Uma garotinha estava sentada em um balanço em um grande e florido jardim
Prólogo
Uma garotinha estava sentada em um balanço em um grande e florido jardim. Balançava o corpo levemente, pois tinha um grande livro no colo.
Ela levantou a cabeça e seus olhos estavam cheios de lagrimas.
Não podia acreditar que o avô morrera. Doía de mais pensar que seu melhor amigo não estaria mais lá sempre que precisasse, ou quando seus primos mais velhos iam para a escola e ela ficava sozinha.
A garota deveria ter uns oito anos, tinha cabelos escuros, num leve tom azulado, e olhos profundamente azuis, contrastando perfeitamente com a pele alva. Vestia um vestido infantil, com babados e laçinhos, que ela sempre odiou, todo preto. Seus sapatos também eram pretos, e, para ela, o mundo seria preto dali em diante.
Sentiu uma lagrima escorrer pelo rosto e abaixou a cabeça, derrotada.
Apesar de pequena, ela não tinha o habito de chorar. Alias, odiava chorar, principalmente na frente dos outros. Ela se sentia fraca e vulnerável, por isso sempre se escondia se estava muito triste. Ia a aquele lugar.
Era o lugar mais afastado da grande mansão de sua família, onde acontecera o velório e enterro do seu querido avô. Ela sempre ia até o balanço com seu avô. Ele dizia que foi construído pelo avo dele, em homenagem a neta do meio, que morrera aos cinco anos. Era o lugar especial dos dois, e ele dizia que nunca iriam se separar, mesmo ela sendo a neta do meio. O que ela não esperava era que o avô morresse tão cedo...
Olhou novamente para o livro em seu colo. Era o ultimo livro que seu avô lhe dera. Ela ainda lembrava das palavras dele ao entregá-lo: "Talvez eu não esteja por perto para te ajudar com este, mas eu quero que você faça o que livro pedir até conseguir!".
E quando ela perguntou o que aquilo significava, ele apenas sorriu.
Seu avô sempre fora enigmático, ainda mais quando dava seus livros antigos para ela. O que estava em seu colo era um deles. Ainda não tinha começado a ler, mas sabia que o livro tinha um mistério, que, talvez, envolvesse a morte do tão querido avô.
Ela era muito inteligente, aprendia as coisas com facilidade, e sabia que o avô morrera em circunstancias misteriosas e suspeitas. Seus pais diziam que tinha sido um acidente de carro, mas ela achava que tinha algo a mais, achava que tinha a ver com magia.
A família dela era muito influente na Itália, tanto no mundo trouxa quanto no bruxo. Todos de sua família eram bruxos, e não via a hora de se tornar uma também.
O problema de se ter uma família influente nos dois "mundos", era que estavam cercados de cobras. A máfia siciliana era bruxa também e tinha richa com sua família. Mais especificamente, o patriarca da máfia tinha um problema com o seu avô.
Como ela sabia de tudo isso? Tinha um dom especial, o dom de escutar atrás das portas! Alem de saber onde e com quem conseguir informações.
Parece muito para uma garota de oito anos, mas ela tinha sido ensinada muito bem, e acho que não é preciso dizer por quem.
E esse era mais um motivo para o qual às vezes ela se sentira deslocada. Nunca gostara de ser igual a todos, mas às vezes, o fato de ser tão diferente afastava as pessoas.
Levantou a cabeça novamente, olhando o sol que começava a desaparecer no horizonte. Sentiu um arrepio percorre-lhe o corpo, e decidiu que deveria seguir em frente, sem fraquejar de novo, como seu avô havia lhe ensinado, de cabeça erguida e sorriso no rosto, por mais que as coisas fossem difíceis.
A partir daquele dia, a pequena garota de cabelos azulados nunca deixou que uma mínima lágrima se formasse em seus olhos muito azuis. A partir daquele dia, ela se tornou indiferente aos sentimentos ruins, passando por cima de forma considerada fria e calculista, do jeito que nem um adulto muito equilibrado conseguiria.
Mas aquilo um dia iria mudar, pois a vida muda e o mundo dá voltas, e ela iria viver coisas que nunca vivera em sua mansão na Sicília, situações que nunca passara e sentimentos que nunca tivera.
Era hora de conhecer coisas novas.
