Promessa de um costume feudal
Em meados do século XVIII o Japão se encontrava sob o domínio de senhores feudais, nobres que dominavam com o aval de seu imperador Shori-kun, sobre tudo e sobre todos. Tinha o poder de decidir sobre a vida de qualquer um e ninguém ousava enfrentá-los. Tinham muitos escravos e famílias inteiras os serviam em suas propriedades, em troca de abrigo e proteção. Só que em sua maioria nada podia protegê-los de seus próprios senhores feudais. Só que nem todos eram maus.
E foi nesta mesma época, na pequena Província de Osaka, que nasceu Rin, filha única de Akisawa Higushi, senhor das terras de Shura. Uma linda menina, que crescera sob a rígida proteção do pai e os costumes da época. Quando tinha cinco anos, a menina assistira, como única testemunha, a morte da mãe, que fora assassinada cruelmente por bandidos, que numa noite invadiram a propriedade para roubar. Após o incidente, o pai não se casou novamente e resolvera dedicar-se unicamente a criação e proteção da filha, pois sobre ela pairava uma promessa que se cumpriria quando completasse dezoito anos.
Segundo o costume, se um nobre não tivesse um filho para continuar seu senhorio e perpetuar o nome da família, era imediatamente destituído do título de senhor feudal e toda sua riqueza passada a outro nomeado pelo imperador. Caso ele tivesse filha, esta já ao nascer era prometida em casamento ao nobre nomeado quando completasse dezoito anos. Fora o que acontecera com Rin. O senhor Akisawa nunca concordou com este costume, embora sendo um nobre, tinha que obedecer e aceitar calado a ordem do imperador, já que perderia tudo, ficaria aliviado, porque a filha continuaria vivendo no conforto e no luxo, e jamais passaria necessidades na vida, um futuro bem certo e definido para ele. Vira a filha crescer maravilhosamente bem, se tornando uma linda jovem, que lembrava muito a mãe. O senhor Akisawa vivia triste e angustiado, pois estava próximo o dia de se cumprir à promessa e entregar a filha ao noivo, que viria muito em breve conhecê-la. Para Rin não era novidade saber que desde o nascimento já era "noiva", o pai nunca lhe escondeu isso. Fora ensinada desde pequena os costumes pela sua ama Mizuki, que as mulheres não tinham direito algum, diante dos homens tinham que guardar silêncio, sempre aceitar tudo calada sem questionar nada, mantendo a cabeça baixa em sinal de total obediência.
O pai desejava que ela encontrasse um jovem de sua idade e que viesse a amar e casar-se de livre e espontânea vontade, que tudo acontecesse naturalmente, sem "costumes impostos". Rin era uma jovem sorridente, conquistava a todos a sua volta com sua contagiante alegria, não se via tristeza nela. A única coisa que o pai escondeu dela, e nunca teve coragem de revelar, que o seu futuro marido não seria um jovem da mesma idade, de bela aparência ou não, pois sempre ensinara a filha que o exterior de uma pessoa não tem valia se o seu interior não exalar vida.
O "noivo" era um nobre asqueroso chamado Tetsuo Honishimo, que vivia no palácio do imperador e era seu braço direito. Ele era quase cinqüenta anos mais velho que Rin! Um general perverso da guarda imperial de elite que não demonstrava a mínima piedade para com os inimigos, nem para com ninguém.
Esse era o medo do pai de Rin. Que quando ela soubesse com quem se casaria, perdesse o gosto pela vida! Por que ela imaginava que se casaria com um jovem, próximo da sua idade, e não um velho nojento, que o pai bem conhecia o passado, regado a prazeres, bebidas e mulheres, um homem sem honra nenhuma. Como ele poderia viver feliz se tinha que entregar a única filha, que era o consolo dele a um ser repugnante como Tetsuo! Podia imaginar ela querendo dar fim a própria vida, ao saber, ou fugindo, para não se casar, atraindo um castigo pior, pois não casaria com Tetsuo, mas se tornaria sua escrava, caso o pai não cumprisse o trato na promessa. Pelo menos casada, Tetsuo teria que tratá-la bem, como sua senhora, de origem nobre, mas sabia que isso não aconteceria. Rin com certeza viveria sofrendo nas mãos do marido e ele não poderia fazer nada, pois não teria mais direito como pai sobre ela. Então o senhor Akisawa viveria angustiado até aniversário de dezoito anos da filha, e seria este provavelmente o dia o mais triste de toda sua vida!
