b> u> Os Cegos do Castelo /b> /u>

b>1- u>O que deu certo /b> /u>

- É hoje! É hoje! É hoje!- o dono desta voz, um rapaz de recém-completos 17 anos, cabelos negros e desalinhados, olhos castanhos por trás de um óculos perfeitamente redondo e que atende pelo nome de James Potter, mal cabia em si de euforia e ansiedade. As vítimas de sua inquietação eram um Remus Lupin, deitado em sua cama dossel determinado a conseguir se concentrar na matéria da prova de Poções, e o chão, no qual James estava prestes a abrir um buraco.

- Prongs, acho que vou ter que te deixar aqui sozinho e ir estudar em outro lugar! Nem o Salão Comunal lotado não me faz ficar tão disperso- Lupin o olhou irritadiço, e ao voltar sua atenção para o pergaminho estendido à sua frente, sentiu uma poderosa almofadada no rosto.

- Ah, você tá feliz por mim, não tá amigão?!?

Remus encarou o amigo quase exasperado. Ele parecia ter sido atingido por um feitiço de retardo mental; era impossível não rir da cara de palerma que ele exibia, com aquele sorriso indefectível e os olhos que só faltavam saltar das órbitas tamanha era sua excitação. E o pior é que ele estava certo: Remus não podia deixar de sentir-se felicíssimo por ele. O encontro que James e Lily teriam logo mais à noite era algo pelo qual ele batalhava durante mais de um ano. Ele e os Marauders, é claro, que de tudo fizeram para aproximar os dois. Mas o fato é que a garota, uma das mais belas da Casa e, porque não dizer da escola, nutria uma antipatia sem fim pelo Marauder em questão e muitas vezes era o próprio quem provocava isso.

E no dia anterior, toda esta história parecia ter tido um final feliz. E não foi preciso nenhuma outra investida do rapaz, pois o que aconteceu foi como um verdadeiro milagre. Lily foi quem o mandou um bilhete perguntando se queria lhe encontrar às dez e meia da noite no banheiro dos monitores. Moony ainda podia ouvir o berro de felicidade que ele soltou quando leu aquilo, para logo depois perguntar com um olhar assassino á Sirius se aquilo se tratava de uma brincadeira de mau gosto. Mas a expressão no rosto dele, de Peter, e do próprio Remus denunciava: era verdade. À partir daí o rapaz não deu um momento de sossego para nenhum deles, e Lupin desconfiava que nem se o time de Quadribol da Grifinória fosse disputar com a Sonserina um jogo valendo cinco anos de campeonato ganhos ele não ficaria tão aparvalhado.

- É, por que eu negaria... eu estou sim, tão feliz e ansioso quanto você, com a diferença de que eu sei disfarçar e ocupar minha mente com outras coisas. Você deveria fazer o mesmo, ou tá achando que outro milagre vai acontecer no exame de Poções?

- O que?!! Moony, como você acha que eu vou estudar pra alguma coisa sabendo que daqui á algumas horas eu vou estar frente a frente com a Lily?! E que desta vez não será numa discussão ou coisa parecida??

- Ai, então vai caçar gnomos mas não fica me atormentando aqui não.

James pareceu considerar a idéia.

- Falando em caçar, cadê o Sirius e o Peter?

- Não sei.

- Levaram o mapa?

- Não sei.

- Mas que droga Moony, pare de 'não sei, não sei'!

- Por que você não vai procurá-los...

- Ai tá bom, tá bom...- ele saiu do dormitório pisando em ovos como uma criança de três anos de idade, e Lupin respirou aliviado por estar finalmente a sós com sua matéria de Poções.

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Só a alguns metros do Salão Comunal da Grifinória, duas garotas andavam apressadas buscando a entrada do retrato da Mulher Gorda. Uma delas era a bela Lily Evans, e a outra sua melhor amiga Catherine Bolton, uma menina com um lindo cabelo loiro e liso, mas que usava um ocúlos fundo de garrafa e tinha muitas espinhas pelo rosto.

- Eu vou me atrasar Cathy, ai Merlim eu vou me atrasar, eu não posso me atrasar... droga de monitoria, sempre me empata a vida!

- Eu queria ter uma máquina fotográfica Lily, juro que queria! Um momento raro desses tinha que ser registrado!- dizia a menina divertida, embora Evans não se incomodasse com essas provocações.- Minha amiga, você não só não está atrasada como falta mais de uma hora ainda para seu encontro. Pra quem até tremia de nervoso quando via aquele garoto na frente, você está muito preocupada em encontrá-lo, hein?

Lily a olhou impaciente.

- Você fala como se não fosse minha melhor amiga e não soubesse que eu sempre fui louca por ele!

- O que eu quero dizer é que você tem que se acalmar! Sabia que isso pode te fazer desistir na hora H?!

- Desistir?! Só se me acorrentarem no pé da cama! É claro que eu não vou desistir—a ruiva notou a mudança de expressão da garota e ao olhar pra frente ela parou como se batesse numa parede de vidro. Cathy ficou muda. Era James quem aparecia como num passe de mágica na frente delas, andando tão depressa quanto as duas. Justo agora que estavam quase alcançando a entrada do Salão.

O rapaz estava tão compenetrado em seu caminho que só reparou nas garotas quando estava quase derrubando-as com um encontrão. Ele ficou tão assustado que quase saiu correndo de volta como um cachorro levando vassouradas, mas ainda tinha consciência que seria muito grosseiro fazendo isso. Era a primeira vez que ele se encontrava com Lily depois do bilhete e ele definitivamente não estava preparado para isso. Nem ela.

- Lily, eu tô indo pro dormitório tá bom...!- e Cathy saiu pela tangente não querendo de forma alguma virar castiçal na presença do futuro casalzinho. E sobraram Lily e James se encarando abobalhados, sem fala e vermelhos como dois tomates.

- E... então, Potter, você pretende ir ao encontro que marcamos, ou vai ser covarde como sempre?

Lily sabia que não estava sendo educada e nem receptiva, mas preferia abrir o jogo só na hora certa. Enquanto isso ele continuaria provando da sua pose de superior.

- Se isso é um teste, você perdeu dessa vez, Evans. Eu vou, e vamos ver no que vai dar.

James se orgulhou da resposta quando a menina abriu a boca inflamada de despeito. Mas apesar disso sabia que mais tarde a conversa seria bem mais amena, se houvesse conversa pois não era bem isso o que ele pretendia.

- Então peça ao Lupin que te ensine onde é a entrada secreta do banheiro dos monitores. Atrase-se um segundo e eu não estarei mais lá, ouviu bem?!

E antes que ele respondesse de novo ela seguiu seu caminho rumo à Torre Norte. Revirando os olhos e sentindo-se mais leve de repente, James também continuou disposto a encontrar Sirius e Peter, que estranhamente haviam desaparecido desde o final da tarde e ainda por cima tinham o Marauder's Map com eles. Isso cheirava de longe a confusão.

b>2- u> O que não deu certo /b> /u>

À cada corredor que Prongs encontrava vazio era um palavrão que saía queimando de sua boca. Ele odiava ter que procurar alguém sem o mapa e estava quase desistindo da idéia. Podia chegar no Salão Comunal e dar de cara com os dois jogando snap explosivo, mas algo lhe dizia que este não era o caso. E mesmo que o relógio apontasse nove e quarenta da noite ele precisava saber onde os dois Marauders haviam se metido. Mas assim que os encontrasse iria exigir que os quatro tivessem cada um sua cópia do mapa, pois não voltaria a procurar ninguém sem a ajuda daquele pergaminho mágico nem que estivessem sendo atacados por trasgos montanheses.

Ao virar mais um corredor e ter certeza de que estava chegando ao corujal, um rato passou correndo na direção contrária e isso sem dúvida chamou sua atenção. E quando uma coruja enorme cor de vinho passou rasante na mesma direção, James percebeu duas coisas: a coruja ia comer aquele rato, e só havia um rato idiota o bastante pra ficar vagando nos arredores do corujal.

- i> Immobilius!! /i >- gritou após empunhar sua varinha correndo atrás da coruja. A ave, que era incrivelmente bonita, caiu dura no chão e no mesmo instante ele viu Peter surgir no lugar do rato. O garoto tremia da cabeça aos pés, e James exclamou indignado:

- O que diabos você estava fazendo em sua forma animagus perto do corujal?!! Você está doido? Perdeu a noção do perigo seu animal!??

- Ah James!! Não foi minha culpa! Aquela gata horrorosa do Filch me perseguiu por todo o lugar e eu não vi pra onde estava indo!- Peter explicou-se com a voz mais parecida com um grunhido de rato do que nunca.

- Mas porque estava transformado?!

- Estava atrás de você e do Remus e pra ir mais rápido eu me transformei! Só que daí não pude levar o mapa comigo e acabei me perdendo...- Wormtail suava por todos os poros e parecia muito aflito. Se ele tinha tanta urgência em encontrá-los então sabia que estava certo: Sirius estava mesmo metido em mais uma encrenca. E nesta hora seu coração bateu mais rápido e James se pegou num dilema: ir ajudá-lo ou voltar para a Torre Norte e ir se arrumar para o encontro?

- O que foi que aconteceu afinal!?

- Sirius está numa enrascada!!- disse Peter quase chorando- Malfoy e Lestrange se vingaram da detenção que tomaram ontem por causa dele e o enfeitiçaram com o i> Chagas Corpus! /i> E isso já faz quase meia hora—

- O QUÊ???!!! i> Chagas Corpus /i> ??! Quase meia hora!!! Por Merlin, onde ele está, me leve lá agora!

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Remus foi tirado de sua concentração novamente por uma leve batida na porta do dormitório. Dessa vez não havia problema; o que ele poderia decorar da matéria de Poções já estava devidamente dentro de sua cabeça, e ele já pensava em terminar com os estudos naquela noite. O rapaz levantou-se e foi abrir a porta pra quem quer que estivesse ali.

- Lupin, oi.

- Oi Lily. O que faz aqui a esta hora, não devia estar se preparando para o encontro com o Prongs?- perguntou ele sendo simpático.

O estranho foi que ao citar o nome de seu amigo ele notou que desde a hora em que ele praticamente o expulsou do dormitório, James não havia voltado. Nem ele, nem Sirius, nem Peter.

- Vim perguntar se ele já sabe onde é a entrada pro banheiro dos monitores?- foi o que ela disse, mas aquilo não convenceu Moony. Não pela pergunta em si, mas sim porque ela olhava de um canto para outro do dormitório como se esperasse ver James ali se arrumando, ou ao menos sinal de que ele já estava pronto.

- Ahn... sabe sim!

- Ah, ok então, eu vou indo... já são dez e quinze né, tá quase na hora...- ela respondeu relutante em deixar a porta do dormitório. Isso obrigou Remus a perguntar se era só isso mesmo.

- Ah tudo bem. Não, eu queria mesmo era ouvir uma palavra de apoio de algum dos amigos dele, e acho que vai ter de ser a sua Lupin!- disse ela rindo mas totalmente apreensiva. Ele riu também.

- Oras Lily, vai dar tudo certo! Vocês só não podem deixar o orgulho falar mais alto, principalmente você mocinha. Tem que deixar seu coração à mostra pra que o James saiba que você também gosta dele e poder te mostrar o quanto ele gosta de você. Se for assim, vocês sairão de lá como o mais novo casal de Hogwarts, o mais bonito de todos por sinal!

A ruiva ouviu a tudo como se ao mesmo tempo imaginasse cenas desse encontro. Mas ao final estava bem mais tranqüila.

- Obrigado Lupin, você reforçou o que eu já estava tentando enfiar na cabeça a todo custo: que hoje eu estarei com ele pra dizer que o amo, e não pra ofendê-lo como sempre.

- É exatamente essa a idéia.- concluiu o rapaz com um sorriso fraternal

- Bem, então agora eu já vou mesmo, preciso me preparar mais um pouco para o momento...

- Claro.

- Até mais Lupin, e obrigado!

- Disponha!

Enquanto a garota descia as escadas Remus se fechava no dormitório de novo. Apesar da conversa quase formal ele sabia que tinha ajudado. Lily era uma garota pela qual ele tinha um grande afeto, mas não chegavam a ser amigos. Sua relação com ela tratava-se muito mais de monitoria do que qualquer outra coisa, mas esperava que talvez pudesse nascer uma grande amizade entre eles. E esperava também que algum dos Marauders desse notícia, principalmente James. Se o amigo perdesse essa chance com Lily ele duvidava que ela lhe desse outra mais tarde.

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- É aqui Prongs!- gritou Peter parando em frente a uma das salas do terceiro andar que estava com a porta fechada. O garoto encostou na parede tentando recuperar o fôlego perdido numa correria desde o corujal, na Torre Leste, até ali. James não perdeu tempo e abriu a porta, ou ao menos era isso o que ele queria mas ela estava trancada.

- Eles ainda estavam aqui quando você saiu?!

- Sim!

- Sirius!- berrou ele- Sirius! Você está aí dentro?!?- mas não houve resposta e isso aumentou o pânico dos dois.

- Abra a porta logo James!

- i> Alohomorra!! /i> - e girou a maçaneta mas não abriu- i> Diffindo!! /i> - mais uma vez não deu certo- Sai de perto Peter!

Os dois garotos se afastaram da porta e James gritou i> "Bombarda!" /i> , e uma explosão finalmente abriu a porta, arrancou-a do batente a fez cair no chão.

Ao entrarem constataram com terror que Sirius estava inconsciente, algemado à parede e que uma poça de sangue se formava sob seus pés descalços e suspensos no ar. Peter ficou estático ao ver o que o feitiço i> Chagas Corpus /i> estava causando em Sirius. Aquele era um encantamento de pura magia negra que machucava sériamente o corpo do atingido, e conforme se passava o tempo, mais e mais ferimentos surgiam como chicotadas.

- Eu mato aqueles sonserinos! Eu juro que mato! Mato!- exclamou James correndo até seu amigo, que estava muito pálido e seu sangue escorria por dentro de suas vestes como água jorrando da fonte.- Sirius, Sirius....- ele deu leves batidas no rosto do animago para ver se ele voltava à consciência mas foi em vão. As algemas que o prendiam no alto da parede contribuíam para ferir ainda mais seus pulsos e tirar-lhe mais sangue. As partes de seu corpo descobertas estavam com cortes profundos e Prongs imaginou como não estaria o resto.

- Temos que tirá-lo daqui o mais rápido possível! Eu não sei qual é o contra-feitiço e temo que só o próprio Malfoy possa desfazê-lo! Vamos me ajude aqui Peter!

Parecendo com medo de chegar perto do Marauder, Wormtail foi até os dois para ajudar James a pegá-lo. Bastou um toque de varinha em cada algema e elas foram abertas, e com um extremo cuidado, os dois apoiaram Sirius no ombro e o deitaram no chão. Prongs chegava a conclusão que não poderiam carregar Sirius daquele jeito, pois seus cortes poderiam se abrir ainda mais e ele não suportaria muito tempo.

- Wormtail, você vai fazer uma coisa pra mim agora: você vai até a enfermaria e vai trazer madame Pomfrey até aqui enquanto eu o levo até lá. Se você fizer certo nos encontraremos no meio do caminho e ela pode lhe dar os primeiros socorros mais rápido. Não podemos demorar muito!

- Tá bom!

- Ah!- James lembrou-se antes de Peter sair da sala. Ele revirou os bolsos da capa de Sirius e tirou o Marauder's Map de um deles- Tome e não se perca dessa vez! Quando estiver voltando veja por onde eu e Sirius estamos indo pra não nos desencontrarmos!

- Tá- o garoto tomou o mapa da mão de James e saiu desabalado pela porta. Depois de ficar sozinho com o amigo desacordado e sangrando por todo o corpo, o rapaz dos óculos redondos o olhou desconsolado. Ele desejava imensamente que nada daquilo estivesse acontecendo para poder se encontrar com Lily, mas isso era incogitável numa situação em que um de seus grandes amigos corria perigo de morte. E mesmo que não fosse nada demais, ele não abandonaria nenhum deles por nada. Primeiro os Marauders, depois o resto do mundo.

- i> Moblilicorpus /i> - bradou, logo vendo uma tênue linha abaçanada ligando sua varinha à testa de Sirius e fazendo-o flutuar. E assim começou a levá-lo com toda a pressa possível, deixando um tenebroso rastro de sangue por onde passava.