Fechei os olhos me concentrando na musica, ignorando completamente a explicação inútil do professor de porque era importante a gente prestar atenção no que ele estava falando. Faltam apenas algumas semanas para o fim das aulas, e então eu estarei completamente livre para ficar o dia inteiro na praia paquerando os surfistas.

- O que é? – eu praticamente gritei quando senti uma mãe pesada no meu ombro, me tirando do meu transe.

- Você definitivamente deveria escutar suas músicas na diretoria, e não em minhas aulas Senhora Swan. – disse o professor Vinicius. Deveria ser no mínimo a 13ª vez que ele me mandava para diretoria por estar escutando musica em suas aulas. Revirei os olhos e me levantei, caminhando preguiçosamente ate a diretoria antes que ele completasse meu castigo.- E pode deixar se aparelho ultra-moderno no minha mesa.

- Se chama Ipod... – porque eu não posso ficar calada? PORQUE?!

- Então não espere ver o seu ipod novamente.

-Oi Carlos. - até tentei pensar em uma desculpa plausível mas era inútil tentar inventar mais uma desculpa para meu mau comportamento.

- Isabela? O que você fez dessa vez? Aula de química de novo?- ele disse tirando os óculos.

- Sim o Vini não gosta muito do meu "aparelho ultra moderno." – eu disse fazendo aspas no ar.

- Se o professor Vinicius escuta você chamando ele assim você vai acabar levando mais uma ocorrência.

-Qual é Carlos! Quebra meu galho! Se eu apareço com ocorrência lá em casa você sabe que minha mãe me mata!

- Ai Bela...o que eu faço com você? – Isso! Ele esta me chamando de Bela! Isso significa que eu domei a fera pelo menos um pouco!- Só..faça os exercícios que o Vini, que dizer Vinicius, te mandar fazer e por favor não se meta em encrenca mais! Não é porque sou seu padrasto que você vai se livrar de tudo!

Sorri e corri para a biblioteca antes que ele mudasse de idéia, onde esperei ate o fim da aula. Encontrei com o Vini na porta e ele me entregou o meu ipod, o que ele fez com um ódio palpável por causa do meu sorriso por não ter levado nenhuma ocorrência.

Escutei o Cd novo da Lady gaga inteiro no caminho de casa, irritada porque minha carona foi para casa sem mim. Minha mãe ainda não tinha chegado do trabalho e a casa parecia muito vazia sem ela. Carlos ainda iria demorar no mínimo mais duas horas para chegar.

- Quer passear Jerônimo?- perguntei para meu cachorro que me deu como resposta uma lambida na cara. Ele pegou a coleira e sai me arrastando para a porta. – Acho que isso é um sim!

A noite estava linda, toda estrelada, mas ainda estava muito quente então fui para a praia (uma das vantagens de morar em Guarapari é ter a praia para aliviar as tenções). Ficamos andando na areia por muito tempo ate que eu resolvi me sentar na areia um pouco.

-Que cachorro lindo. É seu?

- Si..sim...- demorei um tempo para conseguir me concentrar e parar de olhar para o tanquinho daquele deus grego sem camisa que tinha aparecido do nada do meu lado. Eu parecia uma demente falando e contando os quadradinhos no seu abdômen. – Obrigada.- Seus olhos castanhos tinham me deixado completamente boba e depois que eu sai do transe de seus quadradinhos a situação só piorou quando eu comecei a olhar para aquele rosto de anjo dele.

- Qual o nome dele?

- Jerônimo.

- Eu gosto desse nome! – Até a risada dele é perfeita!

- Você..é novo aqui? Nunca te vi na praia.

- Não, eu...acabei de me mudar.- opa! Senti uma frieza na voz do gatinho.

- Hum..suas aulas acabaram ou você vai terminar o ano aqui?

- Minhas aulas acabaram...e as suas? Ainda não?

- Já sim...Em que ano você esta?

- Segundo. – eu não tive tempo de perguntar em que ano o gatinho sem camisa estava porque um jipe veio em alta velocidade pela praia, no volante alguns adolescentes bêbados, que só tiveram tempo de desviar do Jerônimo e virem direto na minha direção. Não sei muito bem o que aconteceu porque fechei os olhos imaginando se a morte doeria muito e, quando os abri novamente, o gatinho da praia esta me segurando no ar em cima do jipe que passava rapidamente em baixo de nós!

Os bêbados continuaram na mesma velocidade, quase batendo quando chegaram na rua, e eu e o gato pousamos levemente no chão. Quer dizer, pousamos levemente e eu o empurrei e cai na areia.

- Você esta bem? – ele perguntou preocupado. Eu não conseguia responder, tudo passava em uma câmera lenta irritante que não me deixava raciocinar. – Acho que você não se machucou. Fale alguma coisa...não fique assustada.

- Não ficar assustada!? O que foi aquilo? O que você é? – agora estava tudo rápido demais e girando. Quando o menino abriu a boca para começar a falar pude ver dois caninos muito afiados e ...eu sai correndo! Eu não pensei duas vezes antes de sair correndo com o Jerônimo, e vou te falar que eu nunca cheguei tão rápido em casa como naquele dia. Nunca senti tanto medo.

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Maldita aula de biologia, maldita professora, maldito sono. Por causa dos acontecimentos de ontem eu não dormi nem um segundo e passara os últimos 10 minutos dês de que cheguei em sala tentando não pensar no que tinha acontecido, mas era impossível. A imagem daquele deus grego me salvando de uma maneira sobrenatural continuava vindo na minha mente. Nunca acreditei em lobisomens, nem em bicho papão e muito menos em vampiros! Nem mesmo quando era criança.

- Bom hoje temos um aluno especial que vai nos unir nessa caminhada final de ultimo ano. – Porque professores tem a mania de chamar um espaço de tempo estudando no colégio uma "caminhada"? Que coisa idiota. – Dêem boas vindas ao novo aluno. – a turma inteira fez barulho quando o "novo aluno" entrou, me fazendo levantar a cabeça e olhar.

- Oi, meu nome é Edward! Eu tenho 17 anos e acabei de me mudar de São Paulo. – PUTA QUE PARIU.

- Espero que vocês sejam bons para o Edward. – NÃO ACREDITO.

- É o menino da praia. – eu sussurrei baixo o suficiente para que ninguém escutasse. Ele olhou para mim.

- Posso escolher o meu lugar?- ele perguntou ainda olhando para mim.

-Claro Edward!

Edward andou em minha direção sem nem notar os olhares das meninas da sala, loucas para que ele escolhesse sentar perto delas, mas ele se sentou ao meu lado. Demorei uns 5 minutos para criar coragem de abrir o bilhete que ele deixou na minha mesa antes de se sentar, temendo que fosse uma ameaça de morte.

" Sinto muito por ter te assustado ontem, não posso te falar o que sou mas quero que saiba que eu não vou te machucar e espero que você mantenha o que aconteceu em segredo.

Obrigado,

Edward"

A caligrafia perfeita me deixou meio abobada mas por algum motivo que eu desconheço confiei no que estava escrito. Certamente o fato de eu não ter dormido deve ter mexido com a minha sanidade.