O Síndico
Certas coisas na vida não mudam. Tipo: o chefe nojento, os colegas falsos, os vizinhos barulhentos e insuportáveis e etc. Logo, o que eu podia esperar do síndico do meu prédio? Uma velha rabugenta, fofoqueira, hipócrita e chata. Ninguém pode me culpar por pensar assim, inclusive o sr. eu-sou-lindo-e-maravilhoso-e-cheiroso-e-SÍNDICO!
The Great Wide Open
Mais um dia exaustivo.
Menos um dia exaustivo.
Tudo era um ciclo vicioso e infindável.
Quando chegassem as férias, significaria que elas teriam um fim.
-Tudo tem um fim, Lily idiota – recriminou-se a jovem.
Ser explorada pelo chefe, trabalhar num local onde a metade de seus colegas são egoístas e não se importam em passar por cima dos outros, a autorizara a ser extremamente pessimista.
Não que o salário não fosse bom. Fora até possível ela se mudar para um prédio de relativa condição elevada. Porém, era pouco o desfrute que ela podia tirar de seu novo lar. Mal parava em casa, havia vezes em que dormia no próprio escritório.
Quanto mais ela produzia, mais era exigido.
Tudo era um ciclo vicioso e infindável.
Hoje ela conseguira voltar para casa no horário do almoço, porque o patrão adoecera. Provando a sua teoria, de que ele era um demônio mandado a terra para infernizar a vida de garotas ruivas indefesas, errada. No fundo, ele era só uma pessoa infeliz e insatisfeita consigo mesma, que acabara pegando sarampo.
Uma doença verdadeiramente ridícula e melindrosa para se ter quando adulto.
O homem estava pagando pelas tortura impingidas à ruiva, sua subordinada.
Enfim, se fazia presente e muito irado: Deus, que zelava por seus poucos e discriminados filhos ruivos com sardas e olhos verdes.
Pois Merlin havia morrido, não?
Nessas horas dava uma vontade enorme de ser bruxa... Para dar um fim em chefes carrascos! E assim a vida seria muito fácil. Coisa que a vida realmente nunca seria.
Enquanto seus pensamentos corriam de forma febril, pontuados por palavrões que em intervalos escapavam da boca da garota, seus passos em marcha lenta percorriam a garagem afim de alcançar o elevador.
De repente, sua mente se esvaziou e sua expressão de aversiva, transfigurou-se em contemplativa.
Um rastro sutil de perfume masculino pairava no ar, responsável pela mudança provocada na mulher. O aroma era algo que representava fidedignamente carvalho, numa manhã orvalhada, com toques na medida de almíscar e menta, o que condensava perfeitamente sensações de frescor e uma sensual masculinidade.
Resultado?
Lilían Evans estava devaneando com a simples percepção de um perfume masculino após um expediente árduo, o que a tornava uma mulher sem muitos atrativos aos olhos do sexo oposto, diante do portão de entrada e saída de veículos do condomínio.
Péssimo local e hora para devaneios.
O buzinar, naquele momento tão seu (talvez não tão seu por se encontrar num lugar público e o aroma prazeroso, ser alheio), a fez torcer o pé esquerdo e se desequilibrar desengonçadamente.
Por forças inexplicáveis, ela não foi ao chão e, juntando o pouco de sua dignidade e orgulho espatifados em frente do elegante automóvel esportivo de cor negra reluzente, sumiu dali.
- Oh meu Deus! Que mico – murmurou e espiou cautelosamente, afim de não ser vista e tentar obter uma imagem do motorista ou passageiro do carro.
Para evitá-los futuramente, lógico!
Malditas películas, praguejou mentalmente por nem sombras ver, tamanho o breu dentro do móvel.
Decidiu-se por apagar o acidente de sua memória e seguiu para o santo elevador.
Se tivesse sorte, conseguiria subir pelo único elevador funcionante. O outro dera pane.
Aglomeravam-se na espera: cachorros barulhentos com seus donos mais barulhentos ainda e crianças endiabradas enquanto uma senhora obesa reclamava do preconceito e descaso com seus iguais através de um megafone, aquilo fez Lily se perguntar se seu dia poderia ser pior. E de onde vinha tanta gente?
A música: "ain't no mountain high enough" se aplicaria com total reformulação em sua vida: "não existe poço profundo o suficiente".
E comprovando isto, o solitário elevador sobrevivente pifou na vez em que a ruiva o utilizaria.
Subir de salto, com o tornozelo machucado, cansada, com muitas pastas e papéis para carregar e ainda humilhada por não conseguir segurar seus sentidos diante de um mísero e pérfido rastro de perfume masculino: era a gota d'água!
A mulher olhou exasperada, procurando uma escapatória e sua visão pousou sobre o sofá do hall de ingresso no prédio. Pisando tropegamente, desabou sobre o imóvel e suspirou aliviada. Não era exatamente a solução, era uma medida temporária, e isto mais do que lhe bastava.
Um dos porteiros atravessou o ambiente apressado e antes que sumisse pela escada, notou a presença de alguém mais ali.
- Senhorita Evans, o elevador voltará a funcionar imediatamente – explicou e prosseguiu em sua empreitada, não aguardando a manifestação de sua interlocutora.
Típico, ela taxou o comportamento do homem e prometeu a si não se irritar.
Lilían analisou cada canto, cada parede, cada fresta. Havia decorado todas as imperfeições e acertos da decoração do estabelecimento. Observava fugazmente os moradores atravessarem sua frente, chegando e saindo.
Minutos correram, horas, dias, meses e para ela, até séculos! Se imaginava de cabelos grisalhos e rugas quando um rapaz, corrigindo: um braço masculino apareceu sendo puxado por uma garota morena.
Lily esqueceu de sua desgraçada situação e fitou o casal (ou seria: hemi-casal?) com comedida curiosidade.
- James! Vamos logo! Não fuja seu medroso! - a garota de cabelo rosa pink, que aparentava não ter mais que quinze anos, ria enquanto se esforçava em tragar o tal "James fujão e frouxo" para longe da escada e para o foco de visão de Lily.
Adjetivo de covardia dirigido ao pobre homem, não porque a ruiva tivesse antipatizado a primeira vista com ele. Não, quê ésso! Era pura e simplesmente porque Lily estava de mal humor.
Verdade que a acompanhava desde que nascera...
- Chame o Remus e depois, me encontre lá em cima – ele não se mostrou, permanecendo como um braço pertencente a um homem covarde (para Evans), concepção que se modificou quando ela ouviu sua voz.
Algo no tom usado por ele anulou as risadas da adolescente e peculiarmente, arrepiou os pêlos de Lily.
A menina correu alegre para a portaria, não esboçando os efeitos colaterais que a espectadora bisbilhoteira apresentava.
Primeiro o perfume, agora uma banal frase proferida por um qualquer! Lily precisava dormir, sem dúvidas.
E após alguns minutos sem mais novidades, ela concluiu que o elevador não retornaria a funcionar e esquecendo de denegrir o homem de voz sex… Ca-ham, voz de nada. Nada. Resolveu que era a hora de enfim, voltar para casa.
Xingando seu chefe e todas as suas gerações futuras (fato que se dependesse dela, se tornaria impossível por atos extremos de violência), catou suas tralhas e rumou para as, temidas e impiedosas!, escadas.
Após alguns lances percorridos de forma transpirante e dolorosa, Evans foi ao chão sem a mesma "sorte" que a última vez (referência ao quase atropelamento na garagem). Não engolindo palavrões e frustrações, perdeu o auto controle e em suas pálpebras as lágrimas ficaram retidas e, antes que estas transbordassem, algo, ou alguém mais precisamente, vindo de uma dimensão superior lhe estendeu a mão:
- Está bem? - seus olhos brilhantes pelas lágrimas contidas se prenderam nos de avelã dele.
E sua voz era inconfundível.
Descobrira a razão por "James fugitivo" ser...
Err..., ... bem...
Um fugitivo.
As mulheres não deveriam dar descanso a um homem como aquele.
Recuperada do vendaval que transcorrera no seu interior, Lily se deu conta do estado patético e cara patética que (com toda a certeza!) deveria estar. Pigarreando, ignorando a mão alheia e juntando seus pertences tudo ao mesmo tempo, incorreram no aumento do sorriso de James.
Este, não relevara a falta de educação e tato de sua vizinha, a ajudou e a observava interessado.
- Errr... O que foi? - ela indagou incomodada e temendo corar.
- Tenho a impressão de já ter lhe visto antes... - ele respondeu com uma feição compenetrada e não percebendo a intenção de sua "companhia" em retomar suas coisas que estavam na mão dele.
O que provocou mais determinação e rudeza nos movimentos da ruiva em abracar tudo o que era seu, rapidamente.
Onde já se viu? O que tem de bonito tem de garanhão! Mal me conhece e já está colocando as manguinhas pra fora! Numa cantada ridícula e mais velha que a minha bisavó!, ela arrebatou energicamente duas pastas da posse de James.
- O quê...? - Lily cerrou os dentes e mordeu a língua para evitar gritar e fazer um escândalo ali mesmo.
Potter prolongou sua estadia em posição imperturbável de franca reflexão, apesar de um vulcão ruivo adjacente ameaçar iniciar uma erupção explosiva.
- Você estava bloqueando a passagem da garagem e tombou quando eu buzinei – continuou, como se não tivesse sido interrompido ou passado tanto tempo entre as duas frases proferidas por ele, além de possuir um sorriso de soslaio nos lábios, explicitamente achando graça da situação ou de Lily mesmo.
E aí o aborrecimento dela quintuplicou. Aborrecimento este que previamente à explicação do próprio James sobre sua frase, mal entendida como clichê e machista, não era tudo isso. Aborrecimento que em qualquer outra pessoa seria na verdade: vergonha e culpa por ter acusado alguém (James) de estar dando em cima de uma desconhecida (no caso de Lily, ela própria).
- E como está seu tornozelo? Espero que ele não tenha sido a causa de sua queda, novamente – lhe disse simpático, como que para esconder a chacota.
Sim, era mais do que perceptível a ênfase no "novamente". E a ela pareceu escrachada e cruelmente debochador. O que merecia uma resposta bem dada:
Primeiro: está saudável como sempre esteve, até alguém quase me atropelar! Segundo: você não espera nada, só pipoca ficar pronta no microondas ou o seu jantar, tenho certeza, senhor perfeição! E terceiro: eu nem caí! Só tropecei e quase, eu disse quase, caí.
Mas não foi isto que ela disse.
- Otimamente bem, obrigada – empinou o nariz e na concentração em esnobar o cara antes covarde e agora sem noção (e intrometido, além de deter um ego maior que o próprio corpo), iria acabar com o gracioso nariz enfiado no solo e não no ar.
- Opa! - ele a amparou impedindo-a de um segundo (terceiro?) desastre.
- James Potter – ele se apresentou expondo os dentes geometricamente alinhados e alvos de um jeito mais do que cativante e natural, desarmando-a.
Não fora devido unicamente a imagem e proximidade dele que abrandaram Lily. O perfume. Isso mesmo, o perfume. O causador dos problemas desde o começo. Vinha dele, dele! E por mais que Lily considerasse errado e não adequado, estava devaneando pela segunda (terceira?) vez.
- James Potter... - ela balbuciou ao repetir-lhe o nome.
- Eu sei – ele riu classificando a mulher, equivocadamente, como uma comediante profissional – E o seu?
A reverberação da risada de James a tolheu de permanecer em seu mundo de sonhos, lírios e vários James Potters que lhe sorriam galanteadores com mil promessas de amor nos olhos.
- Evans, Lilían Evans.
- Prazer senhorita Evans – após se certificar que ela se manteria segura e em pé, ele a cumprimentou.
Enquanto Lily gostaria de ter se deixado ficar junto dele, perdida naquela fragrância...
-… Votou em quem pra síndico? - ele perguntou durante a subida estóica das escada em dupla, carregando metade das pastas rosáceas.
- Como? - ela nem pegara o fim da frase, estava longe, muito longe.
- Temos um morador ausente de seus deveres e direitos como condômino – observou com uma censura camuflada em brincadeira.
Ela riu sem jeito, por não saber a que parte da ausência ele se referia e por reconhecer que nunca fora a uma assembléia geral do prédio. Provavelmente ele estaria se referindo à eleição a síndico... É! Deveria ser isso... Mas a eleição fora há um tempinho, se não estivesse enganada... E parecia que o vencedor já fora até eleito e tomado posse... Não estava totalmente segura, havia lido o nome há dias... Qual era o nome mesmo?...
- Fico aqui – anunciou se prevenindo, pensava ele, de ter que escutá-la se desdobrar em explicações monótonas e manjadas como: "o trabalho ocupa todo o meu tempo" ou "tenho uma família para cuidar" - Acho que consegue chegar inteira e ilesa no seu andar, não?
E lhe piscou com um meio sorriso, deixando uma Lily dividida entre xingá-lo ou rir.
Na dúvida, ficou boquiaberta e resignada, voltando lenta e sofregamente à escalada para atingir sua casa.
Malditas escadas.
E que conversa estranha... "Votou em quem para síndico"? Só podia estar de sacanagem com ela!
Talvez ela preferisse a cantada clichê, talvez...
- Senhorita Evans! - o porteiro, Clark Moor, a chamou – Correspondência – e lhe entregou um envelope de proporções medianas e de coloração bege.
Completava uma semana desde o dia insólito e inexplicavelmente agradável, para Lily, que encontrara com O vizinho.
Ela se vestia de indiferença porém, quando o elevador parava no décimo quinto andar seu coração a delatava, ou quando algum carro escuro lhe atravessava a visão.
- Desculpe, a carta era para ser entregue há seis ou cinco dias... - o homem, com princípios de calvície no topo da cabeça e com bochechas arreadas, explicou.
Com um vinco recém surgido entre as sobrancelhas delineadas, ela desdobrou o bilhete que estava no interior do pequeno pacote, indiferente ao empregado bisbilhoteiro que esticava o pescoço por sobre o ombro feminino.
Evitando mais acidentes, pedi para que tomassem uma atitude com esses elevadores.
Agora é com você, preste atenção onde pisa e cuidado com os carros no portão da garagem.
Seu bom vizinho
P.S.: Suas pastas rosas mancham, preciso de uma camisa nova.
Ela não conteve uma gargalhada deliciosa e murchou, ao emparedar com o olhar questionador e rude de Moor.
- Obrigada. Mas faça seu trabalho direito da próxima ou falarei para o síndico – ralhou sem ter idéia do que estava falando e sem enxergar a palidez que tomara conta das feições de Clark.
No trabalho, seu chefe não descobriu a razão, mesmo tendo tentado arduamente, que a levou a manter sempre um sorriso bobo no rosto independente da ordem e do problema.
Poderia ser possível ele obter uma dica ao juntar dois envelopes que Lily guardava na bolsa, um bege e outro rosa, este endereçado a James Potter com uma caligrafia bem legível e levemente alongada.
- Gostaria de saber o que a fez aceitar sair conosco... - exprimiu-se Alice, melhor amiga da impecavelmente-certinha-Evans.
- Uma promoção, talvez – sondou Frank, marido de Alice, recebendo somente sorrisos da ruiva como resposta.
Eles se conheceram na adolescência e apesar de anos com encontros e desencontros, terminaram se acertando e casando aos vinte e um anos, comemoraram há um mês: cinco anos de casamento. Fato inaceitável pela (ex) família do casal e apoiado carinhosamente por Lily. Agora, melhor amiga do casal.
- Deixa só a Samy ver isso – acrescentou Lice antevendo a festa que teriam nesta noite.
- E o Amos – somou Longbottom, tomando um gole de sua cerveja e relaxando o braço ao redor da esposa.
Eles não podiam ter filhos, e eram o exemplo mais vivo de que o amor supera barreiras, na concepção de Lily, que desejava secretamente encontrar alguém que pudesse um dia viver, do mesmo modo que os amigos, junto com ela.
- Frank! - exclamou Alice censuradora – Você me disse que não ia beber! - estava tão petrificada com a presença da amiga, que nem notara a lata de bebida na mão do marido.
- A Lily está conosco Lice! - defendeu-se ele procurando a amiga com os olhos para defendê-lo.
Se fosse outro dia, Lily não teria se sentido confortável em se ver colocada entre o casal para decidir algo. Todavia, hoje era hoje, e não outro dia.
- Verdade Lice, dê um desconto – sorriu achando o bar muito mais bonito do que realmente era.
- 'Tá vendo? - ele reafirmou enquanto Alice fazia um biquinho – Isso merece uma champagne – corrigiu-se apontando Lily e conseguindo fazer com que as duas rissem.
- Começaram sem mim? - gritou uma morena da porta do pub, de pernas longas e bronzeadas expostas num vestido simples e ousadamente, devido ao comprimento, belo – Como puderam!
Samara chegou até os amigos com uma facilidade invejável e respondendo aos cumprimentos de homens que deitavam olhares cobiçosos sobre ela.
- Oh! - ela enfim enxergara Lily e num borrão lançara-se em cima da amiga, em seguida a arrastando para o balcão.
- Pessoal! - Samy bateu palmas pedindo atenção e Evans tentava de todas as formas demovê-la de tal intento, sem obter sucesso – Quero fazer um brinde. Um brinde à minha amiga: Lily! Que retornou do Alasca, onde superou limites e teve uma vida horrível e miserável. Bem vinda de volta Lily! - berrou a morena a plenos pulmões e todos no bar saudaram a ruiva junto com Samara.
Não restava a Lily outra opção a não ser responder aos cumprimentos e acenar, jurando morte à amiga quando saíssem do foco de atenção.
- Uow! Samy sempre supera as minhas expectativas – elogiou Frank e ela, altiva, se inclinou agradecendo a bajulação.
- A invejo por causa disso, o brinde era para ter sido proposto por mim – sussurrou Amos no ouvido de Lily roucamente, a deixando levemente corada.
- Outra rodada! - pediu Frank que assim como os outros amigos, estavam alheios à pequena contenda entre o loiro e a ruiva.
- Olá Amos! Pensamos que não viria – Samy lhe ofereceu uma cerveja o convidando a sentar-se entre ela e Lily.
- Talvez... E olha quem encontro aqui! - sorriu em direção à mulher de cabelos acaju, que se ocupava em tomar algo não alcoólico.
Certas coisas não mudaríam, ainda...
- Então, o que estamos comemorando? - encarou Alice que lhe piscava e sorria espertamente, dele para a amiga de olhos verdes.
- A promoção de Lily, claro! - respondeu Frank um pouco exaltado por causa da bebida, e beijou a bochecha de sua mulher.
- Não existe promoção Frank... - corrigiu Alice suavemente e não demonstrando se incomodar com o exagero dele.
- Ao seu retorno? - questionou Samara se debruçando sutilmente sobre a mesa, para se fazer ouvir no meio daquele alvoroço no qual o bar estava se tornando.
- O local ficou tão movimentado assim? - Lilían interrompeu a continuação da conversa sobre o mesmo assunto que a amolava um pouco, passeando o olhar pelo estabelecimento.
- E isso não é nem a metade – explicou Diggory com sua bebida intocada.
Com alguns minutos em que todos da roda se calaram admirando o pub, ponto oficial de encontro há anos, Evans se manifestou:
- Festa lá em casa! - anunciou abruptamente rompendo o compenetrado exame dos amigos sobre o ambiente e as pessoas ao redor – Avisem a todos e me dêem uma hora – exigiu agarrando sua bolsa e sobretudo.
- Tem certeza Lil's? - ponderou Alice se certificando se a amiga não estava doente, bêbada, louca, e afins.
- Não seja estraga-prazeres Alice – contrapôs Samara – Você não está bêbada Lily, está?
- Não, não estou - a ruiva retorquiu, não reprimindo um sorriso.
- Uma hora é muito tempo - rapidamente Samy discordou.
- Samara! - Alice a encarou, censurando.
- Ela não está bêbada, você ouviu. E é meia hora Lil's!
- Meia hora é pouco! - Evans contra argumentou.
- Quarenta e cinco minutos? - Frank fez a média querendo evitar desentendimentos e sendo justo, Amos riu.
- Trinta é o suficiente. Quer ajuda Lily? - se prontificou procurando seu molho de chaves no banco.
- Não, obrigada Amos. Nos vemos mais tarde gente – e dando tchau, saiu da vista deles.
Alice deu um chute na canela do loiro e pronunciou afonicamente, mexendo os lábios:
"Mais devagar!"
Diggory encurvou a cabeça e riu, levando a cerveja a boca já recomposto.
- Por que ela não parece ela? - comentou Frank fazendo Samara sorrir contente e Lice lhe dar um tapa no ombro.
A festa rolava há duas horas. Álcool e som moviam as pessoas, como em toda festa.
Lugar de encontro e de reaver os conhecidos com os quais Lily perdera contato, devido sua dedicação incondicional ao trabalho compulsório.
E o acontecimento a fez esquecer que James não respondera ao seu bilhete e que não o vira, provavelmente porque ele deveria a estar evitando. Por que aquele porteiro tinha que esquecer de entregar-lhe o envelope? Que droga...
- Lily! Lily! - Dorcas, uma das colegas de Hogwarts, abria espaço entre a multidão para alcançar a dona do apartamento – O porteiro está no interfone, quer falar com você – informou com uma feição não muito alegre, o que passou despercebido pela ruiva.
A influenciando a acreditar ser um bilhete de James, ou qualquer coisa relacionada a ele.
Depois de muitos berros, senhor Moor se fez entender. E Lilían não gostou nenhum pouco do que ouviu. O vizinho debaixo estava reclamando do barulho.
Já parcamente alta por causa da bebida e verificando a casa cheia, viva e todos se divertindo, a levaram a mandar as regras, o bom senso e a política da boa vizinhança às favas. Pois, ela nunca chegara a ser uma vizinha de verdade, nunca fora fonte de problemas para ninguém, até esbarrar em James e agora ele sumira!
Lógica totalmente ilógica dela. Contudo, para uma mulher que nunca pegou um porre e o estava vivendo pela primeira vez, além de uma decepção ínfima, mas decepção de qualquer jeito. Tudo poderia avariar a capacidade dela de pensar racionalmente, e foi o que aconteceu.
Desconectou o aparelho de comunicação e virou o copo de bebida de qualquer um que estava passando, de uma só vez garganta dentro.
A noite estava apenas começando.
- Lice, cadê o Frank? - quis saber Evans ao ver a amiga estirada no sofá com uma expressão explícita de tédio, sozinha.
- No banheiro – designou o lavabo, com o indicador, que estava com a porta entreaberta.
De longe se podia visualizar a silhueta de Frank, agachado e um cheiro fracamente azedo, correspondente a vômito, atingiu-lhes as narinas.
- Vou pegar minha caixinha de remédios. Peça aos rapazes para levá-lo ao quarto de hóspedes – ordenou Lily rumando para a sua suíte.
- Lily, tem um cara aí fora. Ele diz que é com você que veio conversar – Diggory a deteu, impossibilitando que ela seguisse.
Murmurando palavrões, depois de pedir para que o amigo auxiliasse Alice e Frank, ela se dirigiu à porta do apartamento.
- Senhorita Evans, não lhe pedi para baixar o volume? - o porteiro a fitou conturbado e exprimindo mudamente a confusão que a festa lhe causara.
O vizinho de baixo deveria ser um chato mesmo.
- Mas já baixei! - ela mentiu convincentemente, sendo traída pelo som que não sofrera nenhuma diminuição e somente aumento, fato comprovado pelo morador do andar quinze.
- Senhorita Evans, não sou eu que estou lhe pedindo. Para evitar brigas, por que não diminui o som? - ele suplicou.
E despertou a vontade de chutar não só o balde, mas a piscina toda, no âmago de Lil's.
- Pois diga a esse covarde que não irei fazer coisa nenhuma. Mande-o passear! - vociferou e penetrou na vulca de pessoas dentro do seu lar.
- Deus! - Moor olhou desesperado para as costas bem modeladas da moradora sem pensamentos felizes e retomou seu destino, nervosamente.
- Lily – Samara arrebatou a amiga sem dar-lhe chance de escapar – Tem alguém que deseja muito lhe conhecer – murmurou confidencialmente e estancando sem alerta prévio, originando uma sensação zonza em Lily.
- William Cunningham – apresentou-se um rapaz negro com um sorriso capaz de liquefazer icebergs – Samy me disse que você voltou do Alasca, lugar incomum para se trabalhar, huh?
Lilían pisou sem piedade no pé da morena.
- Vou pegar mais cerveja – atalhou Samara com a voz esganiçada, aguentando-se para não chorar ou berrar de dor.
- Samy gosta de brincar. Não fui para o Alasca uma única vez e nem pretendo ir, trabalho e moro aqui mesmo, em Londres – retificou Evans e o sorriso de Will se ampliou tornando possível derreter todo o Alasca, não sobrando um cubinho de gelo para contar a história.
Enquanto isso, uma senhora por volta de seus sessenta e cinco anos, enveredava por entre os convidados de forma decidida e soltava muxoxos de escandalização e cólera para quem cruzasse seu trajeto.
- ... é por isso a comemoração – Evans findava a detalhar para Will, um belo e atencioso ouvinte, o motivo do júbilo de seus amigos (e parcialmente dela), quando o rapaz alvejou com a mão algo além dos ombros dela.
- Creio que aquela senhora esteja procurando por você – ele lhe disse e pedindo licença, Lily foi ao encontro da mulher.
- Você é Lilían Evans? - bradou e sem mais delongas, a proprietária do imóvel conduziu sua visitante para o hall.
- Sua moleca, como pode achar que tem o poder de infringir as regras do prédio? - clamou a senhora imperturbável e grosseiramente – O senhor Moor advertiu-lhe duas vezes! DUAS vezes – ameaçou à ruiva com uma bengala marrom.
- O apartamento é meu! Faço dele o que bem quiser, sua velhota! - retorquiu Lily agitada não só pelo álcool, mas também pela ousadia e despeito de sua vizinha.
- Sua mãe não lhe deu educação? - a idosa recuou com a boca aberta, mais escandalizada ainda.
- Deu, mas não para ser usada com o tipo de pessoas como o seu – revidou mordaz e cruzou os braços sobre o busto – Os incomodados que se mudem.
- Seus arruaceiros! Isto não vai ficar assim! - a moradora do 1501 esgoelou-se ao brandir as mãos em riste.
Se ela queria chamar atenção, estava se saindo um fiasco. A discussão não podia ser ouvida nem a um centímetro adentro da festa, a partir do ádito.
- Quem era Lil's? - indagou Amos que acompanhara a tudo de longe e se segurara para não tirar a ruiva de lá quando viu a senhora avançar pra cima dela com aquela bengala.
- Ninguém. Onde esteve? - retorquiu despreocupadamente e tomando o copo das mãos masculinas.
- Cuidando de Frank, acho que terei que levá-los. Você sabe que Lice não suporta dirigir – declarou examinando Lily beber tudo sem parar para respirar.
- Hum... Irei vê-los – ela afirmou e Diggory a segurou.
- Não acha que está exagerando? - interrogou suave e firme o bastante para ser levado a sério e demonstrar que não estava brincando.
Entretanto, o juízo havia abandonado a garota há tempos e num desvencilho sem palavras, ela estava longe dele, na escada.
- Em seguida, mandei ele à merda! - esbravejou Han Kyul, um coreano colega de Samara, na roda próxima da cozinha.
- Lily! Você não pode sumir por aí – arguiu Samy.
- Problemas... Estava vendo Frank e Lice, eles já estão melhor – justificou-se reparando que Will estava entretido na conversa com Kyul, que nem a notara.
- Eles não eram os únicos. Amos não aparenta estar muito contente – a morena assinalou reservadamente o loiro que lançava olhares nada amigáveis para elas.
Evans deu de ombros e tomou um gole de uísque largado sobre a mesa de canto.
- Hey! Não misture muito as coisas, okay? - aconselhou Samara, desgrudando seu olhar de Diggory e a outra assentiu.
- Preciso ir ao banheiro – atalhou e embarafustou-se sem saber exatamente para onde, no próprio lar.
Escolheu o toalete dos fundos, onde raras pessoas se encontravam e na ânsia de pôr para fora o que já estava "a caminho", não vedou a porta.
Realmente, o que bebera? Não tinha idéia. Fizera uma gororoba no seu copo, que na maioria das vezes nem era seu... Não deveria ter feito isso... Agora pagava o preço.
- Parece estar acidentada de qualquer jeito – uma voz masculina e ressoante transpôs os ruídos da algazarra (vulgo festa) e conseguiu realizar o prodígio que Amos não conseguira.
Arrastar Lily para a sanidade.
- Comemorando os sete dias de nosso primeiro encontro? - James continuou falando enquanto ela não lhe respondia, estarrecida pelo aparecimento dele – Mas esqueceu de alguma coisa, não? - e então ele sorriu de suas próprias ironias, fazendo a imagem de Will dissipar-se da mente de Lily, como a escuridão é banida do céu em plena manhã ensolarada.
Se Will derretia o Alasca, James derretia todo o pólo norte e o pólo sul, não remanescendo gelo e nem água para se ter uma dica sobre como a história ocorreu.
Dando-se conta do vexame no qual se deparava, a náusea retornou e ela mergulhou a cabeça no vaso sanitário de forma brusca.
Felizmente, para ela e agilmente, para ele, James suspendera as femininas madeixas acobreadas precavendo um estrago maior.
A ajudou não somente a se levantar, como também com os enjôos e as tonturas. Dando-lhe uma toalha molhada e a recostando na cadeira da cozinha, perguntou:
- Está melhor? - e Lily pode constatar que aquele homem não existia, era puro produto de sua imaginação e coma alcoólico.
Se fosse assim, não se importava de passar mal outras vezes...
Sorriu e resumiu suas metas a não mexer a cabeça, afim de não complicar a dor de cabeça já insuportável.
- Uhum... - demorou a dizer e suspirou, fechando os olhos e esperando ser acordada daquele sonho bom.
- Onde é o seu quarto?
- 'Tô bem. Não precisa – ela os reabriu, vigilante como um cão de guarda e James sorriu involuntariamente.
Quando ele não sorria?, o pensamento veio como uma abelha, zumbindo no seu ouvido e permaneceu ali, incomodando Lily.
- Por que o som tão alto? Os vizinhos não reclamaram? - ele indagou enquanto retirava o tecido umedecido da posse dela.
- Uhum... - ela se sentia mole por um torpor irresistível e invencível.
Responda qualquer coisa, era o que a abelha passou a zumbir.
- E por que não atenuou o barulho? - ele a observava lutar contra o sono.
- Ela era chata! - James riu da careta que ela esboçou e Lily interpretou como sinal de descrença dele, no que ela dizia e nela mesma – Sério! Falou sobre regras e blá, blá, blá! Velha resmungona!
- Você acha que não deveriam existir regras? - ele indagou, com um educado interesse.
O zumbido se tornou mais agudo, parecia que a maldita abelha havia entrado pelo seu ouvido!
- Claro! Nem síndicos com seus óculos fundo de garrafa, suas pranchetas fedendo a mofo e suas gravatas borboletas pareando com suas blusas quadriculadas e... e... e suas manias de mandar nos outros e dizer o que os outros devem fazer e... e... e suas regras!
- E como sugere que o condomínio funcione? - ele estava muito interessado na opinião de uma bêbada.
De repente a abelha silenciou, quando Lily mais precisava que ela lhe ditasse algo a dizer. Devido a isso, sua resposta levou alguns segundos até se formular.
- Deixe na mão dos moradores – ela agitou os ombros ao dizer, após muito pensar.
- Moradores como você? - ele deduziu sagaz e se ela estivesse sóbria, teria ruborizado.
- É. Moradores como eu – ela alinhou os ombros e a coluna com o espaldar de seu assento honrosamente.
- Meu voto é seu – ele anuiu e sufocou com tato uma risada – Mas está na hora de terminar sua festa. Não queremos problemas, certo?
Ele fora tão sutil e educado que Lily não ligou para a sensação de que já ouvira a frase anteriormente (e que perante a esta, ela não cedera), e se deixou levar.
- Uhum - ela concordou e se aconchegou como um bebê em sua cadeira não muito confortável.
- Já volto – ele comunicou e sumiu da vista dela.
Em menos de um minuto, Lily havia caído em sono profundo antes que ele retornasse.
N/A: Desde que a minha mãe virou síndica, eu fiquei sabendo de cada absurdo, cada situação que zera a sanidade de qualquer um! Certo que qnd comecei a fic n tinha nd a ver c/ síndicos... Mas, mudanças sempre estão ocorrendo, certo? ;)
Soooo, esse é o primeiro cap. Teremos mais 2, sendo q o último será postado no dia dos namos \o/
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