Interior da Bahia, anos 70
"Cláudio, meu filho!" - diz a magérrima sertaneja - "Talvez eu não passe de hoje, seu pai já nos deixou quilômetros atrás... Antes que a fome também mate você, vou te deixar aqui no rio, que deve chegar a algum lugar melhor povoado, e assim alguém poderá te criar com mais dignidade, que é o que você merece filho. Vai com Deus!"
E assim aquele galão com um bebê dentro vai indo pelo rio, deixando para trás uma mãe que espera que um dia alguém crie aquele menino como ele merece, tendo pelo menos o que comer, coisa que não teria naquele lugar que estava deixando.
Matt Tsubasa e projeto DC Extreme orgulhosamente apresentam:
SUPER-HOMI
Cláudio Quente foi encontrado alguns dias depois, em Martinésia, no interior de Minas Gerais (perto de Uberlândia), por João Quente e Marta Quente, que o criaram como a um filho. Marta não conseguia engravidar porque João era brocha, então o pequenino nordestino fora a solução de todos os problemas de fecundidade da família.
Cláudio estudava na escolinha estadual de Martinésia, que só tinha uma sala de aula, onde todos sentavam no chão, e só isso. Nem banheiro havia no lugar. Cláudio também tinha poucos colegas. Ele se dava melhor com Alex Lula e Lana Lenga. O primeiro era filho de um grande produtor de leite. A garota era uma jovem orfã que vivia com a professora da escola.
A infância e a adolescência passaram normalmente para Cláudio Quente, exceto por alguns pequenos detalhes. O garoto, que já passara dias sem comer quando bebê – demonstrando ser algum tipo de meta-humano -, começara a demonstrar outros tipos de poderes, como aquecer o leite com uma luzinha que saia dos olhos, manter a carne resfriada com um sopro gelado (evitando assim ter que comer carne seca...), etc.
Quando os pais notaram que Cláudio era um tipo de anormal, levaram o garoto na romaria de padre Cícero para ver se conseguiam exorcizá-lo. Mas os padres não conseguiram nada. Então tentaram manter o garoto sem comida, para ver se ele parava com aquelas besteiras. Então Cláudio ficou ainda mais forte, afinal, quanto menos comida tem, mais o sertanejo resiste.
Quando completou 18 anos, então, o pai alegou que não tinha mais que criar aquela aberração, e mandou Cláudio para fora de casa. Sem rumo, o garoto pediu carona na estrada por três dias, até que parou um caminhão de gente que ia da Paraíba para São Paulo. O motorista havia se perdido, e a viagem que duraria cinco dias já passava de duas semanas sem chegar ao destino final.
Cláudio notou que a família de seu amigo Alex Lula também estava no caminhão. Eles haviam perdido tudo que tinha, pois as vacas morreram de aftosa, e pegaram o caminhão um pouco antes de Cláudio para tentar a vida na cidade grande.
Agora os dois amigos rumavam a um futuro incerto. Sem saber se teriam onde morar, o que comer: sem saber de nada, como qualquer brasileiro que não vive com a dignidade merecida.
