Categoria: Drama

Shipper: Temari x Shikamaru

OBS: Itálico: lembranças. Normal: narração

Resposta para Ficwriters Society Academy.


Abstração


Ele lhe disse que queria algumas férias. Ela lhe respondeu que em uma vida jounnin era impossível e sinônimo de irresponsabilidade. Assim, ele soltou apenas um murmúrio, daqueles como se estivesse cansado demais para achar um argumento e ela o encarou pelos cantos dos olhos como se estivesse à espera de alguma resposta. Mas ele não rebateu, na realidade nunca rebatia.

A pequena e casual lembrança lhe acometeu ao visualizar pelos cantos dos olhos o corpo jazido em um sono profundo. Os orbes voltaram para frente e debruçou-se sobre a janela, notando que não havia nuvens naquela tarde quase insuportavelmente quente. Os dias em Konoha eram calorentos; não mais que em Suna, claro, na realidade ela não conhecia cidade mais quente do que sua cidade natal.

Suspirou e a transpiração gelada subiu gostosamente. O céu de Konoha era daqueles bem azuis e manchados. Manchado de branco.

- O que você gosta nas nuvens?

- Não sei.

Escutava e virava o corpo, desajeitada; direcionava suas mãos ao seu rosto em uma carícia gentil; então sua reação ao toque – como se fosse imune - abria os olhos e sem mexer nenhum músculo, permanecia deitado, ela sobre e si, e seus olhos negros mirando o céu manchado sem a devida reação de responder à carícia.

Abriu os olhos notando algo de diferente, mas não conseguiu reconhecer. Ignorando voltou-se a ele e ao ver a respiração calma e ritmada não se conteve:

- Agora você está de férias.

Sorriu fracamente, mas não durou muito, voltou-se em uma expressão abatida e sentiu como se o choro coagulasse na garganta. Ele estava em coma.

" – Férias ? Somos ninjas não seja tão desalento e irresponsável"

" Hn.."

"Você ficaria mais tempo aqui, assim...?"

"Problemática... com você.".

"...Talvez eu tire umas."

Sentou-se na cama e segurou sua mão. O branco dos móveis em conjunto com as paredes desbotadas; era curioso observar que tais detalhes caracterizavam o clima insuportavelmente melancólico. Mas é claro que ela não ligava; ela gostava de estar ali mais tempo do que lhe era o permitido, segurando-lhe a mão com tal obstinação que chegava a lhe o aspecto de um alguém interiormente desesperado, porém esperançoso. Ele acordaria... Acordaria.

-Acorde, por favor.

Apertou sua mão sentindo a textura com o toque e lembrou-se de que era muito semelhante às de sua mãe. Os dedos poderiam ser longos e a palma áspero, porém, eram quentes e lhe transmitiam aquela sensação amena e afável.

- Suas mãos são parecidas com a da minha mãe, sabia? Acho que nunca te contei isso... Espero que você possa me ouvir.

- Você precisa falar mais alto para ele poder escutar.

A voz feminina chegou aos seus ouvidos fazendo com que olhasse para a entrada do quarto de hospital. Perguntou-se primeiramente como não escutara a porta ser aberta e depois lhe deu uma resposta.

- Talvez.

A resposta fez com que a médica-nin a fitasse com uma expressão indecifrável, algo entre pena e preocupação. Deixou a prancheta sobre a cama branquíssima e prosseguiu até o moreno, o analisando.

Enquanto isso Temari seguiu para a janela como se aproximação de Sakura fosse sinônimo de notícias ruins. As mãos maltratadas foram até os cabelos quando a voz da kunoichi soou, fazendo com que as pupilas de Temari se dilatassem.

- Nenhuma mudança.

Os orbes de Temari voltaram ao normal e seus lábios abriram para dizer alguma coisa, mas nada saiu. Sakura mexeu-se levemente incomodada e logo após um suspiro continuou:

- A Tsunade-sama, pediu para avisá-la que seu irmão solicitou seu retorno.

As mãos pousaram sobre o ar e caíram lentamente. E seus olhos ficaram opacos como se não tivessem vida.

"Estou há muito tempo em Konoha, voltarei amanhã"

"Você está somente há duas semanas fora…"

"…"

"Hn… quando voltará?"

"Arranjarei uma desculpa."

Piscou; deu meia volta e voltou bruscamente à posição inicial em frente à janela. Finalmente a solicitação havia chegado.

- Eu… - tentou, mas a voz falhou – Partirei no final do dia. – respondeu seca sem encará-la e logo em seguida pôde apenas escutar os passos sumirem além da porta.

Parada, levou as mãos em forma de concha até o rosto, controlando-se para não chorar. Não muito tempo depois, fungou forte e foi até ele.

- Arranjarei… Uma desculpa para voltar.

Sua voz saiu desajeitada e com uma estranha dificuldade.Fechou os olhos e respirou profundamente segurando-lhe a mão enquanto as lágrimas se acumulavam nas pestanas.

Era por último o encontro das mãos em um cumprimento formal, depois se dirigia ao público indesejado e se despedia também. E este, ao acompanhá-la até os portões, lançava o último olhar e ela, mesmo dali, podia perceber que seus braços se contorciam ao colocar as mãos dentro do bolso e os lábios, como sempre, ressecados, se comprimiam.

"Até mais"

"Arranje uma desculpa."

A voz não suplicava nem lhe dava a expressão de um devido favor, era arrastada, simples, quase indiferente.

"Arranjarei… Quem sabe umas férias."

Ela então ria e partia.

E simples assim, antes que a primeira lágrima ousasse cair, largou sua mão e partiu. Não muitos minutos ou segundos depois, os dedos longos se movimentaram lentamente e depois... desabaram inertes.


Espero que alguem tenha entendido esse final e que esse titulo não tenha ficado tão ruim como eu achei – fiquei meia hora trás de titulo menos clichê que 'Recordação' . Mas em fim , essa foi a fic mais rápida e delicada com que eu lidei. Ela é simples, simples até demais, e apesar desse final um tanto ... tomei um carinho muito especial.

Espero que seja digna do 2º esquadrão , do contrário eu ainda posso ser aluna da Sabaku no Y :D.

Espero que tenham gostado.

Beijos de Açúcar.

26/08/2008