Para Pearll, que me incentivou a tirar esta velha idéia da gaveta, concluí-la e publicá-la. :)


Capítulo Primeiro

Muitos dos professores do Colégio de Magia e Bruxaria de Hogwarts eram amigos, ou ao menos se davam muito bem. Porém, de todos esses, dois se destacavam e eram, quando o assunto era amizade ou relacionamento, frequentemente apontados como "melhores amigos" ou os "maiores amigos que já se viu por ali". Certo que algumas professoras, como Rolanda Hooch ou Pomona Sprout, insinuavam regularmente algo mais entre Albus e Minerva. Minerva McGonagall, séria e polida, reagia muito mal às insinuações, mas Dumbledore, o diretor de Hogwarts, costumava negar sorrindo, de modo muito amável, como lhe era de costume.

Bem, voltemos nossos olhares para uma tarde em particular, que é quando se iniciou um capítulo um tanto interessante do relacionamento desses dois velhos amigos. Era terça-feira, a lua já despontava no céu, quando Albus bateu duas vezes na porta do escritório de Minerva. Como ninguém respondeu e a porta encontrava-se destrancada, o homem entrou. Tinham intimidade o bastante para que ela não se importasse, ele sabia bem. Mas não encontrou nenhuma Minerva por ali. A intenção dele era convidá-la a uma partida de xadrez bruxo, porém o que parecia é que a professora decidira passar em algum outro lugar antes de dirigir-se ao seu escritório, que era o que fazia costumeiramente depois da última aula do dia. Dumbledore resolveu esperar por ela, então caminhou pela sala observando a decoração já tão conhecida enquanto o tempo não passava. Percebia cada toque da personalidade dela refletida ali, naquele escritório. Desde as imponentes cortinas em tartan, que denunciavam o orgulho por sua tradição, até a lata brilhante com os biscoitos de gengibre favoritos de Minerva. A mesa estava muito bem organizada, e Albus pôde ver, empilhados à esquerda, livros sobre Transfiguração e Métodos de Ensino, bem ao lado de uma série de, também empilhados, pergaminhos com anotações pessoais da bruxa, para além de uma terceira pilha com vários pergaminhos que deveriam ser trabalhos de alunos. Uma das gavetas havia sido deixada entreaberta, o que pareceu a Albus um tanto incomum. Ele se posicionou atrás da mesa, olhando mais de perto, e encontrou um pergaminho um tanto amassado, junto do respectivo envelope onde se lia "à Minerva A. McGonagall, no Colégio de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Inglaterra". Ele apertou as sobrancelhas uma contra a outra, sentindo-se totalmente indignado. Como poderia desconhecer que Minerva tinha um nome do meio? Ela nunca havia comentado, nem mesmo quando o diretor lhe tinha perguntado diretamente. Aliás, ele não soube nem mesmo quando a tinha tido como uma aluna, pois isso jamais constou em sua ficha de Hogwarts. Intrigado, Albus tomou o papel amassado nas mãos, esquecendo-se ou ignorando que se tratava de algo particular, provavelmente por ser de Minerva, que era tão próxima a si. O pergaminho dizia, em letras desenhadas, o seguinte:

"Cara Minerva,
como tem passado? Escrevo a pedido de minha mãe, que diz ser educado lembrá-la de nossa reunião anual de família, que, como já deve ter notado, não? acontece sempre em fevereiro. É uma pena que não possa vir. Não ligue se não receber um convite este ano, nossa querida tia Josephine está responsável por eles agora, e diz que, como não virá mesmo, não gastará tempo escrevendo um convite a mais. De qualquer forma, caso mude de idéia desta vez, saiba que sempre é bem vinda na Mansão McGonagall. Suponho que ainda saiba como chegar. Dias 12, 13 e 14.

Com estima e lembranças,
de sua prima Olívia"

Logo que terminou de ler, Albus ouviu a porta se abrindo e viu, com surpresa, uma Minerva absolutamente furiosa o encarando.

– Isso é particular, diretor! – a voz dela soou fria, ao ver o pergaminho nas mãos de Albus.

– Por que não vai à reunião de família?

– Eu disse que era particular, me dê essa carta. Não devia ter lido sem a minha permissão. Ora, como se atreve? – Minerva avançou na direção dele, como um felino selvagem.

– Há quantos anos você não vai? Há quantos anos não vai à Edimburgo? Achei que fosse sempre. Foi o que me disse...

– Isso... isso não é... – ela o interrompeu, tropeçando nas palavras e parecendo estranhamente constrangida – isso é particular...

– Minerva! – ergueu a voz, fazendo com que ela parasse de tentar tomar o pergaminho das mãos do homem.

Fez-se silêncio por um momento, enquanto os dois se encaravam, até que, finalmente, Minerva deixou escapar um suspiro triste.

– Não vou há alguns anos... muitos... muitos anos... você não entende... é uma das tradições de minha família... é... – ela pareceu um tanto abatida – consideram vergonha não casar-se. As mulheres não podem viver só, não podem ser independentes. O nome McGonagall devia ser carregado por homens, guerreiros valentes, grandes bruxos... e não por... solteironas... que envelhecem sem.. ninguém... sem nada. Eu... Eu não posso ir. Não posso ir porque escolhi um caminho diferente. E não posso encarar todos aqueles olhares voltados a mim; Eu, a única que fere a tradição do nome. Nascendo mulher, a obrigação de uma McGonagall é fazer o laço com uma outra boa família bruxa, e mais nada. Eu não levei o orgulho de nenhum laço aos McGonagall. Eu não posso ir a casa onde nasci. Eu... eu nunca lhe disse, mas não sou bem vinda. Eu não sou bem vinda àquele lar desde a morte de meus pais.

E Albus, em silêncio, observou a tensão na face da bruxa, que não parecia sequer respirar. Ele levou a mão ao ombro dela, e por um momento permaneceram assim, desviando os olhos um do outro. Então Minerva pegou o pergaminho sem dizer nada, rasgou-o dessa vez e atirou os pedaços à lata de lixo que mantinha ao lado de sua mesa. Então veio o silêncio, um desconfortável silêncio. Dumbledore mudou de idéia quanto a convidá-la para a partida de xadrez, também não soube o que dizer; Temeu piorar a situação, que sabia significar muito à bruxa, então somente murmurou um pedido de desculpas e saiu. Não tinha nada? Como podia dizer aquilo? Como podia pensar aquilo?... nada? Ele sentiu um aperto no peito...