Prólogo

Estou surpreso. Meu coração ainda bate, bombardeando o sangue para o resto do corpo. Meus pulmões se enchem e se esvaziam, garantindo alento. Meu corpo permanece incólume, sem ferimentos salientes. E minha vida, acesa como o fogo no pavio de uma vela. Mas preciso ficar esperto, pois o mais suave sopro pode extinguir essa chama.

Caminho a esmo sobre o solo apático de uma floresta enregelada. O ar frio que bate em meu rosto faz meus dentes tiritarem. Inesperadamente, os Idealizadores, talvez por causa do gigantesco banho de sangue logo no início dos Jogos, optaram por baixar a temperatura para não nos matar rapidamente de sede com o calor. Ou talvez simplesmente já queiram brincar conosco logo no começo. Não sei, a adrenalina não me deixa pensar direito.

Arrisco que quase metade dos tributos encontraram a morte próximo a Cornucópia, pelo menos até onde eu vi — acabei me perdendo no número de tiros de canhão. Tudo o que peguei lá foi uma mochila contendo um saco de dormir, uma garrafa e alguns grãos que nem servirão para forrar o estômago. "Pegar apenas o que é preciso", foi o que meu tutor recomendou. Mais alguns segundos naquele lugar e o risco de morte aumentaria exponencialmente. Por sugestão dele ou não, a permanência mais do que necessária na Cornucópia era a pior escolha. Eu sabia disso instintivamente. Não, palavra errada. Intuitivamente seria o mais correto. Na noite anterior, sonhei com os primeiros segundos dos Jogos, uma corrida desenfreada até os melhores suprimentos, corpos ensanguentados desabando no chão, gritos de horror entoados pela morte certa. E assim aconteceu dez horas atrás; a mesma cena, tudo como sonhei. Embora não tenha nenhuma aptidão considerável na Arena, pelo menos, posso contar com um privilégio que nenhum tributo conseguirá receber de um Patrocinador.

Se eu puder prever os passos de meus inimigos, terei alguma chance de vencer?