Don't Beg to Die

Capítulo UM.

O avião estava lotado de pessoas, todos agentes em diferentes níveis de restrição. Ela olhou para eles desde a subida da rampa e imaginou em quantos problemas estaria se metendo se seguisse com seu plano de tentar ajudar. Seu nível de restrição era o Seis, e escolher uma missão ou forçar sua participação nela estava claramente fora das suas competências. Aquilo era um privilégio guardado para pessoas como Coulson. Victoria Hand se asseguraria de conseguir para ela uma punição por aquilo, definitivamente seria tudo muito mais simples se Nick Fury estivesse cuidando do caso pessoalmente.

Ela respirou fundo, a mochila com seus equipamentos e duas mudas de roupas estava pendurada no ombro e se alguém a olhasse perceberia claramente que ela não pertencia aquele lugar. Não naquele momento. Os óculos escuros disfarçavam os olhos vermelhos e inchados, os cabelos presos displicentemente numa trança denunciavam que ela não fez muito esforço para estar mais apresentável. Viera diretamente de uma missão disfarçada na Grécia, sem pensar duas vezes antes de jogar pro alto sua responsabilidade ao saber do que havia acontecido.

"Coulson foi sequestrado." –Melinda May dissera na mensagem que lhe enviou- "Ele corre perigo de vida."

Viu Lola estacionada ao lado de um veículo fortificado para agentes de campo e sorriu. Coulson definitivamente amava aquele carro. Então uma moça, que para sua surpresa vestia-se basicamente como ela, descia a rampa, segurando a alça de uma mochila e carregando um saco de papel que parecia conter algo suspeito. Ela tinha cabelos castanhos, ondulados e logos. A pele da moça era bronzeada e os olhos bem amendoados eram castanhos e bastante vivos. "Skye." –pensou, mas imaginou que deveria fingir que não sabia de quem se tratava.

-Olá. –Skye disse parando diante dela, o que a sobressaltou um pouco.

-Olá. –seu inglês carregado de sotaque irlandês soou meio estrangulado.

-Você me parece um pouco perdida, eu posso ajudar? –Skye não pode evitar parar para falar com a moça. Havia algo estranhamente familiar nela. Talvez fosse a semelhança do estilo das duas.

-Sim. –ela sorriu levemente, tentando disfarçar a agonia que consumia seu peito. Não estava conseguindo manter a mente de agente ligada, pensava apenas com o coração nesse momento- Eu gostaria de ver Melinda May.

-Você... é agente da SHIELD, certo? –Skye perguntou.

Ela pode notar que Skye tinha um nível de restrição realmente restrito. Ainda usava a pulseira. Era compreensível que ela não tivesse sido reconhecida de imediato.

-Sim. Eu sou Ann Marie. –e mostrou-lhe seu distintivo- Eu não conheço o avião, eu não saberei onde encontrá-la.

-Fitz! –Skye gritou por cima do ombro, o que sobressaltou um rapaz que parecia dar instruções a alguém de modo bastante estressado. Ele veio na direção delas rapidamente.

-Skye, o que diabos você está fazendo? Você devia dar o fora daqui o mais depressa possível!

-Eu sei, mas a moça quer ver May e eu imaginei que você poderia...

-Oh meu Deus! –ele olhou para Ann como se acabasse de notar sua presença ali e pareceu ter levado dois ou três fortes tapas no rosto- Agente Marie?

-Sim. –ela sussurrou, quase implorando que ele falasse mais baixo.

-Oi! –ele parecia encantado, como um fã de quadrinhos diante de Stan Lee- Eu sou Leo Fitz! –e apertou a mão dela- Eu sinto muito pelo que está acontecendo com...

-Você poderia por favor, trazer May para mim aqui fora?

-Por que a senhora não entra comigo? Eu tenho certeza de que muitas pessoas andam se perguntando onde você está. E muitos gostariam de...

-Não. Eu supostamente não deveria estar aqui. Se a Agente Hand souber que eu deixei a Grécia sem autorização e... Por favor, eu preciso de um update a respeito dele.

-Não temos nada ainda, eu sinto muito. Prendemos um homem que pode ter ligação com a Centopeia, mas...

-Que homem?

-Vanchat. –Skye respondeu.

-Skye, você já deveria ter ido embora!

-Eu sei! –ela disse irritada, mas estava muito intrigada olhando para Ann e parecia não querer deixar o lugar. Ela se parecia a alguém... olhou para si mesma e notou que o estilo delas era o mesmo. Mas Ann era loira, cabelos cortados no meio das costas, uma franja longa bem discreta... Olhos incrivelmente claros e familiares.

-Você parece estar fugindo. –Ann murmurou, olhando para o modo como os dois agentes mais jovens pareciam estar nervosos.

-Não... não se trata disso, é mais como uma retirada estratégica.

-Coulson confia plenamente em Skye, mas os níveis de restrição dela... –Fitz começou a explicar.

-Vocês então acharam um modo de retirá-la do avião. –Ann concluiu- Você pode fazer alguma coisa para ajudar a encontrar Coulson?

-Sim, eu posso... Mas essa estúpida pulseira...

Ann pegou o braço de Skye e ordenou.

-Agente Ann Marie. Desbloquear.

E a pulseira soltou um bipe, mas não o fecho não abriu.

-Estranho. Deveria responder a qualquer comado de qualquer pessoa acima do nível cinco. –Ann estranhou.

-Não importa, eu dou um jeito... –Skye murmurou sem realmente saber o que jeito daria.

-Vá. –Ann disse apenas- Encontre-o. –e entregou-lhe as chaves de um carro.

-Ok! Obrigada! –Skye disse mais animada, embora profundamente surpresa, e saiu correndo, esgueirando-se em direção aos helicópteros.

Ann olhou para Fitz, ainda sem retirar os óculos escuros.

-Agora todos saberão que eu estou aqui. Essa tentativa de abrir a pulseira dela deve ter soado um alarme lá dentro. –ela murmurou, abraçando as consequências dos seus atos, imaginando que seria presa ou até mesmo algo pior. Talvez devesse ter sido menos insubmissa a Victoria Hand durante aqueles anos todos a serviço dela.

-Então devemos entrar. –Fitz parecia estranhamente melancólico olhando para ela, e Ann logo começou a se sentir exposta demais naquela situação.

-Eu acho que você tem razão.

Fitz a conduziu para um dos laboratórios. Por onde passavam os agentes paravam para fitar-lhe e ainda que sem dizer nada pareciam querer compreender como ela estava ali. Era algo completamente fora do protocolo, mas naquele avião tudo parecia ser possível.

Ann pode ver May vindo pelo corredor e pela primeira vez desde que soubera do acontecido sorriu sinceramente. Retirou os óculos, sua ferramenta para esconder o estado de fragilidade em que se encontrava e ficou de pé, esperando que May entrasse. Quando ela o fez, pegou Ann nos braços e permaneceu daquele modo por um longo instante.

Fitz estava estarrecido diante daquilo, mas Simmons, que entrou junto com May, apenas abriu um sorriso triste. Ninguém jamais viu Melinda May agindo como se possuísse algum resquício de calor humano, mas naquele momento as duas mulheres no meio do laboratório estavam tendo um momento revelador.

-Ann, eu sinto muito. –May disse, indicando uma cadeira para que Ann se sentasse. A moça limpou os olhos e apenas acenou afirmativamente com a cabeça- Nós estamos fazendo o possível para...

-Victoria Hand vai me prender assim que me vir aqui. –Ann a interrompeu- Eu só preciso saber se ele está vivo.

-Sim. Por enquanto sim. –soou um pouco frio da parte de May, mas a moça pareceu não se importar- Você estava na Grécia quando eu lhe enviei a mensagem sobre Coulson. Você abandonou a missão.

-O que mais eu poderia fazer? –ela murmurou parecendo vencida- Você disse que a vida dele poderia estar em risco e na Grécia não havia nada, nem uma mínima pista sobre... –e interrompeu-se olhando para Fitz-Simmons e lembrando-se de que para eles aquela informação era restrita- ...sobre o que quer que a SHIELD tenha me mandando buscar por lá. Eu não queria perder tempo, eu imaginei que seria necessária aqui, mas eu não podia contar com esses estúpidos sentimentos aflorando quando eu mais preciso de clareza mental!

-Agente Hand ainda não sabe que você está aqui. Eu preciso informá-la, mas antes tomaremos um tempo para que você fique por dentro de tudo. E por favor, se acalme. Nós faremos o possível...

-Sim, obviamente faremos! –ela estava começando a soar um pouco alterada- Todos os dias de nossas vidas estamos em risco, mas da forma como você colocou na mensagem...

-É um risco bastante real. –May pontuou, o que fez com que Ann lacrimejasse novamente.

-Mel, eu já o perdi uma vez e ele jamais voltou pra mim. –Ann disse- Eu entendo, eu aceito que ele tenha preferido manter essa distância, mas eu o quero vivo. Ainda que distante, mas vivo. E de preferencia não sendo torturado.

-Todos queremos. –May disse, segurando a mão dela sobre a mesa e procurando palavras de conforto- Nas condições em que você está... você não pode ajudar muito.

May olhou para os olhos claros, incrivelmente idênticos aos de Coulson e sentiu-se sugada por toda a agonia que aquela moça estava enfrentando naquele momento. Ela perdeu o pai uma vez, um pai que embora não fosse exatamente presente durante toda a vida dela, agia como um exemplo e dedicava-se o máximo que podia para ser o tudo o que Ann precisava, que lhe inspirou a fazer tudo o que ela conseguira cumprir... Soube do retorno dele, mas claramente aquele não era o Phill Coulson que Ann conhecera como pai. Ele estava mudado e ela percebeu isso nos olhos dele quando o viu. Agora a eminencia de estar perdendo-o novamente destruiu o emocional dela e May podia jurar que Ann não havia comido ou dormido desde que obteve a noticia. Mesmo dar-lhe a noticia era algo errado, mas no fundo May imaginava que Ann tinha o direito de saber ou que talvez poderia ajudar. Claramente ajudar não seria o caso.

-Eu sinto que serei inútil nesse avião. –ela murmurou- Mas eu fiz algumas ligações e contatei algumas pessoas que podem ajudar. Por fora. Ninguém parece esperar nada de mim, nem mesmo que a missão da Grécia seja bem sucedida.

-Ninguém pode condenar você por não conseguir separar as coisas. –Simmons disse, logo percebendo que não fora convidada a participar da conversa e sorrindo envergonhada, recuou alguns passos, oferecendo água ou café para May e Ann.

-Obrigada, Simmons. –Ann disse satisfeita por estar num ambiente amigável, muito diferente da maioria dos quarteis generais da SHIELD em que esteve durante toda sua vida como agente. Era o efeito que seu pai causava nas pessoas.- E eu gostaria de um pouco de café se você não se importar.

-Claro. –ela sorriu e se afastou. Fitz a seguiu.

-Eu também tentei liberar a pulseira de Skye, mas não funcionou. –ela informou- Eu a conheci na saída do avião.

-Então ela saiu?

-Sim, eu lhe dei minhas chaves. Ela deve estar longe agora. -Eu também pedi ajuda de Tony. A namorada dele claramente não gostou de me ver telefonando pro meu ex-noivo, mas que se dane. Ele está agindo por conta própria, me informará sobre qualquer avanço.

-Hand se recusou a envolver qualquer um dos Vingadores na missão. Natasha Romanoff esteve aqui, durante uma hora ninguém conseguiu fazer nada, excitados demais com a presença dela. Mesmo eu me senti mais curiosa e tive que concordar que ainda temos muito o que aprender para sermos considerados super como ela é.

-Eu pedi que ela viesse. Depois da morte do meu pai nós fizemos duas missões juntas. Ou na verdade, eu servia de apoio enquanto ela fazia todo o trabalho. É realmente um mito.

-Hand a dispensou. Neste avião as prioridades são diferentes. Nós estamos focados em recuperar seu pai, mas as intenções de Victoria Hand estão focadas em desarticular a Centopeia.

-Soa como a velha Victoria Hand de sempre! –Ann murmurou- Uma agente excelente. Uma pessoa terrível.

May riu, lembrando-se de todas as vezes que ouviu reclamações de Ann sobre sua chefe. Elas se conheceram quando Ann ainda era uma menina cinco anos, que esperava ansiosamente pelos feriados americanos ou as folgas entre missões para poder encontrar o pai. Na época May e Coulson eram parceiros nas missões de Campo, e como May jamais teve família, geralmente acompanhava Coulson em suas visitas à Irlanda para ver a filha. A mãe de Ann, Sophia Marie, também fora agente da SHIELD, mas após engravidar deixou o emprego de lado e voltou para a Irlanda, onde criou a menina. Ela e Coulson não tiveram nada mais do que um par de noites juntos, mas aquele par de noites resultou no bem mais valioso para eles.

Ann era esperta, mesmo com pouca idade. Tinha os cabelos loiros, da exata mesma cor dos cabelos do pai, com reflexos mais dourados. Os olhos eram os de Coulson, o formato do rosto era o da mãe. Quando ela sorria virava um misto dos dois. Tinha agora cerca de vinte e sete anos, subira muito rápido na hierarquia da SHIELD. Um misto de May e Fitz podia definir suas habilidades quase que com precisão. Jamais foi considerada uma especialista, mas era ambivalente tanto para investigação de laboratório como para ação em Campo.

Coulson era definitivamente apaixonado por ela.

Depois de Bahrein, quando May se retirou das missões de Campo e eles acabaram afastando-se eventualmente, a única coisa que permaneceu foi Ann, na época ainda muito jovem, recém ingressada na Academia, mas era alguém que May conhecia e confiava. Alguém que serviu como ombro amigo e que ouviu cada palavra do acontecido naquela noite. Era como uma filha para May também. Sua família.

Choraram juntas quando a noticia da morte de Coulson se espalhou e foi naquele momento marcante que ambas seguiram caminhos separados. Cada vez mais afundada nos trabalhos burocráticos da SHIELD, May decidiu que não queria tocar nas feridas de Ann. Sabia que estava sendo muito difícil recuperar-se daquela perda. Ann isolou-se na Europa após a Batalha de Nova York, onde lutou em campo pela ultima vez. Viu Loki ser preso, teve seu momento diante dele e pode aplicar-lhe um belo par de golpes no bonito rosto cínico. Deixou que ele soubesse por que estava apanhando daquele modo, sem chances de defesa e sentiu que do seu modo estava honrando seu pai.

Quando Coulson voltou dos mortos, ou do Taiti, como ele gostava de pensar, encontrou-se com Ann uma única vez.

-O Diretor Fury resolveu me dar carta branca em relação a algumas coisas. Eu montarei uma equipe que trabalhará sob meu comando num avião superequipado. –ele lhe dissera, num café em Londres, após os abraços e o choro de felicidade pelo reencontro.

Ann soube ao olhá-lo nos olhos que havia algo diferente ali. Ela viu o corpo do pai, ela beijou sua testa fria e chorou sobre seu peito ferido por muito tempo, até que a Agente Hill veio até ela e a retirou dali. Ele esteve morto por muito mais tempo do que acreditava haver estado, mas Ann não teve coragem de lhe dizer isso. O que quer que a SHIELD tivesse feito para trazê-lo de volta era algo pelo que Ann só podia agradecer. Mas aquele Phill Coulson podia convencer qualquer pessoa que convivesse com ele em missões ou no restrito ambiente de trabalho. Mas não sua filha. E provavelmente também não May.

Coulson soube que ela não o sentia da mesma forma que antes. Ele mesmo não a sentia da mesma forma que antes. Decidiu se afastar. Ann negou o convite dele em ingressar na sua "equipe dos sonhos", já que aos ouvidos dela soou meio vazio. Ao longo dos meses recebeu algumas ligações, sempre breves, perguntas padrão a respeito do seu bem estar e palavras doces sobre o modo de como ele a amava. Ela sabia que ele amava e ela o amava também. Mas eles não podiam estar próximos um do outro. Não reconhecer um ao outro era doloroso.

May ouviu tudo aquilo dos lábios dela na noite após o encontro com o pai. Ann parecia perdida, como se a SHIELD tivesse criado um clone cuja mente havia sido reprogramada e ele se parecesse exatamente como seu pai. Quando May aceitou "dirigir o ônibus" tinha em mente a promessa que fizera a Ann de que cuidaria de Coulson para ela. E dessa vez ela havia falhado, mas a moça não parecia estar lhe cobrando nada.

-Este é Grant Ward. –May disse, quando o agente entrou no laboratório de Fitz-Simmons trazendo os copos de café para elas.

-Olá. –Ann apertou a mão do homem sem de fato lhe dar muita atenção- Eu sou apenas Ann, filha de Phill Coulson hoje.

-Então talvez você não devesse estar aqui, porque nós precisamos da inteligência e experiência da Agente Marie para poder trazer Coulson de volta. –Ward tentou soar agradável, mas suas palavras tinham uma dureza embutida nas silabas que foi impossível não deixar Ann chocada- Perdoe-me, eu disse algo...?

-Não... –ela sorriu tentando parecer menos vítima e mais Agente naquele momento- É que eu não poderei fazer nada para ajudar por enquanto.

-Você tentou liberar a pulseira de Skye? –Ward perguntou, sentando-se do outro lado da mesa.

-Fui eu. –Ann disse- Se alguém vai sofrer consequências aqui, que elas não estejam espalhadas. Hand vai me enxotar daqui de qualquer forma. Eu não quero atrapalhar o trabalho de vocês. –ela disse quando se deu conta de que estava tomando bastante do tempo deles. Talvez vocês já devam reportar minha presença aqui.

-Oh, ela já sabe. –Ward disse- Todos neste avião sabem que você está aqui. Ela não fez nada ainda porque está com o Diretor Fury no telefone.

-E nós não estamos tendo exatamente muito uso desde que a equipe dela chegou. –May disse parecendo contrariada- Pelo menos Skye está lá fora, procurando com tudo o que tem, por fora dos protocolos, ignorando as regras e a burocracia... Eu jamais imaginei que diria isso, mas eu estou grata que ela seja tão desapegada a normas.

-Eu sabia que um dia você admitiria que...

-Não me pressione, Ward. –May murmurou em advertência, e o outro se calou.

O telefone de Ann soou e ela atendeu sem de fato olhar o numero que a chamava.

-Marie. –disse apenas- Pai! –gritou, olhando rapidamente para a tela do celular e vendo que o numero que a ligava era criptografado.

-Rápido, Fitz! –May chamou o rapaz, que logo apareceu com seu tablet e o conectou ao telefone de Ann.

"Ann?"

-Sou eu papai, como você está? –ela tremia, seus olhos lhe traiam com lágrimas e ela temia não poder fazer as perguntas corretas.

"Não é o Taiti, mas já estive em lugares piores."

-O que fizeram com você?

"Nada que já não tenham feito antes."

-Dê-me alguma dica da sua localização.

"Eu sinceramente não sei onde estou. Sequer tenho certeza do que fez com que eles me pusessem no telefone com você. É mesmo você?"

-May e Ward estão comigo. Você quer ouvi-los?

"Não, não eu..." –ele se deteve, agora descobrindo onde aquelas pessoas queriam chegar. Ann romperia seu coração em uma dezena de pedaços e o faria amolecer e talvez render-se às pressões daquela máquina- "Querida, não se preocupe. Eu estou bem."

-Você não está! –ela podia sentir pelo tom de voz dele- Fitz, você está conseguindo rastrear a ligação?

-Não... Não está funcionando.

"Despeça-se dela agora". –a voz feminina soou meio abafada, pelo telefone.

-Não! –Ann gritou- Papai...

"Eu... me sinto tranquilo agora que falei com você, meu amor."

-Pai...

"Eu falarei com você mais tarde, querida."

-Não! –ela agora chorava sem restrições. Ele sempre dizia aquilo antes de partir numa missão.

E a linha ficou muda. Ela olhou para Fitz com ansiedade, mas ele apenas acenou negativamente com a cabeça. Simmons tocou o ombro dela e entregou-lhe uma caixinha com lenços de papel e se afastou. May e Ward se entreolharam. Aquele tipo de tortura psicológica era bem eficaz, e parecia ser algo que faria Coulson ceder. Podiam espanca-lo o quanto quisessem, mas nada se compararia a ouvir a voz de Ann e perceber que a perderia.

-Eu devia ter desligado. –ela disse- Ele agora está bem mais sensível do que esteve antes.

Ninguém disse nada, porque era exatamente aquilo que qualquer um deles teria feito. Desligado o telefone no momento em que perceberam que o rastreamento não funcionaria. Mas não resultaria em nada bom, Coulson saberia que aquela era uma reação extrema para despistar ou que nenhum deles compraria a tortura psicológica. Mas Ann reagiu apenas como uma filha reagiria ao falar com o pai, ignorando treinamento e protocolo, e Coulson certamente teria uma boa lembrança dela. Aquela que poderia ser a ultima.