Sumário: Eles não tinham nada em comum além de uma amizade perdida, entretanto, ele não conseguia evitar observá-la com o passar dos anos. Ela era perfeita demais, quase como uma boneca de plástico esperando para ser quebrada.

Capítulo: 1/5

Estado: Em andamento

Disclaimer: Naruto, anime e mangá, não me pertence.

Alerta: Universo Alternativo. Personagens com Características Diferentes.

Eu não sei como classificar esta estória. Não sei qual o gênero dela e não tenho certeza sobre os personagens principais. Agradeceria se alguém, com mais bom-senso que eu, sugerisse algo.


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Boneca de Plástico

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by L. Ganoza


Capítulo I

Ele a odiava.

Ele odiava o sorriso que ela insistia em usar, sempre brilhante e claro, como se tivesse acabado de sair da cadeira do dentista, todos os dias. Os pômulos erguidos, altos, duas covinhas nos cantos de seus lábios, os olhos sempre brilhantes demais, como se ela estivesse prestes a espirrar, acompanhavam a fileira clara e reta constantemente à mostra. Era quase como se ela fosse uma boneca de plástico, uma dessas marcas que insistiam em distinguir meninos e meninas, que determinavam que o rosa era feminino, que mostravam a moda como sendo a o caminho comum para uma criança de três anos.

Ele odiava o cabelo dela, daquela cor gritante e não-natural, quase como goma de mascar, como se ela fosse a apresentadora de um programa infantil matinal. Amarrado em um rabo de cavalo que dançava de um lado ao outro no ritmo de seu caminhar saltitado, solto, movendo-se como medusa com o vento. Era quase como se ela fosse feita de um molde, alguma fantasia ridiculamente criada para te fazer sorrir, como um personagem de algum programa cômico, um fantoche.

Ele odiava os olhos dela, aquele verde quase esmeraldino, sem as cadências do azul ou do mel para suavizá-lo - grandes e infantis. Orbes emoldurados por cílios longos de um tom marrom escuro, sempre atentos, empolgados, quase ignorantes das bolsas escuras que os apoiavam. Era quase como se eles fossem de vidro, como em um animal finamente trabalhado por um taxidermista, sempre assustadoramente brilhantes, como se seus ductos lacrimais insistissem em permanecer cheios.

Ele a odiava e, por esse ódio, não se importava em observá-la distraidamente, sua mente catalogando tudo que ela fazia, disposta a diagnosticar as falhas daquela fachada tão bem planejada.

Era uma quarta-feira, ele se lembrava porque não tinha aulas pela segunda parte da tarde e dedicava-se a ler um livro sob a copa de uma árvore, no fundo do campus da Universidade. O barulho de crianças perturbou a calma do local recluso no qual ele se encontrava e os orbes escuros pousaram sobre as pequenas figuras gritantes adiante. Só então ele percebeu que encontrava-se a poucos metros do Núcleo de Desenvolvimento Infantil e que, possivelmente, era hora do parque. Ele ponderou por alguns minutos se conseguiria concentrar-se o suficiente na sua leitura mesmo com os ruídos constantes dos infantes. Entretanto seus pensamentos foram guiados a um local mais distante quando ela entrou em seu campo de visão.

Os cabelos daquele tom róseo perturbador, os olhos vidrados, o sorriso plástico e, o que mais lhe chamou a atenção, a forma nada discreta como ela mancava, o peso sempre deixado mais na sua perna esquerda. Não recordava tê-la visto mancar em nenhum momento. Nem nas reuniões das quais havia participado, nem nas vezes que a havia visto no campus, nem no enterro. Algumas crianças aproximaram-se dela e a garota abaixou-se para respondê-los, sempre tomando cuidado com a perna machucada. Da pouca distância, ele conseguia ver os olhares surpresos das crianças antes de elas dispersarem, apenas algumas permanecendo para conversar com ela.

Nos dias seguintes, ele voltou ao mesmo lugar, a parte vingativa dele insistindo em observar a forma como ela mancava, sua mente confabulando as formas mais cruéis para que ela tivesse adquirido o defeito. Sentia algo de felicidade ao vê-la falhar, quase como se algo divino tivesse castigado-a pela incapacidade dela de sentir algo.

O entretenimento costumeiro dele, entretanto, quebrou-se um dia. Caminhava em direção à Biblioteca quando seus olhos pousaram na fonte de seu desgosto. Ela vinha com aquele caminhar saltitante, como se todas as células do seu corpo quisessem demonstrar felicidade, os passos seguindo um atrás do outro, as pernas perfeitas. Quando os orbes de vidro pousaram sobre ele, o ritmo do trote dela diminuiu, o sorriso que exibia mais plástico que nunca. Apenas quando a jovem encontrava-se a um par de metros a expressão dela começou a derreter-se, como se o calor daquele dia de sol estivesse fazendo as moléculas falsas do rosto dela perturbadas.

A jovem aproximou-se e, após um momento de hesitação, envolveu-o nos seus braços, finos e longos. O rapaz permaneceu parado, sua mente tentando trabalhar no fato de que ela era morna e macia ao toque, não fria e lisa, como ele havia imaginado. Sentiu-a inspirar profundamente antes de soltá-lo.

- Sasuke! Há quanto tempo! – a voz dela saia em pequenas exalações de ar, quase como se ela tivesse corrido uma maratona. – Tudo bem? – perguntou, os olhos brilhantes como sempre.

Somando a respiração dela e o brilho anormal, ele concluiu que a garota tinha algum tipo de alergia, possivelmente à colônia que ele usava.

Sasuke acenou com a cabeça, murmurando o que parecia ser um "E contigo?" mais por educação que por interesse. Não pensava em compartilhar qualquer coisa que ele sentia com alguém tão frívolo quanto ela.

O sorriso plástico, que em algum ponto havia perdido um pouco de estoicidade, alargou-se e ela anuiu animadamente.

- Hu, eu estou com um pouco de pressa – ela preencheu rapidamente -, mas foi bom te ver – afirmou, tocando o braço direito no que, ele supôs, fosse algum tipo de flerte.

Dito isso, ela deu meia volta, os passos rápidos e sem o saltitar comum, entretanto, perfeitos. Distraidamente, ele percebeu que ela havia feito o caminho de volta.

Ela caminhava perfeitamente e isso o havia frustrado, queria algo que provasse que ele havia observado errado, que, talvez, ela estivesse usando algum sapato especial, qualquer coisa que a fizesse parecer normal.

Naquele dia, quando ele voltou ao seu local comum de leitura, mais por insistência em vê-la na única falha que ela demonstrava que por qualquer outra coisa, ela mancava. E as crianças vinham e conversavam com a garota, antes de afastarem-se com olhos assustados. Foi então que ele percebeu que, enquanto os pequenos colocavam-se em seus brinquedos usuais, esquecidos da presença dela, a garota permitia-se um sorriso de satisfação.

Isso despertou a curiosidade masculina. É claro que ela não estaria em uma instituição infantil por estar. Não era da natureza dela sentir algo por alguém, fazer algo que não a beneficiasse.

Aquele sorriso, o sorriso de satisfação, tão diferente do plástico que ela usualmente exibia, fê-lo aproximar-se da cerca no dia seguinte, as orelhas atentas à conversa que ela teria com as crianças.

- Prof? – chamou uma das crianças e, por de trás de um pequeno arbusto, ele viu um grupo de infantes aproximarem-se. – Por que a senhora mexe a perna assim? – ele perguntou, os olhos curiosos das outras crianças acompanhando-o.

- Por que eu manco?

Eles moveram as cabecinhas avidamente e ela falou com calma, quase como se estivesse prestes a iniciar um conto.

- Eu sofri um acidente de moto – respondeu.

- E porque os médicos não arrumam a sua perna? – perguntou a voz de uma menina, mas, com o acúmulo de cabeças, Sasuke não sabia identificar qual.

- Tem alguns acidentes que são muito feios, doem muito e não há como arrumar o que é estragado – ela explicou calmamente, na linguagem que ela achava que eles entenderiam.

Então ele viu, os olhinhos assustados, quase assombrados, e o sorriso de satisfação dela, o sorriso de alguém que acaba de cumprir o seu objetivo de vida.

Naquele dia, ele cansou de odiá-la.


Nota da Autora:

Sinto a necessidade de explicar isso. A inspiração veio da leitura de um postsecret.

"Sometimes I pretend to limp in public. Children have asked me "What's wrong?". I tell them "Motorcycle accident". I hope it will scare them enough. So no one else has to lose their best friend".

"Às vezes, eu finjo mancar em público. As crianças já me perguntaram "O que há de errado?". Eu digo a elas "Acidente de moto". Eu espero que as assuste o bastante. Assim, mais ninguém precisa perder o seu melhor amigo."

Não acredito que precise explicar o que é o PostSecret, os detalhes estão no site, atualizado aos domingos.

www ponto postsecret ponto com

By-bye.