Capítulo 1 – Atlantic Standart Time
"Eu quero que você ame esse som
Por que eu amo esse som"
Foram meses de preparação, meses de conversa e convencimento, mas Molly Weasley continuava sem se conformar com o fato que de sua menininha – sua bebê, sua caçula, sua princesinha – estaria fora por tanto tempo, passando por tantos perigos. Ginny ainda era muito menina, claro, e tão inocente quanto a guerra tinha permitido, não tinha a menor idéia dos riscos que corria com essa decisão de viajar.
Nada era o mesmo n'A Toca depois da guerra. Tinha se tornado a moradia oficial de Harry Potter – com todo o assédio que isso significava, e, por conseqüência, ganho um elfo-doméstico para auxiliar Molly com as tarefas domésticas. O menino que sobreviveu ficara permanentemente no quarto que fora dos gêmeos, por que George resolvera continuar morando em cima da loja, mesmo sozinho. Aquilo a preocupara mais do que qualquer coisa, seu filho já não era mais o mesmo. No fundo, sabia que ele jamais se recuperaria da morte de Fred – como ela mesma jamais se recuperaria de perder um filho tão cedo. Percy, Deus o abençoe, visitava o irmão todos os dias, talvez se sentindo culpado por ter estado lá quando o gêmeo não estivera.
Enquanto isso, Kingsley tinha acertado as coisas para que Harry, Ron e Hermione pudessem recuperar o ano perdido em tempo recorde. Todo o ano letivo fora cancelado, causando uma imensa confusão nos horários, mas o Trio de Ouro tinha sido aconselhado a estudar por fora, ainda nos meses de reconstrução do castelo, em aulas praticamente particulares. O novo Ministro temera o excesso de assédio — inevitável — a Harry e estendera a cortesia a Ron e Hermione a pedido do rapaz. Obviamente, a garota tinha dito que aquilo era um absurdo, e preferido voltar à escola "no tempo normal".
Molly tinha lutado para que tudo entrasse nos eixos conforme Ginny voltara para (re) fazer seu sexto ano na escola, acompanhada da quase-cunhada, e Harry e Ron ingressaram no programa de treinamento de aurores. E agora, depois de tanto esforço, sua menininha decidira que queria viajar. Mais absurdo ainda: disse que tinha juntado dinheiro durante dois — desde a queda de Você-Sabe-Quem — para poder fazer o que nenhum irmão tinha tido a condição de fazer: a tradicional viagem ao redor do mundo.
O mais absurdo de tudo isso fora que, na tentativa de tranqüilizá-la, tinha garantido que não ia sozinha: Luna Lovegood a acompanharia. Obviamente aquilo só serviu para deixá-la mais preocupada ainda. Por mais que gostasse de Luna – e realmente gostava muito da garota, apesar de suas excentricidades –, não era exatamente uma forma de ficar mais calma. A forma pouco convencional da loira de se comportar estava fadada a ser um imã para problemas e coisas estranhas.
E isso, obviamente, não era tudo. Começavam a surgir rumores de pessoas que tinham sumido durante essa mesma viagem. Draco Malfoy – inocentado de todas as acusações graças a um testemunho favorável de Harry – Blaise Zabini e Gregory Goyle pareciam não entrar em contato com suas famílias há meses. Era de conhecimento público o fato que os três rapazes estavam fazendo uma viagem ao redor do mundo, e imediatamente os Malfoy, os Goyle e a mãe de Zabini tinham tentado encontrá-los nos últimos lugares em que foram vistos, mas as pistas desapareceram depois da passagem pela Antártida.
Molly era uma Weasley — mesmo que por casamento — e obviamente não tinha grandes amores pelos Malfoy, ou mesmo pelos Goyle. Achava absurdo terem sido absolvidos, independente do que Harry tivesse ou não dito a favor dos primeiros. Mesmo assim, não deixava de sentir pena e angústia por ver o desespero daqueles pais. Sabia o que era perder um filho para a morte, mas lhe parecia que a incerteza do que acontecera devia ser muito pior.
Tinha medo. Medo que fosse alguma espécie de maníaco raptando bruxos desavisados, que perdesse sua princesinha. Ela sempre quisera uma menina, e não podia nem pensar no quão difícil seria perdê-la, sem ao menos a honra que tivera na morte de Fred.
Tinha tido esperanças — talvez até demais — que Harry conseguisse convencer a garota a desistir daquela loucura, mas todas as tentativas do rapaz de reatar o namoro tinham sido frustradas pelo gênio difícil de sua filha. Ginny dizia que estaria "fingindo pelos outros", entre outras coisas que Molly não conseguia entender de onde tirara. Depois de ver a filha passar tantos anos desejando em vão que o rapaz a notasse, era estranho passar pela situação completamente inversa.
A cabeça dura dos Weasley a estava fazendo encarar que seus filhos tinham crescido. Não havia mais nenhuma forma razoável de mantê-los em torno de si, era a hora de abrir a bolha e deixá-los seguir para suas vidas. Mesmo que isso significasse uma viagem ridiculamente cara e absolutamente inconseqüente ao redor do mundo. Agora só podia rezar para que tudo fosse para o melhor.
As duas meninas pareciam particularmente excitadas, falando rápido e sem parar conforme enfeitiçavam seus malões. Já tinha dado todas as recomendações de última hora — cuidado com estranhos; não esqueçam de escrever; enquanto ainda estiverem na Grã-Bretanha, usem a lareira mais próxima para falar conosco todos os dias — e as observava se prepararem para aparatar para longe, na parada programada em Hogsmeade. Pediu que mandassem lembranças a Abeforth que e se cuidassem.
Era hora de deixar sua menina partir.
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Anos depois, tanto Ginny quanto Luna pensariam naquele como o melhor ano de suas vidas. O único nos quais suas aventuras eram realmente despreocupadas e irresponsáveis, o oposto da sombra de Voldemort que permeara as mesmas durante a escola. Na Irlanda, encontraram o antigo amigo, Seamus Finnigan, que ficou animadíssimo em vê-las. Seguiram para o norte, cada vez mais, alcançando a Islândia e depois a Dinamarca, para ir até Svalbard e o resto da Noruega, seguindo até a Suécia e a Finlândia. Visitaram a Rússia antes de passar pela Ucrânia e encontrar Charlie na Romênia, visita que tranqüilizou parcialmente a Sra. Weasley depois de todos os meses de apenas cartas para garantir que estavam bem.
Passaram duas semanas viajando entre Hungria, Polônia e Alemanha antes de reservarem quase um mês inteiro para Itália e Grécia e se hospedarem com os Delacour na França. Visitaram a Espanha e Portugal, de onde tomaram uma balsa trouxa até o Marrocos. Foram até a África do Sul antes de voltarem até o Egito. Visitaram Israel e a Palestina enquanto cruzavam o Oriente Médio para chegar à Índia. Passaram quase um mês fascinadas com a cultura local antes de cruzarem o Nepal em direção à China. Foram até o Japão antes de explorarem a Tailândia e a Malásia, descendo pela Indonésia até a Austrália e de lá pra Nova Zelândia.
Então decidiram explorar os arquipélagos do pacifico: Fiji, a Polinésia Francesa, indo até Pitcairn, a despeito dos protestos de Molly, antes de conhecerem Henderson, a dita ilha mais inacessível do mundo, o que permitia que a população — totalmente bruxa e completamente desconhecida dos trouxas — ignorasse o Estatuto de Sigilo em Magia. Seguindo o conselho dos moradores, tomaram uma espécie de embarcação bruxa que nunca tinham visto antes por ser exclusiva do local. Seria perigoso demais voar, segundo eles.
O barco as deixou ao sul do Chile, por onde subiram até a Argentina e visitaram de lá o Uruguai antes de aproveitarem o litoral do Brasil para se misturar aos trouxas e bruxos que iam à praia. Visitaram a Amazônia, passando da perigosa Bolívia antes de chegar ao Peru e à cordilheira dos Andes.
Subiram pela América Central, cobrindo o Panamá, Costa Rica, Nicarágua e Porto Rico antes de chegarem a Honduras e rumarem para Jamaica. Visitaram o Haiti, Aruba e Cuba antes de voltarem ao México, por onde entraram nos Estados Unidos, pelo Texas.
Cruzaram o país até a Flórida, parando para assistir vários jogos de Trancabola. Subiram até Nova Iorque, parando em cima do World Trade Center para observar a ilha, além de as tradicionais visitas ao Empire State Building e à Estátua da Liberdade. Subiram até o Maine antes de entrar no Canadá por Ontário, visitando Quebec e indo até quase o Pólo Norte antes de descerem por Yukon e pela Columbia Britânica e voltarem aos Estados Unidos por Washington¹.
Desta vez, aceitaram o conselho de Molly, ignorando Nevada, e seguindo para a Califórnia ensolarada, até o único povoado completamente bruxo dos Estados Unidos, um lugarzinho à beira-mar quase da fronteira do México, chamado Bayland. Era pouco mais que uma vila em um cantinho esquecido de San Diego.
O lugar que jamais esqueceriam.
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Abril se esvaía rapidamente quando conseguiram chegar até Bayland. O clima começava a ficar mais quente e abafado — embora muito fresco se comparado ao calor que tinham passado na África, por exemplo — e parecia absurdo que bruxos ficassem tão camuflados em uma cidade tão cosmopolita.
Mas eles ficavam, escondidos por um dos diversos morros da região, em uma praia praticamente inacessível sem uso de magia. Era pouco mais que uma vila: parecia ainda menor que Hogsmeade. A primeira coisa que as duas conseguiram notar é que não viam quase ninguém acima dos quarenta anos na rua.
E as ruas estavam cheias. Era quase verão, e sem dúvida, Bayland era o local mais popular para se visitar entre os bruxos. Algumas jovens famílias se esticavam ao sol, com crianças correndo livremente até as ondas apenas para voltar, assustadas. Luna ria, com um prazer evidente em tudo aquilo. As duas voavam, aproveitando um pedaço de areia quase vazia para pousar. Ninguém deu muita atenção àquilo, mas ouviram uma voz de criança falando alto perto delas.
— Olha papai! Olha a cor do cabelo dela, papai! Será que está pegando fogo e ela não consegue apagar?
— Fale baixo — pediu o moço, sorrindo, sem jeito, para as duas, mas Ginny não se incomodou.
— Eu também quero cabelos que peguem fogo! — reclamou o menininho, com as mãos na cintura.
— Derek! — reprimiu o homem, em tom de aviso, antes de virar-se para elas. — Me desculpem. Crianças...
— Não tem problema — respondeu a ruiva, lembrando com saudade da sobrinha que ainda era um bebezinho da última vez que vira, Victoire. — Quantos aninhos você tem?
— Um, dois, três! — respondeu o menino, erguendo os dedinhos. — Eu também quero ter cabelos super vermelhinhos!
Luna riu, acompanhada pela ruiva, enquanto o pai do menino ralhava com ele, sem jeito. Lutaram contra a areia para sair da praia e rapidamente notaram o quão pareciam deslocadas com suas vestes padrão: as pessoas ali pareciam usar a mesma quantidade de roupa que na América do Sul.
Logo conseguiram localizar a pensão local, um prédio baixo e claramente o mais antigo do local, em torno do qual a vila se organizara. Uma senhora que parecia tão velha quanto tia Muriel estava na recepção quando entraram e imediatamente fez cara feia ao ver as meninas e suas malas.
— FORA!FORA!NÃO TEMOS MAIS VAGAS! FORA! NÃO AGUENTO MAIS RECÉM FORMADOS NA MINHA PENSÃO! FOOOOORA!
Com a varinha, a mulher jogou as malas das duas para fora enquanto Ginny a encarava de olhos arregalados e Luna mantinha seu tradicional ar aéreo, caminhando para fora e olhando a cidade com interesse. A ruiva saiu atrás da amiga, vendo que ao menos seus pertences não tinham se espalhado pela rua. Um garoto que não deveria ser mais que dois anos mais velho que elas estava rindo da cena.
— Ela está de mau humor! — falou, ainda rindo.
— Não me diga – respondeu, ficando tão mau-humorada quanto a velha.
— Talvez ela tenha sido atacada por Nargulés — comentou a loira, olhando para trás.
— Vocês não vão conseguir hospedar aí — ele avisou, sorrindo. — Quando ela entra em crise, não deixa ninguém se hospedar por pelo menos uma semana. Teve uma vez que ela surtou em junho e não abriu mais a pousada até o final do verão!
— Que maravilha — ironizou a grifinória, revirando os olhos. — Vamos, Luna, é melhor desistirmos daqui.
— Vocês podem tentar ficar na república — ele falou, postando-se na frente das duas. — Aliás, eu sou Eric Warner, muito prazer.
Quando Ginny parou para olhar de verdade, percebeu que o sorriso de Eric Warner era realmente contagiante. Seus olhos castanhos se espremiam, criando ruguinhas adoráveis, e parecia sorrir com o rosto todo. Ele observava a loira, que sorria de volta, distraidamente.
— Ginny Weasley — falou, estendendo a mão, ao perceber que a amiga provavelmente tinha esquecido do que deveria fazer.
— Weasley como em Ronald Weasley? Como em a família Weasley, da Inglaterra?
— Sim — respondeu, corando.
Lembrou da forma como as orelhas de seu irmão ficariam vermelhas naquele momento, mas em seu caso era a testa que enrubescia acima de tudo.
— Uau – ele falou, olhando-a como se fosse um Crumple-Horned Snockrack. — Você é parente dele? Do Ronald Weasley?
— Erm... Sou irmã dele.
— Uau. Uaaaau. Então você realmente conheceu Harry Potter? E é verdade? Tudo que se diz?
Ela o olhou por um instante, tentando afastar a constante irritação que lhe trazia a lembrança de Harry. O fim das coisas entre os dois não tinha sido dos melhores e ela preferia não ter que ficar lembrando daquilo.
— Eu fui namorada dele — respondeu secamente.
— Uau.
— Essa é Luna Lovegood — falou, tentando acabar com a conversa, e o menino olhou de volta para a loira, que tinha aproveitado a ocasião para cantar "Weasley is our King".
— Olá — cantarolou a menina sonhadoramente, sem fazer menção de apertar a mão estendida do rapaz. — Vocês não acham curioso como as nuvens ficam tão finas e escuras quando está tão calor?
— Eu suponho que vá chover mais tarde, sempre chove um pouco — ele disse, e, ao ver que a corvinal não respondia, voltou-se novamente para a ruiva. — Ela é sempre tão distraída?
— A maior parte do tempo — ela riu.
Luna sempre surpreendia as pessoas.
— Bem, eu acho que se vocês querem ficar deveriam tentar ficar hospedadas na República. As meninas de lá são bem legais e eu aposto que tem pelo menos um quarto vazio na casa.
— Eu não sei... — murmurou a grifinória, incerta.
Uma coisa era ficar em uma pousada, outra era se enfiar na casa de pessoas desconhecidas.
— Parece interessante — contribuiu a loira, olhando para os dois. — Você pode nos levar até lá, Eric Warner?
O rapaz pareceu particularmente lisonjeado por ter conseguido a atenção direta da garota e, usando sua varinha pra levitar ambas malas, começou a andar pela rua central da cidade, falando sem parar.
— A Sra. Beddels, a dona da pensão, é a moradora mais antiga de Bayland. Ela herdou a pensão de seus pais, que herdaram dos pais dele e assim sucessivamente. Mas conforme o tempo passou, a população fixa da cidade diminuiu cada vez mais. Quero dizer, com o crescimento de San Diego, foi ficando cada vez mais fácil simplesmente ir morar nas cidades do que se esconder nesse cantinho do mundo, que ficou cada vez parecido com mais um resort. Mas o que traz vocês da Inglaterra até aqui?
Luna explicou vagamente sobre a viagem ao redor do mundo — misturando a viagem com as criaturas estranhas que gostaria de explorar — e o menino parecia muito feliz de estar conseguindo manter algum tipo de conversa com ela. Ginny olhava em volta, analisando a cidade.
— Tem muita gente nova aqui — comentou, interrompendo a amiga.
— Ah sim! Praticamente todos os jovens vêm passar o verão em Bayland. E alguns resolvem ficar de vez, como eu — ele sorriu, virando-se para uma casinha. — Aqui está. A república das meninas.
— Das meninas? — repetiu a loira.
— Bem, existe uma república de meninos também, onde eu moro – respondeu, ficando sério e apontando uma outra casa parecida. — Mas eu imagino que vocês fossem ficar mais confortáveis aqui.
Ele bateu à porta e esperou por alguns instantes antes de uma garota mais ou menos da idade de George abrir a porta. Ela tinha cabelos curtos como de um rapaz, completamente bagunçados, e usava uma calça que parecia uma bermuda de praia e uma blusinha de alças grudada no corpo.
— E aí, Josie — falou o rapaz, dando um apertão no braço dela. — As meninas estão aí?
— Não vamos ficar fazendo comida pra vocês todos os dias, Warner — ela respondeu, sem dar muita atenção às garotas. — Quem são essas daí? Algum tipo de religiosas fundamentalistas tentando cozinhar debaixo desse sol com essas roupas imensas?
— Elas são inglesas! — respondeu, deliciado. — A Sra. Beddels resolveu surtar esse ano bem quando elas tentaram entrar na pensão.
— Que sorte a de vocês — falou diretamente para as duas. — Josie McBride — disse, estendendo a mão.
— Ginny Weasley — respondeu, apertando a sua mão. — Essa é Luna Lovegood.
— Bem, Weasley, Lovegood, qualquer pessoa que consiga irritar Beddels é minha amiga. Imagino que estejam precisando de um lugar pra ficar?
— Eric disse que vocês costumam ter lugares sobrando — falou a ruiva, meio que se desculpando.
— Tina foi visitar a família, então temos dois quartos sobrando, eu acho que vocês vão ficar confortáveis por aqui.
Ela se virou para dentro da casa, deixando-as entrar. Ginny olhou para o lado, incerta, mas Luna entrou imediatamente e a ruiva pôde distingir algumas das palavras que estava murmurando quando ela passou.
"That's why all Slytherin's sing
Weasley is our King"
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Quando seus olhos se acostumaram à escuridão da casa, ela conseguiu ver bem onde estava. Luna olhava distraidamente para uma caixa escura em cima de uma mesinha que supunha que fosse uma televisão — ou talvez fosse um comtapudor. Um conjunto de sofás escuros fazia um L de frente para a mesinha e havia uma poltrona combinando. Do outro lado da pequena sala havia uma mesa, também de madeira, com seis cadeiras em volta. Uma escada levava ao andar de cima e à direita dos sofás uma porta mostrava outras três garotas dentro de uma cozinha imaculadamente branca, junto com Eric.
— Pare com isso — falou uma delas, pequena e loira, erguendo uma colher em direção a ele. — Você está atrapalhando!
— Eu só estou provando — justificou o garoto, rindo e se escondendo atrás da outra menina.
— Me solte, eu não sou escudo — respondeu a mulata, desvencilhando-se.
— Vocês vão continuar se comportando como se tivessem cinco anos? — perguntou Josie, olhando para as duas meninas mais baixas. — Tem duas garotas novas aí.
A garota baixinha e loira usou a varinha para mexer em alguma coisa na cozinha e entrou na sala, sorrindo. Ela acendeu uma espécie de luz elétrica modificada e a sala imediatamente clareou.
— Olá! — falou, sorrindo para as duas. — A Sra. Beddel as jogou para fora de lá?
— Nem as deixou entrar — respondeu Eric, rindo. — Meninas, essa é Allison Graham e aquela ali — ele mostrou a garota morena que entrava na sala limpando algo de sua saia. — é Sara Dudek.
A morena sorriu para as duas com delicadeza antes de voltar a mexer em sua saia.
— E essas são Ginny Weasley e Luna Lovegood.
— Britânicas? — perguntou Sara, distraída.
— Reconheceu os nomes? — perguntou a ruiva, sentido a testa corar.
— As roupas — respondeu, mostrando a diferença entre as roupas leves das três e as pesadas vestes das duas.
— Ah — respondeu, ficando ainda mais corada.
— Embora, claro, as notícias da guerra tenham chegado até aqui perfeitamente bem. Você é a namorada de Harry Potter – falou enquanto Allison soltou um gritinho.
— Mas que fantástico!
— Era — corrigiu a ruiva.
— Não é mais? — perguntou a loira, olhando para ela.
— Harry é um ótimo herói, mas não tem o menor jeito com garotas — falou Luna, olhando para as duas. — Ele acha que pode deixa-la trancada em casa esperando que ele salve o mundo e volte para o jantar.
— Mas que machista! — reclamou Allison, colocando as mãos na cintura. –— Eu nunca imaginaria...
— Vocês vão ao show mais tarde? — perguntou o rapaz, sentindo o desconforto da ruiva. — Eu sei que Josie vai, claro, jamais perderia a oportunidade de encontrar aquele macho dela.
— Claro que nós vamos — respondeu Sara, animada. — Nós sempre vamos.
— Não custa nada perguntar. Bem, é melhor eu voltar pra casa, eles devem estar tentando destruir meu som lá.
Ele deu um beijo na testa de Allison, e apertou a cintura de Sara antes de receber um tapinha nas costas de Josie. Aproximou-se das duas garotas, e olhou para Luna, passando uma das mãos no cabelo.
— Espero ver vocês lá mais tarde.
— Vamos tentar — respondeu a ruiva.
Ele saiu pela porta e a loira colocou as duas mãos na cintura, com um sorriso contagiante.
— Ele está a fim de você! — anunciou, claramente animada, para Luna.
A corvinal arregalou ainda mais os olhos, encarando-a antes de começar a rir muito, muito alto.
— Você está falando com Luna Lovegood — respondeu, secando os olhos. — E ninguém fica a fim de uma lunática.
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Muitas horas mais tarde, quando o sol já estava se pondo, Luna e Ginny saíram da casa com as outras três garotas. Tinham ouvido histórias sem fim sobre as festas de Bayland, sobre como a banda dos meninos da república era fantástica, como estavam ficando conhecidos no circuito bruxo pelo país. Tinham visto as meninas começarem a se arrumar mais de uma hora antes do que tinham decidido sair, colocando outras roupas igualmente frescas, maquiagem e bijuterias.
Ginny, claro, tinha se juntado ao processo com alegria, mas Luna não entendia por que tanta coisa. Tinha colocado seu vestido amarelo de verão e deixado o cabelo solto, ficando pronta antes de qualquer uma das meninas. Até mesmo Josie, que tinha um ar cuidadosamente largado, tinha ficado horas arrumando os poucos cabelos em madeixas estilosas.
Na verdade, Luna nunca entendeu por que as meninas se produziam tanto. Ginny costumava dizer que era porque aquilo fazia os garotos prestarem mais atenção nelas, mas nunca viu muito sentido nisso. Especialmente depois que tinha notado que Hermione não precisara domar os cabelos nem se vestir de forma diferente para conseguir a atenção de Ronald.
Mas, também, Ronald não era uma das pessoas mais atentas do mundo. A própria irmã dele concordava com ela nesse ponto. Já estava ficando cansada de tentar contar o número de folhas das plantas do lado de fora da casa quando Josie se sentou ao lado dela, tentando conversar sobre alguma coisa, mas na verdade não parava de falar do namorado. Luna não lhe deu muita atenção, deixando-a falar, e se perguntou como o cara não tinha percebido até agora que a namorada logo acabaria se interessando pela irmã dele e o chutando. Por que até mesmo uma pessoa completamente distraída como ela era capaz de notar que Josie não tinha o menor talento para a heterossexualidade. Bem, não mais que Millicent Bustrolde tinha, e isso era dizer alguma coisa.
Ginny parecia estar interagindo particularmente bem com Allison e Sara, mas aquilo não a fez se sentir deslocada: estava acostumada a ficar observando a situação a maior parte do tempo. O brilho que Allison tinha colocado nos lábios era tão luminoso que parecia que tinha colado estrelas na boca. Bem, talvez tivesse. Luna não duvidava de absolutamente nada nessa vida.
Entraram em uma das casas mais próximas à praia, com pouca iluminação e mesas e cadeiras muito mais altos do que achava razoável. No canto, a parte mais iluminada do lugar era um palco mostrando instrumentos que sabia serem modificados para funcionar com magia ao invés de eletricidade. Uma quantidade imensa de jovens circulava entre as mesas, debruçavam-se sobre o bar pedindo aos atendentes, muito pouco mais velhos, doses e mais doses de bebidas. Sara tomou conta de uma das mesas próximas à porta, sentando em um dos banquinhos altos e cruzando as pernas. Josie se afastou quase imediatamente, enquanto Allison cumprimentava outro grupo de meninas animadamente.
Ginny olhou para a amiga, deu de ombros e sentou-se ao lado de Sara. A morena tinha atraído a atenção de alguém, que veio rapidamente na direção das duas enquanto Luna avaliava se devia ou não sentar junto com elas. Antes que pudesse tomar uma decisão, um rosto estava parado na sua frente, com um sorriso aberto.
— Você veio! — declarou Eric, visivelmente deliciado.
— É... — respondeu, dando de ombros. — Vim.
— Mas que maravilha — falou, puxando um outro rapaz. — Esse é Jonhy Aldstein.
Luna parou para observar o outro menino. Tinha cabelos muito cacheados, de um castanho claro mais ou menos semelhante ao de Eric, mas parecia muito menos gentil. Ele também sorria, mas de uma forma diferente, como se soubesse o quanto era bonito.
— Essa é Luna — continuou Eric, colocando a mão na cintura da menina e sorrindo. — Linda, não é?
— Lindos olhos azuis — respondeu, sorrindo maliciosamente ao olhar para Ginny. — E essa é?
— Ginny Weasley — respondeu a ruiva, sorrindo de volta. Luna conseguia entender vagamente que aquilo era uma espécie de flerte. A ruiva estendeu a mão e o rapaz a apertou, antes de se aproximar e beijar-lhe no rosto.
— É um prazer.
— O prazer é todo meu — respondeu, ainda sorrindo.
— Jonhy mora com na república também — acrescentou Eric, ainda com a mão na cintura da corvinal, que começava a se sentir embaraçada. — Ele é nosso guitarrista.
O rapaz sorriu para as duas por um instante, antes de cumprimentar Sara. A garota ofereceu o rosto para dois beijinhos e sorriu enquanto começavam um papo animado. Uma banda estava tocando, mas parecia que ninguém prestava muita atenção. Allison voltou com as duas mãos cheias de canecas de cerveja trouxa e entregou uma a cada uma das meninas.
— Um brinde, à chegada de vocês a Bayland! — ela anunciou e todas bateram os copos antes de beberem.
A loira não gostava muito de cerveja amanteigada, mas aprovou o gosto mais amargo daquela bebida. Eric e Jonhy tinham sumido entre os jovens que cantavam, dançavam ou conversavam, ignorando a banda. Sem saber o que fazer, ela bebericou de sua caneca. Ginny abriu a bolsa, puxando um maço de cigarros de lá de dentro, que a corvinal aceitou com alegria. Josie estava de volta, com um cigarro apagado nos dedos, e aceitou a ajuda da ruiva para acendê-lo antes de se virar para as amigas.
— Vocês viram Austin em algum lugar? Eu não o vi em lugar nenhum.
— Nem Austin, nem Alex, nem Marvin — respondeu a morena, olhando para o salão. — Talvez estejam no camarim.
— Eu chequei, não estão lá, não. Grande novidade não ver Marvin, também — ironizou.
— Quem são esses? — perguntou Ginny, curiosa.
— Os outros caras da república — respondeu Sara, observando Allison falar alguma coisa com uma das meninas da mesa ao lado. — Como ela atura essas meninas?
Josie deu os ombros, continuando a falar com as duas.
— Austin é meu namorado. Ele é baterista da Wubzi e seus Wow Wows. Alex é o baixista e Marvin... Bem, Marvin existe.
— Miseravelmente — acrescentou a morena.
— Completamente paranóico, ele é. Vive sentando sozinho na praia pra pensar na vida. Como se ele tivesse grandes problemas!
— O que quer dizer?
— Alex e Marvin estudaram na Academia das Bruxas de Salem. Você sabe, é uma escola exclusivíssima. Só os com famílias muito ricas e muito influentes conseguem uma vaga — explicou Sara, balançando a cabeça. — E depois vieram morar aqui, há coisa de um ano atrás, eu acho. Alex é completamente louco, claro, e Marvin, bem... Marvin é mais quieto.
— Quieto e lindo — suspirou Allison, intrometendo-se na conversa. — Mas nunca dá bola pra ninguém.
— Eu o acho arrogante — declarou Sara, acabando com seu copo de cerveja. — Mais?
Todas acenaram com a cabeça, e Luna não disse nada. Eric e Jonhy voltaram, trazendo seus copos na mão, o último balançava a cabeça ao som da música.
— Voltei — disse o rapaz, sorrindo para a corvinal.
Jonhy se aproximou de Ginny e os dois falavam em voz baixa.
— Percebi — respondeu, pegando mais um cigarro.
— Eu não sabia que você fumava.
— Você nunca tinha me visto até essa manhã — respondeu, distraída.
— Seu copo está vazio — mencionou.
— Sara foi buscar mais bebidas.
— Grande Sara — respondeu, tomando um gole.
— Jooooonhyyy! — falou uma voz aguda e melodiosa ao lado dos dois.
Luna se virou a tempo de ver Allison na ponta dos pés enquanto o rapaz a enlaçava fortemente pela cintura e dava um beijo próximo demais à sua boca. A loirinha sorriu para ele de forma nada discreta, apertando seu braço. Ginny olhou para a amiga com uma expressão de desgosto.
— Jonhy é um franco atirador — falou Eric, sorrindo para as duas. — Não pode ver um rabo de saia que já está puxando a varinha.
A corvinal riu e a ruiva sorriu, sem jeito. Jonhy e Allison continuavam a conversar de forma quase indecentemente perto quando Sara voltou, trazendo as bebidas. Ela começou a conversar com a grifinória imediatamente, fazendo com a Luna voltasse a atenção exclusivamente para Eric e seu cigarro.
— Encontrei Austin — falou Josie, voltando à roda. — Eles já vão começar, Jonhy, é melhor você ir logo.
— Eu volto — prometeu o rapaz, sorrindo para todas.
— Eu também — sussurrou Eric, perto de seu rosto, antes de sair.
— Se ele não está a fim de você, eu não sei o que é estar a fim de alguém — sentenciou Sara assim que os dois se afastaram pela multidão.
Ginny e Allison concordaram com a cabeça, e Josie riu da forma como a garota parecia sem saber o que fazer.
— Devem ter Zonzóbulos por aqui – respondeu, dando os ombros e se virando para o palco.
Luna era uma pessoa muito difícil de impressionar e provavelmente aquilo era a melhor coisa da situação. Allison, Sara e Josie olhavam para o palco, visivelmente ansiosas, e Ginny tinha abaixado a cabeça para procurar mais um cigarro conforme os meninos subiam no palco e um bruxo de quase trinta anos com os cabelos tingidos de azul Royal anunciava.
— E agora, com vocês... A banda que é melhor que Felix Felicis... Wubzi e seus Wow Wows!
A galera aplaudiu e gritou, Josie assobiou alto e Sara berrou "Maravilhosoooooos!" em meio à risadas. Eles pararam, pegando os instrumentos, e a luz acendeu em cima de do grupo, conforme um dos meninos começava a cantar com uma voz rouca quase sussurrada, segurando o microfone com visível volúpia.
Ele tinha a pele quase completamente negra, em um tom bonito de chocolate. Seu cabelo liso estava jogado no rosto de uma forma claramente pensada para parecer mais sexy. Seus olhos negros encaravam alguém na platéia como um gato se preparando para dar o bote conforme completava as primeiras palavras da música. Seus dedos compridos deslizavam pelo instrumento, formando sons graves que combinavam com sua voz.
— Ginny — falou, distraidamente, cutucando a amiga. — Olhe só quem está na banda!
— Quem? — perguntou a garota, usando a varinha para acender um segundo cigarro.
— Blaise Zabini — respondeu em seu habitual tom avoado.
Quase pôde ver o mundo da amiga rodar enquanto ela levantava a cabeça para ver o palco.
Nota da Autora: Ai está, o começo de uma nova saga. Tenho mais 4 capítulos quase-no-ponto, só esperando minha felicidade -- e a leitura de vocês -- para serem postados. Espero que vocês achem divertido -- eu certamente me diverti muito escrevendo.
