Espero que gostem. Mais uma história em alto-mar... Não tem muito bem um casal definido, mas já sabem do que eu gosto, rs.
Boa leitura!
O mar é palco para muitas vinganças.
Obsessão
- Navio avistado!
A voz do marujo soou pelo navio, fazendo o capitão abrir um sorriso cínico, os olhos verdes com um brilho sádico. Ajeitou o chapéu sobre os fios claros, o som das botas ecoando pelos corredores da embarcação.
- Preparem-se para atacar!
- Sim, capitão!
Após fazerem uma continência, os marujos começaram a se deslocar pelo local em resposta à ordem, preparando-se para a batalha. Um tiro de canhão foi disparado, fazendo com que a água espirrasse para os lados. Por trás da cortina estendida, uma figura de vermelho se destacava – em contraste com o navio britânico, no qual o capitão trajava azul -, com as plumagens do chapéu esvoaçando. As feições orientais ostentavam uma expressão séria, enquanto ele se segurava em um dos mastros, tendo a certeza de que sua tripulação estava pronta para revidar.
- Atacar!
As vozes soaram no imperativo, a animação correndo pelo navio. Os tripulantes começaram a transitar entre os navios utilizando cordas atacando-se no meio do caminho. O cheiro de sangue impregnava o ar, a luta violenta se desenrolando. As espadas tilintavam e os tiros ecoavam pelo vazio, formando a orquestra local. Arthur era o mais excitado ao ter os olhos preenchidos pelo carmim, uma risada escapando de seus lábios, até o momento que resolveu avançar. Passando pela batalha, chegou ao navio inimigo, sendo recebido logo de cara pelo capitão. Tinha cabelos negros e olhos castanhos sem brilho e não era muito alto. Mas não importava nada: naquele território todos eram inimigos. Não havia espaço para o diálogo.
O asiático não se amedrontou. As espadas desembainhadas clamavam uma pela outra e seus donos permitiram que o contato acontecesse. As lâminas choravam ao se cruzarem, juntando-se ao baile. Ambos queriam sentir o sangue escorrendo pelo metal.
Mas... Não. Aquela figura não era desconhecida ao oriental. A expressão séria se transformou, contorcendo-se em raiva, os olhos escurecidos pelo ódio. A calma com que respondia aos ataques do inglês deu lugar ao desespero. Arthur foi obrigado a tomar uma posição defensiva com as investidas do menor, um pouco surpreso pela mudança repentina no padrão dos golpes. A chance apareceu quando um dos homens que lutavam, alheios à dança que ocorria, trombou com o asiático. Não sendo um dos seus, empurrou-o violentamente, a voz embargada soando forte, em uma ordem de uma única palavra:
- Saia! – Exclamou.
Aquela distração foi o suficiente para o britânico inverter as posições, sendo ele agora quem comandava os passos, avançando e golpeando com força a espada do outro, fazendo com que ela fosse ao chão, mas nem por isso parou de desferir golpes na direção do menor. Este buscava desviar, conseguindo parar a lâmina com as mãos, pousando-as nas laterais dela. Quando ia chutá-lo, foi golpeado por trás, não vendo o autor. Foi ao chão, o sangue escorrendo e manchando a visão. Fez menção de se erguer, mas recebeu um chute no estômago, fazendo com que gemesse de dor e se contorcesse no assoalho do navio.
- Segure-o.
O loiro ordenou ao rapaz que prontamente obedeceu à ordem. O marujo segurou firmemente os fios negros – agora mais visíveis pelo chapéu que escapara na confusão -, obrigando-o a levantar a cabeça.
- Isso... – Arthur esboçou um meio sorriso sádico, guardando a espada e tomando a pistola, colocando o dedo no gatilho. – Não abaixe o olhar. Diga-me seu nome.
- Honda Kiku.
Respondeu calmamente, encarando o loiro de forma desafiante, sem se abalar com a situação, um pequeno e discreto sorriso surgindo nos lábios – o que causou estranhamento no inglês.
- Tsc – estalou os lábios, irônico. – Bom garoto. Arthur Kirkland. Este é o nome do seu algoz. Não se esqueça. – Ficou sério, fitando o menor. – Te vejo na próxima vida.
Não estremeceu apesar do sorriso sádico do inglês e ter os cabelos mais violentamente puxados. Não teve medo. Os olhos apenas lampejaram de rancor por um momento, mantendo-os presos nas duas esmeraldas que o inglês tinha na face. Arthur franziu as sobrancelhas, não demorando em rir maniacamente.
- Matem todos.
Apesar de muitos estarem feridos, concordaram. Para garantir que Kiku ficaria quietinho em seu lugar, apenas assistindo, Arthur o amarrou e ficou ao lado dele, de guarda. Se ele tentasse algo, fizesse ao menos um movimento brusco, levaria uma punição. Com o britânico querendo ver suas reações, Kiku foi obrigado a ver seus companheiros serem mortos, sendo sujo com o sangue deles. Particularmente, o loiro achava que o nipônico ficava mais atraente daquele modo, banhado no rubro. Só preferia que estivesse acompanhado de um olhar desesperado.
- Teima em continuar se mantendo frio? – Arthur indagou, segurando os cabelos negros, puxando-os. – Vocês aprontaram muito, acabaram de saquear e incendiar uma vila, não? Ou você só não se importa?
Jogou o menor no chão, o que fez com que ele fechasse os olhos com o baque, somente ouvindo o riso sádico de Arthur se sobrepor aos outros sons – mesmo ao som dos corpos sendo estraçalhados, mortos. Silenciosamente, Kiku pediu por eles e, internamente, clamava pelo mesmo destino. Era melhor morrer com honra do que viver sem ela. Essa era a mentalidade do japonês, o qual tinha um orgulho muito grande. Arthur puxou o oriental, usando a mão livre para segurar-lhe o queixo e forçá-lo a ver o mar de sangue.
- E então? Satisfeito? – Levantou a voz para ordenar. – Peguem tudo!
O britânico levou o japonês para o próprio navio, jogando-o no depósito.
- Fique quietinho aí. Volto depois para te ver.
Kiku encolheu-se contra o assoalho do navio, sentindo a malícia no tom de voz do inglês, além de tonto pela quantidade de sangue perdida, misturando as tonalidades de vermelho – a do líquido escarlate e de sua roupa. Não reparou quando perdeu a consciência.
Ao acordar, demorou alguns segundos para focalizar a visão, sentindo um cheiro forte inebriar-lhe os sentidos. Conseguindo ver a pessoa, achou-a muito parecida com Arthur, só que com os olhos mais suaves e cabelos um pouco maiores.
- Já acordou? Como se sente?
A voz soou calma. Já tinha terminado de limpar o arranhão que Kiku tinha na bochecha, colocando um curativo no local.
- Bem... Na medida do possível – tentou se mover, mas lembrou das mãos presas.
- Desculpe por ainda estar preso, Kiku. Ordens, sabe como é. Você me deu muito trabalho, sabia?
- Hm?
- Sou o médico do navio nesta viagem. Me chamo Casey Kirkland.
Nesse momento, o japonês se exaltou. Fez menção de se levantar, mas o outro o conteve, segurando-lhe os ombros com certa força – e sem deixar de sorrir.
- Acalme-se, sou irmão daquele idiota, mas não sou idiota como ele. Apesar de ter sido ele quem pediu para cuidar de você. E trate de ficar quieto, não pode se agitar demais.
O japonês ficou mais quieto, o que fez o loiro soltá-lo.
- Mais algum ferimento? Retirei apenas seu casaco, apesar da sua camisa também estar suja.
- Nenhum que eu saiba.
- Certo – levantou-se. – Qualquer coisa, peça para me chamar.
O japonês assentiu, vendo o outro se afastar e sair do galpão. Encostou-se ao mastro, suspirando. Tinha perdido a noção do tempo, não sabia dizer o quanto tinha ficado desacordado. Que horas seriam?
- Hora do jantar, Kiku.
A voz de Arthur soou irritante aos ouvidos do nipônico. Não que fosse realmente chata – a voz seria boa se não fosse o dono dela. Somente direcionou o olhar para o britânico, fechando a expressão quase por reflexo. O inglês abaixou-se em frente ao seu prisioneiro, exibindo os dentes em um meio sorriso arrogante, colocando o alimento em frente a ele.
- O que foi? Está sem fome? – riu-se. – Esqueci, você está preso.
O britânico franziu o cenho com a falta de reação do oriental, afastando a bandeja para pousar um dos joelhos no chão, segurando com força o queixo do outro, forçando-o a se desencostar de onde estava, o tom saindo raivoso entre dentes:
- Você está sob domínio inglês. Devia me respeitar, ouviu? Não está em condições de nada. Retire essa expressão. Agora!
Jogou-o para o lado, mas o menor apenas sorriu ironicamente, sem tombar de todo. Em resposta, Arthur bateu com o dorso da mão na face dele, em seguida puxando-o para um contato mais íntimo. Após lamber o filete de sangue que escorria do canto dos lábios alheios, juntou-os. Kiku começou a se debater para tentar afastar o inglês, mas sem sucesso. O loiro afastou-se por vontade própria, ostentando uma expressão orgulhosa.
- Já percebeu quem está no comando? – lambeu os próprios lábios, ainda sentindo o gosto de sangue com um brilho de malícia bem visível nos olhos claros, apesar da luz precária. – Ou vou ter que te ensinar isso?
Kiku não tinha palavras para descrever aquela sensação. Mas, sem a mínima vontade de vomitar, contentou-se em cuspir no outro, juntando um pouco de sangue que tinha na boca pelo corte feito com os dentes na parte interna da bochecha ao ser estapeado. O que tinha de falar mesmo? Ah, é.
- Você me enoja.
Dessa vez, Arthur não poupou força: tornou a golpear a face do menor, fazendo com que sua cabeça tombasse para o lado, saindo com passos pesados do local. Ao ouvir a porta batendo, o japonês não se agüentou, deixando escapar uma risada alta e irônica como nunca fizera antes. Talvez – só talvez – fosse um pouco sádico. Ou seria masoquista?
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Mais tarde, naquela mesma noite – ou seria madrugada? – a porta voltou a se abrir. Quem entrava no local era Antonio, o único que se prontificou a ver como Kiku estava. Depois daquele riso, a maior parte da tripulação achou que o japonês enlouquecera. E não queriam lidar com gente louca!
- Hola! Vim ver se já acabou, Kiku-chan.
O espanhol aproximou-se do menor com o lampião, dando alguma iluminação ao local, deixando visível sua indignação ao ver a comida intocada.
- O que é isso? Nem tocou na comida! Como espera crescer assim?
O asiático arqueou uma das sobrancelhas, lançando um olhar significativo ao outro. Um olhar que todos entenderiam, mas não Antonio – ou ele só não quis entender. E Kiku reparou nisso, ficando a fitar longamente a face do moreno.
- Não tenho muitas opções com as mãos amarradas – disse, por fim.
- Ah, é mesmo! Ahahaha! Eu te solto se prometer ser um bom garoto. E aí? Promete? – Piscou os olhos verdes, esperando a resposta que não veio. – Sei que sim, heh!
Caminhou para trás do menor, soltando-lhe as amarras apertadas. Os pulsos haviam ficado vermelhos. O nipônico sentiu-se um pouco aliviado por ter os braços libertos, mas ao fazer menção de um gesto brusco, Antonio instintivamente segurou-lhe as mãos, murmurando próximo ao seu ouvido:
- Um bom garoto, sí?
O oriental sentiu a face queimar. Perto do espanhol realmente sentia-se incapaz de fazer algo. Com Arthur e todo aquele estresse era mais fácil provocar. Acabou por assentiu suavemente, o que fez Antonio rir. Mas não sádico e irônico e sim um riso leve e divertido.
- Agora sim! O Artie deve ter pegado muito pesado – inclinou-se de leve, beijando ambos os pulsos do menor. – Vai ficar bem, pequenino!
Ao ser solto, voltou-se ao outro seriamente.
- Por que está me tratando como criança?
- Eh? E não é uma? Digo, tem uma expressão séria e parece ter passado por muita coisa, mas... Ainda me parece uma criança! Tem quantos anos?
- Uns vinte. Não sou criança.
- Sério?
- Anh... Talvez algo mais para dezoito.
Encolheu os ombros, mas sem deixar de fitar o castelhano.
- Ah, que graça! Mas, então, coma! Deve estar frio, mas é melhor que nada!
O oriental concordou e, assim que começou a comer, percebeu o quão faminto estava. Ainda sim, mastigava lentamente, já sabendo que assim teria maior saciamento. Quando terminou, empurrou os pratos sujos para o outro. Antonio piscou os olhos.
- Kiku-chan?
- Hm?
Não gostava daquela intimidade, o sufixo "chan" costumava ser usado para crianças, mas pensava que era melhor respondê-lo.
-... Oh, nada! Deixe para depois – balançou uma das mãos, rindo, mas logo esboçou preocupação em seu semblante. – Vou ter que te amarrar agora...
- Tudo bem.
Sem oferecer resistência, deixou que o outro voltasse a prender-lhe as mãos.
- Vou tentar conseguir roupas limpas para você! Nos vemos depois, Kiku-chan.
O espanhol acenou, deixando o japonês sozinho, mas este acabou sendo vencido pelo cansaço. Com aquela animação toda do espanhol, acabou perdendo – momentaneamente – a vontade de resistir, acabando por se render ao sono.
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E então? O que acharam?~
