O dia estava terminando como outro qualquer: Isshin correndo feito louco pela casa, Karin reclamando, Yuzu cozinhando e Ichigo e Rukia brigando. Era a típica rotina na casa dos Kurosaki.

Talvez até fosse classificado como qualquer para todos eles... Com exceção de uma: Kuchiki Rukia. 14 de janeiro, o dia que marcava agora no calendário, era o seu aniversário. Não gostava de comentar o fato com ninguém, sempre considerou uma data desnecessária. Mas quem sabe, no fundo, não fosse isso o que pensasse realmente.

O sentimento de solidão estava dominando todos os seus sentidos, mas ela não queria deixar isso transparecer. Quanto menos demonstrasse, menos saberiam sobre a data que ela desejava que fosse ignorada.

– Baixinha irritante! – Gritou, enquanto brigavam. A cena tão comum que se passava sempre na cozinha.

Rukia sentiu seu coração pesar. Aquilo nunca a deixaria magoada... Mas aquelas palavras ditas naquele dia pareciam ter um peso extra. Toda a raiva se concentrou em seu punho e ela acertou o rosto de Ichigo com toda a força que possuía.

O ruivo cambaleou e caiu sentado no chão.

– O que deu em você, hein? – Ele exclamou com os olhos vidrados nela.

Ela sacudiu a cabeça.

– Deixa para lá. Vou dar uma volta. Não se preocupem, volto antes de fecharem a porta da frente – Disse com uma expressão triste.

Rukia pigarreou incomodada e deixou o cômodo com passos rápidos, tentando evitar os olhares curiosos da família Kurosaki. Sentiu-se extremamente à vontade por estar sozinha do lado de fora da casa. Respirou fundo o ar que a noite exalava. Só desejava pensar um pouco consigo mesma.

Começou a percorrer as ruas de Karakura, sem nenhum destino em mente. Apenas gostaria de andar, pensar e não precisar se preocupar em ter um rumo.

14 de janeiro... Ela nem sabia se esse era realmente o seu aniversário. Não tinha certeza que havia nascido naquele dia. Apenas sabia o que haviam lhe contado em Rukongai...

O próprio Byakuya insistiu em dizer que se ela quisesse mudaria a comemoração para o dia que ela fora adotada, mas a moça negou. Realmente tentou transparecer que não ligava para aquilo e que "tanto fazia" se fosse comemorado ou não.

Mas o grande fato era que Rukia sentia saudades de ouvir um "feliz aniversário". Nem lembrava mais qual fora a última vez que essas palavras foram dirigidas a ela. A tristeza parecia se aprofundar ainda mais em seu peito. Era terrível...

Poderia estar apenas sendo dramática, mas aquilo realmente significava para ela.

Quando reparou, já estava muito longe de casa... Estranho que agora "casa" para ela não era mais a de Byakuya ou a Soul Society, e sim a de Ichigo. Mesmo quando se sentia irritada ou sozinha, costumava a rir com eles. Mas agora ela estava só...

– Mais que merda! Você não pode sair assim socando os outros e saindo dessa forma! – Uma voz irritada exclamou.

A garota virou-se para ver de quem se tratava, apesar de já saber.

– O que está fazendo aqui? – Perguntou tentando parecer áspera.

– Ora "o que eu vim fazer aqui". Vim atrás de você! Não pode sair assim do nada me deixando preocupado – Falou, juntando-se a caminhada ao lado da pequena.

– Preocupado? – Deu um sorrisinho zombeteiro – Não consigo associá-lo com essa palavra!

– Pois é bom começar a associar, pois você só me dá dor de cabeça e preocupação – Disse, colocando as mãos no bolso.

– Não sou nenhuma criancinha, sei me cuidar – Disparou.

– Não parece.

– O que quer dizer com isso? – Tentou parecer ameaçadora, mas o seu tom saiu surpreso.

– Estou querendo dizer que me bater e sair sem dizer nada é algo extremamente infantil e completamente atípico de você.

Ela bufou em resposta.

– E mais uma coisa...

– O que é agora? – Perguntou.

Ichigo parou abruptamente e a observou com cuidado.

– Esconder o próprio aniversário também é algo muito imbecil e infantil, se quer saber – Falou de repente.

Rukia se assustou.

– Como sabia...?

– Isso não importa. Por que não disse nada? – Interrogou.

Ela olhou para os próprios pés.

– É uma data completamente desnecessária e...

– Ah, fala sério Rukia! Quer que eu acredite nessa merda toda? – Cortou – Mesmo aqueles mais depressivos dão valor ao próprio aniversário. Você liga sim e pare de tentar esconder isso.

– Acho que a pancada que te dei foi muito sugestiva, não é? – Tentou rir.

– Com certeza que foi. Por incrível que pareça, consigo distinguir cada uma das suas porradas, baixinha estúpida.

Dessa vez ela não pode evitar um sorriso.

– Seu maldito, como pode me fazer sorrir nas horas mais inoportunas? – Resmungou.

– Talvez por que você ri de qualquer bobagem – Franziu a testa.

– Tudo bem então, já ouvi coisa de mais por um dia só. Podemos ir para casa agora – E começou a andar, porém parou ao ver que Ichigo não a acompanhava – O que está esperando?

– Volte aqui por um minuto – Sua expressão estava séria.

Ela estranhou tudo aquilo, mas decidiu obedecer. Estava frente a frente com o rapaz quando ouviu:

– Não comprei nada para te dar de presente... Sabe por quê? – Ele se aproximou.

– Não... – Sua voz saiu fraca.

– Por que você arrasou todas as minhas economias naquele maldito chappy gigante!¹ - Exclamou.

Ela sorriu deliciosamente.

– Então está perdoado...

– Espere um minuto... Eu ainda não terminei – Disse com um sorriso que era um misto de timidez e malícia.

Foi Ichigo que acabou com a distância de ambos. De um jeito lento e até desengonçado, ele puxou o pequeno e delicado rosto da moça e o aproximou do seu, finalmente selando seus lábios.

Um beijo tímido começou, preenchendo totalmente o coração da pequena garota. Seu coração parecia disparar intensamente e o ar começou a faltar. Era o seu primeiro beijo, tinha que admitir... Mas nunca sentira uma sensação tão entorpecente e perfeita em sua vida. Em poucos segundos, tudo ganhou mais intensidade e sentia-se como se nunca tivesse feito outra coisa na vida além de explorar os lábios do ruivo. Beijava-o como se sua vida dependesse disso... Como se sempre houvesse esperado por aquela sensação a sua vida inteira.

Ichigo era o presente que ela mais queria.

A ânsia por ar veio quase ao mesmo tempo para os dois, que se separaram muito ofegantes e corados.

– Sua irritante, feliz aniversário – Ele disse.

Rukia sorriu, tentando disfarçar a terrível vergonha e ansiedade que estava sentindo. Tudo tão novo e tão diferente!

– Obrigada, Ichigo... Muito obrigada... – E socou o seu ombro.

– É assim que você retribui o presente?

– Que presente? – Exclamou.

EU sou o seu presente, caramba!

Ela riu.

– Como assim? Ainda quero um conjunto de desenho do chappy que custa caríssimo! Amanhã mesmo você vai comprar na loja – Ordenou.

Ele deu de ombros.

– Eu tento agradar e olha no que dá? – Revirou os olhos, mas em seus lábios estava um sorriso.

Rukia devolveu o gesto. Sentia-se extremamente feliz, aquela sensação era simplesmente única. Não se sentia mais só, nem triste ou confusa... Apenas completa.

Ichigo tinha razão... Ele era o melhor presente de aniversário que ela poderia receber.

FIM

Obs¹ - Citação de um dos meus drabbles IchiRuki [que não foi postado aqui ainda].