Aqueles olhos. Aqueles olhos me atormentam, me deixam desarmada, afastam qualquer pensamento lúcido da minha mente. E eles sabem que fazem isso. E custa. Custa ver eles me fitando intensamente, desesperadamente, como querendo se livrar das amarras que os prendem, sem sucesso. Não são olhos meigos, não são acolhedores, não são amorosos. Mas têm vida. Têm alma. Uma alma atormentada pelo tempo, pela dor, pela mágoa, pela guerra. Pela saudade de coisa nenhuma, pelo amor que nunca ninguém lhes deu nem eles deram a ninguém, pela paixão que conservam em si, como as mãos de um pintor, sem no entanto a conseguir pôr na tela.
E dói. Dói saber que não posso fazer nada. Que não me deixam fazer nada. Olhos cinzentos. Olhos lindos, distantes. Mas isso não me atrai. Poderiam ser castanhos, verdes, amarelos, roxos até. Os olhos mais feios que existissem... Ah, mas as sensações que transmitem, nunca as trocaria, nem pelo mundo... nem por eles mesmos, esses olhos que me hipnotizam. Porque apenas a alma dele os faz serem os olhos que quero, que eu desejo com toda a minha força.
Ele é como o mar. Olhe o mar. Atormentado e calmo. Frágil e forte. Liso e espumado. Dois extremos se encontrando, se tocando, se amando. O amor. Será que ele poderá algum dia, só por um momento, amar alguém? Não a mim, somente alguém. Como seria sua alma sem o amor aprisionado? Com esse amor viajando, livre, solto, como uma águia, por todo o lado, guiado pelas tormentas de sua alma? Não sei. Não sei se quero descobrir.
Ah, como eu queria poder viver um grande amor com ele. Seria o amor mais poético, mais lindo da história. Elegante, estranho, bruto... intenso.
E eu quero fugir daqui. Fugir mais uma vez, para o mar. Não um mar qualquer, o mar dos seus olhos.
E porque não? O amor não é isso? Não é não ter certeza de nada mas saber de tudo? Não é querer perder-se num mundo de aventuras com um porto seguro? Não é querer que alguém te abane, te machuque, te morda, te mate, te bata, te trate mal e no fim perceber que ele nunca faria isso mas que te abala como se fizesse? Não é estar esperando por um carinho, um beijo romântico, uma simples festa no cabelo e não receber? E quando está abalada, depressiva, querendo morrer, receber tudo isso e mais? Não é querer morrer e renascer pelas mãos de uma só pessoa? Não é, não saber descrever tudo o que ele é?
Apetece-me gritar, apetece-me fugir, apetece-me morrer. Mas também me apetece rir, reagir, luta, pular, amar. E sei que ele é a única pessoa que me deixa fazer tudo isso e que é com ele que eu quero estar.
Porque os olhos ele são o mar, o cabo das tormentas, a vida. Não a sua apenas. A minha vida está aprisionada lá. E não quer sair.
