Potter Publisher: James Potter era um homem gentil, acima de todas as coisas. Mas também era inteligente, talentoso e sabia reconhecer o valor das pessoas. Por isso, investira uma pequena parte de sua fortuna em uma paixão. A editora. Ele adorava ler, adorava ouvir novas histórias e, qual seria o melhor jeito de fazer isso, se não uma editora? Mal sabia ele que assim também começaria sua própria história.

Universo alternativo, eventual mature content, por isso M, ok? :)

James, Lily e os Marotos não me pertencem. Todos sabem, porém nunca é demais dizer. J.K. Rowling still rules the world.


Sobre hábitos

Acordar cedo nunca foi fácil para James. Ele simplesmente não conseguia abrir os olhos antes das 06h30, como deveria. O despertador tocava três vezes até que ele reunisse a coragem necessária para se levantar da cama.

Arrastou-se até o banheiro, abriu o chuveiro e se colocou embaixo da água, depois de tirar a samba-canção. Ali acordou de verdade e tomou banho. Depois, escovou os dentes, e voltou para o quarto.

Amelie já ocupava sua cama e ajeitara-se em seus travesseiros. Ele sorriu quando o rabinho da vira-lata abanou. Fez-lhe um cafuné no alto da cabeça e abriu o armário, para pegar a camisa branca e a calça social preta que eram quase um uniforme.

Vestiu-se, perfumou-se e colocou os óculos de grau. A armação de acrílico preto o deixava com cara de inteligente, de acordo com Sirius. Pff, como se ele precisasse parecer inteligente. Ele era. E ponto.

Despediu-se de Amelie com mais um carinho na cabeça. Ela já estava dormindo novamente e ele não se preocupara em arrumar a cama. Wilka faria isso mais tarde.


"Central de Apoio Saint Louis, boa tarde", atendeu Lily.

"Boa tarde", respondeu uma mulher com forte sotaque do outro lado da linha. "Hoje pode ser o último dia da minha vida", confidenciou. "Eu quero mostrar ao meu marido do que sou capaz".

"Não acho que acabar com a sua vida possa mostrar algo a ele", Lily respondeu, prontamente. "Qual é o seu nome? Essa ligação é completamente privada, então não tenha medo de dizer quem você é"

"Claire", a mulher respondeu, "Meu marido me chama de covarde, preguiçosa e imprestável. Todos os dias, quando chega do trabalho, me pergunta: 'o que tem para comer?', e quando eu lhe digo que não tive tempo de preparar nada, ele me agride".

"Você já pensou em procurar as autoridades?"

Claire riu ironicamente, "Se eu fizer algo assim, ele me mata", e depois, com amargura, continuou: "Mas não pretendo dar a ele este prazer. Pretendo fazer isso por mim mesma"

"Acha mesmo que isso vai causar-lhe algum impacto?"

"Acho. Quero que ele sinta tanto remorso, que seja incapaz de trabalhar, ao ponto que nossos filhos fiquem com os avós"

"Quantos filhos você tem?"

"Três. É por isso que nunca consigo deixar o jantar pronto até que ele chegue"

"E qual é o nome deles?"

"Fleur, Marie e Jean", sorriu. Nomes franceses, como o dela. "São as três coisas mais importantes da minha vida"

Aí é que está, pensou Lily. Se são tão importantes, como é que Claire seria capaz de se matar, para provar algo ao marido? Era o argumento pronto.

"E como eles são?", continuou perguntando, para estabelecer uma relação de proximidade.

"Fleur é a mais velha. Tem cinco anos e mei menina mais linda que já vi em toda a minha vida. Perfeitamente educada, gentil e doce. Adora o nosso cachorrinho, Petit, e faz chá para ele e suas bonecas. Marie vai fazer quatro anos daqui algumas semanas. Ela é linda também. Mas de um jeito diferente. É brincalhona, bagunceira e é responsável por grande parte da zona que minha casa se torna, quando brinca com suas bonecas Barbie. Marie gosta de criar ambientes para as bonecas, como os nossos ambientes, sabe? Então, sai espalhando brinquedos. E Jean, meu pequeno Jean, é um menino muito bonzinho. Ele tem dois anos e fala bastante. Me segue por toda a casa e não me deixa arrumar muitas coisas. Gosta de ficar agarrado a minha perna!", ela ri um pouco.

"Eles parecem ótimas crianças, Claire", sorriu Lily, "Por que castiga-los por algo que seu marido fez?"

"Porque quero que John sofra", ela murmurou, começando a chorar. "Quero que sinta toda a dor que sinto, quando o vejo chegar bêbado e fedendo a perfume de prostitutas baratas"

"Ele vai sofrer o suficiente se você se separar dele e levar as crianças consigo"

"Eu não posso", arfou Claire.

"E por que não?"

"Não tenho dinheiro", confidenciou Claire. "Não posso voltar para a casa dos meus pais"

"Mas é claro que pode!", Lily respondeu, de pronto. "Eles vão aceitar você e os netos de volta, com toda certeza"

"Eu não tenho dinheiro para pagar as passagens de volta para a França"

"Já pensou em procurar um emprego de meio período? Algo que você possa fazer enquanto as crianças estão na escola?", Claire fungou do outro lado, enquanto Lily continuava. "Você pode fazer algum dinheiro assim. E, depois, pode pedir ajuda aos seus pais. Eles ficariam felizes em ajudar, não?"

"Pode ser"

"Então!", Lily tentava animar Claire. "Hoje, depois de deixar as crianças na escola, preciso que você faça uma coisa por mim"

"Como assim?"

"Na verdade, é por você", Lily sorriu, "Depois de deixar as crianças na escola, você vai até o centro comunitário do seu bairro, vai procurar um emprego lá"

"Mas o que eu vou fazer? Eu não sei fazer nada!", Claire exasperou-se. "A única coisa que faço é cuidar dos meus filhos, cuidar da casa..."

"Aposto que sabe costurar", Lily tentou.

"Bem, é claro que sei costurar"

"Pois então. Você pode oferecer-se para dar aulas de corte e costura"

"Até que não é má ideia", Claire ponderou. "Minha mãe sempre disse que eu levava jeito para fazer vestidos"

"Então, nós temos um acordo", Lily sorriu para si mesma. "Faça isso. E tente dar aulas durante uma semana inteira. E, se precisar, ligue novamente, certo?"

"Certo. Obrigada", Claire agradeceu.

"Não há o que agradecer"

"Com quem eu falei hoje?", perguntou, por fim.

"Lily"

"Obrigada, Lily"

"Por nada, Claire. Tchauzinho"

"Tchau"

Quando desligaram, Lily tirou o fone de ouvido. Respirou fundo. Havia ajudado mais uma pessoa. E aquela sensação era sempre muito boa.

Lily, além de voluntária no Centro de Apoio Saint Louis, era escritora. Gostava de contar histórias de amor, porque dizia nunca ter vivido uma. Quando vivesse, talvez contasse histórias sobre outras coisas.

Ela nunca havia publicado um livro. E, talvez por isso, trabalhasse meio período em uma pequena editora. Era ela quem lia os livros das pessoas, revisava e dizia ao editor se deveriam publicar ou não.

James Potter era dono da editora Potter Publisher e tinha cinco funcionários. Nem todos trabalhavam ao mesmo tempo, mas todos os dias, às duas horas da tarde, Lily Evans saía do Centro de Apoio no centro da cidade, para a zona sul, rumo a editora.

Entrava às duas e meia da tarde e saía às nove da noite. Era um bom horário. Se era. Podia dormir até mais tarde, podia trabalhar em outras coisas... Mas optara por fazer trabalho voluntário, simplesmente porque se sentia bem ajudando as pessoas.

Lily tinha vinte e quatro anos. Era formada em letras e, vez ou outra, dava aulas de reforço para Moriarty, um menino de doze anos, que não era bom em inglês. Morava sozinha, desde que Marlene se casara.

O metrô estava quase vazio, quando Lily entrou. O vagão que escolhera, também. Sentou-se, colocou os fones de ouvido e deu play em uma música, no modo aleatório. Sete estações depois, chegara ao destino.

Caminhou pelas ruas com passos apertados, para não chegar atrasada, e, quando parou, estava em frente a uma porta vermelha, com uma pequena placa preta, com os dizeres "Potter Publisher".

Ela ainda sentia um frio na barriga quando via aquilo. Era só o seu segundo dia.

Quando entrou, colocou o casaco no grande mancebo do hall, e se encaminhou diretamente para sua pequena mesa, próxima a janela. A porta da sala de James Potter estava fechada. Não havia mais ninguém no escritório além dela, afinal as pessoas tinham seus próprios horários também. James era o que se podia chamar de um chefe generoso.

Lily sentou-se e começou a ler sua papelada.


James Potter estava sentado à sua mesa, com os pés para cima, lendo um manuscrito, quando escutou a porta da frente se abrir e fechar. Lily Evans chegara. Ele olhou para o relógio e sorriu, satisfeito. Eram exatamente duas e meia da tarde, o horário que ela se propusera a chegar todos os dias.

Havia algo sobre Lily, James pensava naquela quarta vez que a via. Algo que ele não sabia explicar o que era, mas que o fazia sentir-se bem. Dava-lhe, inclusive, certo frio na barriga. Deviam ser aqueles belos olhos verdes, cheios de vitalidade e energia, que contradiziam toda a postura séria e calma que ela apresentava o tempo todo.

Talvez fossem também os cabelos acobreados e o modo como a franja lhe caía pelo rosto, emprestando-lhe um ar sensual, mesmo sem querer. Talvez fosse também sua inteligência, suas anotações nos cantos dos manuscritos, suas frases sublinhadas, ou ainda... sua delicadeza.

Havia algo sobre ela. E James ainda estava prestes a descobrir o que era.

Levantou-se de um salto, colocando a papelada sobre a mesa, e ajeitando os óculos no lugar. Ele passou a mão pelos cabelos, numa tentativa vã de penteá-los, e abriu a porta de sua sala.

"Boa tarde, Lily", James sorriu.

"Boa tarde, Sr. Potter", ela sorriu de volta, ligeiramente corada.

"Eu já disse que você pode me chamar de James", ele suspirou, caminhando em direção à máquina de café.

"Desculpe", ela meneou a cabeça. "É que você é meu chefe. Eu acho estranho"

"Mas eu nem ao menos sou velho", ele retrucou, colocando um copinho embaixo da saída do café, e apertando um botão. "Eu aposto que temos a mesma idade"

"Eu tenho vinte e quatro", Lily disse, como se fosse óbvio que ele era mais velho. Depois, ficou sem saber o que dizer para consertar. Não tivera a intenção de ser insolente.

"Eu tenho vinte e sete", James sorriu, virando-se para ela, "Não sou tão mais velho assim, vê?"

"Está certo", ela sorriu novamente. "Precisa de alguma coisa?"

Se ele precisava de alguma coisa? Aquela pergunta o pegara de surpresa. Ninguém nunca perguntava aquilo na editora. Os outros três leitores de manuscrito simplesmente entravam e saíam como se ele não estivesse ali. A menos que precisassem, não lhe dirigiam a palavra. Isso não se aplicava, é claro, a gentil Gemma, sua copeira e faxineira.

"Não, obrigado", respondeu, tomando um gole de café. "Com licença"

Lily acenou com a cabeça e voltou sua atenção para o manuscrito, enquanto James voltava para sua sala, sem fechar a porta ao passar.

Gostava da ideia de poder olhar para ela de vez em quando.

E, de fato, ele chegara a conclusão, o que havia sobre Lily era gentileza.

E gentileza sempre o encantara.


Ok, ladies, I'm back! Espero que gostem dessa historinha nova e se divirtam. Afinal, esse é o objetivo :)