Capítulo 1

O telefone da minha mesa tocou pela — no mínimo — terceira vez e eu senti o sangue ferver de tanta irritação com o meu chefe folgado.

Levantei e respirei fundo antes de caminhar em passos ágeis para lá, abrindo sua enorme porta elegante de madeira e o encontrando concentrado em seus papéis na mesa.

— Pois não, senhor Malik?

— Pode me trazer um café? — ele pediu e trinquei o maxilar.

— Claro.

Respirei fundo e ia dando de costas para ir em busca do maldito café, do meu maldito chefe que achava que a minha função era lhe levar cafezinho a cada duas horas, mas ele pigarreou.

— Senhorita Gilbert, pode também comprar cigarros para mim? Estou sem tempo de sair agora e...

— Ora essa, senhor Malik! Realmente acha que a minha função é servir-lhe de café e cigarros? — explanei já irritada.

Todavia o arrependimento amargo e o medo de perder o emprego vieram logo em seguida, quando o moreno — ainda focado nos papéis — deixou seu trabalho na mesa e lentamente ergueu o olhar para mim.

Se não fosse um homem tão fechado e um tanto quanto folgado, eu com certeza diria que esse olhar fez meu corpo todo gelar. Mas não vou dizer.

Em voz alta.

— Não sabia que isso a incomodava, senhorita Gilbert.

— Desculpe-me senhor Malik, eu só estou em um dia ruim. — me defendi, mesmo sabendo que o dia ruim era culpa dele.

Meu chefe levantou devagar com um pequeno sorriso no rosto e então abotoou o seu blazer — que estava aberto por ele estar sentado —, vindo vagarosamente em minha direção.

Mas ele parou no caminho e apenas encostou seu corpo na sua grande mesa executiva entupida de papéis que refletiam o seu trabalho árduo.

— Tem razão, — ele coçou a barba e me encarou atentamente pela primeira vez em oito meses de contratação — a sua função não é essa.

Ele deu um suspiro e então me olhou de forma divertida, como se estivesse achando graça na minha irritação por ele me usar de serviçal.

— Mas não custa nada agradar o seu chefe, huh? — ele disse sugestivo e molhei os lábios rapidamente.

— Eu irei trazer o seu café e... — disse, mas ele fez que não com a cabeça e gesticulou com o dedo entre os lábios para que eu me calasse.

Já vi que vou ser demitida, perder o meu apartamento e ter que voltar para o Texas com uma mala na mão e minha dignidade na outra, visto que saí de casa brigando com meus pais que me queriam para ser fazendeira como eles.

"Eu não quero me tornar uma fazendeira!" choraminguei no pensamento.

— Você realmente não precisa.

— Senhor Malik, eu não quis me exaltar. Irei em busca do seu Marlboro e café.

— Não se sentirá rebaixada à uma função que não é sua? — ele perguntou com um sorriso provocador nos lábios e forcei um também.

Adoraria esgoelar o meu chefe, confesso.

— Volto em breve. — disse e dei as costas para sair em busca do cigarro e café, mas ele novamente pigarreou, fazendo-me olhar sua feição provocante.

— Sem açúcar.

Maldito!