• Amigos de Tinta •
Ela soluça bobamente, enterrando o rosto nas mãos trêmulas. Os ombros se sacodem com a violência dos soluços. – Até seu choro leva sua marca. Até seu sofrimento é forte como sua personalidade indomável. – Desde sempre não soube lidar com a perda. Não era acostumada com pessoas e tampouco conseguia aceitar a perda de seus amigos. Amigos que de fato, não eram seres humanos, mas que possuíam vida e que de noite lhe sussurravam histórias que ela já lera – Mas que sempre eram bem-vindas! – Amigos que eram feitos de papel amarelado e tinta preta. Amigos nos quais ela gostava de tocar e sentir suas memórias ali gravadas, sempre diferentes do que se lembrava.
Amigos livros.
Amigos perdidos.
Amigos mortos.
A garganta arde e o peito se aperta. Todos os impropérios do mundo não conseguem descrever a maldade daqueles homens, todos os seus gritos e lágrimas não conseguem livrá-la de seu ódio. Que faria ela sem seus livros? Passava os olhos pelas estantes e sentia falta, estava incompleta. Ninguém entenderia como se sentia, nem mesmo Meggie. Perdera seus filhos contadores de história, perdera anos de sua vida devido ao egoísmo humano.
Será que entendiam agora porque ela não gostava de gente? Eram todos uns bárbaros, que não conseguiam apreciar a arte da leitura e da escrita. Não compreendiam o significado por trás de cada página e não ouviam os sussurros suplicantes dos livros. E, principalmente, seres humanos eram falsos. Seus livros nunca mentiam. Seus amigos eram sempre verdadeiros, não importando se eram de ficção. Adorava histórias de magia. Adorava todos os livros...! – Mais um soluço rouco. As juntas dos dedos estavam impossivelmente brancas, tamanha a força com que fechava os punhos. A face corada pela raiva, tão vermelha quanto o fogo que consumira seus amigos.
Seus únicos amigos, construídos de sonhos, papéis, memórias e tinta.
Sua família, escolhida a dedo, recolhida dos maus tratos de babuínos ignorantes.
Seus livros, tão belos e conhecedores de tudo, sempre os melhores conselheiros e professores.
E perdidos em meio às chamas.
E eternamente gravados em sua alma. Os seus amigos de tinta.
FIM
Nota da Autora: HOHOHO, um pequeno tributo à Elinor! Personagem de 'Coração de Tinta' e indiscutivelmente, o meu futuro.
Sim! Eu serei uma solteirona amante de livros, mal-humorada e moradora de uma linda casa perto de um lago e castelos com histórias sangrentas! 8D
