1º passo: dor
Esse capítulo é dedicado, de todo o meu coração, á aqueles que me apoiaram: Ani, Moon, Vivica, Adara e tantos outros. Dedico essa fic também, a todos os H/L que eu conheci e a todas as pessoas do fórum, que são ótimas. Gostaria também de agradecer a Deus e à Deusa, e a todos os meus familiares e amigos. Meu agradecimento a vocês.
Ele fechou os olhos e respirou fundo mais uma vez. A neve rodopiava a sua volta e o casaco estava encharcado, assim como as botas, mas ele não ligava. A única coisa para a qual ele estivera ligando nos últimos tempos havia sido aquele vazio dentro do seu peito. Era sempre assim, desde que Sirius se fora. Ele gostava de caminhar sozinho, a noite, não importando realmente que tempo fazia. E agora, na época do Natal, lá estava ele novamente, nos jardins de Hogwarts, caminhando na sua solidão.
Rony e Hermione poderiam estar com ele, se ele não tivesse insistido tanto para Rony levar Mione para A Toca, a fim de contarem ao resto dos Wesleys que estavam namorando. E agora, mais uma vez, ele estava sozinho. E gostava do fato, apesar de tudo.
Abriu os olhos e parou de caminhar. Sentou-se na neve, em frente ao lago, embaixo da mesma árvore que um dia os marotos haviam dividido em uma tarde de verão. Os marotos. Agora não existiam mais. Seu pai estava morto, Sirius estava morto, Pedro os havia traído e Remo, o último que havia sobrado para contar uma história positiva, estava passando o Natal com os Tonks, a fim de pedir Nymphadora em casamento para o pai dela, em Gales. Os marotos haviam acabado, haviam sido desintegrados. Parou por um momento, pensando se algo assim chegaria a acontecer com ele, Rony e Hermione. Mas apenas esse pensamento lhe quebrava o coração em mais pedaços do que ele já estava, então resolveu se concentrar apenas no lago á sua frente.
A água estava congelada, e ele sentiu-se tentado a conjurar uns patins de gelo para poder patinar ali. A superfície se estendia até o perder de vista, em uma crosta fina de gelo, e ele conseguia ver sombras e brilhos movendo-se rapidamente abaixo dele.
Jogou a cabeça para trás e suspirou. Estava ouvindo passos na neve...
Era Gina. Ensaiou um sorriso, mas viu a cara séria dela e desistiu.
"Boa tarde, Gina"
"Boa tarde, Harry... Posso me sentar?"
"Claro... Sinta-se á vontade" e então Gina se ajeitou ao lado dele na árvore. E deu seu menor sorriso "O que houve?"
"Eu preciso falar com você..."
"Sou todo ouvidos"
"Harry..." ela exitou por um segundo, antes de continuar, numa voz calma e temperada, fazendo Harry sorrir "Você está estranho... O que está acontecendo com você?"
"Nada, Gina... Só quero um pouco de privacidade..."
"Isso foi uma indireta?"
"Não"
"Então, o que foi?"
"Uma confissão" ele fechou os olhos, seu sorriso morrendo aos poucos. O ar divertido de Gina se esvaiu e ela percorreu o rosto dele com os olhos.
"Isso soa tão triste... Sabe, estamos preocupados com você"
"Estamos?"
"Eu, Rony, Mione, Luna..."
"Luna?" ele levantou as sobrancelhas sem sequer notar.
"Ela também gosta de você, sabe?"
"Hum..." ele se limitou a dar de ombros.
"Harry, você tem de parar com isso..."
"Isso o quê?"
"Isso! Você está quieto! Você está triste! A gente sabe que o Sirius morreu, mas, que droga, você não morreu junto!"
"Ele era a minha única família" ele murmurou, os olhos ainda fechados. Gina se levantou, furiosa.
"Então, o que nós somos? Um monte de merda sobre pernas? Ah, quer saber, Harry? Eu desisto! Passei os últimos seis meses da minha vida tentando te animar, mas agora eu desisto! CHEGA!" e saiu correndo de volta para o castelo. Harry abriu os olhos para observar os cabelos ruivos se distanciando na neve, e suspirou.
"O monte de merda deve ser eu, Gina... Eu..." e se levantou, devagar, olhando a sua volta. Sentia-se perdido. Mais perdido do que nunca. Agora não tinha mais Sirius, para dar a voz da experiência. Tinha Rony e Mione - o casalzinho apaixonado mais intrigante que ele já vira, nunca parando de brigar -, tinha Gina - a garota que passava mais tempo de TPM que ele já conhecera - e... Bem, e mais ninguém. Talvez Hagrid, que definitivamente era a pessoa mais atrapalhada que ele já vira. Mas, bem, se isso lhe servia de consolo, ele não conhecia muitas pessoas – ao menos não conhecia bem muitas pessoas. Mas isso não lhe servia de consolo - apenas servia para lhe mostrar o quão insignificante ele era.
Balançando a cabeça, ele começou a andar na direção da Floresta Proibida, as mãos nos bolsos, os lábios comprimidos.
Por que ele tinha de se sentir assim? Sirius havia de ter morrido mais cedo ou mais tarde... Ele sabia disso. Mas ele acabou se pegando com o desejo de que tivesse sido mais tarde.
Sabia que era egoísmo da sua parte - ao menos segundo as poucas histórias que ele vira os Dursley contarem para seu filho, Duda. Nessas histórias, as pessoas morriam quando era a hora delas e Deus precisava delas. Ou senão, essas pessoas podiam virar anjos e vir ajudar as pessoas na Terra. Ou ainda podiam virar estrelas, para guiar as pessoas. Mas, que droga, ele precisava de Sirius ali na Terra, para o ajudar e proteger e o guiar! Deus não precisava Ter levado ele embora, quando ele ainda era tão necessário na Terra, a fim de preencher o vazio da sua alma... E novamente, Harry se pegou balançando a cabeça. Aquelas eram idéias infantis. Ele já era quase um adulto - tinha dezesseis anos, afinal.
Parou na orla da Floresta. Por que raios mesmo ele havia ido para lá? Ah, as árvores. Encarou os pinheiros altos, os carvalhos, os cedros que se estendiam por todo o lado. Formavam uma bela paisagem, com toda aquela neve pousada sobre eles... Mas, não sabia o porquê, aquelas paisagens ainda lhe pareciam tristes. Tudo para ele parecia triste. Ver seus amigos todos encontrando seus pares - Gina, que havia se fixado com Dino, Rony e Mione, Hagrid e Maxime - e ele ainda sozinho era uma idéia que o deprimia. Talvez fosse isso o que lhe faltasse. Talvez o vazio na sua alma não fosse pela falta de Sirius... Talvez fosse a falta de alguém com quem dividir os momentos bons. Talvez ele precisasse apenas de alguém para si... Alguém que secasse as suas lágrimas...
Suspirou novamente, ao perceber que havia entrado, devagar, na Floresta. Havia sido apenas mais um impulso, mas um terrível impulso. Não era uma idéia muito boa entrar na Floresta Proibida quando se estava começando a escurecer.
Mas, logo á sua frente, estava a clareira onde Hagrid, uma vez no último ano, lhes havia dado uma aula sobre os Trestálios. Lembrou-se de como os animais o haviam ajudado a ir até o Ministério, quando ele achara que Sirius estava em perigo - apesar de aquilo ter sido apenas um plano de Voldemort para capturá-lo. E como os mesmo trestálios o haviam levado até o local onde Sirius encontraria a morte. Malditos trestálios... E mais uma vez ele sacudiu a cabeça.
Parou no meio da clareira, olhando á sua volta, como que se esperando que algo ou alguém aparecesse ali de repente. Quando nada aconteceu, ele sentou-se na grama mal aparada e fechou os olhos. Pensava - mais uma vez! - em Sirius. Em como ele entendia Harry. Em como ele o apoiava. Em como ele era divertido. Em como ele tinha sonhos e expectativas. Em como ele as vezes confundia Harry com Tiago, e acabava agindo com o primeiro como se ele fosse o segundo. Em como Sirius, apesar de qualquer coisa, era uma pessoa ótima, e em como ele havia achado graça no fato de Bellatrix Lestrange não ter acertado o feitiço nele da primeira vez. E na expressão de terror dele ao ser acertado na segunda. Antes que Harry pudesse se conter, as lágrimas já escorriam devagar pelo seu rosto, congelando suas bochechas e ardendo. Antes mesmo que ele conseguisse racionalizar o fato e tentar se comprimir, Harry não tinha mais controle sobre a sua respiração, e ela saia em arfadas longas e soluços brandos, ambos tristes e parecendo encharcados do sangue da sua alma. Antes que Harry Potter notasse, estava chorando.
Tentou, ele realmente tentou, se controlar. Mas parecia que cada lágrima fazia outras tantas virem juntas e que cada soluço descompassava ainda mais a sua respiração. E enquanto as lágrimas escorriam e o congelavam por fora, o aqueciam levemente por dentro. Era um alívio finalmente conseguir chorar. Sirius estava morto. Estava morto, e não se podia fazer nada por isso. Não havia sido o primeiro e nem o último perdido na guerra, mas fora importante. Morrera lutando pelo que acreditava - a liberdade - e estivera se divertindo antes. Sirius estava morto. Morto. Morto e ponto final.
"Harry...?" a voz vaga e doce de alguém soou as suas costas, e ele se virou, lutando novamente para conter suas lágrimas e tentando a todo custo enxuga-las.
"Luna?" ele murmurou e ela sorriu.
"Pare com isso... Pode chorar. Chorar faz bem" ela lhe olhou com carinho, e veio sentar-se ao seu lado. Harry apenas fechou os olhos, algumas lágrimas ainda escapando por entre as pálpebras "Então é isso o que você vem fazer toda noite? Chorar na clareira? Por um tempo cheguei a pensar que estivesse tendo um caso com uma das sereias do lago" ela lhe sorriu, e ele não conseguiu se conter e acabou rindo. Era ótimo voltar a rir de qualquer coisa, depois de quase sete meses.
"Não, eu não faço nem um nem outro... Apenas caminho e penso..."
"Ah, parece bom. Mas eu gostaria mais se você estivesse tendo encontros com sereias. Seria mais divertido e emocionante... Quem sabe o papai não fizesse uma matéria sobre isso?" os olhos claros dela brilharam e Harry franziu as sobrancelhas.
"Eu não tenho esses encontros, Luna..."
"Ah, eu sei... Mas seria bom pra você. Você tem me parecido sozinho"
"Eu gosto disso"
"De ficar sozinho?"
"É"
"Eu também. Ajuda a ouvir melhor o que temos a dizer a nós mesmos... Faz bem pro coração, sabe? Os batimentos desaceleram e tem menos chances de você ter uma taquicardia... Aliás, eu te falei sobre o trasgo que morreu de taquicardia...?"
"Luna" ele se limitou a murmurar e ela se calou.
"Oh, me desculpe. Achei que histórias pudessem te animar"
"Talvez outro dia"
"É, quem sabe... Hei, Harry, foi bom te ver... Volte sempre aqui! Boa noite!" e sem mais explicações se levantou e foi embora.
Harry permaneceu parado ali na clareira, seus olhos vagando pela grama verde até que os últimos resquícios do sol se foram e só sobrou a escuridão; então ele se levantou e voltou para o castelo, com uma leve sensação de conforto que ele não sentia já havia um longo tempo.
