A história se chama A Noiva Raptada e pertence a Barbara Cartland bem como os personagens utilizados pertencem a Naoko Takeuchi

De repente, um pano grosso foi atirado sobre a cabeça de Usagi. Mal podendo respirar, percebeu que estava sendo raptada. Só podia ser por ordem do Rei dos Demônios, o fantástico homem que viera do Extremo Oriente... Sentiu que braços fortes a carregavam por uma escada tosca e íngreme. Gritos de marinheiros, velas sendo enfunadas, barulho e cheiro de mar...Passos se aproximaram e o pano que cobria seu rosto foi retirado. Usagi abriu os olhos e viu à sua frente um homem muito diferente do que esperava!

CAPÍTULO I

Usagi Tsukino desceu da carruagem e olhou de forma apreensiva para a casa grande e de aspecto desolado, que não visitava há algum tempo.

Certamente encontraria muitas coisas que necessitariam de sua atenção assim que ultrapassasse a porta de entrada, mas sentia-se tão exausta que só pensava em descansar.

Dizia a si mesma que era ridículo sentir-se assim. Afinal, sua irmã Minako precisava dela, e sem a sua supervisão a casa de Londres devia estar numa grande confusão.

Já fazia mais de um ano que seu pai, um notável cavaleiro, sofrerá um acidente enquanto cavalgava.

Sir Kenji Tsukino era um homem muito inteligente e um ilustre criador de cavalos, muito admirado no condado onde vivia. Mas ninguém, por mais que gostasse dele, podia dizer que fosse um bom paciente.

O acidente de montaria resultará numa perna quebrada, várias costelas fraturadas e inúmeros ferimentos que tinham demorado muito a sarar.

No campo era impossível encontrar enfermeiras de confiança. Portanto, coubera à filha mais velha, Usagi, a responsabilidade de cuidar do pai, o que não era tarefa das mais fáceis.

Quando sentia dores ele tinha que ter alguém para atormentar, e era Usagi quem ouvia suas imprecações e suas queixas. Ele reclamava continuamente contra o fato de que nem ela nem os médicos pareciam ser capazes de pô-lo de pé novamente.

Usagi ouvia tudo calada, pois sempre fora muito devotada ao pai. Gostava de ouvi-lo falar, e participava junto com ele de várias atividades, inclusive cavalgar, o que para ela também constituía um grande prazer.

Sir Kenji era um homem extremamente brilhante e culto, e como não tinha um filho homem, o que fora um profundo desapontamento para ele, criara Usagi como se fosse um rapaz. Ensinara-lhe tudo a respeito de cavalos, e tornara-a apta a montar o mais indomável deles.

Ensinara-lhe a atirar, e embora nunca lhe fosse permitido participar deste esporte essencialmente masculino quando havia convidados, eles freqüentemente saíam juntos para caçar perdizes, faisões, pombos e coelhos. Ela se tornara quase tão boa atiradora quanto ele.

No entanto, todas essas atividades cessaram quando sir Kenji adoeceu, e suas exigências para com Usagi foram tão excessivas que, finalmente, o médico da família resolveu intervir.

— Agora que o senhor está melhor — disse-lhe com firmeza — , aconselho-o a ir para uma clínica de repouso, onde os últimos vestígios de seus ferimentos poderão ser tratados de maneira adequada, com massagens, banhos quentes e exercícios especializados.

A princípio, sir Kenji se recusou a considerar tal idéia, mas finalmente disse, ainda relutante:

— Talvez o senhor esteja certo. Não quero ficar aleijado pelo resto da vida.

— Não há a mínima possibilidade disso — replicou o médico —, mas o senhor precisa do tipo certo de tratamento, que não pode ser obtido aqui, para que possa cavalgar novamente.

— Muito bem, faça como quiser. Espero que Usagi providencie para que eu não me aborreça, cercado por um bando de inválidos.

— A srta. Usagi não irá com o senhor. Sir Kenji olhou-o, surpreso:

— O que disse?

— Vou ser muito franco com o senhor, pois conheço-o há muito tempo. Além disso, já tratei de toda a família, e respeito e admiro a todos.

Ele fez uma pausa, e quando sir Kenji ia começar a falar, interrompeu-o:

— Não quero ter mais um doente a meus cuidados, o que fatalmente acontecerá se a srta. Usagi não tiver completo repouso.

— De que está falando? — resmungou sir Kenji.

— Estou lhe dizendo que o senhor sobrecarregou sua filha a tal ponto, que tenho até medo de que ela venha a ter um esgotamento.

— Nunca ouvi uma bobagem como essa!

— O senhor tem idéia de quantas horas por dia ela tem passado cuidando do senhor há mais de um ano? Pense e conte quantas vezes a manteve acordada na semana passada.

Sir Kenji pareceu sentir-se culpado, e o médico insistiu:

— Quando o senhor for para Cheltenham, onde creio que vai encontrar melhores instalações para as suas necessidades do que em qualquer outro lugar, enviarei a srta. Usagi a Londres. Ela precisa se divertir um pouco, ao invés de atuar como enfermeira gratuita e sem agradecimento.

Sir Kenji olhou-o como se estivesse a ponto de protestar, mas o médico continuou:

— Acho que agora o senhor pode passar muito bem sem a srta. Usagi. Além disso, sua outra filha, Minako, está precisando dela.

Agora sir Kenji sabia exatamente o que o médico estava insinuando.

Mesmo nos confins do campo, começavam a circular boatos a respeito de Minako. Alguns comentários haviam sido feitos por parentes que vinham de vez em quando visitar sir Kenki, e outros, de forma mais discreta, por seus amigos.

— Que diabo está acontecendo com Minako? — perguntara ele a Usagi, justamente há dois dias atrás.

— Não tenho idéia, papai. O senhor sabe que ela não gosta de escrever cartas. Ontem à noite eu estava mesmo pensando que faz muito tempo que ela não vem para casa.

— Escreva-lhe e diga-lhe que desejo vê-la.

Usagi concordou, pensando que, na verdade, aquilo era uma perda de tempo.

Sabia que a irmã se aborrecia no campo, ainda mais com a doença do pai.

— Este lugar é um necrotério — tinha-lhe dito ela na última vez em que viera para casa. — Antes do acidente de papai, ao menos apareciam alguns homens por aqui para ver os cavalos, ou então podíamos ir com ele a alguma reunião de caçadores. Mas agora...

Ela terminara a frase fazendo um gesto expressivo com as mãos. Usagi compreendeu que, depois que Minako fora para Londres, passara a considerar a vida campestre de Buckim-ghamshire muito desinteressante.

Ela mesma sentia falta das cavalgadas de que gostava tanto, das caçadas de inverno e dos muitos amigos de seu pai.

A princípio, eles apareciam sempre para perguntar sobre a saúde de sir Kenji, mas, com o passar dos meses, as visitas foram escasseando.

Usagi suspeitava que eles não consideravam muito estimulante sentar-se ao pé da cama do doente e ficar escutando suas intermináveis queixas.

Sabia agora que, embora tivesse escapado de um problema, graças ao médico da família, outro a esperava em Londres: Minako.

Era difícil imaginar duas irmãs tão diferentes uma da outra, embora fossem ambas jovens encantadoras, cada uma à sua maneira.

Usagi tinha um tipo de beleza que não causava sensação à primeira vista, mas quando as pessoas, especialmente os homens, viam Minako pela primeira vez, ficavam maravilhados com sua aparência.

A mãe dela, lady Tsukino, fora famosa por sua beleza, a ponto de ter provocado a paixão de um príncipe recém-chegado à Inglaterra.

Ele a pediu em casamento, mas, enquanto se processavam as negociações para possibilitar que um membro de uma família real estrangeira ficasse noivo de uma moça inglesa, ela conheceu sir Kenji.

Ele era extremamente bem-apessoado e arrojado, e tinha reputação de derrubar corações; ela era a mais bela moça da sociedade de seu tempo. Assim que se conheceram, apaixonaram-se à primeira vista.

Para evitar uma série de acontecimentos desagradáveis, fugiram juntos e se casaram, antes que alguém tivesse tempo de colocar objeções.

O príncipe estrangeiro ficou desolado. A família de lady Tsukino, que gozava de grande prestígio na corte, ficou furiosa com o comportamento dela, recriminando seu temperamento impulsivo.

Apesar do que todos disseram, os Tsukino foram extremamente felizes, até que, após quinze anos de uma bem-aventurança completa, lady Tsukino morreu ao dar à luz uma criança natimorta.

Sir Kenji, tresloucado por tê-la perdido, passou a se comportar de uma maneira tão desenfreada que seus amigos temeram que tivesse perdido a razão.

Mas, depois de algum tempo, mais calmo, ele fixou residência no campo e passou a dedicar-se a seus cavalos e às duas filhas.

Foi então que Usagi, com catorze anos, resolveu cuidar do pai e tentar compensá-lo pela perda da esposa.

Achava também que devia tentar substituir a mãe junto a Minako, mas tinha na verdade muito mais dificuldade de lidar com ela que com o pai.

Sua mãe fora impetuosa, impulsiva e determinada a tomar suas próprias decisões. Minako tinha o mesmo temperamento, mas era muito mais voluntariosa e quase incontrolável.

Tudo o que queria era divertir-se, e isto significava para ela, desde de muito jovem, ter a seus pés todos os homens da vizinhança, o que não era difícil, já que era a garota mais bonita da região.

Quando completou dezessete anos, Minako decidiu ir para Londres, disposta a deslumbrar a sociedade.

Por essa época, o rei estava ficando velho, e dizia-se que a sociedade não era mais tão alegre e divertida como tinha sido no tempo em que ele fora regente.

Apesar disso, Minako encontrara alguns homens elegantes, que se haviam hospedado em algumas das mansões perto de sua casa em Buckinghamshire. Eles lhe garantiram que o mundo do qual faziam parte estava só esperando por ela.

Nessa ocasião, ela encontrou também lady Luna, uma parente dos Tsukino, que ficou encantada em ser sua acompanhante.

Minako a induziu, sem que o pai e a irmã soubessem, a apresentá-la à corte assim que o rei voltasse a Londres.

Isso garantia que ela fosse conhecida e notada, tornando-a confiante no seu sucesso.

Sir Kenji, que achava difícil recusar qualquer coisa a Minako pelo fato de ela ser tão parecida com a mãe, deu-lhe o que pareceu a Usagi uma quantia astronômica em dinheiro para gastar em roupas, preferindo esquecer que a filha mais velha já deveria ter feito seu début há mais de dois anos.

— Quero que fique aqui comigo — tinha-lhe dito. — Talvez mais tarde possamos abrir nossa casa de Londres.

Usagi concordou, porque sempre fazia o que o pai pedia.

Na verdade, não estava particularmente interessada na vida social, e não se sentia aborrecida nem invejosa do que sua irmã considerava uma grande aventura.

Três meses após a ida de Minako para Londres, quando sir Kenji estava começando a pensar em ir para lá, aconteceu o desastre.

Depois do acidente, não se questionou mais a possibilidade de Usagi deixá-lo, e ele mesmo parou de se interessar pelo que a filha mais nova estava fazendo ou pelo seu inegável sucesso.

A última vez em que veio para casa, Minako comentou:

— Eu diria que sou a "namoradinha de Londres", se isso não fosse um pouco vulgar.

— Estou tão contente, querida! — replicou Usagi, pensando que ninguém poderia ser mais encantadora do que a irmã, com seus cabelos louros, olhos azuis e corpo deslumbrante.

Ela não somente tinha um rosto bonito, mas era também sedutora, travessa e extremamente imprevisível.

Era inevitável, pois, que as outras jovens a invejassem.

— As senhoras mais velhas me olham de nariz empinado e me chamam de leviana. É claro que sou leviana, comparada com aquelas lesmas. Vou a todos os lugares, sou vista em todas as festas importantes e já perdi a conta de meus namorados.

— Está pensando em se casar? — perguntou Usagi. — Afinal de contas, você tem dezoito anos, e se mamãe fosse viva, estou certa de que a aconselharia a aceitar uma das muitas propostas de casamento que tem recebido.

Usagi disse isso com muito cuidado, pois era bem provável que Minako lhe respondesse que não tinha intenção de fazer nada tão aborrecido como casar-se, quando se divertia tanto sendo uma moça livre.

Para sua surpresa, Minako disse, apoiando o queixo nas mãos espalmadas:

— É claro que já pensei nisso, e estive bem tentada a aceitar o marquês de Gazebrooke, quando ele me pediu em casamento.

— E por que o recusou?

— Ele tem quase cinqüenta anos, é convencido e pomposo. E também queria que eu vivesse na sua triste mansão de Northumberland, onde não há nada para fazer, a não ser passar o tempo agradando aos locatários, imersa em obras de caridade.

Usagi riu.

— Realmente, esse tipo de vida não parece servir para você, mas por outro lado estou certa de que teria sido um brilhante casamento.

Minako não respondeu, e Usagi perguntou:

— Você ainda não se apaixonou?

— Não! — replicou Minako firmemente. — As únicas vezes em que meu coração se abalou um pouco foi sempre por homens sem dinheiro ou sem posição social, e não sou boba de aceitar alguém assim.

— Mas você deve lembrar como papai e mamãe se apaixonaram e foram felizes juntos.

— Eu sei — concordou Minako —, mas não somos tão bobas a ponto de não perceber que uma sorte assim é rara.

Fez uma pausa e continuou:

— Na sociedade em que vivemos, jovens como eu se casam com aquele que der o mais alto lance. Noutras palavras, escolhemos o homem que tiver mais dinheiro e o título mais importante. O amor, como sempre se diz, vem depois.

Usagi estava chocada.

— Oh, Minako! Acho que está errada. Não é bom pensar dessa forma. Pode imaginar mamãe interessada em outro homem? E lembre-se de que papai sempre disse que, desde o momento em que a viu, não houve outra mulher para ele no mundo todo.

— Eu sei, eu sei! — concordou Minako, irritada. — Mas esse tipo de coisa não acontece mais hoje em dia — não para mim, de qualquer forma.

Usagi sentiu-se um pouco desesperançada. Sentia que não estava levando a irmã na direção desejada.

Sabia muito pouco sobre o cenário londrino. Por isso sentia-se ignorante e sem argumentos, limitando-se a ouvir o que a irmã lhe contava.

Minako apresentou-lhe uma extensa lista de outros pretendentes, e Usagi foi obrigada a concordar que havia algo de errado com todos eles.

Ou eram muito velhos ou muito jovens, sem atrativos ou perdulários. Minako descartava também os que tinham a reputação de gostarem de beber ou de correr atrás de mulheres.

— A verdade é que não acredito que exista o homem ideal.

— Tenho certeza de que existe — discordou Usagi —, mas tem que esperar até encontrá-lo.

— Como você mesma ressaltou, já tenho dezoito anos, e as pessoas estão esperando que eu me case. É claro que minhas rivais estão rezando para que isso aconteça o mais breve possível, pois assim não poderei mais seduzir nenhum dos namorados delas.

Olhando para o seu lindo rosto, tornava-se óbvio que ela devia ser uma ameaça muito séria para as ambições das outras moças.

Mas Usagi sabia melhor do que ninguém que seria muito difícil Minako fixar-se num homem, a não ser que ele fosse muito especial.

Conversaram por muito tempo, até que Minako, que não tinha vindo para casa desacompanhada, mas trazendo dois rapazes para escoltá-la e diverti-la, decidiu que queria a companhia deles.

— Estamos voltando para Londres amanhã de manhã — disse ela. — Taiki e Yaten acharam esta casa tão melancólica quanto eu, ainda mais agora, com papai tão doente e os criados reclamando do trabalho extra.

— Oh, querida, é culpa minha! Se você tivesse me avisado de sua vinda um pouco antes, eu teria arranjado ajudantes na vila. Da próxima vez, avise-me ao menos com um dia de antecedência.

Mas, pela expressão da irmã, sabia que talvez não houvesse uma próxima vez.

— Por favor, Minako, venha nos visitar logo — implorou. — Assim poderá me contar o que está fazendo. Fico preocupada com a possibilidade de que, sem os conselhos de mamãe, você venha a cometer erros dos quais possa se arrepender pelo resto da vida.

— Não pretendo fazer isso — replicou Minako —, e embora a prima Diana esteja sempre me pressionando para casar-me com um duque, desejo ser feliz.

— É um modo de pensar muito sensato — concordou Usagi.

Sabia que a irmã tinha idade suficiente para irritar-se com as restrições impostas pela vida no campo, e, se estivesse mais a par do que estava acontecendo, poderia ter-se empenhado em encontrar uma acompanhante mais adequada para ela do que lady Luna. Isso a fazia sentir-se culpada.

Mas era tarde demais para fazer alguma coisa, e, na manhã seguinte, viu a irmã sair numa elegante carruagem, dirigida por um dos jovens. Parecia-lhe que Minako estava indo para outro planeta, e que nunca mais a veria.

Mas agora, sob a insistência do médico, ela tinha vindo a Londres.

A porta foi aberta por um lacaio, muito elegante na libre dos Tsukino.

— Bom dia! — disse Usagi. — Espero que o tenha lhe dito para me esperar.

— Sim, senhorita — disse o criado, e correu até a carruagem para retirar a bagagem de Usagi.

Sir Kenji tinha dito a Usagi:

— Se você vai para Londres, não quero que fique vivendo às custas de meus parentes, como Minako fez no ano passado.

Diga a Rubeus que abra a casa e prepare tudo para recebê-la.

— A casa! A nossa casa? — perguntara Usagi, surpresa. — Mas lá estão somente os caseiros!

— Há outros criados — replicou o pai —, pois eu disse a Rubeus que Minako podia ir lá sempre que desejasse. Além disso, alguns dos meus amigos têm se hospedado lá quando de passagem por Londres.

— O senhor não tinha me falado disso, papai!

— Acho que me esqueci de dizer-lhe. Eles me agradeceram pela hospitalidade, sinal de que ficaram bem instalados.

Nunca passara pela cabeça de Usagi que a casa de Londres, aonde seu pai raramente ia, estivesse aberta.

Imaginava que toda a mobília estivesse coberta com capas, e que só houvesse um casal idoso tomando conta da casa.

Só agora ficara sabendo que Minako tinha a casa à sua disposição, embora estivesse hospedada na casa da prima Diana.

O sr. Rubeus não era somente o procurador de seu pai em Londres, mas tratava também de seus negócios no campo, relacionados com cavalos e pagamentos.

Na verdade, Usagi tinha pouca esperança de que ele viesse recebê-la. E foi o que aconteeeu. Quem veio dar-lhe as boas-vindas foi o velho mordomo.

— É um prazer vê-la, srta. Usagi. Fiquei sabendo que sir Kenji não estava muito bem, e pensei que a senhorita nunca viesse à cidade.

— Estou aqui agora — disse Usagi sorrindo. — Soube que a casa está aberta há algum tempo.

— Sim, é verdade. A srta. Minako tem dado algumas festas aqui, e ofereceu um grande jantar na semana passada. Ficou muito contente com tudo o que preparamos para ela.

Usagi ficou muito admirada, mas não permitiu que ele percebesse,

— A srta. Minako sabe que eu devia chegar hoje?

— Sim, senhorita. Pediu-me que lhe avisasse que estará de volta às quatro horas.

— Obrigada — agradeceu Usagi.

Caminhou automaticamente para a sala de estar, quando o velho Helios disse:

— A sala de visitas está aberta. A srta. Minako remobiliou-a, e tenho certeza de que vai gostar.

Espantada, Usagi subiu as escadas.

Se Minako estava usando a casa, por que não lhe tinha escrito contando?

Era estranho que ela estivesse dando festas por conta própria. Usagi sempre achara que a prima Diana estava encantada em entretê-la em sua casa de Islington Square.

"Gostaria de saber o que está acontecendo", pensou.

Quando chegou à sala de visitas, viu que estava muito bonita. Havia lá uma profusão de flores, e Usagi concluiu que deveriam ter sido enviadas em homenagem à irmã. Havia cestas de orquídeas e arranjos de cravos, cada um com um cartão.

Parecia muito estranho que tivessem sido enviados para lá, e um pensamento súbito acudiu Usagi. Ela se virou para Helios e perguntou:

— A srta. Minako tem ficado aqui?

O velho mordomo parecia surpreso.

— Faz dois meses que ela está morando aqui, senhorita.

— Não sabia disso. Pensei que estivesse hospedada na casa de lady Luna, mas talvez ela tenha se mudado para cá também.

O mordomo sacudiu a cabeça.

— Não, senhorita. Lady Luna e a srta. Minako tiveram um pequeno desentendimento. Assim, a srta. Minako mudou-se para cá. Diz que esta casa é sua e é aqui que vai ficar.

Usagi engasgou.

— Mas certamente ela tem uma dama de companhia?

— Oh, sim, senhorita. Lady Esmeralda está aqui também.

— Acho que não a conheço — disse Usagi em voz baixa.

— Lady Esmeralda é viúva. Elas estão ocupando a suíte principal, e a srta. Minako achou que a senhorita gostaria de ficar no quarto rosado.

Era extraordinário que sua irmã estivesse vivendo na casa de Londres sem que ela e o pai soubessem, e também que estivesse ocupando os quartos reservados para o pai e a mãe, e não os mais simples, destinados às filhas.

Ela mesma viera poucas vezes a Londres, antes da morte da mãe, para comprar roupas ou ir ao dentista.

Depois disso, viera somente uma vez, com o pai, para um leilão muito especial de cavalos, onde ele gastara uma grande soma, dizendo, para agradar-lhe, que precisava dos seus conselhos.

Ela nunca podia esperar que Minako tivesse aberto a casa da Londres por conta própria, sem ao menos consultar o pai, e estivesse morando lá com uma acompanhante desconhecida, que ela supunha não tivesse a aprovação de lady Luna.

Teve a sensação de ter penetrado numa espécie de labirinto, do qual seria muito difícil sair.

Por outro lado, não queria comentar o comportamento da irmã com os criados.

Foi para o quarto que lhe havia sido destinado, e quando trouxeram sua bagagem para cima, trocou de roupa.

Notando que eram quase quatro horas, dirigiu-se à sala de visitas, apreensiva com a chegada de Minako. O que será que ela iria lhe contar?

Não precisou esperar muito.

De repente ouviu o som de vozes no hall, e logo depois Minako entrou na sala, encantadora num vestido tão espetacular quanto o chapéu de copa alta, enfeitado de plumas, que usava sobre o cabelo dourado.

— Querida! — exclamou ela. — Que bom ver você! Que boa surpresa ter vindo para Londres! O que fez com papai?

— Ele foi para Cheltenham.

— E você não foi com ele?

— O dr. Artemis recusou-se a permitir que eu fosse. Disse que estou exausta de tanto cuidar de papai, o que é mais ou menos verdade, e que devia vir a Londres para descansar.

— Descansar? — Minako riu. — Não pretendo deixar que faça isso.

— Por que não?

— Porque, minha queridíssima Usagi, agora que está aqui, vou apresentá-la à sociedade, ou seja, à parte dela na qual impero como uma rainha não coroada.

Ela falou do modo convencido que costumava usar quando era garotinha e dizia a Usagi que sua boneca era maior e mais bonita que a dela.

— Não compreendo — disse Usagi. — Helios me disse que você está morando aqui com outra dama de companhia.

Minako pareceu um pouco embaraçada, e depois respondeu:

— A prima Diana e eu nos desentendemos.

— Por que motivo?

— O que você pensa? Homens, naturalmente.

— Não entendo.

— Quer saber a verdade? — disse Minako em tom de desafio. — Ela desaprovou um homem pelo qual eu me interessava, e teve a audácia de impedir que eu o recebesse em casa. Então, resolvi deixar sua casa.

— Oh, Minako, como pôde fazer isso depois de ela ter sido tão boa para você?

— Não achei que fosse bondade sua interferir na minha vida. Espero que Helios lhe tenha dito que encontrei outra acompanhante.

— Mas Minako.. . — começou Usagi. Minako ergueu as mãos para cima.

— Não, não! Não comece a encontrar erros em mim, porque não pretendo ouvi-la. Já decidi que vou viver do jeito que gosto e me divertir, e não vou permitir que ninguém, seja a prima Diana ou você, me diga o que devo fazer.

— Não estou procurando defeitos em você — disse Usagi com voz suave. — Simplesmente foi uma surpresa, querida, encontrá-la morando aqui sem o conhecimento de papai.

— Não lhe pedi porque ele podia recusar — respondeu Minako com lógica inapelável. — Você vai descobrir que estamos vivendo muito confortavelmente. Encontrei um excelente cozinheiro para preparar jantares, e Helios e dois lacaios o ajudam na copa.

— Como pode pagar por tudo isso? — perguntou Usagi

Compreendeu que tinha feito uma pergunta muito constrangedora, e percebeu que por um momento Minako hesitou, como se não quisesse dizer-lhe a verdade.

Finalmente, ela respondeu:

— Minha acompanhante, lady Esmeralda, é muito rica, e é conveniente para ela no presente momento ficar comigo.

Pela maneira como Minako falou, Usagi percebeu que lady Esmeralda devia ter algum motivo inconfessável para tal atitude.

Mas, enquanto tentava formular outras perguntas que não demonstrassem indiscrição, lady Esmeralda entrou na sala.

Ao vê-la pela primeira vez, Usagi engasgou. Nunca imaginara uma mulher tão exótica, sensual e escandalosamente atraente como aquela.

Ela estendeu a mão para Usagi, dizendo:

— Estou encantada em conhecer a irmã de Minako, e nós estamos determinadas, agora que veio para Londres, a proporcionar-lhe uma temporada muito agradável.

— É muita bondade sua.

Mas Usagi estava certa de que lady Esmeralda não tinha o mínimo interesse por ela, e somente aceitara a sua presença porque Minako insistira nisso.

Elas se sentaram, e o criado trouxe o chá, que dispôs numa mesa, exatamente do mesmo modo que sua mãe costumava fazer.

Usagi viu que o aparelho de prata tinha sido tirado do cofre e fora limpo, o que não acontecera na última vez em que estivera em Londres.

Havia muitas coisas gostosas para comer, e ela se surpreendeu quando lady Esmeralda disse ao criado que lhe trouxesse uma taça de champanhe.

Notou também que, num canto da sala, havia uma mesa que ela nunca vira antes, sobre a qual repousava um grande número de garrafas de bebida.

Aliviada, Usagi percebeu que Minako se contentava com uma xícara de chá, Pareceu-lhe muito estranho que uma senhora, especialmente tão jovem como lady Esmeralda, bebesse champanhe àquela hora do dia.

Ficou ouvindo, de olhos arregalados, Minako e lady Esmeralda falarem sobre todas as coisas que haviam feito nas últimas vinte e quatro horas, e programarem o que fariam aquela noite e nos próximos dias.

— Hoje à noite — disse Minako — temos um jantar muito especial, e há um convidado que quero lhe apresentar.

— Quem é ele? — perguntou Usagi.

Viu que a irmã lançou um olhar cúmplice para lady Esmeralda antes de responder:

— Lorde Furuhata — Motoki — é um grande amigo meu.

Pelo seu tom de voz, Usagi, que a conhecia muito bem pôde perceber que se tratava de alguém realmente muito especial.

No entanto, Minako não acrescentou mais nada a respeito dele, e passou a descrever os outros convidados.

— O último, mas não o menos importante — disse Minako com outro olhar para lady Esmeralda — é o convidado mais distinto que estará aqui esta noite: o duque de Kou.

— Se ele puder escapar — acrescentou lady Esmeralda.

— É claro — disse Minako —, mas estou certa de que ele conseguirá fazê-lo.

— Ficarei furiosa se acontecer algo que o impeça de vir — disse lady Esmeralda.

Ela depositou a taça vazia sobre a mesa e continuou:

— Quero ter a melhor aparência possível, por isso vou me deitar um pouco. Meu cabeleireiro estará aqui às sete. Se você precisar dele, Minako, ele a atenderá primeiro, senão você se atrasará para o jantar.

— Direi aos criados para encaminhá-lo ao meu quarto assim que ele chegar — respondeu Minako.

Lady Esmeralda saiu da sala, deixando as duas irmãs sozinhas. Usagi ia pedir a Minako que lhe falasse mais a respeito de lorde Furuhata, mas ela disse:

— Espero que o duque não cancele sua vinda no último momento. Se o fizer, Esmeralda ficará furiosa, e vamos ter um número ímpar à mesa.

— Por que ele faria isso?

— A sua aborrecida esposa — explicou Minako. — Ela se agarra a ele como uma sanguessuga, e embora ele esteja loucamente apaixonado por Esmeralda, não quer provocar um escândalo até que tenha decidido se vai ou não fugir com ela.

Ela falou com tranqüilidade, como se o que estivesse dizendo fosse absolutamente natural.

Só quando ouviu a irmã engasgar e percebeu que seus olhos estavam tão arregalados e atônitos que pareciam tomar conta do seu rosto todo, é que Minako se deu conta de como Usagi estava chocada.