Uma aposta...
No começo do assunto garotas, Harry e Rony haviam participado com palpites, estes nunca revelados à mim. Porém, quando Simas e Dino resolveram medir quem era o melhor, os dois saíram imediatamente da conversa, mas por serem tímidos do que qualquer outra coisa. Afinal, o que eles poderiam dizer num debate daqueles? Eu sou o melhor, beijei uma garota? Acho que não...
- Só há uma maneira de provar. - disse Dino, erguendo uma sobrancelha de modo confiante. - Vamos apostar, eu e você. Quem consegue conquistar uma garota primeiro, topa? Mas não pode ser apenas um beijo, estou me referindo à paixão.
Um dedo duro...
- Ontem à noite, Dino propôs uma aposta insana depois que vocês saíram do salão comunal e agora Rony quer tentar conquistar Hermione para ganhar a aposta.
Meus neurônios, um tanto afetados por meu estado de torpor, levaram um certo tempo até associar todas àquelas letras e transforma-las em palavras.
- Aposta? Rony? Mas o que...? – parei, respirei fundo e voltei a tentar juntar as sílabas e formar uma frase que fizesse sentido. – Por que está me dizendo isso?
- Porque... – ele abriu e fechou a boca várias vezes, procurando em seu cérebro a resposta. Lembrava vagamente um peixe. – Não sei.
Um contra-ataque...
- E o que você sugere?
- Primeiro, pararmos de brigar por idiotices. Estamos parecendo você e meu irmão! – ela tentou disfarçar, mas uma coloração avermelhada que não estava há dois segundos preenchia parte de sua face. – Segundo, que tal uma aposta?
Toda e qualquer coloração que ela tivesse na face sumiu diante da pronuncia da última palavra. Até a entendo, não é nosso feitio, sabe? Mas e daí, precisava daquele drama todo? Ela estava pálida, com a boca entreaberta e a garrafa de cerveja amanteigada há meio centímetro da boca. Patético era a palavra para o momento.
Inocentes sacrificados...
- Tudo bem, sua vítima é o Rony.
Sabe aquelas cenas que você tem a leve impressão que já viu? Como é mesmo o nome, dèjá vu? Hermione voltou a abrir, fechar, abrir, fechar e abrir de novo a boca. Os olhos não estavam mais cerrados, mas sim arregalados em uma expressão de puro espanto. A testa não estava mais enrugada, estava totalmente esticada por causa do susto e ela piscava mais do que o necessário. Então, de repente, ela parou. Pareceu pensar por alguns segundos e então um sorriso vitorioso transpassou seus lábios.
- Tudo bem, e a sua é o Harry.
Choque. Espanto. Surpresa. Como, assim do nada, a situação se reverteu? Quando foi que Hermione era a pessoa com a expressão vitoriosa e eu que abria, fechava, abria, fechava e voltava a abrir a boca, com os olhos arregalados e piscando desnecessariamente a cada meio segundo?
E muita...
Ótimo, meu dia estava perfeito. Meu melhor amigo havia desaparecido, minha irmã, idem e eu teria que enganar minha melhor amiga e tentar conquista-la em menos de quatro dias ou então me declarar pra alguém na frente do colégio todo – o que não é uma alternativa tentadora, se você quer saber. Tudo isso só porque eu queria ajudar minha amiga a se livrar daquela maldita aposta!
Claro, ajudar. – cutucou a vozinha irritante na minha cabeça, que despertava nas horas mais incomodas possíveis.
- É, ajudar! – gritei pro nada.
Senti minhas orelhas esquentarem instantaneamente ao notar que havia gritado para minha própria cabeça, ainda que estivesse grato pelo fato de só ter eu, Kate e Hagrid no salão.
Ajudar, né?
Muita...
Era totalmente estranho pegar uma daquelas carruagens negras conduzidas por animais invisíveis sem Harry para dizer onde estavam ou Hermione dando um discurso de sabe-tudo. De qualquer forma, não queria pensar em Hermione. Ou talvez eu pudesse encurralá-la em Hogsmead – não é do modo com estão pensando! -, contar-lhe a verdade e pedir que finja estar apaixonada por mim. É, brilhante!
Claro, depois a professora McGonagall vai anunciar Neville como melhor transformista do século, ganhando méritos acima do próprio Dumbledore!
- Ah, cala a boca!
Confusão.
- E não é? – disse Lilá, balançando a cabeça de um modo estranho. Um pensamento inevitável de que ela se assemelhava a uma vespa invadiu minha mente naquele momento e tive que me segurar para não rir. O resto da frase dela, porém, afastou qualquer pensamento engraçado. – Em pensar que se não fosse aquela aposta dos garotos o casal vinte ainda estaria brigando por aí.
Plaft. Eu ainda não sei como todo mundo não olhou para mim naquela hora. Aquilo tinha sido um grande, audível e doloroso...
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...tapa na cara. Kate não parecia ter feito por mal, estava tão desligada desde o início das férias de Natal que não havia notado qualquer coisa ao seu redor. Ela falara tudo aquilo, toda aquela revelação de um modo calmo, como se achasse graça da aposta estúpida que duas garotas haviam feito três dias atrás. Mas veja bem, eu não estou rindo! Não há sequer um vestígio de graça na minha expressão. Ahá, Sras. e Srs., o tapado do ano! O patinho que caiu e muito feio...
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...na lábia do maldito lobo mal! Eu sou uma idiota mesmo. Como, eu me pergunto como, fui ser tão estúpida. E sabe o que é pior em tudo isso? Ao mesmo tempo que eu estou com uma imensa, tremenda e absurda raiva, uma voz muito chata chamada consciência me lembra que eu fiz...
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...exatamente a mesma coisa. Confuso?
You were everything, everything that I wanted
We were meant to be, supposed to be
Como ganhar uma aposta em quatro dias
Julho de 2006
