Pecados d'alma
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Vem a chuva, lava a alma e leva suas asas. Então minha musa, meu Anjo de asas frágeis, está pronta para suportar tudo outra vez. Pelo seu povo. Pelo seu Deus.
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Para o Dan, que é um merecedor de grandes fics.
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Ah, a dor! Insana e lúgubre que penetra pelos poros da pele e se espalha por todo o meu ser a cada vez que contemplo a visão da musa desconhecida que insisto em visitar.
Eis que me surge! Banhada por um véu de prata, com os pés descalços ao relento e os olhos fechados para a triste verdade que se tornou este mundo! As mãos unidas em sinal de prece, a pele branca como o mármore e os lábios vermelhos como o fruto proibido. Minha musa reza pelos humanos, pela natureza e por tudo que há nesta terra corrompida pelos desejos da desgraça que se tornou à humanidade.
A sua voz, doce e melodiosa, lembra a canção tocada pelos anjos e o seu toque, frio e gélido como os olhos cinzentos que jamais ousou a abrir, remontam momentos perdidos de sua própria história. E este ser, sem cor e sem nome, que me toma as noites em suspiros sofregos de sua própria dor, carrega nos pés pálidos como cristais, um jardim de rosas brancas e vivas que se nutrem de todo seu amor e que se alimentam do seu sofrimento.
Maldita seja a injustiça impávida e intolerante que leva de minha bela dama o sorriso que jamais teve! Que sofram cada um dos seres que a fazem se debulhar em lágrimas de lamúria, carregando suas dores como se fossem as dela.
E então vejo em seu corpo puro, as chagas dos pecados que jamais cometeu. Um fardo pesado demais para uma senhora provida de tanta beleza e misericórdia. Donde? Donde vem os pecados que ferem este Anjo perdido?!
Inconformância a minha que encaro as rosas brancas tornarem-se rubras pelo sangue derramado em prol dos sacríficios que ela tem que cometer. Suas mãos tingidas pelo líquido escarlate carregam o peso de cada morte que causa. E por cada uma delas ela reza em segredo, enquanto uma sombra surge por trás de minha dama e a engole.
Esta sombra, que é muito maior que qualquer pesadelo, carrega nos olhos a intensidade do desejo que ser humano nenhum poderia compreender. Deus, murmuram os lábios de meu Anjo. Aquele ser de olhar vazio e duro é Deus.
E pela primeira vez desde que a conheço, vejo os seus olhos se abrirem junto das asas feitas de papel. As asas que salpicam de vermelho a cada vida retirada por aquela musa que carrega nos olhos a tristeza camuflada pela indiferença. São cinzentos como nuvens carregadas. E seu coração é frio como pedra.
Tento me aproximar, chamar pelo nome que desconheço, mas um abismo se abre diante de nós. Aquele ser feito de trevas e dor abraça meu Anjo e o leva de mim para longe. Para um lugar que não posso alcançar.
(Então o cenário muda)
Carvalhos negros, corroídos pelas chamas e cinzas ao chão das terras carcomidas.
Nada resta além da vermelhidão do solo e um céu arroxeado, tomado pelos relâmpagos que anunciam à chegada de uma chuva próxima.
As rosas brancas vêm com o vento, se derramam no chão e me afogam em um perfume completamente inodoro, completamente diferente de tudo o que conheço ou que já vi.
E diante de mim, surge a musa coberta pelo véu de prata, estendendo as mãos na minha direção.
O sangue pinga, o trovão ressoa e as rosas se tingem de vermelho. E então, ela me pergunta.
"Você sabe por que existem rosas vermelhas?"
Nego com a cabeça. Ela não sorri. Não há sentimentos em sua voz.
"Na verdade, elas são brancas. Mas vivem do sangue daqueles que se aventuram pelos seus jardins. Eu sou como uma rosa, usada pelas mãos de meu Deus."
Novamente, meu Anjo se afasta, mas ainda posso contemplar sua beleza. A sombra se esconde às suas costas, olhando-me, protegendo aquele ser que jamais foi e jamais será meu. Olho para o céu carregado. As nuvens estão cinzentas. Como os olhos dela. A primeira gota é só o sinal da tempestade que está por vir.
Mas então, um trovão mais alto, mais luminoso que os demais, rasga o mundo em dois. Tenho apenas tempo para contemplar a chuva antes que a realidade venha à tona, tomando-me aquele mundo de cores escuras e a imagem lívida do Anjo de asas brancas.
(Tudo um sonho)
Volto os olhos para as minhas mãos e vejo que estão empapadas de suor. Pela fresta da janela, vejo a chuva que se antecipa, descendo em grossas gotas pelo céu. E então, olhando pela primeira vez para a cômoda que jazia esquecida, vejo uma rosa branca feita de celulose e salpicada por um tom escarlate. Nela, se reflete a dor da minha musa. A tempestade rasga os céus e eu compreendo para quê ela serve. Ela lava a alma e a dor pelos erros de meu Anjo Pecador.
N/A:
Apenas um pequeno trecho narrado por alguém que surgiu num lapso de inspiração. Apesar de pequena, foi feita pensando em você. Espero que goste e fodam-se os que não gostarem.
P.S: Te amo, PP.
Reviews, sua morte ou a tortura eterna de ser atormentado por mim.
