Aquela sensação era estranha demais e eu tentava afastá-la de meus pensamentos insistentemente, mas era impossível tirar Milo da cabeça. Aquele dia, na planície, nosso primeiro beijo, o primeiro contato de nossa pele, sentir a excitação dele foi algo tão intenso.
Eu sentia a real necessidade de tê-lo nu, comigo, para sempre. Eu queria cheirá-lo e beijá-lo, queria aquele membro dele rijo comigo. Queria o suor dele em meu corpo, queria segurar aquele cabelo e penetrá-lo com força.
Mas aquilo não podia continuar, aquilo não estava certo, Milo só me atrapalhava nos treinos e nos estudos e eu realmente quero ser um cavaleiro de ouro. Estou desesperado com Shion que ainda está atrás de mim por uma traquinagem do infantil do Milo, como acontece sempre.
Eu estou cansado de ser punido e privado de tantas coisas em virtude das imbecilidades que o escorpiano faz e sempre dá um jeito de me envolver. Eu já não aguentava mais surras e treinos pesados desnecessários por causa daquele inconsequente. Se ele ainda não tinha crescido, eu já tinha.
Era essa a solução, evitar Milo e me esconder de Shion até que a poeira baixasse e eu pudesse explicar que não havia feito parte daquela cena ridícula que presenciei. Eu poderia até mesmo entregar Milo com minhas próprias mãos, esse sim merecia cada um dos castigos que lhe eram impostos.
Em meio aos meus devaneios, em que eu voltava do treino com meus livros nas costas e mãos no bolso, aparece alguém e me puxa entre duas pilastras que faziam uma sombra escura. De pronto, me assustei puxando minhas mãos do bolso e tentando evitar contato com o desconhecido.
Logo senti aquela boca me devorando, ah sim, aquela boca era tão macia e sedenta que eu não conseguia pensar em mais nada. Soltei meus livros e logo estava com as mãos na cintura de Milo e pressionando, assumindo o controle da situação.
Em menos de um minuto, já o havia prensado na parede com o meu corpo, segurando seu cabelo com força por trás de sua cabeça, sentindo meu membro no seu e respirando ofegante enquanto explorava aquela boca perfeita.
Quando nossos corpos se encontravam, era como sentir um choque por todo o corpo, profundamente. De repente, em questão de segundos, todo o mundo desaparecia de nosso plano de existência e só havia nós dois no universo.
Não, não, aquilo não estava certo. "Ah", eu gemi, Milo havia colocado a mão atravida por dentro de minha calça. Não, aquilo... "Aaaah", não, estávamos em público, alguém podia estar passando. Aquilo tinha que parar!
Num impulso, puxei Milo para o lado e acabei com o contato físico que nos prendia naquele atentado violento ao pudor. Olhei em volta, nervoso e apreensivo pela possibilidade de haver alguém ali, mas, graças aos deuses, não havia.
– Se recomponha!
Eu ordenei, arrumando minha roupa e tentando fazer com que minha respiração tornasse ao normal. Arrumei meu cabelo rapidamente, como eu odiava dar motivos para que qualquer um comentasse sobre a minha vida, e aquilo poderia ser um completo escândalo!
Milo sorria de canto, me olhando com lascívia nada disfarçada. Aquilo me irritava tanto nele, mas tanto, ele não media as consequências de suas ações em nenhum momento da vida. Ele não ponderava sobre nada, apenas fazia que tinha vontade. Como alguém podia ser tão infantil?
Logo ele caminhou até bem perto de mim, rebolando daquele jeito que só ele sabe, pousando uma mão sobre meu peito e alcançando meu ouvido com aquela voz sussurrante que tanto fazia meus pelos ouriçarem. Mas eu me mantive estático, não movi um músculo.
– Por que não vamos até a planície novamente? Ou até a minha casa? Não há ninguém lá agora...
Era provocante, eu queria, queria muito. Não, na verdade eu não queria, mas meu corpo queria mais do que qualquer coisa. Eu não entendia meus sentimentos com relação àquele cara, eu o detestava e o desejava desesperadamente.
– Milo, você deve estar louco se pensa que vou a qualquer lugar com você! E quem você pensa que é para me atacar assim do jeito que fez? E se alguém visse?
Ele revirou os olhos, ainda sorria, devia pensar que o que eu falava era algum tipo de jogo. Para Milo era assim, o vida era uma grande brincadeira da qual ele pensava saber movimentar todos os peões.
– Engraçado, você não quer ir comigo a lugar algum? Não é o que nosso amiguinho aí embaixo está apontando. – Disse ele apontando para o meu pênis, absurdamente ereto dentro de minha calça jeans, o que me desesperou novamente. – E páre de ser tão sério, você gostou. Ninguém viu nada...
– Milo, você me tira do sério! Saia de perto de mim, isso é sério! Você só me atrapalha, você só tira o meu foco do que realmente importa, você é uma criança grande! Cansei de você não medir as consequências do que faz e só me envolver em encrencas!
Ele deu um passo para trás me olhando com atenção, finalmente o vi olhando para algo que não fosse um espelho. Ele fez um expressão de dúvida e, eu me arriscaria a dizer, de tristeza. Pareceu-me, naquele momento, que ele se importava com meus sentimentos.
– Camus, o que quer dizer com isso? Como eu te trago problemas?
Eu revirei os olhos nervoso e cruzei os braços com o cenho franzido. Não era possível que eu estava ouvindo aquela pergunta idiota por parte dele.
– Como assim? Quantas vezes eu já fui punido por sua causa? Eu nunca fiz NADA, absolutamente NADA fora das regras do Santuário. Já você não! Parece que tem prazer em despertar a fúria de todos os mestres e tutores daqui de dentro e o pior: ME ARRASTA COM VOCÊ!
Ele fechou os olhos e riu, aquilo me tirou do sério.
– Do que você está rindo, seu idiota?
– Ao menos eu torno sua vida mais interessante, ô Häagen-Dazs!
Ah, como eu odiava aqueles apelidos ligados às minhas habilidades cósmicas. Obviamente eu podia responder com ofensas relacionadas ao veneno típico dos golpes da constelação que ele almejava chefiar com a armadura de ouro, mas eu não me rebaixaria àquele nível infantil que Milo constantemente se colocava.
Decidi acabar com aquela discussão, porque era impossível debater com Milo. Simplesmente virei as costas e comecei a andar em outra direção. Obviamente, Milo me chamou, nem olhei para trás.
– Esqueceu uma coisa, gelinho!
Eu ignorei, até que realmente senti falta dos meus livros. Droga! Minha mochila! Todos os meus trabalhos estavam lá, e as tarefas que eu devia entregar naquele mesmo dia. Fui obrigada a retornar.
Claro que Milo não me entregou minhas coisas, começando uma correria para recuperá-las. O escorpiano se divertia rindo de mim, correndo com minhas coisas e fazendo perseguí-lo contra a minha vontade. Milo merecia uma lição, aquilo era nítido, com certeza faltou educação quando menor.
O persegui até um chalé vazio, devia ser de alguma amazona que deixou o santuário porque até que estava arrumadinho por dentro. Não haviam mais chalés ao redor, nunca tinha visto aquela parte do santuário antes. Foi rápido, depois de encurralá-lo, captura-lo e reaver minhas coisas, um simples gancho de direita e o fez soltar minha mochila no chão. Mas, por algum motivo eu não o soltei.
Ele estava muito perto de mim, seu cheiro de alguma maneira me prendia e aquela eletricidade que me percorria a espinha sempre que estávamos tão próximos voltou. Droga, ele estava conseguindo o que queria!
Ele tentou me puxar para um beijo e eu me esquivei, o comprimindo mais na parede. Aquilo era para doer, mas ele soltou um gemido de prazer. Eu estranhei, mas eignorei, puxei seus cabelos para traz e comecei a falar firme.
– Páre de tentar me controlar com seus joguinhos!
– Você me quer, assuma! – Aquela afirmação fez eu puxar seus cabelos com mais força, o que gerou mais gemidos desejosos do escorpiano. A realidade é que minha raiva fazia com eu quisesse machuca-lo, mas minha moral me segurava, mas aqueles gemidos de prazer me impulsionavam para frente.
O que eu sentia era tão ambíguo e parecia ser tão errado. Eu acabei de entregando aos meus instintos e segurando seus braços com força, os apertando, e trazendo Milo para mim com rudeza.
Milo se entregava aos meus puxões com luxúria, eu diria até obediente. Ele gostava dos puxões, dos apertões e eu gostava de fazê-los. A falta de controle de Milo despertava em mim a necessidade de controla-lo, coloca-lo em seu lugar e deliciar-me com aquele corpo.
Enquanto nos esfregávamos eu sentia aquele cheiro e tocava aquele corpo que eu sentia tão meu, era meu. Milo era meu, era a única certeza que eu tinha. Eu o joguei na cama com força, e segurei com minha mãe direito embaixo do seu queixo, comprimindo suas bochechas.
– Preste atenção, você nunca mais vai me envolver nessas idiotices que vocês costuma fazer!
Ele sorria , apesar de mas submisso pela posição, me provocava furtivo. Aquilo me excitava mais, como podia aquela situação ser normal? Como eu podia estar a ponto de bala com aquele cara tão faceiro na minha frente?
Eu belisquei seu mamilo, enquanto o virava, queria coloca-lo de quatro e penetrá-lo com toda a vontade de que consumia. Eu queria vê-lo urrar de dor e prazer, eu faria isso e eu...
Meus pensamentos foram interrompidos pela voz de Shion, ao fundo. Shion? Ele nos veria lá! Rapidamente olhei para Milo que também se desesperou com o som de Shion falando para nova amazona do santuário sobre seu chalé.
Era por isso que estava tudo arrumado. Tentei me recompor e arrumar o que havíamos derrubado e tirado do lugar, Milo puxava os lençóis da cama. Quando nos tocamos que o que precisávamos fazer era correr daquele lugar, Shion nos mataria assim que colocasse as mãos em nós dois.
– Vocês!
Shion disse na porta, estávamos encurralados. Ele me olhava nervoso com as duas mãos na cintura, Milo olhou para o chão. Eu queria me socar naquele momento por ter chegado nesse ponto de insensatez pelo escorpiano.
– Bom, Nala, aqui será seu quarto. Essa área não é livre acesso para homens, assim pode ficar tranquila quanto à sua segurança. Sobre esses dois aqui, temos uma longa conversa para ter na minha sala, vou lembra-los que se deve respeitar os alojamentos das damas.
Shion falou tão carinhoso com a menina que chegava ao santuário, eu o admirava, Shion era o mestre que eu sonhava em ter. Era tão dedicado aos treinos, tão preocupado com Mu, tão o íntegro. Mas Milo conseguia fazer com que a admiração não fosse recíproca.
– Vou precisar arrastá-los ou vocês vem comigo por vontade própria?
Ficamos calados, olhando para o chão.
– Venham! Se correrem eu garanto que alcanço vocês e haverá um arrependimento que vocês jamais esquecerão em suas vidas!
Caminhamos, seguindo Shion, como quem se direciona ao abatedouro. Como eu odiei Milo naquela hora, o olhava com raiva e ele sabia bem por quê. Eu queria pegá-lo e faze-lo em pedacinhos.
Quando finalmente chagamos no escritório de Shion, ele mandou que nos sentássemos nas cadeiras em frente à sua mesa. Então, ele pegou a cane e a colocou em cima da mesa, quando sentou em sua cadeira e colocou os cotovelos na mesa para apoiar seu queixo em sua mão.
– Sabe o que mais me espanta? O fato de vocês já serem marmanjos e ainda se divertirem com uma brincadeira tão boçal quanto colocar pó de mico na roupa de alguém. Vocês estão às vésperas de se formarem no colégio, já estão quase prontos para disputar as armaduras de ouro. Vocês não tem vergonha?
Shion começou o sermão, ele sempre fazia um longo sermão deixando muito claros os seus pontos de vista. Ele era muito justo, abria a oportunidade para falarmos e nos explicarmos. Mas não adiantava muito, Shion debatia como ninguém, ele sempre tinha razão.
– Mestre...
Eu arrisquei começar a falar, mas ele prontamente me cortou. Ele me olhava tão desapontado e decepcionado que eu sentia vergonha por estar naquela situação, por mais que eu não tivesse culpa alguma.
– Não, Camus, nem adianta vir com aquela mesma história de é culpa do Milo. Você devia ser mais maduro e aprender a assumir a culpa e as consequências pelas suas ações.
Na hora eu olhei de canto de olho para Milo, que nem tentou me defender como fazia sempre. Eu sabia que ele não me envolvia por mal nas questão dele, mas o fato é que me envolvia e a situação sempre acabava mal para mim.
– Quando vocês dois vão crescer? São tão fortes, tão preparados e inteligentes. São candidatos realmente cotados e indicados para as armaduras. Para que fazer constantemente esse tipo de coisa com os outros?
O discurso de Shion continuou por tempo que eu não consigo estimar, ele falava e falava e cada palavra dele vinha imbuída de razão. Até que decretou que perderíamos pontos na avaliação geral daquele ano, não, aquilo não podia ser verdade. Ele mexeria na minha nota perfeita!
Eu engoli seco e apertei as mãos com raiva, mas não respondi. Permaneci calado. Milo, por sua vez, não esboçou qualquer reação, ele pouco se importava com sua média geral. Eu queria pular no pescoço dele e esganá-lo por aquilo.
Logo Shion terminou seu longo discurso e friamente levantou e disse:
– Mãos na mesa.
Droga, além de perder nota eu ainda apanharia por algo que não havia feito. Eu realmente estava decidido a matar Milo, eu ia mata-lo. Me levantei na hora em que recebi a ordem, eu sabia obedecer, diferente de Milo que ficava enrolando.
Curvei-me na mesa, eu sabia que aquilo doeria. E como sabia, graças a Milo já havia apanhado incontáveis vezes com aquela vara grossa do inferno. Apenas engoli em seco e fiquei esperando os golpes virem.
– Milo, o que está esperando?
Aquele escorpiano dos infernos tinha que prolongar aquela situação constrangedora mais do que o necessário. Já não bastava estarmos apanhando com aquela idade, ele tinha que enrolar e deixar o Shion mais nervoso do que já estava.
Ele lentamente se levantou fazendo cara feia, ah, se fosse eu com essa vara na mão, ele ia aprender a não agir desse modo. Como eu o odiei naquele momento, até que ele se curvou colocando a mão sobre a minha. O simples encontro de nossas peles já me acalmava.
Foi quanto a surra começou, não durou muito, mas doeu como o inferno. Aquela vara sem nenhum aquecimento doía demais, Shion alternava entre mim e Camus e cada um que levava o golpe apertava a mão do outro, recebendo, assim, algum conforto.
VUFFT – Eu recebi o golpe e permaneci imóvel e calado.
VUFFT – Milo pulou e gritou.
VUFFT – Novamente, não me movimentei nem emiti qualquer som.
VUFFT – Milo gritou mais alto, já com lágrimas nos olhos.
VUFFT – Eu, calado, apenas arrumei minha postura.
VUFFT – Milo começou a chorar alto, pedindo para que Shion parasse.
VUFFT – Talvez eu tenha soltado um "Hm" inaudível.
VUFFT – Milo saiu da mesa e correu para o outro lado da sala.
Eu revirei os olhos, queria que aquilo acabasse logo. Shion foi pegar Milo e arrastá-lo para a mesa novamente, dessa vez se focando só nele. Ouvi o som de cinco varadas certeiras e rápidas no traseiro de Milo. Ele chorava demais e eu senti uma ponta de raiva de Shion.
Eu senti raiva vendo Milo chorar, senti raiva vendo alguém que não eu lhe causando dor. Também odiei o fato de estar naquela situação por culpa do Milo. Eram sentimentos de dualidade que eu não estava acostumado a sentir.
Logo a surra voltou para mim, Shion passou a alternar as varadas novamente. Eu, claro, me mantive em silêncio, jamais me permitiria uma reação como a de Milo. Logo, aquilo havia acabado e Shion nos dispensou, tendo o cuidado de passar as mãos em nossas cabeças para demonstrar algum carinho.
Eu sai com raiva e fui direto para a minha casa, aproveitando que meu Mestre não estava lá para presenciar tamanha vergonha.
