Nome: Skyfall

Ship: Loki e Tony

Rate: M

Tipo: Slash


Disclaimer: As personagens pertencem exclusivamente à Marvel Studios e ao Stan Lee.


Skyfall

Parte I

.

This is the end

Hold your breath and count to ten

Feel the Earth move and then

Hear my heart burst again

For this is the end

.

Para Tony Stark, o céu estava caindo.

Fechou os olhos e respirou fundo, tentando controlar a ansiedade que sempre se apoderava do seu corpo quando dedicava parte do seu tempo para relaxar e deixar o pensamento vagar por certos lugares. Lugares perigosos, na maioria das vezes. Quando trabalhava, Tony não tinha tempo de pensar no que havia acontecido naquela época em que lutara ao lado dos Vingadores. Seu cérebro era preenchido com cálculos e pensamentos concretos. Soluções fáceis, respostas ágeis. Tudo aquilo era tranquilo para ele.

Mas agora não. Naquele momento, o que preenchia seus pensamentos se relacionava a extraterrestres, buraco negro, outros mundos, máquinas estranhas atirando lasers de diversas cores. Tudo aquilo que contribuía para que o coração dele acelerasse, e os sintomas da crise de pânico aparecessem.

Levantou-se da cama, indo em direção à varanda e olhando a cidade de Nova Iorque de uma altura que apenas a Torre Stark poderia proporcionar. Segurou-se com força no parapeito, os nós das mãos ficando brancos tamanha a força com que segurava a barra de metal. Seu coração parecia querer sair do peito, estilhaçar o reator e finalmente se libertar. Tony sentia as palmas das mãos úmidas de suor, e o mesmo descia pelo rosto. A visão começava a ficar turva, e o enjoo insuportável o deixava tonto.

Conseguia lidar com bandidos daquele mundo, com vilões humanos, com terroristas. Mas com aquilo... a vida não lhe preparara para aquilo.

Tentou não fechar os olhos, sabendo que se o fizesse, as cenas horríveis daquela batalha em Nova Iorque voltariam à sua mente. Mas era inevitável.

Uma risada. Uma risada maldosa e arrastada. Entrou em sua mente e permaneceu ali por breves segundos. Um tempo mínimo, mas o suficiente para deixá-lo ainda mais atordoado.

Conhecia aquela risada. E o dono dela havia visitado seus pesadelos em algumas noites, para depois sumir de sua mente como uma nuvem some do céu em um dia de ventania. Mas ele não estava mais ali, fora levado para outro planeta, longe de onde Tony estava. E permanecia cativo.

Pensar nisso apenas fez com que ele tivesse a certeza de que estava tendo alguma alucinação.

- Tony?

A voz feminina chegou aos seus ouvidos como um bálsamo, apagando de vez os zunidos que estavam dentro de sua mente. Ele não respondeu ao chamado, e logo depois uma mão leve e quente pousou com delicadeza no ombro dele, obrigando-o a se acalmar. Fechou os olhos e engoliu em seco, respirando fundo para depois virar-se para a dona da voz.

- Você está bem?

A resposta era óbvia, e por isso Pepper não a esperou. Apenas sorriu minimamente em conforto, puxando levemente o ombro do moreno para que ele entrasse novamente para o quarto. Tony obedeceu quase de forma automática, confiando na decisão da mulher. Sabia que ela sempre prezava o seu bem, e quando sentou-se no sofá que ficava ali perto, sentiu-se mais calmo.

Ficaram em silêncio por algum tempo, até Pepper achar seguro começar uma conversa.

- Está sentindo novamente?

Ela perguntou com delicadeza. Ele olhou-a por breves segundos, mas depois seus olhos focaram-se novamente no tapete do chão. Não conseguia entender como ela captava tudo o que estava acontecendo com ele apenas o observando. Ele nunca lhe dissera o tanto que a operação Vingadores havia o afetado, assim como lutar contra seres de outro mundo. Mas ela não precisava de provas tão concretas para tirar sua própria conclusão.

Então Tony apenas gesticulou afirmativamente com a cabeça e pousou-a no encosto do sofá, olhando evasivamente o teto.

- Não sei o que está acontecendo comigo, Pepper. É inevitável.

O gênio, bilionário e filantropo estava sem saída. Nenhuma armadura de ferro, nenhum cheque valioso ou criação grandiosa poderia tirar aquela insegurança de dentro de Tony Stark, e pela primeira vez se sentindo assim, ele estava perdido.

- Você precisa de um descanso. – ao ver como Tony a fitara, completou. – Um real descanso.

- O que você quer dizer com isso?

Pepper deu um sorriso confortador quando percebeu como Tony era desconfiado. Colocou a mão sobre a dele, sentindo a mão do homem um pouco trêmula devido à crise de pânico que passava aos poucos.

- Acho que você precisa se afastar. De tudo.

- Quando você diz de tudo...

- Refiro-me até de mim.


O lugar era bonito, disso ele não tinha dúvidas. Quando pensara em se afastar, sua primeira vontade fora um local ermo, talvez uma praia ou uma ilha deserta. Mas ele descartou aquela ideia rapidamente, pensando que não seria interessante e nem inteligente ficar em um local completamente desabitado.

Estava ficando paranoico.

E por causa disso escolhera ali. La Parva. Um lugar totalmente coberto de neve, isolado de onde ele morava, mas com um número satisfatório de pessoas ao redor. Não era época das férias, então os hotéis estavam calmos e as estações de esquis estavam praticamente vazias naquela parte da tarde. Era proibido começar a esquiar no crepúsculo do dia, por motivos óbvios. Ele não tivera dificuldade em reservar uma suíte para ele.

Agora, sentindo-se mais confortável dentro do quarto aquecido, seus olhos observavam com cuidado as nuances que a neve fazia ao entrar em contato com certos objetos. Os pequenos flocos caíam insistentemente, deixando a janela da sua suíte molhada.

O quarto tinha cheiro de madeira. Ele sabia que era algo comum, os quartos terem móveis mais rústicos, mas não era o caso da suíte que ele estava hospedado. Aquela suíte era no estilo clássico de móveis e decoração contemporânea, o cheiro de madeira vinha da grande bancada de bebidas que estava próxima a ele. Tony olhou para as diversas garrafas, sentindo-se imediatamente tentado a experimentar alguma.

Mas e se ele não conseguisse parar?

Sabia que seu psicológico estava abalado, mas também sabia que ninguém o procuraria ali. Pepper havia dado ordens expressas para que ele levasse apenas um celular que somente ela tinha o número. Ela ligaria apenas se houvesse uma imensa emergência.

Ele não precisava pensar muito para saber que mesmo se ela fosse sequestrada, o celular não iria tocar.

A fragilidade da saúde mental de Tony estava deixando-a inquieta, atingindo-a indiretamente. Afastando-se do mundo onde vivia, ele afastava-se dela também. Ele nunca permitiria que sua mente quebrada machucasse também a mulher que ele amava.

Respirou fundo e decidiu por tomar uma boa dose de uísque.

Sentou-se em frente à lareira com o copo na mão, tomando um longo gole da bebida. O líquido forte desceu pela sua garganta, esquentando-a e relaxando os músculos de Tony no mesmo momento. Ele fechou os olhos, tombando a cabeça no sofá grande de veludo escuro.

Estava em paz.

"Tony Stark..."

Estava?

A voz chegou aos seus ouvidos com a facilidade que a água derrama-se sobre uma superfície lisa. Mas a voz chegou aos seus ouvidos? Ou ela estava em sua própria mente? Tony sentiu-se em alerta no mesmo segundo, arrependendo-se de não estar vestido com a armadura. Mesmo que ela não barrasse seus pensamentos insanos e suas alucinações, ele sempre se sentia mais seguro dentro dela.

Olhou rapidamente a armadura em pé no canto da suíte, pensando se seria prudente colocar seu plano em prática. Mas depois de algum tempo, percebeu o silêncio se instalar novamente no quarto.

Era isso. Uma alucinação. Uma voz conhecida e chata que sempre visitava seus pensamentos quando ele se sentia inseguro. Tirava sua paz, deixava-o paranoico, e depois ia embora com a mesma rapidez com que chegara.

Ele se sentiu tolo. Piscou algumas vezes e voltou a tomar um gole de sua bebida. Um gole dessa vez mais generoso.

Uma risada. Uma risada maléfica e arrastada. Tomou conta da suíte de uma forma incomum, e pela primeira vez, Tony teve certeza de que não estava alucinando.

Levantou-se na velocidade de um lince, colocando o copo na mesa de centro e olhando significamente para a armadura. Deu um passo em direção a ela.

- Eu não faria isso se fosse você.

A voz dessa vez o atingiu como um golpe físico. Estava tão perto e cristalina, que Tony assustou-se quando percebeu que o dono da voz realmente estava presente no quarto. Parou de chofre, olhando-o com fúria.

- O que você está fazendo aqui?

Era a pergunta mais estúpida que ele poderia fazer no momento, mas sua boca abriu-se e a fez do mesmo jeito, de uma forma que ele não conseguiria se conter, mesmo se quisesse.

O homem que o fitava sorriu, um sorriso quase felino, o mesmo sorriso debochado que ele lhe dera tantas vezes, anos atrás, em Nova Iorque.

- Isso é maneira de me desejar boa noite?

Tony não sabia o motivo de Loki estar ali, nem como aquele maldito descobrira onde ele estava, o exato hotel, e o exato quarto. Mas não perdeu seu tempo perguntando. Sabia do poder do Deus da Trapaça, e sabia que se ele realmente quisesse encontrá-lo, não iria ter muitas dificuldades.

Mas por que logo ele?

- Você não merece um boa noite.

O sorriso de Loki foi o mesmo. Aproximou-se um pouco de Tony, ficando totalmente visível pela primeira vez. A luz que emanava do fogo da lareira bateu diretamente no rosto fino do homem, deixando-o com uma aparência fantasmagórica. Seus olhos azuis estavam com um brilho confuso, um brilho que Tony não conseguia distinguir a origem nem o motivo. De qualquer maneira, quando os olhos daquele homem brilhavam, nunca era por uma boa causa.

- Eu vou ignorar as suas péssimas maneiras.

Loki sentiu-se à vontade no mesmo momento naquele quarto. Por mais que estivesse acostumado com o frio, nunca era algo confortável andar pela neve, principalmente se ela encharcasse a sua roupa.

Tony percebeu que ele estava com roupas comuns, e não com aquele uniforme ridículo de borracha verde e preto. Vestia uma calça social negra e sapatos também sociais que brilhavam de tão limpos. Estava com um sobretudo da mesma cor e um cachecol verde escuro enrolado no pescoço. Ele apontou levemente para o sofá.

- Posso?

Esperou pacientemente Tony responder, e como se não tivesse saída, ele gesticulou afirmativamente para que o deus se sentasse. Loki retirou o sobretudo primeiro, jogando-o no sofá. Tony percebeu que ele estava vestido com um terno de alta costura. Negro. Tudo em Loki era negro.

O Deus da Trapaça sentou-se confortavelmente no sofá, olhando para Tony com visível interesse. Os olhos azuis brigaram por alguns segundos com os olhos castanhos, até Loki gesticular enquanto dizia o motivo por estar ali.

- Venho lhe observando por algumas semanas, Tony.

O primeiro nome do Homem de Ferro, dito com tamanha casualidade pelo seu inimigo, causou uma estranheza na conversa, mas Tony não ousou interferir, até que percebeu o que realmente Loki disse.

- Como? Você esteve me espionando?

- Observando.

Loki corrigiu, sorrindo de forma jocosa para o homem. Tony fechou a fisionomia no mesmo momento, seu cérebro fazendo uma contagem mental de quantas noites perdeu por causa dos pesadelos com aquele homem que estava a sua frente, quantas vezes perdeu o rumo de uma conversa ao escutar a voz de Loki, e quantos dias isso vinha acontecendo.

A fúria foi inevitável.

- Era você? - ele perguntou, sentindo seu corpo tremer de raiva. Começou a andar de um lado para o outro. – Era você na minha cabeça? Eu não estava sonhando?

- Você estava sonhando, Tony.

Ele ficou um pouco confuso com a afirmação de Loki, até mesmo aliviado. Parou de circular pela sala da suíte de forma desgovernada e passou as mãos pelo rosto.

- Isso não quer dizer que eu não estava no sonho.

A voz de Loki chegou gelada aos ouvidos dele e Tony olhou-o com fúria. Sua vontade era entrar na armadura e jogar aquele homem pela janela, do mesmo jeito que ele fizera consigo em Nova Iorque, na sua própria torre. Mesmo sabendo que ele não sofreria muito dano, para não dizer nenhum.

Depois Tony percebeu que não fizera as perguntas principais.

- Como me encontrou? Por que andou me observando? Não era para você estar preso? O que faz aqui?

- Senti saudade.

Ele respondeu apenas a última pergunta, e a resposta desnorteou completamente o rumo dos pensamentos de Tony. Ele emudeceu como se tivesse recebido um comando de controle remoto, para depois franzir o cenho e olhar de forma hostil para o homem sentado no sofá.

- Como?

Loki sorriu levemente, pegando o corpo de uísque que o outro havia colocado na mesa. Tomou um longo gole e arqueou as sobrancelhas em um gesto de apreciação. Esperou alguns segundos para responder.

- Senti saudade de Midgard. Não do planeta em si, mas do que ele pode me proporcionar.

O sexto sentido de Tony o alertou no mesmo momento, aquela sensação estranha de que algo estava errado percorrendo o seu corpo. Ele conseguira captar a real mensagem de Loki naquela frase. Olhou-o com atenção.

- Desista, Loki. Fury tem um olho sobre você. Literalmente.

O sorriso do moreno dessa vez foi mais espontâneo.

- Todos têm. Até mesmo meu irmão.

Tony olhou tolamente para cima, como se Thor estivesse observando os dois, sentado em cima de uma nuvem.

- Então vá embora.

- Não posso. – olhou seriamente para Tony. – Ainda tenho um objetivo aqui.

Então de repente tudo voltou. Sentiu a leve palpitação começar a tomar conta do seu peito. Os sentidos de Tony Stark ficaram em alerta. O que Loki pretendia ali? Enfiar novamente aquele exército extraterrestre na Terra? Praticamente obrigá-lo a lutar com máquinas estranhas? Obrigá-lo a tomar decisões que mudariam sua vida? Seu psicológico?

A sensação estranha de estar sendo puxado para um buraco negro voltou. Os olhos capturaram com facilidade aquele emaranhado de estrelas e máquinas que ele conseguira observar nos poucos segundos em que ficara acordado depois de ir para outra dimensão. A falta de ar, o clarão quando a bomba estourou, a ligação para Pepper...

O coração acelerado era a menor das sensações. O que realmente o incomodava era a falta de ar, uma sensação tão parecida com a que ele teve quando se enfiou naquele portal para salvar milhares de pessoas em Nova Iorque.

Tony cambaleou, esquecendo-se completamente da presença de Loki. Com passos trôpegos e ao mesmo tempo desesperados, caminhou em direção à varanda, abrindo as portas de vidro e saindo na noite fria. A neve bateu em seu rosto, molhando-o com facilidade. Ele puxou o ar com força, tentando por meio disso fazer a crise de pânico parar.

- Não vai parar enquanto você não organizar seus pensamentos.

A voz de Loki apenas fez com que a sensação piorasse. Aquela maldita voz, que tinha o poder de fazê-lo se lembrar de tudo o que ocorrera naquela época. Ele colocou as mãos no parapeito da varanda, sentindo sua roupa começar a molhar e seu corpo protestar pelo frio.

- Saia daqui.

Falou em um tom ressentido e furioso. Mas Loki não saiu, pelo contrário, aproximou-se mais de Tony, que se virou para o deus com raiva. Mas ele não estava preparado para o que Loki faria naquele momento. O moreno estendeu o braço em sua direção, pousando sua mão enorme no reator de Tony. Os dedos ficaram mais claros por causa do brilho azul do aparelho. Tony quase o empurrou, mas percebeu uma sensação estranha e gelada percorrer a sua pele, tomando o seu peito e passando pelos braços.

O coração começou a desacelerar, o pulmão a expandir, deixando o oxigênio tomá-lo e melhorando o seu senso de raciocínio. Ficou mais calmo depois de alguns segundos, para depois olhar a mão de Loki emanando um brilho verde incomum.

Ele retirou a mão dali, pousando o braço ao lado do corpo e olhando intensamente para o Homem de Ferro. Tony respirou fundo de alívio ao perceber que seu corpo estava no seu estado normal, apenas seu pensamento estava um pouco confuso.

Por que Loki fizera aquilo?

Olhou para ele, fitando quase com paciência e gratidão o que ele havia feito. Loki sorriu maliciosamente, um brilho diferente tomando as orbes claras que ele possuía. Ele aproximou a sua mão novamente do reator de Tony, tocando-o com leveza com o dedo indicador.

- E então? – esperou Tony olhá-lo. – Agora podemos conversar?