Quando tudo no universo entra em um tipo de conspiração para dar profundamente errado, sempre existe algo para piorar a situação.

O mormaço ridiculamente quente de fim de tarde adornava uma estrada situada nos arredores de pequenas cidades de interior, e nenhuma alma aparentava querer lidar com o calor intenso do local.

- Droga. – Katy chutou a roda dianteira de sua range rover, tossindo com a fumaça densa e preta que saia de seu carburador.

Ela não entendia de carros, e nem sequer sabia o que era um carburador.

Sem sucesso ela tentava discar o número de Tamra, e rangia os dentes nervosa toda vez que o fazia.

Tudo isto devia-se á sua grande teimosia e ao seu grande temperamento narcisista. Depois de uma estressante noite cercada de paparazzis e tabloides, ela decidira que não pegaria um avião em sua viagem para o Canadá, seus instintos diziam que seria melhor se ela dirigisse sozinha por todo o caminho.

E eles estavam completamente errados.

O resultado de sua pequena rebeldia em plenos vinte oito anos era: um carro quebrado, uma estrada vazia e um celular sem sinal.

Katy começava a ter um súbito ataque de desespero e o calor de trinta e dois graus que permanecia inabalável mesmo no fim de tarde, definitivamente não a ajudava a pensar. Ela acabara de repousar a cabeça no capô fumacento do carro, quando o barulho estridente de uma caranga antiquada a fez pular de surpresa.

Ali estava a sua salvação.

- Você precisa de ajuda? – Uma cabeça loira e feminina surgiu da janela do motorista e berrou em meio ao country meloso vindo do rádio.

- Por favor! – Ela suplicou se aproximando.

- Entre, vamos ver se alguém da cidade consegue rebocá-lo. – A loira destravou a porta do passageiro. – Mas acho que você vai precisar de uma muda de roupas.

Rapidamente, Katy tratou de agarrar uma de suas malas e trancou as portas de seu carro. Pegar carona com uma completa desconhecida não era a atitude mais sã a se tomar, mas ela não aguentaria passar mais nenhum segundo fritando os próprios neurônios em meio á estrada.

- Obrigada! – Disse ela afivelando o cinto e dando um sorriso amigável.

- Eu sou Judith. Mas você pode me chamar de Judy.

- Katy. – Ela respondeu, observando Judy dar a partida três vezes seguidas até o carro finalmente ligar.

O carro era um Chevy Caprice mil novecentos e oitenta azul escuro, que parecia cair aos pedaços cada vez que era usado, mas aquela era a última hora para se reclamar.

- Então… De onde você é? – Judy perguntou quebrando o silêncio.

- Santa Barbara. Bem, lá é apenas a minha cidade natal, eu moro em Los Angeles para falar a verdade.

- Ohh longa viagem… Mas para onde você iria por esta estrada?

- Saskatchewan.

- Eu conheço algumas pessoas que vivem por ali, é a sua primeira viagem?

- Não, eu já estive no Canadá muitas outras vezes… – Katy encarou o painel do carro repleto de enfeites cor-de-rosa e fitas de Kenny Chesney – Sem querer ser rude, mas que droga de lugar é este em que nós estamos?

- Você está em Bozeman, Montana docinho. Nunca esteve aqui?

- Nunca.

- Eu não posso te dizer ao certo, mas avaliando o tanto de fumaça que a sua máquina fabricou, posso afirmar você não vai passar só um dia aqui.

- Você entende de carros?

- Nascida e criada em uma oficina mecânica. – Falou Judy em um tom orgulhoso – Mas o meu irmão é quem vai rebocar e analisar sua carruagem.

Caipira.

Fora uma distância razoável desde a catástrofe com o carro até Bozeman, e obviamente ela não havia sido percorrida em silêncio.

A cidade parecia uma versão moderna de todos os filmes de bang bang criados, não era difícil localizar pessoas com chapéus e botas, e os bares pareciam se abarrotar de gente a cada segundo que se passava.

Judy e Katy desceram do carro e atravessaram a rua em meio a muitos cumprimentos, que obviamente não eram direcionados á morena.

Era estranho estar em uma cidade, onde não se apontavam flashes em seu rosto como se fossem armas. Para falar a verdade, em Bozeman as pessoas carregavam armas de verdade.

O calor ainda era intenso no começo da noite, e os cabelos de Katy grudavam insistentemente em seu rosto devido ao suor incessante de seu corpo.

A oficina da família de Judy era gigantesca, e toda a decoração parecia ter sido roubada do primeiro filme de Grease.

- Você precisa de alguma coisa? – Surgindo de baixo de um dos carros, um rapaz alto de pele abaçanada começou a conversar com Katheryn – Um copo d'água? Um copo de cerveja? Um banho? Um banho comigo? – Ele riu.

- Eu ficaria bem só um copo d'água, obrigada. – Ela respondeu franzindo o cenho.

- Ora Ethan deixe a moça em paz. – A loura ralhou com o telefone no ouvido.

Ethan tratou de trazer um copo gigantesco de água gelada, e Katy o tomou como se aquilo fosse uma poção de orgasmo líquida.

- Então você gostou da minha água? Foi bom pra você? – Disse ele limpando as mãos em um pano amarelo mostarda.

- Ethan! – Judy retrucou irritada – O que nós conversamos sobre isto?

- Está tudo bem Judy. – Katy deu de ombros.

- Me desculpe. – Ethan disse cabisbaixo. – É que não é todo dia que nós temos garotas tão bonitas em Bozeman. Á propósito, tenho a impressão de que te conheço de algum lugar…

- Muita gente tem esta impressão. Você provavelmente deve conhecer, mas prefiro fazer com que você nunca descubra. – Ela piscou.

- Ah meu Deus. – Ele gemeu fazendo Katy rir – Você não pode fazer isto com um cara em seus plenos quatorze anos.

- Quatorze? – Katy indagou assustada - O que a sua mãe serve em seu café da manhã?

- Amor. E bacon.

Ethan aparentava medir mais de dois metros, e seus músculos não eram bem um encaixe para a sua idade.

- Docinho, o reboque só vai poder buscar sua range de manhã… – Judy os interrompeu - Você pode ser a minha hóspede se quiser.

- Acho que não tenho escolha. – Ela respondeu tentando não parecer grosseira. – Obrigada pela hospitalidade.

- O prazer é todo meu.

A casa de Judy era a típica casa de um habitante do interior, móveis em mogno, milhares de pratos de porcelana, fotos em preto e branco desgastadas pela parede, um velho piano e um sofá de couro em uma cor brega revestido de plástico transparente.

- Você mora sozinha? – Katy perguntou deixando a mala no chão para fechar a porta.

- Tecnicamente. Moramos eu e meu gato, Dracula.

Duplamente caipira.

- Oh eu adoro gatos, eu inclusive tenho duas.

- Isto é ótimo! Você e Dracula vão se dar muito bem.

Eles não iriam. Dracula era o típico animal de estimação insuportável, mimado e substituto de um filho que não se permitia ser amigável com ninguém, nem mesmo com seu próprio dono.

Exausta, Katy subiu para o quarto de hóspedes e tomou uma das melhores duchas de sua vida. Uma das características de todo o estado de Montana era a pressão impecável e maravilhosa da água. Ainda fazia um calor insuportável para vestir algum tipo de roupa, então quase que sem escolha ela se deitou apenas trajando uma lingerie.

Mal sabia ela, mas não seria preciso apenas um dia em Bozeman para que seus problemas fossem resolvidos.