão. Enquanto Naruto gritava, mais a chama negra engolia seu braço. Sasuke, mesmo que seu braço tenha sido arrancado, não se rendia à dor. Queria apenas entender por que estava vivo se Naruto podia, facilmente, matá-lo antes que chegasse a Kakashi.

— Por quê, Naruto? Por que não desiste de mim? — Sasuke indagou, enquanto o outro rapaz tentava ganhar alguma compostura.

— Eu já disse, Sasuke… — Resmungou de dor — Eu não volto com a minha palavra: esse é o meu jeito ninja! — Mais um grunhido, e as chamas persistem em subir, desaparecendo com seu braço pouco a pouco. — Se liga, quando você diz essas coisas sobre aguentar tudo sozinho eu sei como dói. Eu já estive no seu lugar. Eu também perdi meus pais, fui odiado e excluído das vidas de todo mundo; mas quando finalmente consigo ser aceito, você, um dos principais responsáveis por isso, vem e diz coisas estúpidas sobre apagar o passado. Sobre me apagar. — Naruto diz, ajoelhando-se com bastante dificuldade. — Se liga, se o que diz é verdade, então esta é sua chance: me deixa desaparecer! O seu Chidori vai fazê-lo pouco a pouco. Se o que quer mesmo é apagar o passado, então deixe-o desaparecer na sua frente.

Sasuke cerrou os olhos, vendo todos os momentos de sua vida retratados em sua mente. Desde o princípio a verdade lhe era clara: que ele estava errado e Naruto estava certo. Só não tinha coragem o suficiente para admitir isso, principalmente após os erros que cometeu. Na verdade, sempre invejou o amigo que Naruto era, e sentiu-se incapaz de retribuir o que fora feito por ele.

— Você fala demais, idiota. — Sasuke deu um leve sorriso. — Eu perdi. Se você me matasse, então a vitória seria minha. Significaria que, acima de todas as suas convicções, você quebraria sua palavra caso fosse necessário proteger outro propósito. — Encarou Kakashi, quem cogitou matar para testar a força de vontade de Naruto. Contudo, ficou satisfeito ao ver que estava errado. — A verdade é que você é um desgraçado que nunca se desvia do seu caminho, não é mesmo? E para alguém como eu, um mundo com alguém como você é praticamente impossível.

Naruto arregalou os olhos.

— Sasuke, o que está pensando em fazer? — Naruto tentou correr, mas a dor aguda em seu braço fê-lo parar.

— Naruto! — Gritou Kakashi do outro lado, preparando-se para correr em direção a Sasuke.

No entanto, o que ocorreu a seguir estava totalmente fora de cogitação. Sasuke sacou sua espada e perfurou a si mesmo, pouco abaixo do coração.

— Sabe, — ele disse, sentindo o sangue escorrendo pela sua mão — acho que foi assim que imaginei a morte de Itachi. Não, não, — tossiu — foi dessa forma que eu pensei tê-lo matado. A verdade é que ele ainda sobreviveu, e tentou me dar uma última lição: disse que não haveria uma próxima vez. — Naruto e Kakashi encaravam-no com pesar, embora nada superasse a angústia que crescia no coração do primeiro. — Não se preocupe, o Amaterasu será cancelado antes de eu morrer. Com o Rinnegan, serão capazes de cancelar o Mugen Tsukiyomi. Mas não quero mais fazer parte disso…

Naruto apanhou Sasuke quando ele estava a poucos centímetros do chão, prestes a tombar. As chamas em seu braço, ou o que restou dele, foram dissipadas.

— Por que fez isso, seu idiota? Por quê? — Os gritos de Naruto podiam ser ouvidos aos ecos, tamborilando entre os ares para além do Vale do Fim. Suas lágrimas banhavam o rosto pálido de Sauske, com sua vida esvaindo-se a cada momento.

— Me desculpe, Naruto. — Respondeu vacilante. — Me desculpe pelo que fiz. — Sua voz ficava cada vez mais fraca. — Peço que mude o mundo em meu lugar. — Que tenha a coragem que eu não tive, de assumir meus erros e seguir em frente, foi o que pensou, mas não o que disse. — Peça desculpas à Sakura, apesar de que já é tarde demais para isso. E Kakashi, — o mestre mantinha os olhos fixos sobre o aprendiz — cuide do Rinnegan e desses idiotas.

Sasuke, em seu último momento de vida, sentiu um enorme peso sair de si. Olhou para os céus e, como se pudesse apreciar os momentos felizes de sua vida, aqueles mais remotos para os quais havia fechado os olhos, sorriu tenra e sinceramente. À Naruto, queria dizer mais do que um simples obrigado; mas em si não restava forças. A verdade é que havia matado mais pessoas do que salvou em toda sua vida. Teria matado até mesmo Sakura, se não fosse pelo próprio Naruto. Agora, não se sentia mais a mesma pessoa. O Sasuke verdadeiro, aquele que prezava o reconhecimento da família e o amor do irmão; aquele que desejava se tornar forte e proteger os seus companheiros; aquele que era gentil de uma forma dura, mas ainda assim capaz de manter todos próximos a si; aquele Sasuke havia morrido já há algum tempo. Morreu pouco depois da batalha contra Itachi. Isso porque certos caminhos, quando trilhados, não têm retorno.

Seria este o fim de uma intensa e furiosa corrente de ódio, há muito tempo construída por Indra e Asura? Sasuke riu, mas riu desgostosamente, por não saber a resposta. Por fim, havia uma última peça. Talvez uma peça do destino, curiosa e inesperada, que brotara de algo secreto no período anterior à guerra. Ninguém havia percebido e sequer cogitaram a hipótese:

— Naruto, se puder apenas satisfazer um desejo meu. — Chamou, e o amigo estava ali para ouvi-lo. — Cuide do meu filho. Ele é o herdeiro do Clã Uchiha. Cuide para que ele seja um bom garoto e limpe a imagem da minha família. — Naruto queria esconder a surpresa, mas não era possível; não naquelas circunstâncias. — A mãe dele é a Karin. Por favor, cuide dela também.

Sasuke sabia que Naruto o faria. Confiava nele para tudo, mesmo para o que parecia impossível. Afinal, ele nunca voltaria com sua palavra. E assim, Uchiha Sasuke dava seu último suspiro. A seguir, ouvir-se-iam somente gritos e lamentos.

Parte de toda essa reflexão vinha do próprio Kakashi. Isso porque ele viu tudo o que ocorreu, inclusive o juramento feito por Naruto sobre o corpo de seu melhor amigo. Sakura não havia recebido aquilo muito bem, tanto que a cirurgia de transferência do Rinnegan fora feita pelo próprio Kakashi (levaram horas até libertarem todos do Mugen Tsukiyomi). Não o usava com frequência, pois consumia tantas vezes mais chakra que o Sharingan; ainda assim, era uma arma letal. Acima de qualquer expectativa. Foi assim que Sharingan no Kakashi tornou-se Rinnegan no Kakashi, o Sexto Hokage da Vila Oculta da Folha. Mesmo que isso soasse belo, ele mesmo não pensava assim. Lembrava-se daquele momento nos devaneios mais profundos, daqueles que não se deseja ter.

A parte mais odiosa foi ver Naruto partindo meses depois, dizendo que um Shinobi não pode ser Hokage se não for capaz de manter uma simples promessa. E essas palavras doeram ainda mais em Sakura. Que desfecho cruel havia tido as vidas de seus estudantes.

III

Soki, por sua vez, desatento aos eventos que cresciam ao seu redor, chegou em casa menos cansado que nos dias anteriores. Hinata teve sua companhia para o jantar, inclusive ajuda para lavar a louça. Era bom, já que ela também tinha suas funções como Jounin e, consequentemente, um time de Genin para cuidar. Raramente era vista queixando-se do trabalho, embora isso não signifique que estivesse sempre satisfeita.

— Que tipo de treinamento está fazendo agora, Soki? — Perguntou Hinata com um singelo sorriso.

— Estou aumentando o alcance do meu Shunshin no Jutsu. Quero correr mais de um quilômetro em poucos segundos. — Respondeu, deixando Hinata atônita.

— Isso requer muita prática. Foram poucos os Shinobi que tinham tal habilidade. — A moça encarou o chão, lembrando-se, obviamente, do Quarto Hokage e sua famosa alcunha.

— Eu sei. Mas o Ru…, quero dizer, o Konohamaru-sensei disse que há muitas combinações legais a serem feitas com o Shunshin no Jutsu. — Disse o garoto, parecendo um pouco nervoso.

Ainda assim, a perspicácia de Hinata não era para ser subestimada. As palavras "Ru" e "Konohamaru-sensei" soaram bastantes suspeitas. A primeira por não se enquadrar no contexto, a segunda por substituir o mais recorrente pervertido, vocativo dado a Konohamaru por Soki.

— Já vai descansar, filho? — Contudo, Hinata confiava plenamente em seu filho. Se ele havia guardado segredo, então é porque assim era melhor.

— Acho que vou — disse sonolento. De fato, o treino estava lhe consumindo bastante. — Boa noite, mamãe.

— Boa noite, Soki

Hinata deixou-o dormir. Nos dias seguintes, as coisas se mostravam um pouco melhores. Ruto parecia um bocado satisfeito com a dedicação e rendimento de Soki, tanto que, ao apreciar seu mais belo Shunshin no Jutsu, disse-lhe com orgulho:

— Acho que está pronto para aprender uma técnica de nível Jounin. — Cruzou os braços, ainda com a máscara lhe omitindo o rosto.

Soki ficou bastante feliz. Por um instante esqueceu-se das inúmeras perguntas que haviam em sua cabeça: de quem Ruto se escondia, por que se escondia, por que demorava tanto numa lição tão imbecil etc. Agora, restava somente a ansiedade de utilizar uma técnica poderosa, de nível Jounin.

— Você já ouviu falar dos clones de sombra? Kage Bunshin no Jutsu? — Perguntou Ruto descendo de um galho de árvore. Soki balançou a cabeça para cima e para baixo.

— Claro que sim. Qualquer um que tenha sentado num banco de Academia deveria aprender sobre ele. — Ruto pensou que, realmente, as coisas haviam mudado. Na sua época, a técnica era classificada como proibida.

— Se liga, então, porque você vai aprender a utilizá-lo. E vai ver como pode ser ainda mais útil se você for rápido. — Com essa breve explicação, Ruto reparou no brilho que crescia nos olhos de Soki. — Não se esqueça de que a velocidade é muito importante para um Shinobi, mas deve-se tomar cuidado para não a elevar demais: se for assim, somente com olhos especiais conseguirá antever para onde está indo.

— Somente com olhos especiais? Mentiroso. O Quarto Hokage, Namikaze Minato, possuía uma técnica tão brilhante que conseguia locomover-se quase instantaneamente entre dois pontos. Seu filho, aquele Herói, — ainda não se lembrava do nome dele, por algum motivo — também podia fazer quase o mesmo, só que usando o chakra daquela Besta, a Kyuubi. Que eu saiba, ambos não tinham olhos especiais. O outro Herói, Uchiha Sasuke, tinha aquele poderoso Sharingan. Somente ele tinha os tais olhos especiais para locomover-se tão rapidamente. Como explica outras pessoas utilizando tais técnicas se não possuíam o Sharingan? — Soki cruzou os braços. Parecia convencido de seu brilhantismo.

Ruto riu da perspicácia do garoto.

— Se liga, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: eles tinham muita velocidade, sim, mas no caso do Quarto, o que ele utilizava era uma técnica de transporte dimensional. Ele dobrava o espaço-tempo a fim de locomover-se entre dois pontos instantaneamente. — Soki abriu a boca. — Não são a mesma coisa, garoto. — Por fim, com um leve pigarro, Ruto prosseguiu. — Já o tal herói, como costumam dizer por aí, dominava uma arte eremita, o Senjutsu, que o permitia muito bem distinguir os chakras de todas as coisas. Além disso, o próprio chakra da Kurama lhe permitia pressentir coisas, com boas e más intenções, inclusive.

Soki permaneceu boquiaberto.

— Quem é Kurama? — Perguntou estupefato.

— A Kyuubi. — Respondeu Ruto.

— Como sabe de tanta coisa? — De repente, um grau de suspeita havia sido adquirido na voz de Soki.

— Todo mundo da guerra sabe disso, garoto. Se liga, acha que eu estava brincando de casinha há treze anos? Eu tinha pouco mais da sua idade, mas já havia guerreado muito. Desde sempre, aliás. — Ruto começou a caminhar orgulhoso. — Mas isso é papo para outra hora. Venha. Vamos aprender o Kage Bunshin no Jutsu.

Soki certamente queria fazer menção disso em alguma outra hora, mas a felicidade de aprender uma nova técnica superou a curiosidade.

E assim seguiu o dia. O Kage Bunshin no Jutsu só poderia ser utilizado por alguém com uma grande reserva de chakra, e Ruto foi irredutível ao mencionar isso. Nesse contexto, Soki sentiu-se mais do que eleito: todos lhe diziam sobre sua inesgotável fonte de energia. Os treinos seguiram até o alto da tarde, quando Soki já era capaz de fazer uma boa quantidade de clones. Nunca teria superado Naruto, o mais recente e proficiente usuário da técnica, pois ele tinha ainda mais chakra e uma reserva advinda da Kyuubi. Ainda assim, o garoto tinha talento natural para o Ninjutsu.

Ruto, contudo, era um homem esperto. Sabia que estava sendo vigiado por Konohamaru. A bem da verdade, não se importava muito com isso. Tinha voltado com uma boa razão à Vila da Folha, e isso requereria, ora ou outra, o contato com Kakashi, Shikamaru, Kiba, o restante do pessoal, Hinata, Konohamaru e ela. Poucas coisas traziam ânsia ao coração de Ruto senão o encontro com Haruno Sakura. No entanto, há certas batalhas das quais um homem não pode fugir.

Com o fim do treinamento naquele dia, Soki retornou à sua casa. Sentia-se o mestre do Kage Bunshin no Jutsu, principalmente quando aprendeu sobre as maiores proezas da técnica: espionagem, paralelização na aprendizagem, entre outros. Utilizou o Shunshin no Jutsu, que o permitiu chegar três ou quatro vezes mais rápido que o normal. Ruto também se sentiu feliz, principalmente ao ser reconhecido como um bom professor. Ciente de que sua tarefa do dia havia terminado, decidiu retornar para onde estava ficando. Sim, era um velho apartamento, desocupado e intocado por muitos anos. Segundo as pessoas, tinham medo de que Naruto pudesse voltar a qualquer momento e encontrar sua casa sendo ocupada. Claro, Ruto usava-o sem que ninguém soubesse, por isso as luzes ficavam apagadas o tempo todo. Ia até a casa apenas à noite, deixando-a de manhã e passando o dia todo fora. Às tardes tinha a companhia de Soki, e no restante do tempo costumava observar os conhecidos sem ser percebido. Ah, sim, ele era muito bom nisso. Ninguém poderia se esconder dele, e ninguém poderia encontrá-lo sem que ele quisesse ser encontrado.

Por isso não se diz que Konohamaru o descobriu. O que ocorreu foi, decididamente, que Uzumaki Naruto, ou Ruto, como tinha se denominado, deixou-se ser descoberto. Primeiramente para que Soki fosse tido como seguro; segundamente porque sentia saudade de todos. Eis que, ao chegar à sua casa, tirou o casaco preto, revelando uma camisa curta de cor preta e uma longa calça alaranjada. Muitas coisas podem mudar com o tempo, mas as mais simples acabavam por permanecer iguais. Seu cabelo estava mais longo, mais desgrenhado e marcado pelos longos anos de viagens. Contudo, seus olhos azuis permaneciam os mesmos, intensos e brilhantes, refertos de sabedoria, que poderiam ser reconhecidos a um simples relance daqueles que o viram no passado.

— Você voltou, Nii-chan — saudou Konohamaru, observando as costas de Naruto.

— E aí, Konohamaru? — Ele perguntou com um sorriso. Havia muita felicidade dentro de si, mas não se sentia digno de manifestá-la.

— Nii-chan, seu idiota! — Konohamaru avançou sobre ele, segurando-o pelo colarinho, assim como Sakura fez com ele mais cedo. Naruto, contudo, não reagiu. — Tem ideia do que passamos todos esses anos com a sua ausência? Por que voltou agora? Sabia que eles estavam cogitando me tornar o Hokage antes de você? Eu não queria isso! Eu não podia aceitar sê-lo antes de você!

Naruto não resistiu e sentiu os olhos encherem-se de lágrimas.

— Se liga, me desculpe, Konohamaru. Eu sei que sumi por bastante tempo. Mas eu não conseguia… Eu não queria ficar aqui, se ele não pudesse… — Naruto foi interrompido pelas bruscas palavras de seu antigo aprendiz torto.

— Mentiroso! Você teve vergonha do que aconteceu, mesmo sabendo que não foi culpa sua. Sentiu vergonha de ter deixado o Sasuke-nii-chan morrer, mesmo tendo prometido à Sakura-nee-chan trazê-lo de volta. — Konohamaru continuou a apertá-lo contra a parede, não escondendo as lágrimas que brotavam de seus olhos. — Tem ideia do tanto que sentimos sua falta? Do quanto ela sentiu sua falta? E a pobre Hinata-nee-chan, que assumiu um peso maior do que todos nós? Você a deixou sozinha, também. E agora pretende compensá-la treinando o Soki? É isso? — Konohamaru prosseguiu como uma lâmina, que lentamente perfurava o coração de Naruto.

— Eu sei que deixei muita gente na mão. Sei que não tem como me desculparem por isso. Mas eu voltei por uma causa importante, Konohamaru. Ficar me acusando aqui não vai dar em nada. Se liga, se quiser resolver as coisas comigo na porrada, faça-o depois! — Naruto sorriu com uma tenacidade assustadora. — Eu não me importaria de brigar com outro futuro Hokage.

Aquelas palavras caíram com peso no coração de Konohamaru. Se ele disse outro Hokage, então isso significava que ele pretendia assumir o cargo. Uzumaki Naruto seria o próximo Hokage; e Konohamaru viria somente depois. Assim como deveria ter sido há muito tempo.

— Você já viu a Sakura-nee-chan? Ela está tão abalada que nem mesmo acreditou em mim. — Disse soltando Naruto.

— Se liga, é claro que não. Eu não saberia como encará-la assim, de imediato. — Suas bochechas coloriram-se com um tom rosado. — Eu estou cuidando até mesmo do Soki sem que a Hinata saiba. É muita coisa para os poucos dias em que voltei.

— Eles precisam saber, Naruto-nii-chan. Essa Vila não é mais a mesma sem você. — Konohamaru encarou-o intensamente, e lhe deu om longo abraço. — Obrigado por voltar, seu idiota! Vê se tira logo o cargo do Kakashi-sensei, porque ele não para de me passar os trabalhos dele para fazer.

Naruto lembrou-se do tempo em que ficou na Folha logo após a guerra. De fato, Kakashi passou-lhe a maior parte dos trabalhos. Riu ao lembrar disso, pois constatou que seu antigo mestre o fazia apenas para quem considerava digno de sucedê-lo. Contudo, havia enrolado por treze anos a fim de esperar sua volta. Kakashi era um homem incrivelmente gentil.

— Vê se visita a Sakura-nee-chan. Ela precisa saber, mais do que todos nós (e também para me pedir desculpas pela forma que me tratou hoje). — Disse Konohamaru, antes de deixar o recinto.

Naruto ponderou bastante sobre isso. Ele já a tinha visitado, embora sem que ela soubesse; e observou-a através da janela do quarto. No entanto, mesmo àquela distância, havia um efeito surreal que a beleza da Kunoichi exercia sobre o Herói. Se questionado sobre quanto tempo ele esteve apaixonado por Sakura, Naruto responderia desde sempre. Não há um momento de sua vida que ele não se lembre de amá-la, e por amar ele diz da forma mais profunda. Aquela que não se enfraquece com o tempo.

Na sua cabeça, quando Sasuke retornasse à Folha, ele se casaria com Sakura, teria filhos e reconstruiria o Clã Uchiha. Mas descobriu que isso não ocorreria mesmo se o amigo voltasse, pois ele já tinha alguém que amava. Foi ela, Karin, que teve o seu filho. Não Sakura, como Naruto premeditara. Muitas coisas escaparam de seu controle: Sakura declarando-se para ele no País do Ferro, depois dizendo que ainda amava Sasuke no prólogo da batalha final, Sasuke cometendo suicídio no Vale do Fim, Hinata adotando o filho de Sasuke e Karin, Naruto deixando a própria Vila, entre tantas outras coisas. No entanto, do ponto de vista de Naruto, se ele trouxesse Sasuke de volta para Sakura, sobraria ele sozinho no fim. Não ficaria com Hinata, como disse à própria há muito tempo, pois não a amava de verdade. Isso seria muito doloroso para ambos com o passar do tempo. Ainda assim, a moça foi compreensiva e, sobretudo, uma grande amiga. Foi nesta época que Naruto percebeu o quanto desejava que as palavras de Sakura fossem verdadeiras; pois ele queria, egoisticamente, que sua companheira de equipe fosse mais como Hinata.

Para Naruto, a missão de salvar Sasuke, a mesma que ele prometera cumprir a Uchiha Itachi, podia ser perfeitamente alcançável com sua força; mas acabou por fracassar, assim como fracassou em suportar a dor de perdê-lo após a guerra. Fracassou também em ficar com os amigos para curar sua dor — sua vergonha —, pois em vez de enfrentar seus fantasmas e seguir em frente, ele fugiu. Não conseguiria ficar se havia algo lá fora… Um Sasuke que, na sua concepção ainda imatura e frágil, estaria pedindo ajuda ao ser envolto pela escuridão. Só que Sasuke estava morto, e os mortos não podem ter com os vivos o mesmo relacionamento. Somente a memória transcende essas longínquas dimensões, e o sentimento que se tem por alguém distante é a saudade. Naruto sabia que estava pecando por saudade; mas a esse pecado ele não quis resistir, e por isso partiu pelo mundo. Temeu viver ao lado de Sakura com um fantasma perseguindo-o nos mais profundos sonhos. Por isso, agiu como um hipócrita e, de uma vez só, quebrou tantas promessas quanto podia. Deixou seus sonhos e seus amigos para trás.

Só que ninguém culpava Naruto. Principalmente Sakura, pois sabia que seus sonhos de outrora, aqueles que em grande maioria envolviam Sasuke, jamais se tornariam realidade. Há muito tempo o seu coração tinha mudado, e mesmo que suas palavras no País do Ferro tenham sido uma mentira, não demorou muito para que se tornassem verdade. Só que o fracasso havia convencido Naruto do contrário.

IV

Naquela noite, momentos depois que Konohamaru deixou o pequeno apartamento, Naruto mais uma vez tentou ir até Sakura. Mais uma vez se deteve diante da sua janela, da qual ele podia vê-la trajando um simples pijama. Seu sangue ferveu e, novamente, o medo fê-lo recuar. Ela já vivia sozinha, no leste da Vila da Folha, e ainda assim o pobre Naruto não tinha a coragem necessária para vê-la.

No dia seguinte, estando diante de Soki, Naruto, ou melhor, Ruto, pediu que o jovem repetisse o movimento que treinaram o tempo todo:

— Faça mais rápido. Quanto mais rápido os clones agirem, menos noção o adversário terá sobre quem é o verdadeiro. Use a cabeça para combinar isso com as suas técnicas já existentes — advertiu Ruto, enquanto Soki já arfava de cansaço. Suas técnicas eram baseadas no estilo fogo, embora não soubesse de onde vinha tal predisposição.

— A minha técnica mais poderosa ainda é o Kage Bunshin. Apesar de ser um Hyuuga, não domino quase nada do taijutsu deles — resmungou Soki. — Não consigo utilizar o Byakugan.

— Se liga, isso não é o problema. Só por ser um Hyuuga, você já usa um taijutsu extremamente poderoso. Mesmo que não consiga acertar um tenketsu, consegue ainda causar um grande estrago nos tecidos de seus oponentes. — Naruto lembrou-se da vez em que fora atingido por Hyuuga Neji, embora ele tenha errado o seu tenketsu. — Acredite no que eu digo: não é necessário drenar o chakra do seu inimigo para vencê-lo: a chave é o elemento surpresa.

Soki havia pensado em como Ruto agiu para afundar Konohamaru. De fato, o elemento chave fora a surpresa. De outro modo, talvez, nunca teria sequer atingido o pervertido. Ou talvez sim, pensou novamente, acredito que ele seja mesmo muito forte. No entanto, esse era o último dia de treinamento. A partir de amanhã, Sakura estaria novamente disponível para treinar sua equipe para o Exame Chuunin. Estavam na segunda etapa, mas se encontravam cientes de que a terceira era um torneio. Um grande torneio de graduação entre todas as nações amigas, aquelas mesmas que outrora formaram a Aliança Shinobi na Quarta Guerra. Soki respirou fundo.

— Devo agradecê-lo, Ruto. Você foi o único que me ensinou uma técnica tão poderosa. — Disse o jovem fazendo uma breve reverência. — Você virá me ver no dia do exame?

— Se liga, garoto. Eu tenho muita coisa para fazer… — Reparou no olhar triste do pobre menino. — Mas eu dou um jeito de aparecer.

Soki deu um largo sorriso. Voltou a treinar seus movimentos com os Kage Bunshin. Fora estritamente orientado a não mostrar essa técnica para Sakura; apenas dentro do exame. Os motivos disso, Soki ouviu do próprio Ruto, seriam dados quando ele se tornasse um Chuunin.

Naquela tarde, Ruto recebeu sua última tigela de lamen paga por Soki. Ele o seguiu até a mansão dos Hyuuga, onde viu Hinata de relance. Ainda sem coragem para lidar com o passado, Naruto deu as costas e foi embora. Não se teve notícias dele a partir de então.

Os dias passaram e a segunda etapa do Exame Chuunin havia chegado. Nesse dia, Naruto esperou a melhor oportunidade para adentrar o escritório do Hokage. Kakashi, naturalmente, estava atrasado para comparecer ao evento. Ainda assim, não faria mal; importava a comitiva estar presente, o Hokage só seria necessário após as classificações — para um discurso, conforme esperado.

Naruto adentrou furtivamente, contemplando o professor mergulhado num livro de romance só-para-maiores. Kakashi, apesar de ser dotado de grandes sentidos, não era capaz de pressentir Naruto por ele se encontrar unificado com a Natureza. O Senjutsu lhe conferia esta habilidade: passar despercebido pelos sentidos padrões; pois estes são voltados à interpretação de perturbações no ambiente, mas o Senjutsu era, sobretudo, equivaler-se ao ambiente, de modo que o corpo do indivíduo não gerasse quaisquer perturbações. É, portanto, o maior estado de equilíbrio que um Shinobi pode atingir.

— Olá, Kakashi-sensei — saudou Naruto, fazendo com que o mestre deixasse o livro cair no chão. Sua face encontrava-se tingida com um rubor intenso, quase se rendendo ao suor. Os batimentos do pobre Kakashi aceleraram furiosamente, de modo que Naruto, com seus sentidos aguçados, pudesse ouvi-los e rir em seu íntimo. — Se liga, fica tranquilo. Não vou entregá-lo a ninguém.

O Hokage adquiriu uma expressão incrédula. Encarava a figura encapuzada, mascarada e, ainda assim, bastante emotiva, perfeitamente capaz de driblar seus sentidos e de todos os guardas que rodeavam o prédio. Só há alguém, nesses tempos, capaz de realizar tais façanhas.

— Naruto? — Indagou, ainda surpreso.

É nóis. — Respondeu o Herói, retirando a máscara de raposa que lhe escondia o rosto. Estava mais másculo, mais homem. Kakashi mal conseguia reconhecer o garoto de treze anos atrás sob aquelas vestes.

— Você realmente voltou. Konohamaru havia avisado, mas eu sabia que você só iria aparecer quando quisesse — disse de um jeito solene, embora disfarçado sob sua expressão sempre desanimada. — Tanto que os ANBU que Sai colocou no seu encalço não obtiveram nenhuma resposta.

— Se liga, é claro que eu viria alguma hora. Mas você já deve saber, a essa altura, que eu estou aqui por um motivo. — Kakashi sacudiu a cabeça, intrigado pela recém-adquirida seriedade de seu ex-aluno. Queria ter a chance de comemorar seu retorno, mas haveria muito tempo para isso depois. — Preciso conversar com você sobre o Soki. É a respeito do Rinnegan.

Os olhos de Kakashi ganharam um brilho estranho.

— O que tem a dizer? — Juntou as mãos sobre a enorme mesa prostrada à sua frente.

— Como deve saber, por ser filho de Sasuke e Karin, Soki possui sangue tanto do lado Uchiha como dos Senju. Karin, minha prima, era uma Uzumaki. — Naruto não deixou de sentir o pesar no coração ao lembrar-se da sua última parente, que veio a falecer tragicamente durante o parto. — Sendo assim, ocorreu a fusão do DNA de um Senju com um Uchiha. Soki é um potencial usuário do Rinnegan.

— Isso já esperávamos. O que mais você descobriu? — Kakashi não se deixou relaxar sob o tom incisivo de Naruto.

— Há vários grupos crescendo nas sombras, sensei. Investiguei todos ao longo dos anos. Não representavam nenhum perigo, não fosse sua união com alguém que conhecemos bem. — Kakashi sabia de quem se tratava. — Orochimaru parece interessado nas proezas do Rinnegan. Não ficou claro para ele que o Sábio dos Seis Caminhos, bem, aquele velhote esquisito, me visitou em uns sonhos de quase morte quando Kurama foi rapidamente tirada de mim. Foi confuso para mim, também. — Kakashi assentiu. — Se liga, eu não sou inteligente para entender essas coisas. — Kakashi deu um leve sorriso. — Mas mais parecia que o velhote do Rinnegan era imortal. Ele meio que criava uma própria dimensão para avançar e retornar no tempo, conforme sua vontade. Orochimaru quer isso acima de tudo. Para isso, o seu Rinnegan talvez não seja o ideal. — Kakashi assustou-se sob aquela perspectiva.

— Orochimaru sabe a respeito de Soki? Fizemos de tudo para escondê-lo do mundo. Ele foi cedido ao Clã Hyuuga exatamente para esse propósito. — O Hokage ganhou um tom áspero na voz.

Naruto sorriu amargamente.

— Se liga, sensei, você sabe melhor do que ninguém que informações vazam. Não era para ninguém ao menos saber de como as coisas se passaram na minha cabeça durante o encontro com aquele velhote, mas simplesmente porque a Ino obteve aquelas informações… — Naruto deteve-se por um instante — Acabaram descobrindo mais do que deviam sobre o Velhote dos Seis Caminhos. Saber sobre o Velhote é saber sobre o Rinnegan. E, bem, sabemos que Orochimaru é bom em conseguir informações. — Naruto suspirou profundamente. — Odeio ter que matar pessoas, por isso deixei todos os criminosos serem julgados devidamente após a guerra. Mas acho que pegamos leve demais com Orochimaru.

Kakashi ponderou sobre aquelas palavras. Naruto continuava a mesma pessoa: gentil e caridoso. Decerto não era tão inocente quanto foi uma vez, mas estava enganado se achava que houvesse outra solução a respeito de Orochimaru. Nada pararia aquele homem. Uma vez solto, Orochimaru é capaz de grandes tragédias; e poderes para tal não lhe faltariam. Era um dos Sannin, portanto estava acima dos demais.

— Se liga, sei que está pensando que não há outro caminho senão matar Orochimaru. Mas eu não desisto de uma coisa até que ela esteja morta na minha frente, sensei. — Kakashi fechou os olhos, sentindo um estrondoso pesar em seu coração. — Eu sou um ninja da paz; não arauto da morte. Nunca permitirei que a vontade de sangue volte a reinar nos corações dos Shinobi. — A determinação de Naruto podia ser sentida mesmo sob a máscara, agora recolocada sob a identidade de Ruto. — Esse será o meu dever como Hokage, Kakashi-sensei.

Kakashi não resistiu a um novo sorriso. Aquelas, sim, eram palavras encorajadoras. Antes que desse conta estava novamente sozinho no escritório.

— Bem, tenho que informar tudo o que descobri aos outros. — Bocejou. — Agora, vamos às classificações.

Tudo havia corrido bem no Exame Chuunin. Sakura ficou mais do que feliz ao ver Soki aprovado, embora Hikari e Tenshi tenham falhado. Hinata teve Kurotsuki aprovada. Tenten teve Umi e Soujiro. Temari, da Vila da Areia, havia aprovado Koharu. Aotsuchi, da Vila da Pedra, teve Kinkaru e Tsubaki aprovadas. Hattori, da Vila da Cachoeira, teve Mizaru aprovado. Infelizmente, não houve nenhum aprovado das vilas da Névoa e Nuvem, que foram as outras aldeias a fazerem parte do Exame Chuunin da Folha. Este evento seria marcado como o Exame Chuunin com maior taxa de aprovação de Kunoichi da história. Sakura fez menção de orgulho ao presenciar aquilo.

Com a demora de Kakashi, Tsunade, a Quinta Hokage, foi a responsável pelo discurso. Muitos cobrariam de Kakashi uma excelente explicação. No entanto, sabiam que não daria em nada. O Hokage agia como queria na maioria das vezes; e, normalmente, com uma excelente razão.

Assim que Sakura, Shikamaru, Konohamaru e Hinata apareceram no escritório do Hokage, com Sakura a demandar uma excelente explicação, o rosto pensativo de Kakashi deteu a todos por um instante. Conforme o Hokage explicava as informações que obteve, sem especificar a fonte, todos ficaram apreensivos. Hinata foi quem teve o maior surto de medo, tocando o peito com apreensão.

— O meu Soki corre perigo — disse em uma amplitude baixa. Ainda assim, todos puderam ouvi-la.

— De onde veio isso, Hokage-sama? — Perguntou Shikamaru, embora já imaginasse a resposta.

Também supunha que Kakashi não iria revelar a verdade.

— Em breve todos vocês saberão. Preciso que se movimentem acerca disso. Nenhuma missão fora da vila deverá ser dada a um Shinobi com grau menor que Chuunin, com pelo menos três anos de experiência no cargo. Quero que tragam de volta qualquer time de Genin fora da Vila, não importe o impacto que isso possa causar. Programem nossas defesas da forma mais silenciosa possível, embora esta seja a menos imediata das precauções. — Shikamaru confirmou suas suspeitas com um sorriso. Ainda assim, muitos ficaram preocupados sobre aquela última proposta. — Apenas façam o que digo.

— Sim, Hokage-sama. — E todos deixaram o recinto.

Muitos se queixaram da baixa prioridade dada às fortificações da defesa, mas Kakashi sabia da presença de Naruto ali. Embora Konohamaru tenha sido parcamente levado a sério, não mudava o fato de que o Herói se fazia presente. Se ele está aqui, então a Vila da Folha ainda é o lugar mais seguro de todos, pensou o Hokage. O grande problema agora era evitar que informações vazassem. Desde que Soki se tornou um Genin, muitos tomaram nota de sua inabilidade de usar o Byakugan, mesmo sendo integrante do Clã Hyuuga. Um mero nuance dessa informação já poderia despertar as suspeitas de Orochimaru.

Como membro dos Sannin, Tsunade também fora notificada sobre o que estava ocorrendo. Sua preocupação crescia em torno do bem-estar da nova geração. Sakura, por sua vez, sentia um nó na garganta cada vez que o nome de Naruto surgia em pauta, mesmo nos mais omissos cochichos. Ouvi-lo tantas vezes tornavam-no cada vez mais palpável, mais próximo; e isso era, de algum modo, bastante doloroso.