Disclaimer: Harry Potter & Co não me pertencem, só uso as personagens para um pouco de diversão... Ou não.
N/A: LEIAM Este fanfic é censurado M por conter linguagem forte e morte de personagens. Outra coisa. Não sou perito em piano, apenas fiz uma breve pesquisa e tem uma marca austríaca que tem oito oitavas, o resto são sete oitavas – nos pianos mais antigos – ou sete oitavas e uma terça menor, nos mais atuais.
Existem três pedais no piano. Legatouna cosa, e sostenuto. Cada um deles faz um tipo de som diferente, mas só usarei o legatoque prolonga o som enquanto o pianista mantém o dedo na tecla, como se fosse contínuo. Qualquer dúvida, mandem-me uma PM que ficarei honrada e feliz em responder.
SPOILERS de HBP.
Mais do que importante, meu pequeno presente (De oito capítulos) para VickWeasley! Espero que goste querida.
Com amor,
Lally
O oitavo dó, o último si
Por Lally Y K
I.
Nocturne op. 9 Nº 1, N in B flat minor Larghetto (Chopin)
Ela se aproximou da porta e franziu o cenho. Fora atraída pelo som no sétimo andar, sendo que estava no quarto, mas estranhamente nenhum dos alunos pareciam notar. A guerra tirara o pouco que restara da serenidade deles para apreciar música, ou qualquer coisa que não fosse a sobrevivência dos seus.
Mas ela podia ouvir. Viera a Hogwarts a fim de terminar uma pequena pesquisa a mando de Lupin. Harry e Ron mantinham-se inquietos na Toca, esperando apenas pelas suas informações para poderem prosseguir a busca incessante. Era deveras frustrante andar em círculos e não chegar a nenhum lugar específico.
Dumbledore não estava mais entre eles para acalmá-los com sua clarividência de que as coisas terminariam bem. Para dizer-lhes que, mais do que nunca, era a hora de escolher entre o fácil e o certo, olhar para frente e ver o literal significado de 'tempos difíceis'. Harry parecia o mais inconsolável, encontrando na amizade com Ron uma espécie de consolo para seus infortúnios.
Colocou-se diversas vezes no lugar do melhor amigo para imaginar o tipo de tormentos que passava por sua cabeça. Como deveria ser cansativo agüentar a farda de herói, a expectativa de estar sempre certo e contar apenas com a sorte quando uma varinha está encostada contra sua têmpora. Suportar a solidão de anos, vislumbrar a mentira da história de seus pais, de seu padrinho, ir contra suas crenças e simplesmente jogar-se em uma vida que com certeza não gostaria para atender a expectativa de toda uma civilização.
Entretanto, Hermione era sensível o suficiente para não deixar-se iludir e elencar O Garoto Que Sobreviveu como um mártir ou Deus. Não era nenhum dos dois, somente um garoto que queria jogar Quadribol, ter uma namorada normal e uma vida normal pela frente. Mas nem sempre o destino era justo. A vida, por excelência, era a mais injusta e impiedosa das cargas de um ser humano. Para alguns, mais fácil por conta de dinheiro, fama, status ou suborno. Para outros, árdua e maléfica, com doenças incuráveis, prisão, desesperança. E havia o estágio suportável, que abarcava a mediocridade dos cidadãos.
Ela nutria um certo ceticismo quanto a certos aspectos de sua origem trouxa, e Deus era um deles. Simplesmente, vendo os efeitos de uma guerra quase tão sem causa quanto as outras duas que envolveu o mundo todo, matando semelhantes por diferenças ideológicas, sangrando a cada encantamento que tirava vidas que não precisariam ser sacrificadas, morrendo pouco a pouco a cada vestígio de humanidade que era deixado junto ao corpo, jazido no chão, como se fosse uma simples marionete...
Voldemort precisava ser parado. Era uma questão de necessidade, não apenas um luxo. Ele não representava mais uma simples ideologia, era a carnificina com forma... não era humana nem animal, era alguma coisa má, estranha e extremamente desprovida de sentimentos que não o ódio. E isso o fazia mais baixo do que qualquer assassino com coração, pulmões e membros saudáveis, com tanto sentimento ruim quanto ele. Estava abaixo da humanidade e acima dos animais, porque não sabia sentir – por opção – mas sabia pensar – planejar, torturar, matar – e isso o tornava muito pior do que qualquer espécie que já existisse.
Ela abriu a porta lentamente e deslizou o corpo para dentro, tentando ser o mais silenciosa possível. Sufocou uma exclamação de surpresa quando viu ninguém menos do que o filhinho do papai Comensal Draco Malfoy. Estava de costas para ela, o pé calçado com o mesmo sapato irritantemente polido que sempre usava, a capa negra cobria o banquinho que estava sentado. A sua frente, um piano de cauda, com a tampa levantada, apoiada em uma haste de madeira igualmente negra, como todo o resto do material brilhante e lustroso. Sua cabeça extremamente loira estava abaixada, e pelo movimentos dos braços, podia ver as mãos brancas deslizarem pelas teclas de marfim, quase se confundindo com elas, longas, delineadas, finas, quase delicadas.
Hermione deu alguns passos em direção dele e posicionou-se de lado. A capa tinha mangas, então encobria a marca negra que maculava a tez alva como leite. Mas de alguma forma, podia sentir a presença pútrida da maldade e do ódio que irradiava o próprio garoto, de apenas dezessete anos como ela, mas que parecia carregar um fardo muito maior devido as pequenas linhas de expressão em sua testa franzida, os olhos azul-acinzentados, mais para o cinza do que propriamente azul, fechados, concentrados. Os lábios ficavam comprimidos em uma fina linha, vermelhos com as bordas amareladas pela pressão.
Os quase seis minutos de música terminaram e a garota deu um salto quando, com uma voz quase imperceptível, Draco murmurou "Stupefy" e ela atingiu as costas na parede próxima. A dor não deixou que uma exclamação escapasse de seus lábios e, quando levantou o rosto para cima, o loiro apontava a varinha diretamente para sua testa e os olhos cinza estavam estreitos, em extrema irritação.
"Ora, ora, se não é a sangue-ruim sabe tudo Granger." A voz dele tinha mudado. Adquirira um timbre mais seco e masculino, assim como crescera em altura. E em maldade. Podia ver todos os sentimentos nocivos pelos olhos dele, que era a única maneira pela qual podia expressar-se. O resto do rosto estava lívido, em branco, como um pedaço novo de pergaminho. "Nada sábio ficar em uma sala escondida no sétimo andar com um amigo que não é muito íntimo." Ele sorriu sardonicamente e deu uma cambalhota para trás quando a garota se levantou, com a varinha direcionada para o peito dele.
"Poupe-me de suas ironias, Malfoy, o que está fazendo aqui? Achei que estava foragido depois dos crimes que cometeu."
"E estou." Ele parecia divertido e lentamente abaixou a varinha, voltando a se sentar na frente do piano. Ele tocou a mesma música novamente, três vezes seguidas e depois levantou. "Sabe por que estou tocando, Granger?"
Ela negou com a cabeça. "Mas gostaria de saber o que diabos está fazendo em Hogwarts. Vou reportá-lo a..."
"Ah não, você não vai." Ele interrompeu-a, aproximando-se dela. A diferença de alturas era no mínimo intimidadora, e Hermione não tinha muita prática em duelos. "Você vai ficar quietinha e esquecer do que viu. Talvez eu deva apagar sua memória..."
"Isso é... Magia negra!"
"Não me diga." Ele ergueu uma das sobrancelhas e então puxou a capa até o cotovelo, mostrando a marca que quase sorria no seu antebraço. "Isso aqui também é. Tcharam!"
"Esconda essa merda." Ela subitamente sentiu-se enjoada. "Como pode mostrar uma aberração dessas para alguém?"
"Da mesma maneira tranqüila que você mostra a sua cara para o mundo... Só que a sua é mais feia."
Ela limitou-se a olhá-lo fulminante antes de sair da sala batendo a porta.
E ele soube que ela iria manter silêncio.
(Primeira semana)
A ser continuado...
A você, caro leitor, cabe o papel de julgar se esse fanfic é digno ou não de um review.
