Traduzida em: 23/05/2009
Autora: Sophie
Capítulo Um
Se você fosse eu, você provavelmente estaria super pau da vida a essa altura. Esmagado na traseira do carro dos meus pais, eu estava cercado por muito mais malas do que eu realmente precisava. Bem, eu suponho que é isso o que acontece quando minha mãe empacota minhas coisas animadamente seis semanas, antes de eu realmente ter de ir – resultando comigo tendo que viver com as mesmas três mudas de roupas até as aulas começarem em setembro. Eu não estava pau da vida, para ser honesto, eles queriam que eu estivesse, mas eu não estava.
Através da janela, as tristes linhas brancas que marcavam a estrada se borravam em uma perpétua mancha no asfalto cinza. As árvores à frente, verdes e magníficas, eram fáceis de distinguir, mas conforme o pequeno carro azul passava, elas se fundiam uma a outra como uma parede grossa e frondosa em ambos os nossos lados. A estrada ia colina a cima e conforme nós alcançávamos o topo, era como uma cena de um filme clichê e antigo, com a fraca luz do sol aparecendo marginalmente no horizonte, iluminando os rostos frios dos meus pais com uma luz amarela, irônica e lisonjeira.
Eu sorri largamente, os dois não tinham dado um sorriso a viagem toda. Inferno, eles não tinham feito nada. Eu estava bastante satisfeito, isso meio que era o que eu vinha almejando. Eu era para ser a criança inocente de olhos arregalados, o mais novo de três. Eu deveria ser a luz dos olhos deles, mas para eles eu era apagado e não tinha nada de brilhante, eles mal podiam esperar para se livrar de mim, seus rostos não mostravam, mas eu sabia.
-Eu não me importo, sabe. – eu comecei, rindo esquisitamente. Minha mãe não reagiu, mas eu notei as mãos do meu pai se apertarem ao redor do volante, tentando controlar sua respiração, na esperança de que isso fosse impedi-lo de se contorcer em seu banco e me bater direto no rosto. – Eu mal posso esperar para estar longe de vocês.
Minha mãe reagiu, não exatamente do jeito que eu esperava que ela fizesse, mas era uma reação de qualquer modo.
-O sentimento é recíproco, querido. – ela nem soou zombeteira ou sarcástica ou... Qualquer coisa, realmente.
Eu me inclinei para frente, posicionando meu rosto entre os dois encostos de cabeça.
-Eu também não amo vocês, eu odeio vocês.
-É sua própria culpa, filho. – meu pai tinha adotado o mesmo tom que sua esposa. Eles estavam tentando me irritar com sua calma. Internato era suposto a me irritar.
Oak Hill Prep, no norte de Quebec, tão longe quanto eles podiam, possivelmente, me levar sem ter minha avó os repreendendo por serem desagradáveis, pais sem sentimentos, o que eles eram. Minha avó me amava, ela era uma maluca, presa no tempo. Ela vivia nos anos sessenta – uma recaída de umas duas décadas – e acreditava profundamente no poder da juventude e liberdade de expressão e ação.
A escola não era muito bem nomeada, eu achei que eles tinham apenas olhado ao redor e a nomeado depois do que eles viram; uma colina, com alguns carvalhos espalhados ao redor. A escola em si parecia algo retirado na Inglaterra medieval. Alta, paredes de pedra e janelas em formato de flecha, parecia com um castelo. Eu havia visto fotos na internet, meus pais estavam todos entusiasmados em me mostrar.
Em uma foto aérea, eu havia notado que o campus era composto por prédios longos e estreitos, distribuídos em um grande quadrado, a área dentro das paredes usada para socializar e estudar, e os campos ao redor para os esportes e outras recreações estúpidas.
-Eu vou gostar daqui. – eu disse, olhando pela janela para a placa de 'bem vindo ao Oak Hill', essa mesma frase escrita logo abaixo em francês. – Eu vou fazer amigos e vocês vão ficar presos em suas vidas de merda. Ah, é, pai, como vai o trabalho? – isso era um golpe baixo, ele havia sido demitido uma semana antes por minha causa; eu baguncei com alguns de seus arquivos, o que significava que algumas insignificantes remessas não haviam sido entregues em outros insignificantes lugares. O chefe dele disse que não tinha jeito de eu ter feito isso e que meu pai estava mentindo para que ninguém soubesse que ele havia ferrado com tudo... De novo. Ele não respondeu a minha pergunta.
A entrada de carros para o prédio principal era longa, desenrolando seu caminho por entre as árvores. Não havia outros prédios ao redor ou próximos a escola, apenas prados vazios e suas cercas, o que me fez sentir uma pequena pontada de medo. Era uma pontada passageira, que se foi tão logo um ônibus público passou pelo nosso carro, saindo da escola. Devia haver casas na área, se os estudantes tinham que meramente pegar um ônibus local para ir à escola.
Nós chegamos.
Meus pais empurraram a mim e a minha bagagem para fora do carro e partiram sem uma palavra, me deixando na frente da porta principal com um leve divertimento, mas ainda assim com um olhar espantado em meu rosto. Eu não estava exatamente certo sobre o que fazer comigo mesmo e com minhas duas malas grandes, oh, e uma mochila. Os outros estudantes olharam para mim com o cenho franzido, claramente tirados de suas rotinas com a chegada de um novo estudante. Eu achei que eles todos pareceriam os mesmos, uma vez que colocassem os seus uniformes.
Ah, não, essa não era apenas um internato, pessoal, era um internado com uniforme – blazers marrons, camisas brancas e gravatas pretas.
Atrás de mim, quatro caras que pareciam estudantes do último ano, assim como eu, saíram pelas portas duplas, saindo da recepção. Eles não me notaram, entretanto, rindo e falando entre eles, deixando as portas balançarem até pararem de volta em suas batentes. Segundos mais tarde, um pequeno e desgrenhado estudante de cabelos escuros, que batia na altura do meu ombro, tropeçou porta a fora, gritando para os outros garotos em um tom esperançoso e brincalhão, que os veria mais tarde. Eu não conhecia nenhum deles, mas eu sabia que isso não ia acontecer.
Ele se ajeitou um pouco, tirando um pouco de sujeira de seus ombros tensos; ele estava a apenas alguns passos longe. Suspirando alegremente, ele olhou ao redor de si mesmo e sorriu um pouco ao me notar. Eu olhei de volta para ele, meu nariz franzindo-se e meus olhos se cerrando. Aparentemente, ele me reconheceu de algum lugar, mas eu não tinha idéia de quem ele era. Apesar do meu olhar duvidoso, ele andou vivamente até mim. Eu notei o que pareceu ser uma insígnia dourada de monitor, brilhando na luz do sol. Ele parecia um pouco novo para ser um monitor aqui.
-Ah, você deve ser Pierre Bouvier. – ele disse, sua era voz bastante aguda, mas ainda rouca, como se ele precisasse tossir. Ele esticou sua mão pra mim, uma vez que eu respondi com um assentimento positivo; eu a apertei. Ele sorriu largamente. – Eu sou Sébastien Lefebvre, eu vou te mostrar seu dormitório. – okay, então ele não me conhecia, ele era apenas o animalzinho de algum professor.
Sem perguntar, ele pegou uma das minhas malas – a maior delas – e andou na direção da porta dupla, abrindo uma delas com sua mão livre para mim. Eu peguei minha segunda mala e minha mochila, o seguindo.
-Fique perto. – ele disse sobre seu ombro. – É muito fácil você se perder no seu primeiro dia.
Eu não senti a necessidade de discordar.
O interior do prédio era drasticamente diferente de seu exterior, com paredes de cor creme e decoração em veludo vermelho. Moderno, mas ainda assim rústico. Estudantes andavam ao meu redor, naturalmente inconscientes de minha presença, ao contrário dos que estavam do lado de fora; tudo parecia tão oposto e misturado aqui. Sébastien se movia fluidamente entre os alunos, assentindo para a recepcionista casualmente ao passar por ela. Eu não tinha tanta sorte, tropeçando no meu próprio pé, várias vezes.
Ele me guiou por uma porta para dentro do quadrado principal, criado pelos quatro prédios.
-Nós acabamos de deixar o prédio Sul. Recepção, administrativo, enfermaria e todas essas coisas, são aí. – ele parou, me permitindo emparelhar com ele, então andaríamos juntos. Ele indicou o lado direito com a cabeça. – Os prédios Oeste e Leste são só para as salas de aula. O prédio Norte é onde os dormitórios ficam. Você tem sorte, você está no primeiro andar.
-Eu não vou ter que levar minhas coisas por várias escadas, então. – eu sorri.
Sébastien sorriu largamente, aparentemente feliz com a minha primeira resposta verbal.
-Exatamente.
-Quem é meu colega de quarto? Se é que eu tenho um.
-Você tem um. – ele franziu o cenho suavemente, enquanto se concentrava em lembrar. – Jeff Stinco.
Eu engoli uma risada, era infantil se divertir com o nome do cara.
-Como ele é?
-Bastante careca. – ele riu, e eu me juntei a ele. – Obcecado por guitarras e coisas assim; ele mantém o quarto de modo legal, entretanto. Eu acho que vocês vão se dar bem. Ele é do último ano, como você.
Um pensamento anterior voltou a minha mente, e eu percebi que perguntar a idade de alguém não era rude, a não ser que fosse para uma mulher. Ele me disse que tinha quinze anos, um segundanista – o que explicava sua altura e movimentos energéticos – recompensado com o status de monitor, com uma retribuição de boas notas, assim como bom comportamento em seu primeiro ano ali e sua maturidade sem precedentes.
-Meu pai também é vice diretor. – ele riu. – Eu acho que essa decisão foi facilmente influenciada por ele.
Eu estava começando a gostar dele, e eu queria conhecê-lo um pouco mais, mas nós chegamos ao meu dormitório, um dourado número 'vinte e sete' preso na porta de madeira. Seb – como eu fui autorizado a chamá-lo a partir de agora – bateu duas vezes na porta, colocou minha mala no chão, me deu a chave do quarto e foi embora com um breve desejo de boa sorte. Eu tinha esquecido sobre meus pais, por que, merda... Eu acabei de fazer um novo amigo.
-Pode entrar. – a voz de um cara veio de dentro do quarto; eu naturalmente assumi que fosse Jeff. Eu puxei o ar com força, para me recompor, e abri a porta, antes de pegar minhas malas e passar pela porta.
O carpete era azul escuro, com uma manta preta posicionada bem no centro do quarto – um quarto bem grande, para um dormitório –, Jeff estava sentando na manta, olhando inteiramente para a televisão no canto. Seb estava certo, ele era bastante careca, bastante forte também. Ao contrário dos meus amigos, ele parecia muito velho para estar no colegial.
Ele não teve chance de me olhar, ele estava muito ocupado jogando vídeo game, um jogo de corrida, onde as árvores entravam no campo de visão, conforme você as passava. Eu notei que, enquanto o carro virava a esquina, ele havia inclinado o controle, como se isso fosse ajudar; eu fazia a mesma coisa quando jogava.
-Você é o Pierre? – ele perguntou.
-Sim, e você é o Jeff?
-Sim. Bem vindo a Oak Hill. – ele deixou escapar um choramingo abafado, derrotado, enquanto seu carro virtual batia em uma parede de pneus virtuais, cortesia de um dos outros motoristas imaginários. Jogando seu controle a sua frente, ele se ergueu, sem se importar em desligar a televisão. O animado choro de "fim de jogo!" fluindo pelos alto-falantes de uma maneira que separava as notas, como um alarme.
-Bom finalmente te conhecer. – ele apertou minha mão.
-Você também. – eu respondi, me virando dele. Uma janela larga estava na parede de trás, dando uma visão dos campos. Era a visão do sul, um monte de sol. Eu cheguei à conclusão que as janelas em formato de flechas no prédio Sul eram apenas para aparecer, enquanto essas aqui eram largas, deixando entrar um monte de luz. Uma cama fora empurrada contra a parede, abaixo da janela e a outra contra a parede leste. Ambas estavam nitidamente arrumadas, então eu não sabia dizer de quem cada era.
-Qual cama eu posso pegar?
-A que você quiser. – eu joguei a minha mala na cama da parede leste.
-Não essa. – Jeff sorriu largamente. Eu me senti irritado, pegando minha mala e a colocando na outra cama. Eu senti seus olhos em mim, enquanto eu desfazia minhas malas; isso estava me deixando inconfortável, tê-lo me observando dessa maneira. Discutir com pessoas da minha idade não era meu ponto forte, então eu escolhi não dizer nada que o fizesse parar. Eu decidi que seria melhor apenas falar, assim o silêncio pesado e embaraçoso seria quebrado.
-Você tinha um companheiro de quarto antes?
Ele disse que sim, mas ele havia sido expulso no último verão por quebrar uma das regras rigorosas da escola; ele transou no campus. Eu ofeguei um pouco, sentindo muito e embaraçado por essa pessoa que eu nunca conheci. Quão horrível isso deve ser; algum professor aparecer bem na hora que você está transando.
-Não é pelo fato de ele ter transado, é com quem ele estava fazendo.
Eu fiquei um pouco confuso.
-Com quem ele estava transando? A filha do diretor ou algo assim?
Jeff riu, abrindo um armário embutido próximo a cabeceira da minha cama.
-Oh, ele não estava transando com uma garota, esse é o problema. – ele começou a pendurar minhas blusas, as engomadas da escola e as coloridas de fora da escola.
-Ele estava transando com um cara? – meus olhos se arregalaram. Quero dizer, eu não tinha nada contra homossexualidade, cada um na sua e tudo o mais, o que quer que eles quisessem. Eu apenas não entendia por que era contra as regras, ficar com alguém do mesmo sexo.
-Sim. – Jeff assentiu levemente, começando a pendurar as calças agora.
-Eles não se importam que você transe, desde que seja heterossexual, ambos legítimos e seja particular, com as portas trancadas. – ele se endireitou, um par de jeans meu em sua mão esquerda, ele parecia estar olhando para nenhum lugar em particular. – Eu não sei o que é, mas eles não gostam de casais de um mesmo sexo aqui; isso é foda e injusto. Eu não sou gay, mas eu tenho alguns amigos que são; imagine o quão reprimidos eles devem se sentir, forçados a ceder para um relacionamento com suas mãos direitas e não com outra pessoa.
Eu soltei um 'hmm' em uma concordância sutil, indo até as gavetas ao pé da minha cama, para guardar minhas cuecas lá. Jeff estava ocupado trabalhando no guarda-roupa.
-Eu te ouvi pela porta, você foi trazido pelo Seb, certo?
-Sim. – eu sorri, agradecido por um novo e menos sério assunto. – Ele parece ser legal.
Jeff riu.
-Sim, ele realmente é. Não se engane com o exterior de bom menino, ele é maluco. Ele está sempre quebrando as regras. Ele nunca se mete em problemas, entretanto, imagine como o pai dele é. – Jeff abaixou sua voz, claramente zombando do pai de Seb. – O filho do vice-diretor não pode ser uma criança desordeira, isso seria ruim para a reputação da escola. – ele voltou ao seu tom de voz normal mais uma vez. – Ele não merecia ser monitor, isso é tudo político.
Eu ri, eu gostava mais de Seb agora, e esse cara, Jeff, não era tão ruim. Eu me senti alegre, por que minhas reivindicações estavam sendo confirmadas; uma hora nesse lugar e eu já estava fazendo amigos. Mesmo que eu não quisesse ou precisasse, eu estava planejando escrever para casa, então eu poderia esfregar isso na cara dos meus pais.
Jeff fechou meu novo armário embutido; eu olhei para a minha mala, surpreso que ele a tivesse terminado, enquanto eu estava na metade da outra. Ele pegou seu controle, recomeçando seu jogo abandonado.
Eu tinha terminado com minhas roupas, e me lembrei claramente que você era permitido colar pôsteres nas paredes, desde que eles fossem removidos ao final de cada semestre. Eu colei um pôster do Rancid, arrancado do centro de uma revista, na minha parede, bem abaixo da janela, então quando quer que eu role durante a noite, eu encontraria com o rosto zombeteiro de Tim Armstrong. Eu colei outros pôsteres ao redor da janela, sem me importar se eles estavam retos.
Eu sorri, satisfeito com meu trabalho manual e planejava perguntar a Jeff se ele tinha algum controle extra, para que eu pudesse me juntar a ele no jogo. Ele estava atrás de mim, quando me virei.
-O quê? – eu perguntei.
-Boa escolha de pôsteres. – ele assentiu. – Eu deveria realmente começar a colar os meus, nós temos apenas três dias antes do inicio das aulas, é melhor eu me mexer.
-Quer ajuda? – eu ofereci.
Ele olhou para a minha parede e balançou a cabeça.
-Não, eu estou bem. Você pode jogar o vídeo game, se quiser, eu já acabei.
Eu assenti e assumi seu lugar na manta, tirando o jogo dele da pausa e continuando sua corrida. Quando eu decidi que tinha jogado o bastante, um pouco mais tarde, eu dei uma olhada na parede de Jeff e percebi exatamente o porque ele não quis minha ajuda. Todas as bordas de seus pôsteres estavam paralelas uma a outra, um espaço de mais ou menos um centímetro entre eles, então nenhum se tocava. Ele claramente não gostava da arrumação ao acaso na parede, ele era um garoto limpo.
Eu estava começando a pensar que Jeff tinha um pouco de obsessão compulsiva acontecendo; eu fiquei sabendo que você era permitido a arrumar os móveis do seu quarto do jeito que você quisesse. Tudo em nosso quarto era paralelo e perpendicular, apenas como os pôsteres dele; eu estava um pouco preocupado sobre tocar em algo agora. Mas apesar da necessidade dele por perfeição, Jeff não era a pessoa mais estranha que eu encontrei em Oak Hill.
