Fanfic baseada no filme e livro, Noites de Tormenta, escrito por Nicholas Sparks. Espero que gostem.
Selena's POV
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Dizem por aí, que a intensidade dos nossos melhores momentos são medidas em sorrisos. Sorrisos esses que, de alguma forma, podem mudar qualquer coisa, qualquer pessoa ao seu redor, um simples sorriso, mesmo que forçado, pode mudar o dia e o humor de uma pessoa. O sorriso de meu pai era de fato exatamente o causador de todos esses efeitos maravilhosos em mim, aquele que alterava o meu humor, o meu dia, qualquer coisa ruim que estivesse aflingindo meu coração de criança. Ele me tomava nos braços fortes, sorria, e todo sentimento ruim ia embora.
Eu corria em direção do meu pai, o senhor alto e grisalho sorridente me esperava do outro lado da praia com os braços abertos, e quanto mais eu corria mais ele sorria. Sentia a areia macia de baixo dos meus pés me dando a vantagem de correr cada vez mais rápido até que papai conseguiu me pegar nos braços, me rodopiou e jogou para cima, dando altas gargalhadas. Meu peito pequeno se enchia de amor, meu sorriso era tão grande que qualquer um poderia ver que eu estava nos braços de um herói. Papai me abraçou e eu ainda podia ouvir sua risada baixa no meu ouvido.
O barulho alto do despertador me arrancou do sonho. Ainda podia sentir o sorriso nos meus lábios enquanto despertava preguiçosamente. Bati a mão no objeto ensurdecedor fazendo o barulho irritante cessar. Sorri ainda com a lembrança do sonho viva em minha memória. Parecia tão real, exceto pelo fato de que no sonho eu era apenas uma garotinha nos braços do meu pai e não a mulher com meus 30 anos como eu era, mas o fato de ter sido um sonho de uma lembrança distante ainda me fazia sorrir.
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- Annie, abaixa isso! Nossa! - Gritei para a adolescente muquiada dentro do quarto com o som alto.
Eu tentava arrumar a casa enquanto tentava deixar meus filhos prontos para o pai quando o mesmo chegasse. Eu era divorciada a 7 meses de Justin, o pai de meus dois filhos, Annie minha adolescente rebelde que aos 14 anos resolveu me odiar, e meu pequeno Danny de 5 que vivia em seu próprio mundinho particular, com seus video-games e computadores.
- Danny, ainda está aí nessa coisa? Você precisa se arrumar, anda. - Disse para o pequeno atrás do computador, concentrado demais para me escutar com atenção.
- Aham. - Ele respondeu, sem dar a mínima.
- A sua irmã veio aqui ajudar com o que eu pedi? - Perguntei olhando a bagunça no quarto do garoto.
- Aham. - Ele respondeu mais uma vez.
- Filho, o seu pai vai chegar em 5 minutos, por favor, se anima. Vai se vestir! - Eu andava pela casa, dando ordens que não eram obedecidas.
- Annie! Eu não escuto nem o meu pensamento! - Disse entrando no quarto da adolescente com o som alto insurdecedor.
- O que? - A menina disse com descaso.
- Como eu posso ajudar você a sair de casa na hora com o seu pai se você simplesmente não ajuda? - Disse totalmente sem paciência enquanto enfiava algumas roupas da menina na mala.
- Ah, você consegue mãe, eu confio em você. - Ela disse mais uma vez com deboche, se jogando na cama e colocando os fones de ouvido.
- Eu tenho que pegar uma balsa em 2 horas e só tenho duas mãos. - Coloquei o protetor solar dentro da bolsa. - Uma! - Coloquei os óculos de sol dentro da outra bolsa. - Duas!
- Oh, ela sabe contar! - Minha filha zombou.
- Anda, engraçadinha! - Mandei a menina se apressar. - O que é isso na sua barriga? Vai lavar isso aí. - Disse reparando em algo escuro na barriga de Annie.
- Ah... na verdade, não dá pra lavar, porque é uma tatuagem... de verdade. - Annie olho pra mim com um sorriso inseguro.
- O que?! - Disse pasma.
- Uouuuu! - Danny entrou no quarto.
- Fez uma tatuagem sem pedir permissão?! - Disse nervosa puxando a blusa de Annie para cima, analisando a borboleta gravada no centro de sua barriga.
- Deixa só o papai ver! - Danny soltou divertido.
- Cale a boca, idiota! - Annie gritou.
E a discussão entre irmãos como sempre começou. Uma sessão de tapas entre os dois e eu no meio gritando "para" como se alguma coisa fosse adiantar. Ás vezes eu não sabia o que dava nos dois, culpava a idade, por terem uma diferença de quase 10 anos, e isso fazia com que quase nunca se entendessem.
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Encarei o espelho, jogando o cabelo de um lado para o outro, passei um perfume, não queria aparecer totalmente desleixada na frente do meu ex-marido que namorava garotas perfeitas de faculdade. Dei risada da cena. Por que eu ainda me importava mesmo? Talvez porque ele tivesse sido o único homem na minha vida, que tinha me dado dois filhos maravilhosos, e uma vida digna por algum tempo. Mas aquilo não estava funcionando para ele, a prova era que me traía com as alunas da faculdade em que ele dava aula, até que chegou um dia que eu coloquei um ponto final. Meus filhos me odiaram por algum tempo, e Annie não aceitou, me culpava por ter mandando o pai embora de casa porque não entendia o que havia acontecido. Por isso, eles passariam o final de semana em Orlando, na Disney, com o pai, para matar as saudades e tentar entender melhor a situação que de estávamos separados, e que não havia volta entre mim e o pai deles. Eu, por outro lado, passaria o final de semana na Carolina do Norte, cuidando do hotel de praia de minha melhor amiga Taylor, enquanto a mesma saia para o que ela chamava de "retiro espiritual" onde ela descansaria e gastaria a herança que sua querida avó tinha deixado para ela.
Olhei pela janela, avistando o carro de Justin chegando e estacionando de frente para a casa. Suspirei, porque os encontros rápidos que tínhamos que enfrentar por causa das crianças ainda me incomodava um pouco.
- Eu não quero ir com o papai. - Ouvi a voz manhosa de meu filho atrás de mim.
- Oh, filho, é Orlando! Vai ser legal, vai ter muita coisa para fazer. - Eu disse me virando e abaixando na altura mediana do menino a minha frente.
- Não, não vai. - Ele fez um bico e eu acaricei o rosto pequeno com as pontas dos dedos.
- Tá, pode até ser, mas a gente vai se falar todo dia. Tabom? Você está sendo muito corajoso! - Eu disse trazendo Danny para um abraço apertado, acariciando as costas e recebendo um "tá" como resposta.
- Annie, seu pai chegou! - Gritei para a menina que descia as escadas com suas coisas. - É melhor esconder essa tatuagem, a não ser que queira se explicar para o seu pai o final de semana todo. - Disse séria.
- Tá, mãe. E você está com cara de cansada. - Annie disse virando as costas para mim.
- É, eu estou. - Suspirei indo atrás da garota.
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- Oba, quem está afim de se divertir? - Justin entrou na sala e recebeu um abraço apertado de Annie.
- Papai! - As crianças gritaram felizes.
- Vem cá amigão, me dá um abração! - Justin sorriu feliz ao abraçar Danny.
- Selena. - Ele me comprimentou com um meio sorriso.
- Oi Justin. - Sorri de volta me encostando na livreira.
A sensação estranha tomando meus pensamentos. Não sabia se sorria ou se era curta e grossa com Justin, mas não queria agir feito na frente de nossos filhos.
- Hum, o remédio de Danny está na bolsa. - Disse depois que as crianças saíram e foram colocar as malas dentro do carro.
- Eu sei, ele toma todas as noites. - Ele disse com cara de óbvio.
- E Annie tem trabalhado para segunda-feira. - Avisei.
- Também sei, a gente conversou. Olha, não se preocupa não, tá? Cá entre nós, deixa com a gente. - Ele piscou.
- Olha, eu não sei de vocês, mas eu tenho que ir agora. Não é melhor vocês irem? - Disse me apressando em fazer um café para mim mesma e me livrar de Justin que no momento estava sendo um total incômodo.
- Selena, senta. - Ele puxou uma cadeira.
- Eu tenho que pegar uma balsa. - Disse séria.
- Só um minuto, por favor. - Ele insistiu.
- Hum, ta. - Continuei de frente para ele esperando ele prosseguir. O homem loiro deu alguns passos para perto de mim e eu o olhei desconfiada.
- Eu quero voltar pra casa. - Ele disse sem rodeios, com um sorriso no rosto.
- O que?! - Disse boquiaberta. Não sabia como reagir.
- Olha, eu fui um idiota... - Ele começou.
- Não, não... - Eu o cortei atordoada.
- Se tiver alguma chance de você me perdoar... - Ele foi se aproximando mais tentando se explicar.
- Perdoar você?! - Disse histérica. Como ele ousava pedir o meu perdão?
- Eu só quero uma chance, eu não estou dizendo que eu mereço mas eu vou tentar, eu vou tentar ser quem eu era antes, eu prometo, eu... - Ele gesticulava e me seguia enquanto eu tentava sair da frente dele me locomovendo pela cozinha.
- Não, eu não posso... - Disse ainda atordoada quando me sentei no sofá e ele ajoelho na minha frente.
- Selena, eu amo você. Eu amo muito! Eu sei o que eu perdi e vou fazer de tudo para ter de volta. - O olhar do homem era suplicante.
- Justin, você não pode vir aqui do nada com essas coisas, essas palavras. O que foi? Não deu certo com aquela moça? - Tentei me levantar mas o homem me segurou firme pelos ombros.
- Nós temos que ficar juntos! - Ele me olhou dentro dos olhos me fazendo questionar. - Você sabe disso, é só olhar para as crianças. - Eu suspirei. - Anda, vem com a gente para Orlando?
- O que? - Eu dei uma risada alta.
- A gente solta as crianças no parque e vamos ter todo o tempo só para nós.
- Justin, não dá, não dá... Eu disse para a Taylor que eu ia ajuda-la e é exatamente o que eu vou fazer. - Disse me levantando e saindo da sua frente.
- Tabom, tabom, mas conversamos quando eu voltar? - Ele se pôs na minha frente novamente segurando os meus ombros.
- Hum, tá, conversamos quando você voltar. - Disse só para me livrar do homem me segurando mas o mesmo tentou me beijar. Por sorte, saí dos braços fortes antes que conseguisse.
- Depois a gente conversa! - Disse séria.
Annie e Danny estavam parados na porta de entrada da cozinha, atentos ao que estava acontecendo. Meu coração partiu. Eles eram crianças, não mereciam passar por aquilo, mas eu não podia evitar. Eu não podia voltar para Justin, eu não deveria fazer isso depois de todo o sofrimento que o mesmo me fez passar.
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