For all of the plans we've made.

Eu tinha o costume de observá-la.

Era surpreendente que eu, aquele que sempre dizia e fazia as coisas sem pensar, pudesse me tornar tão contemplativo de algo – de alguém – daquela maneira.

Mas eu mudara. Todos nós havíamos mudado.

Por vezes, eu a encontrava parada em frente à janela do nosso quarto. Os dedos de sua mão tocavam suavemente o vidro, enquanto a outra estava repousada no ventre. Eu via o deslumbre de uma lágrima percorrer sua bochecha pálida, mas ela a enxugava com as costas da mão e sorria para mim.

Entenda-me bem, Lily não possuía o costume de chorar em frente a outras pessoas ou de demonstrar as suas fraquezas tão claramente. Um dia, quando retornei de uma missão da Ordem — à qual ela, impressionantemente, não quis comparecer — e a chamei, ela se virou para mim com os olhos verdes mais brilhantes e úmidos do que eu jamais vira.

"O que está acontecendo?" eu a indagara, mas não obtivera resposta. Lily quebrara toda a distância que existia entre nós, abraçando-me e afundando o rosto em meu peito.

Ela chorara e soluçara miseravelmente. Quando pareceu se acalmar, levantou a cabeça para olhar-me nos olhos. Naquele instante, ela me confidenciara que estava grávida.

Após aquele dia, todas as vezes que a via olhando a janela mais uma vez, sabia que Lily estava imaginando um mundo melhor — um lugar onde não houvesse guerra e onde nós pudéssemos criar nosso filho em paz. Como uma verdadeira família.

Mas havia a guerra. E havíamos nós três.

A guerra não estava apenas do lado de fora. Não, muito mais do que isso: ela invadira as nossas vidas de maneira irreversível. Por mais que trancássemos todas as portas e janelas, ela sempre conseguia passar através de alguma aresta, explorando todas as nossas fraquezas e nos tornando eternos fugitivos.

"Tudo ficará bem," eu quebrava o silêncio de nossas tardes juntos. Lily me encarava com o olhar de quem gostaria de acreditar. Meu otimismo não era mais o suficiente.

E existiam os choros pela madrugada, os olhares inocentes, as risadas dóceis. Existia um pequeno momento de paz em meio a tanta destruição, enquanto o ar se tornava cada vez mais denso e, o desespero, mais palpável.

Mas nós estávamos juntos, e lutaríamos por isso até o fim. Deveria ser o suficiente.

E foi.


N/A: A história foi escrita para o 59° Challenge Relâmpago do 6v. E os meus agradecimentos à Mari, por ter betado. (L)