N/A:
Era pra ser oneshot de um casal só. Quando assustei, já tinha 3 mil e tantas palavras.
Eu não ia publicar, mas...
SEGUNDA, 31 DE DEZEMBRO DE 2012, 23:58 hrs.
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Ele ia e voltava, mas se sentia nojento por isso.
De repente pararam, sem que nenhum dos dois tivesse gozado e se olharam...
— Quero divórcio.
Uníssono.
E mais uma vez os fogos estouraram lá fora.
SEXTA, 11 DE JANEIRO DE 2013, 19:00 hrs.
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— Mas que merda é essa?
Um Sai de um convencional sorrisinho inconveniente entrava pela porta de seu apartamento com uma caixa de papelão vazia nas mãos.
— Não atire no carteiro. A Sakura me pediu pra pegar as coisas dela.
Ainda se apoiando na porta, Sasuke o encarou de forma vazia. Semicerrou os olhos enquanto assistia o outro catar os pertences de sua ex-mulher com certa propriedade. Chame de epifania, macumba, intervenção divina, mas ele de repente soube.
— Porra, Sai. — podia ser mais estranho? — Você 'ta comendo ela, não 'ta?
Sai parou com um dos clássicos romances britânicos de Sakura em mãos a caminho da caixa, mas não se virou. Depois de um minuto, voltou a fazer o que estava fazendo. Sasuke fuzilava as costas magrelas dele com o olhar.
— E aí?
— E aí o que?
— 'Ta ou não?
— 'To.
O Uchiha puxou o ar pesadamente pela boca e passou a mão por seus cabelos negros, bagunçando os fios.
— Porra. Porra.
— Desculpa?
— Pega essas suas desculpas e enfia no rabo. — falava calmamente, apesar de tudo — Olha pra mim, desgraça!
Ele olhou. Ficaram assim por um tempo, estudando um ao outro.
— Vaza. — Sasuke finalmente despejou, abrindo mais a porta — Agora.
O mais sensato foi obedecer. Mas não sem antes...
— Não foi culpa de ninguém, sabe?
— Vaza! — finalmente perdendo a estribeiras, empurrou Sai bruscamente porta a fora e depois a fechou num baque.
SÁBADO, 12 DE JANEIRO DE 2013, 02:00 hrs.
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— Eu até diria algo sobre aquele professor dela, o do tapa-olho que sempre 'tava saindo com a gente, mas o branquelo com cara de paisagem? — um assovio surpreso seguido de uma risadinha — Uau.
— Menos, Karin.
Sasuke filmou o local sem a menor curiosidade. Uma dessas coisas que você faz aleatoriamente, ou, talvez, para fugir de alguma coisa que esteja incomodando... Mas dá mesmo pra fugir de algo que está impregnado na sua cabeça?
Era tudo vermelho demais. Vermelho... Rosa.
Apertou sua garrafa suada de cerveja e deu um longo gole, baixando-a em seguida no balcão de madeira. Sentia os olhos da amiga em seu perfil, preocupados. Karin não tinha o costume de beber e seu narizinho empinado se franzia cada vez que aproximava o bico da garrafa aos lábios, mas estava bebendo por ele aquela noite.
— Você sabe o quanto eu gostaria de insultar a garota e espalhar coisas malvadas a respeito dela, Sasuke, mas infelizmente não foi culpa dela também. — aquele tom na voz dela parecia muito fora de lugar — A situação em que vocês estavam...
— Foi o que o Sai disse. Que não era culpa de ninguém, quero dizer. — por falar em "fora de lugar"...
Karin estendeu a mão e tocou o braço dele. Mesmo assim, não se virou para olhar. Talvez ela estivesse esperando que ele dissesse alguma coisa, e por fim suspirou e deslizou a mão para o cotovelo dele.
— Olha só... Não tem ninguém para quem você possa sempre voltar? Digo... Eu não sou lá a melhor opção pra afogar as mágoas. Especialmente porque não bebo. — pausa — Transo. Mas não bebo.
Sasuke riu e percebeu que não lembrava mais como era rir. Algo no jeito como aquela última frase saiu, algo no rubor das bochechas dela e a forma tímida com a qual ajeitou os óculos no rosto. Se ele não a conhecesse tão bem, diria que era tímida mesmo ou estava se fazendo assim propositalmente, como em tempos remotos, pra tirar uma casquinha.
Se não se conhecesse tão bem a ponto de desconsiderar a barreira que construíra no início de seu casamento com Sakura, teria dado uma chance. Mas não... Ele era seguro demais para isso.
Além do mais, pássaro morto não sai da gaiola.
QUINTA, 17 DE JANEIRO DE 2013, 19:00 hrs.
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— Não... Mais forte. Ah... Delícia... Não! Pera! Parou por quê?
— Espera um pouco, imbecil! Tenho que me livrar desse lacre.
— 'Ta, mas anda logo 'ttebayo. Ui! Merda, isso aí é gelado.
— Quieto.
— Ah... Puts! Volta volta volta! Aí! Isso! Mais forte. Ah... Meu Deus. Acho que vou gozar.
Sasuke ergueu seu tronco subitamente.
— Naruto, entenda... — sua voz era contida e impaciente — Já é bem estranho que eu esteja sentado em cima de você passando gel pós sol nas suas costas. — prosseguiu, arqueando uma sobrancelha — Existe mesmo a necessidade de falar uma coisa dessas?
— Que nóia a sua. Ok, ok. Desculpa. — o loiro parecia apressado — Agora volte a me massagear. 'Tava muito bom. E prometo que não vou gozar. — slap! — Ouch! Minha pele está sensível, Sasuke!
— Ninguém mandou ficar de boiolagem. Agora cala essa boca, porque você está na minha cama, abusando da minha boa vontade e gastando meu gel pós sol.
— 'Ta, 'ta... Credo.
Um longo silêncio se seguiu.
— Sasuke?
— Hm?
— Quando é que você vai me contar o que 'ta acontecendo?
— Da próxima vez que vocês forem pro litoral, me lembre de lembrar a Hinata de despejar um balde de protetor solar em você.
Naruto, de bruços com o queixo apoiado nas mãos sobrepostas, se moveu rápido ao escapar de debaixo de Sasuke (que permaneceu com as mãos enlambuzadas de gel pós sol olhando o Uzumaki interrogativamente). Botou as mãos na cintura e encarou o mais severamente possível (não muito) seu melhor amigo marrento que nunca se abria com ele e nem fazia questão de saber o quanto isso o irritava.
— Nem você nem a Sakura contaram o que rolou. — antes mesmo de terminar a frase, ouvia Sasuke bufar audivelmente ao se levantar da cama de forma claramente exasperada.
Foi ao banheiro, lavou as mãos e ficou olhando seu reflexo no espelho. Deixara Naruto sem resposta e, se a criatura fosse um pouco menos teimosa e ele não tão realista, deixaria assim. Só que não poderia se dar a tal luxo nem em um milhão de anos.
Sasuke voltou ao quarto e, assim como o outro, botou as mãos na cintura.
— Você concorda que deve ter algum motivo para isso?
— Uh, agora estamos formais?
— Não. Agora estamos privados.
— Sasuke...
— Droga, Naruto, será que eu posso passar um tempo com alguém sem ter que me lembrar de tanta merda?
Fechou a porta do guarda-roupa que lhe pareceu de repente muito próximo com um murro. Ela não devia estar aberta, de qualquer forma.
Naruto o olhou durante um tempinho com olhos arregalados. Até que os mesmos se suavizaram.
— Certo... Pode continuar com a massagem?
Sasuke ergueu-se da lama na qual se afundava em seu interior só pra olhar aquele familiar "sorriso Naruto". Revirou, então, os olhos.
— Nem pensar: já lavei minhas mãos. Agora vai fazer algo pra gente comer, idiota.
De um malvado propósito, se aproximou e deu outro tapa nas costas avermelhadas e nuas de Naruto, deliciando-se com o choramingo que se seguiu.
QUINTA, 17 DE JANEIRO DE 2013, 21:40 hrs.
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Assim que Naruto foi embora, alegando estar atrasado para um programa qualquer com Hinata, Sasuke se jogou pesadamente no sofá da sala. Olhou em volta. Era um apartamento muito pequeno, afinal de contas. Deixou-se levar naturalmente por seus próprios pensamentos: algo que não fazia com frequência. Até que pensou... "Não daria pra criar nem um passarinho em tampouco espaço".
Inclinou-se para frente, num suspiro, e apoiou os cotovelos nos joelhos, afundando o rosto das mãos. Hora de deixar de ser natural. Ainda sim, flagrou-se pensando que não lhe agradava nem um pouco essa sensação de estar sempre sozinho. Sim, ele que nunca precisou de ninguém, agora sentia algo muito próximo ao infantil medo do escuro.
Olhou seu relógio de pulso.
— Foda-se.
Catou sua jaqueta de couro, enfiou os pés no coturno e saiu.
