Disclaimer: Love Hina não me pertence, e sim a Ken Akamatsu; eu apenas tomei os personagens emprestados para escrever esta fic.
N/A: O início da fic fala de algumas situações e mostra alguns diálogos acontecidos entre o fim do volume 26 e o início do volume 27 brasileiros de Love Hina, mas porque foi de onde eu tirei a idéia da fic. No mais, a fic não segue fielmente o mangá.
N/A 2: Não sei como eu estou postando essa fic, porque achava que não era uma boa idéia postá-la... mas decidi fazer isso.
COISAS DA VIDA
Enfim eles estavam de volta ao Japão, depois de terem passado por mais uma aventura, desta vez no reino de Moru Moru. Keitarô já passara por várias confusões desde que chegara à Pensão Hinata, mas aquela provavelmente fora a mais louca delas, porque a avó, Hinata Urashima, tinha enviado um fax, dizendo que transferiria a pensão para seu nome, inclusive com o terreno em volta. Mas a avó impusera uma condição: até à semana seguinte, quando ela deveria estar de volta, Keitarô deveria escolher uma noiva. A avó consideraria como noiva a primeira moradora da pensão Hinata que estivesse ao lado dele.
Nesse meio-tempo, porém, ele acabara indo com Seta para o reino de Moru Moru. E essa informação fez todas as garotas irem em direção ao mesmo local. Além de Naru, outras três moradoras também tinham interesse nessa inusitada situação: Motoko, Kanako e Shinobu. Mas, no fim, as três acabaram desistindo, e agora tudo indicava que Keitarô e Naru não se separariam mais.
Entretanto, uma delas, mesmo que desse a impressão de que considerava aquilo como águas passadas, ainda se perguntava se tinha tomado a decisão correta.
Nem sequer tinha sido possível passar algum tempo a sós com Naru.
Pouco tempo depois que eles tinham chegado, Mutsumi procurara Keitarô, munida com o celular. A avó tinha acabado de telefonar, e queria falar com o neto.
Depois de terem falado um pouco, Hinata Urashima fora direto ao ponto:
- Muito bem... ainda lembra do que tratava aquele fax, Keitarô ?
"Caramba ! Isso é que é ir direto ao ponto", ele pensou.
Ele pensou em inventar uma desculpa, mas decidiu que não faria isso. Pediu desculpas à avó por ter se atrasado em um dia, e qual não foi a surpresa quando ela também dissera que não estava no Japão no dia 10 de agosto, porque estava na cordilheira do Himalaia, e tinha se esquecido. E, para ser sincero, Keitarô quase tinha caído duro ao ouvir isso.
- Enfim, eu não vou durar muito, e gostaria de ver você casado e com filhos... pode me perdoar por esse delírio ?
- Claro que sim ! - Keitarô exclamou - Não se preocupe quanto a isso.
- Obrigada... mas agora... tem mais uma coisa que eu precisa falar para você. Keitarô...
- O quê ?
- Você tem procurado a "garotinha da promessa", ou pelo menos foi isso o que eu fiquei sabendo... não é mesmo ?
- Você sabe quem ela é ? - Keitarô perguntou, ansioso pela resposta.
- Oh, oh, oh ! É claro que sei... Não foi com ela que você fez aquela promessa muito sem sentido de irem para a Toudai juntos, quando ainda eram crianças ?
- Isso mesmo, vovó!
E ao ouvir isso, Naru começou a sentir calafrios. O que a avó de Keitarô sabia sobre isso ? Saberia mesmo quem era a garota da promessa ? Seria ela ? Naru tinha quase certeza de que a tal garota era ela, sim, mas... e se a resposta fosse outra ? Que não fosse a resposta que ela esperava ?
- Essa garotinha...
- SIM ?
- Es...
Mas Keitarô nunca chegou a ouvir o final da sentença, porque, bem na hora, Naru apertou o botão que encerrava as chamadas, e a ligação foi cortada.
- Como ?...
Olhou para Naru, ainda um pouco perdido. E zangado, logo depois.
- Por que você fez isso, Narusegawa ? Logo agora que eu ia saber a identidade da garota da promessa...
- Sou eu...
- Como ?
- A garotinha da promessa... - ela falou, com o nervosismo à flor da pele - tem de ser eu...
Mas por quê ? Parecia que Naru não conseguiria ser feliz se não fosse ela a tal garota. Por muito tempo, Keitarô perseguira-a, mas agora só queria saber quem era a garota da promessa apenas para tirar qualquer resquício de dúvida. Mesmo que essa garota não fosse Naru, para ele aquilo já não importava muito.
Mas, para ela, parecia que aquilo fazia diferença, sim.
- Se não for eu, o que você vai fazer ?
- Nada. Se eu nem mesmo conhecê-la, por que devo continuar preso a uma promessa feita a alguém que eu nem saberia identificar, se estivesse frente a frente com ela ? - mais objetivo, impossível - Mas agora sou eu que lhe faço uma pergunta. Se estivéssemos na pele um do outro, o que você faria se descobrisse que não sou eu a pessoa com quem fez a promessa ?
Ela ficou em silêncio por um tempo, e isso deu a Keitarô uma idéia da resposta. E da qual não gostou.
Mesmo assim, não seria bom falar ou fazer algo impensado. Apesar de ele ser perito nisso. Mas agora a situação exigia que se tivesse sangue-frio.
Ele estendeu a mão para ela.
- Vamos voltar para a pensão. Nós não podemos tomar nenhuma decisão se não estivermos de cabeça fria.
Aquele acontecimento, porém, acabaria tendo uma grande influência no relacionamento deles.
Tinham se passado alguns meses desde que todos voltaram ao Japão.
Após o retorno, Naru e Keitarô continuaram namorando, com ele, volta e meia, encontrando-se em algumas situações embaraçosas, como sempre. Já era uma marca registrada dele.
Porém, estava muito claro que o namoro parecia ter esfriado bastante, e não era a imaginação que estava lhe pregando uma peça. Até mesmo fazendo uma comparação com a época em que os dois ainda não eram um casal, o relacionamento decididamente não era o mesmo.
Tanto isso era verdade que, agora, os dois tinham dado um tempo.
Acontecera alguma coisa nos meses anteriores que pudesse ter culminado naquilo ?
Motoko pensava nisso tudo enquanto estava no seu quarto. Tinha terminado de estudar para o cursinho por aquele dia. Pensava também em como abrira mão de Keitarô, apesar de realmente ser apaixonada por ele. Era verdade que Shinobu e Kanako também tinham feito o mesmo, mas ela não estava na pele de nenhuma das duas para saber o que de fato elas sentiam por ele.
Ela decidiu tomar um banho. Desceu até o banho feminino. Ela já estava quase entrando, quando, ao longe, escutou duas vozes. Apurando um pouco a visão, ela identificou Naru e Kitsune, absortas em uma conversa.
- Naru, você acha que o seu namoro com Keitarô ainda tem volta ?
- Acho que sim. Eu só não sei dizer se esse tempo que foi pedido por ele ainda vai demorar muito. Muitas vezes, nem conseguimos ficar totalmente à vontade quando estamos perto um do outro. A decisão que ele tomou até que não foi tão impensada assim.
- Mas não consigo entender... apesar de todas as confusões, vocês se gostavam tanto. O que houve para que o relacionamento de vocês esfriasse desse modo ? - perguntou Kitsune, intrigada.
- Eu nunca contei isso a ninguém, Kitsune, mas sei o motivo - porque só pode ter sido esse. Mas eu gostaria de lhe pedir para não contar a ninguém. Tudo bem ? - pediu Naru, ansiosa.
- Eu sei que tenho meus defeitos, mas ainda sou sua melhor amiga, não sou ? Pode confiar em mim.
Naru assentiu, e começou a falar.
- Temo que eu mesma seja a culpada - e ela começou a explicar: - Logo depois que nós chegamos de Moru Moru, a avó de Keitarô telefonou para ele. Logo, ela começou a explicar sobre a história do fax. Mas depois, tocou em outro assunto, que foi o da garota prometida dele.
- E você tem quase certeza de ser a tal garota - Kitsune observou.
- Ter quase certeza não é o mesmo que ter certeza absoluta - ela rebateu - E, voltando ao assunto, ela estava prestes a dizer quem era a garota da promessa. Mas acabei não deixando. Naquela hora, eu senti tanto medo do que a avó de Keitarô pudesse dizer que apertei o botão que encerra as chamadas bem na hora em que isso ia acontecer - ela suspirou, e disse que, depois disso, Hinata Urashima nunca mais telefonara, e que Keitarô ficara muito zangado com ela.
Kitsune suspirou.
- Minha reação também não teria sido diferente da dele, Naru ! Afinal, você não tinha esse direito. Por que você tem tanto medo assim de saber quem é essa garota ? É por medo de que Keitarô acabe deixando você se souber que a garota da promessa é outra ?
- No fundo é isso mesmo, apesar de ele ter dito que não se importa, e que queria saber quem é essa garota só por saber, mesmo.
- Uma última pergunta: você ama mesmo Keitarô ? Ou quer ficar ao lado dele por acreditar que é com ele que você fez a promessa ? Eu não sou cega, e, embora jamais tenha me metido, eu pude, sim, perceber como andava o relacionamento de vocês. Se por acaso vocês voltarem, mas isso não mudar, se continuarem a se sentir desconfortáveis, você ainda assim vai querer terminar tudo com ele ? Porque é o que qualquer pessoa normal faria. Ou, em outra hipótese, no caso de a possibilidade de você ser mesmo a tal garota se provar verdadeira, mas o relacionamento continuar do mesmo modo que estava antes de Keitarô ter pedido um tempo, ainda assim você vai querer ficar com ele, em um relacionamento nada sadio nem para você, e nem para ele ?
Naru não respondeu.
- Então, Naru, eu não vou contar isso a ninguém. Afinal, já prometi a você - disse Kitsune, que, ainda assim, aparentava preocupação com o rumo dos acontecimentos - Mas, se aceita uma opinião, para mim você está errada. E, só mais uma coisa: assim você pode acabar perdendo ele de verdade, independente de você ser ou não a garota da promessa.
- Eu não me preocupo em perdê-lo para outra pessoa... pelo menos não se você estiver se referindo às outras garotas da pensão. Elas desistiram definitivamente dele desde antes de voltarmos, não foi ? - Naru demonstrava estar confiante, quanto a isso.
E fora depois de eles terem voltado de Moru Moru que começara esse distanciamento. Então, fora por esse motivo. Motoko afastara-se do banho, sem que Naru ou Kitsune percebessem que ela estava ali. Ela acabara escutando toda a conversa, e, depois disso, voltara para o seu quarto.
Ele podia ser atrapalhado, pervertido, e muitas outras coisas. Mas, independente disso, Keitarô já dera todas as provas de ser apaixonado por Naru, com ou sem promessa. A ele, pelo menos, a promessa não parecia ser algo tão importante; não a ponto de viver em função dela, apesar de no passado, ele não ter sido muito diferente. Já Naru... pelo visto, ela vivia em função da mesma. Após escutar tudo o que tinha acabado de escutar, Motoko tinha a impressão de que, se eles voltassem, Naru ficaria com ele mesmo se não estivesse apaixonada, unicamente por causa da promessa.
Ela não ficaria presa a algo assim. Primeiro, porque dificilmente faria uma promessa como aquela. E, segundo, porque, mesmo se algo assim tivesse acontecido, mas ela nunca mais visse a pessoa com quem tivesse feito a tal promessa, não ia deixar de continuar a viver a sua vida, de fazer os seus planos... ou mesmo de se apaixonar, apenas por causa disso.
Desde que tomara a sua decisão, há alguns meses, por mais de uma vez ela se perguntara se tinha feito a escolha certa. Agora, Motoko já sabia a resposta: fizera a escolha errada.
E, por este motivo, ela decidiu reconsiderar a sua decisão. Poderia até perder, porque não tinha como prever o futuro. Mas ela ia lutar por Keitarô. Lutar para conseguir o amor dele. Era verdade que ela ainda não sabia como fazer, e nem mesmo o que fazer. Mas estava disposta a dar o seu melhor, porque, desta vez, queria mesmo vencer.
- Se eu não tivesse escutado o que escutei, jamais pensaria nisso... mas agora eu realmente não vou desistir, Naru - ela murmurou para si mesma, deitando-se na sua cama.
O dia seguinte era um sábado, e Keitarô não tinha aulas na Toudai. Aproveitou a manhã para treinar um pouco com Motoko. Acabara aprendendo uma das técnicas dela, com a qual conseguira derrotá-la em Moru Moru, e desde então sempre treinava com ela, quando isso era possível.
Obviamente, Motoko tinha mais experiência. Mas Keitarô também estava tornando-se mais forte. Naquela manhã, havia perdido quatro vezes para ela, mas também derrotara-a por duas vezes.
- Tenho de reconhecer que sua evolução é impressionante, Urashima...
- Obrigado, Motoko... mas nunca vou ser tão forte quanto você - ele deixou-se cair sentado no chão, exausto.
Ela levantou-se, e começou a caminhar em direção à pensão.
Keitarô já tinha feito uma parte das tarefas da universidade na noite anterior. Poderia deixar o restante para o domingo. Queria divertir-se naquele dia. Sabia que Naru iria sair com algumas colegas da Toudai para estudarem, e, mesmo que não fosse o caso, Keitarô agora não sairia com ela, já que o namoro passava por uma fase crítica, e por isso mesmo ele decidira que os dois precisavam de um tempo; o episódio do telefonema fora um divisor de águas no relacionamento. Ele nunca pedira a Naru para explicar-se novamente, e tampouco ela tomara essa iniciativa.
Bom, nas circunstâncias atuais, não seria traição sair com outra moradora da Pensão Hinata; pelo menos ele achava que não. Querer se distrair e se divertir por algumas horas não era nenhum pecado.
Levantou-se, e alcançou Motoko, que já estava quase entrando na pensão. Colocou uma das mãos no ombro dela.
- Motoko...
Ela virou-se, parecendo ter se assustado.
- Não me assuste assim, Urashima ! O que foi ? - ela respondeu, um pouco rispidamente; no entanto, tinha ficado nervosa com aquele simples contato, e só esperava que ele não tivesse percebido - Deseja alguma coisa ?
- Bem, sim. Eu queria sair hoje, e... a verdade é que há muito tempo que não saio apenas para me divertir. Mesmo quando eu estava com Narusegawa, era complicado - o que era a pura verdade, pois, mesmo antes de eles terem dado uma pausa no namoro, quando Naru estava na Pensão Hinata, ela acabava dando algum motivo para não sair - Enfim... você... aceita... sair comigo hoje à tarde ? - com muita dificuldade, ele conseguiu pronunciar as últimas palavras.
Por um instante, ela olhou para Keitarô, como se não estivesse acreditando no que tinha acabado de escutar. E, por um instante, ele também teve medo de que ela lhe aplicasse algum golpe.
- Por que não ? Eu também dificilmente saio daqui, se não for para treinar ou para ir à Toudai... mas não acho bom sairmos ao mesmo tempo. Todos na pensão vão ficar comentando sobre isso. Eu posso sair uns vinte minutos antes de você, ou vice-versa... concorda ?
Aquilo fazia bastante sentido. Ele concordou.
Escolheu aonde ir, depois de ter chegado à pensão. Passou o restante da manhã normalmente, e à tarde fora se trocar. Ele e Motoko combinaram que ele sairia primeiro, e, depois de meia hora, seria a vez dela. Assim, provavelmente não desconfiariam, ou pelo menos era o que os dois esperavam.
Quando chegou a hora, Keitarô pediu para falar com a irmã, que ficou surpresa ao vê-lo pronto para sair.
- Você vai sair hoje, onii-chan ? - ela perguntou.
- Vou, sim, Kanako. Mas para me divertir um pouco, hoje. Faz tempo que não saio, a não ser por obrigação, e quero relaxar um pouco - ele explicou - Então, você pode ficar na gerência da pensão por algumas horas, até eu voltar ?
- Claro que sim ! - Kanako afirmou - Não precisa ficar preocupado quanto a isso. E acho uma ótima idéia você sair para se divertir - então, ela ficou em silêncio por alguns segundos - Mas você não vai sair com Naru, não é ? Que eu lembre, ela vai sair com algumas colegas da universidade, esta tarde... e vocês ainda não reataram.
- Não, não é com ela - Keitarô confirmou.
A irmã, felizmente, não lhe fizera mais perguntas.
Conforme o combinado, Motoko saíra meia hora depois de Keitarô. Mas quase que se atrasara ainda mais, porque não fora fácil fazer Kaolla desgrudar dela. Ela gostava de Kaolla, e bastante, mas naquele momento ela quase atrapalhara os seus planos.
Depois que conseguiu sair da pensão, ela encontrou-se com Keitarô no local combinado, que era uma das estações de metrô.
Ele tinha escolhido irem a um parque e ao aquário. Ela não fora contra. Nunca fora a um aquário, e, quanto a parques, a única vez em estivera em um deles tinha sido na ocasião em que fora ao Neverland. Mas essa ocasião não contava muito, porque todas as outras também acabaram indo.
Foram primeiro ao parque, e estiveram na montanha-russa, no ciclone, uma espécie de tobogã, na roda-gigante, no trampolim - que apenas Motoko aproveitou; apesar de sua fama de imortal, Keitarô não quis abusar da sorte, testando-a - e nas barracas de tiro ao alvo.
Embora tivesse dificuldade em lidar com sentimentos, naquele dia ela estava feliz, e não queria esconder isso.
- Até que esse seu programa foi mais divertido do que eu imaginava, Urashima. Na única outra vez em que estive em um parque, não deu para aproveitar muita coisa, já que todos da pensão também estiveram lá.
Ele lembrava-se bem; fora um dos muitos encontros que tentara marcar com Naru e que não deram certo.
- Eu fico feliz que você tenha gostado, e eu também me diverti bastante. Vamos ao aquário, agora ?
Ela concordou.
E, pelo que Keitarô pudera observar, ela também gostara de estar ali. O aquário tinha peixes diversos, e também várias outras espécies, e era um ambiente bastante romântico. Por sinal, dava para ver muitos casais de namorados ali. Era um ótimo ponto de encontro para apaixonados.
Depois de mais algum tempo, eles saíram de lá, e fizeram um lanche bem leve. Quando voltaram para casa, Motoko fora a primeira a ir para a pensão. Keitarô esperara por cerca de quinze minutos, e depois também voltara à Pensão Hinata.
Fora uma tarde divertida, ele tinha que admitir.
Motoko nem mesmo sabia por onde poderia começar, mas o destino acabara agindo ao seu favor, e o convite que Keitarô lhe fizera tinha resolvido o seu problema.
E, para ser sincera, ela gostara bastante do programa que ele tinha escolhido. Divertira-se bastante tanto no parque quanto no aquário. Aliás, notara a quantidade de casais que havia no local. Queria que ela e Keitarô formassem mais um...
Mas aquele tinha sido somente o primeiro passo. Agora, Motoko precisava dar um jeito de, na medida do possível, estar presente na vida dele. Não ia deixar tão escancarado o que sentia, até porque, mesmo que quisesse muito fazê-lo, ela não era assim. Mas agora que o primeiro passo fora dado, ela não pretendia voltar atrás.
Ela tivera os pensamentos interrompidos quando alguém batera à porta do seu quarto; prontamente, ela fora atender. Era Shinobu. Quase não conteve a surpresa por vê-la ali. O que ela queria ?
- Oi, Shinobu. Que surpresa, precisa de algo ?
- Bom... - ela começou timidamente - precisar, eu não preciso. Mas queria conversar com você, Motoko.
- É sobre algo importante ? - ela perguntou, intrigada.
- Eu suponho que sim... para você.
Ela abriu a porta do quarto, permitindo a entrada de Shinobu.
- Certo... pode começar a falar, até porque assim você me deixa curiosa.
- Motoko, você saiu hoje com Keitarô ?
Ela mal conseguiu disfarçar a surpresa ao escutar aquela pergunta. Ele teria dito algo ?
- Por que você acha isso ?
- Porque te achei diferente hoje, desde que você chegou. Bem mais... como direi... leve - ela tentou explicar - Tudo bem, eu sei que vocês dois saíram e chegaram em horários diferentes, mas desde que vocês chegaram, eu tenho estado desconfiada a esse respeito. Ah, sim, fui eu que deduzi isso, certo ? - Shinobu tratou de esclarecer - Keitarô não me contou nada.
Seria inteligente da parte dela contar tudo para pelo menos uma pessoa ?
Decidiu confiar nela. Se fosse Kitsune, Mutsumi, Kanako ou mesmo Kaolla, ela não contaria absolutamente nada. Mas achava que podia confiar em Shinobu.
- Eu vou contar a você, Shinobu. Mas você tem de me prometer que essa conversa não vai sair de dentro destas quatro paredes. Combinado ?
- Combinado.
- Muito bem. Eu acho que você se lembra que, quando nós retornamos do reino de Moru Moru, todas nós desistimos de Urashima. Eu, você, e também Kanako. E então Naru ficou com o caminho totalmente livre e sem adversárias, não foi ?
- Sim, embora eu já tivesse notado que, desde aquela época, quase logo depois do nosso retorno, a relação deles não tem sido mais a mesma. Eu só não entendo porque.
- Eu também não entendia, Shinobu. Mas ontem à noite, eu fui até o banho. Pretendia tomar um, antes de dormir. Mas, quando eu já estava entrando, identifiquei duas vozes, a de Naru e a de Kitsune. Naru acabou confidenciando algo, e eu escutei tudo, sem ser vista.
- E o que você escutou, afinal ?
- Antes, eu quero deixar claro que continuo sendo apaixonada por Urashima. Mas, como eu achava que esse distanciamento entre ele e Naru podia ser apenas uma fase passageira, até ontem a minha decisão não tinha mudado.
E então, Motoko contou a Shinobu tudo o que ouvira, no banho feminino. Sem omitir nenhum detalhe.
- Mas então... sequer podemos dizer se Naru ainda o ama ! - Shinobu concluiu, atônita com o que tinha acabado de escutar.
- E, mesmo que o ame, ela é presa a essa promessa, e não temos ainda certeza absoluta de que ela é a tal garota. Por tudo que eu escutei, eu entendi que, mesmo que ela não o ame, caso ela seja essa garota, não vai querer abrir mão dele.
- E foi então que você mudou de idéia quanto à sua decisão ?
- Sim ! Se eu tivesse certeza de que Naru o ama, jamais teria pensado em voltar atrás na minha decisão. E agora sei que Naru não tem certeza disso. Senão, teria respondido à última pergunta de Kitsune, o que ela não fez. Mas o que eu sei, com certeza, é que eu - e ela enfatizou o pronome - o amo. E sei também que, sob essas circunstâncias, eu não quero desistir.
- E quanto ao encontro de hoje, Motoko ?
- Bom, isso não fui eu quem planejou. Eu nem mesmo sabia por onde começar. Mas foi ele quem acabou facilitando as coisas para mim. Depois que nós terminamos de treinar, hoje pela manhã, ele me fez esse convite, e eu aceitei. Então, saímos e voltamos em horários diferentes para que ninguém desconfiasse.
- E o que você pretende fazer agora ?
- O possível para poder fazer parte da vida dele. Seja nos treinos, nos estudos, ou diversão... mas quero estar por perto.
- Sabe, acho que você merece - Shinobu reconheceu, sorrindo - Se eles continuarem assim, é melhor que Keitarô fique com quem realmente o ama, e quer lutar por ele.
- Mas, sinceramente... ainda assim tenho muito receio, Shinobu. Eu não diria que a minhas chances são imensas. É que... eu não sou ousada. Nem aventureira. Nem sedutora. Nem impulsiva. Nem experiente. Nem frágil... nem eu sei como me defino.
- Motoko ! Pare de se comparar com outras pessoas e de colocar a si mesma para baixo. Cada pessoa tem uma qualidade que a destaca. Você é forte. E é persistente; aliás, sempre foi ! Sim, porque se o que você está fazendo agora não é algo que alguém persistente faria, então eu preciso olhar no dicionário para saber qual é o novo significado dessa palavra ! - ela fez uma pausa - Qualquer homem que viesse a ter você como namorada logo saberia o quanto é privilegiado.
Ela levantou-se.
- Obrigada... obrigada, Shinobu.
- Siga em frente; foi você mesma quem disse que ia fazer o possível para sempre estar próxima a Keitarô, não foi ? - ela incentivou-a - Eu vou estar torcendo para que você tenha sucesso. Ah, e fique sossegada. Ninguém mais vai saber que essa nossa conversa aconteceu - disse Shinobu, antes de despedir-se, e sair do quarto de Motoko.
Não acontecera de repente, e sim gradativamente. Fora algo que o pegara completamente desprevenido, porque ele não teria apostado as suas fichas nessa possibilidade. Mas acontecera, e ele não podia negar isso, exceto se quisesse mentir para si mesmo.
Que a vida tinha de continuar a seguir o seu curso, isso era um fato; isso não iria deixar de acontecer pelo fato de ele e Naru não estarem juntos, agora, e de o relacionamento estar- e, em sua opinião, a comparação era válida - na mesma situação de alguém que estivesse respirando por aparelhos.
Enfim, eram coisas da vida, mesmo.
Ele não saberia dizer quando começou. Tinham se passado quase três meses desde aquele encontro, e, desde então, Motoko quase sempre se mostrava presente. Nos treinos, como já era normal, mas também nos estudos - ele muitas vezes a ajudava - , e mesmo em se tratando de diversão. Para ser sincero, ultimamente ele tinha se divertido mais com Motoko do que jamais se divertira com Naru, desde que todos haviam partido de Moru Moru e voltaram ao Japão.
Naru, por sinal, não tinha deixado de notar isso.
Ele lembrou-se de uma conversa que ambos tiveram, há pouco tempo.
- Keitarô... por que ultimamente você tem estado tão próximo de Motoko ?
- Hm, o que eu tenho feito de anormal ? Treino com ela quando é possível, o que já faço há um bom tempo, de vez em quando ajudo-a nos estudos...
- E tem saído muito com ela, o que você não fazia - ela retrucou, e seu tom de voz mostrava que ela estava desconfiada.
Então ela adivinhara, ainda que ambos não saíssem ao mesmo tempo. Mas, por que negar ?
- Sim, na grande maioria das vezes em que saímos nos fins de semana, ainda que em horários diferentes, é porque provavelmente nós tínhamos algum encontro marcado - ele confirmou - Você tem pouco tempo livre, Narusegawa - Keitarô não conseguiu deixar de dar essa indireta, já que algumas vezes ela não saíra com ele porque não queria, e ele estava bem ciente disso - Mas eu, de vez em quando, tenho algum tempo livre, e ela também. Então, qual é o problema em, vez por outra, eu querer me divertir, e junto com ela ?
- Nenhum, mas...
- Além disso, lembre-se, atualmente nós estamos dando um tempo. Se, nesse período, você quiser sair com outro homem, eu não tenho o direito de reclamar; então, que a recíproca seja verdadeira - e, com isso, a conversa fora encerrada.
Voltando ao presente, naquele dia ele ia ajudá-la um pouco nos estudos. Motoko estava indo bem naquele ano, e Keitarô achava que, daquela vez, ela conseguiria ser aprovada no vestibular da Toudai.
- Podemos começar - ela abriu a porta logo depois de ouvir as batidas.
Naquele dia, fora mais difícil, para Keitarô, ajudá-la com os estudos. Não porque a dificuldade para ele fosse tão grande assim. Mas sim porque ele não conseguia parar de reparar nela. Tudo bem, ela mudara, agora ela era até mais feminina do que antes, mas Keitarô antes nunca olhara-a com olhos que não os de gerente ou de amigo.
Ele já perguntara a si mesmo se isso seria pelo fato de seu namoro encontrar-se na atual situação. Mas a resposta fora não. Uma coisa, decididamente, não tinha nada a ver com a outra.
O que só podia significar uma coisa. Ele estava gostando de Motoko Aoyama. E não apenas como uma amiga.
Desde quando isso começara a acontecer ? Nem mesmo Keitarô sabia responder essa pergunta. Porque fora algo realmente surpreendente - e inesperado.
O que faria agora ?
Tentou espantar esses pensamentos da mente, e voltar a se concentrar nas tarefas da Toudai.
"Motoko... como você entrou assim na minha vida ?"
Mais tarde, Motoko não pôde deixar de negar: ela estava sentindo-se muito satisfeita.
Tinha visto como Keitarô tivera dificuldades para ajudá-la com algumas tarefas da Toudai. E, como ele já estava na universidade, aqueles exercícios não eram algo tão difícil assim para ele.
Nem mesmo ela acreditava que tinha muitas chances de ser bem-sucedida, mas, ainda assim, ela persistira, e aproximara-se dele aos poucos. Era verdade que ele ainda não tinha terminado definitivamente com Naru. Pedir um tempo não era o mesmo que terminar. Mas ela esperaria. Se já conseguira chegar até ali, podia ter um pouco mais de paciência quanto a esse respeito. Shinobu tinha razão, ela era persistente.
Naquela tarde, eles iriam ao cinema. E, desta vez, mesmo não se achando sedutora nem nada assim, ela queria mesmo impressioná-lo. Motoko quase não tinha nenhuma roupa mais feminina, e isso seria um problema. Mas ela tinha se prevenido. Comprara um vestido azul-celeste, que lhe deixava os ombros à mostra, e ajustava-se ao seu corpo. Ela achava que nunca iria usar aquela peça de roupa... mas se enganara. Tinha chegado o dia de usá-la.
Olhando-se no espelho, ela gostou do resultado.
Como das outras vezes, os dois combinaram de sair em horários diferentes. Keitarô já tinha saído, e já devia estar a caminho do complexo de cinemas, se já não tivesse chegado lá.
Quando ela saiu do quarto, todas as outras pessoas da pensão ficaram admiradas ao vê-la, porque não imaginavam ver Motoko vestida daquele modo. Na verdade, nem mesmo ela imaginaria isso, há algum tempo atrás. Talvez apenas Shinobu tivesse sido a única a não ter ficado tão espantada, uma vez que sabia a respeito dos objetivos dela.
Indo até a estação, ela pegou o metrô, e desceu perto do complexo. Keitarô já estava lá, como imaginava. E ficou igualmente boquiaberto, ao vê-la.
- Se eu disser que você está linda, você não fica ofendida ? Acho que nunca vi você tão produzida para um encontro.
Se fosse antes, ela ficaria ofendida, sim. Tinha certeza absoluta disso. Mas não agora. Apesar de ainda ter uma certa dificuldade para aceitar elogios.
- Obrigada pelo elogio - ela agradeceu, um pouco sem jeito.
Ele já havia comprado as entradas. Ela só não queria assistir nada parado demais, de modo que os dois acabaram optando por um filme de aventura.
Motoko só ficou um pouco nervosa em uma parte do filme, que foi quando ela sentiu alguém segurando a sua mão... e ela viu que fora Keitarô. Então, relaxou.
O filme, afinal, fora muito bom, e os dois gostaram bastante dele.
Depois, eles andaram um pouco por algumas lojas, mais para passarem o tempo, mesmo. Mas, quando estava perto da hora de voltarem, Keitarô olhou-a nos olhos. Estavam um pouco longe da parada na qual tinham descido.
"Tem de ser hoje", ela pensara.
E parecia que tinha havido transmissão de pensamento.
Ele olhou para Motoko, que apenas disse "sim" com o olhar.
Após ver qual era a resposta dela, os lábios de Keitarô tomaram os de Motoko antes que ela sequer conseguisse pensar. O beijo tornou-se mais profundo e, sem pensar, ela passou os braços pelo pescoço dele, enfiando os dedos nos cabelos negros. Os lábios dele eram macios, e quando suas línguas se encontraram, ela sentiu dificuldades para manter-se de pé; as pernas pareciam ter perdido a capacidade de sustentá-la. Com suavidade, ele acariciou-lhe as costas por cima do fino tecido do vestido, e Motoko deu um suspiro de prazer.
Então, o momento chegou ao fim, e os dois se olharam nos olhos.
- Motoko... eu... bem, não planejei nada disso... pode me chamar de pervertido se quiser... desta vez eu mereço.
- Eu até poderia fazer isso ou coisa pior... se tivesse acontecido antes, e contra a minha vontade. Mas eu planejei, Urashima. Quer dizer, eu não sabia quando e nem se aconteceria. Mas por que você acha que fiz tudo para me aproximar de você ?
- Mas achei que você tinha desistido, em Moru Moru... - ele disse, surpreso.
- Eu tinha desistido, sim. Ali, nós deixamos você exclusivamente para Naru. Eu, Shinobu e Kanako. Mas aconteceu algo que me fez mudar de idéia - e, vendo que ele não entendera, ela emendou: - Foi uma conversa entre Naru e Kitsune que, sem querer, eu acabei escutando. Foi uma conversa sobre você. E sobre a promessa. Mas eu não vou revelar mais do que isso. Se quiser saber de tudo, pergunte a ela. Só adianto que foi por ter escutado essa conversa que eu acabei voltando atrás; se eu não tivesse escutado o que escutei, mesmo tendo notado que o clima entre você e Naru não anda dos melhores desde o retorno ao Japão, e mesmo sabendo que vocês deram um tempo, nada do que acabou de acontecer neste momento teria acontecido.
- Eu vou perguntar mesmo, porque fiquei curioso demais. Mas vamos mudar um pouco de assunto. Pouco antes de termos ido para Moru Moru, quando você derrotou sua irmã, você disse que estava apaixonada por mim.
- Sim - ela lembrava-se bem daquela confissão - E agora você sabe que continua sendo verdade.
- Melhor. Eu, como falei, não planejei nada disso. Aconteceu de repente... nem mesmo eu sei dizer desde quando... mas você entrou na minha vida... e eu não conseguia mais tirar você da minha cabeça. Também amo você, Motoko.
- Você tem mesmo certeza disso, Urashima ? Não se importa mais com a promessa que fez quando criança ?
- Não. Eu nem sei com certeza absoluta quem é a garota da promessa, ainda que tenha uma forte suspeita. Mas, mesmo que minha avó telefonasse agora só para me revelar a identidade dessa garota, nada iria mudar. Isso já não faria diferença quando eu e Naru ainda estávamos bem, e agora faria menos diferença ainda.
Ela ficou feliz ao ouvir isso. Abraçou-o.
- Bem, mas e quanto ao pessoal da pensão ? Nós vamos contar tudo hoje ?
- Não. Antes, eu quero saber de Naru que conversa foi essa que você ouviu entre ela e Kitsune. E aí sim, vou terminar tudo com ela - ele esclareceu - Depois disso, então, vou poder dizer que estamos namorando... porque estamos, não é ?
O beijo apaixonado que ela lhe deu serviu perfeitamente como resposta.
- Então... você consegue esperar só mais um dia ?
- Consigo, sim. Se eu esperei até agora, um dia passa rápido - ela afirmou, convicta.
- Ah, só mais uma coisa, Motoko: se estamos namorando agora, então pare de me chamar apenas pelo sobrenome. Eu sei, você está acostumada, mas pelo menos uma vez ou outra, me chame de Keitarô. Tudo bem ?
- Certo... Kei.. Keitarô - ela disse, com alguma dificuldade.
- Você se acostuma - ele sorriu.
Ela chegou à pensão depois, e tanto ela quanto Keitarô agiram discretamente. Ninguém pareceu desconfiar de nada.
Mais tarde, Shinobu bateu à porta do quarto dela.
- Oi, Motoko. Hoje correu tudo bem ?
- Melhor impossível - ela esboçou um sorriso.
- Você está bastante feliz hoje... aconteceu algo, afinal ?
- Sim... nós nos beijamos pela primeira vez e eu confessei a verdade. Disse que tinha me aproximado dele porque continuava apaixonada, e tinha decidido não desistir.
Por um momento, Shinobu pareceu ter ficado espantada com a revelação, mas, logo em seguida, ela se recompôs.
- E qual foi a reação de Keitarô ?
- Ele disse que também está apaixonado por mim. E que vai falar com Naru amanhã. E, sobre esse assunto, eu falei com ele sobre a conversa que escutei, mas não contei todos os detalhes. Apenas que era sobre ele, e sobre a promessa. E que, quanto ao resto, ele devia saber por intermédio de Naru.
- Então amanhã...
- Muito provavelmente ele termina de uma vez por todas o namoro com ela, e também fica sabendo de tudo o que foi dito naquele dia.
- Mas e se ela não quiser contar ? Pode acontecer, não pode ?
- Pode. Eu não excluo essa possibilidade. Nesse caso, e só, eu conto tudo o que escutei. Aí, vai caber a ele decidir em quem acreditar.
- Se ele aceitou ter você como namorada... então acho improvável que ele não acredite na sua versão, se for necessário que você a conte - ela fez uma pausa - Amanhã, vamos ver se Naru ainda tem algum amor-próprio, ou não.
De fato, ela também estava curiosa a esse respeito.
No dia seguinte, logo depois das refeições, Keitarô decidiu não perder tempo, e disse que queria conversar com Naru.
- Pode ser aqui no saguão do prédio principal, mesmo, Narusegawa. De qualquer modo, tem algo que eu preciso que você me conte.
Ela ficara curiosa. E provavelmente esperançosa de que ele fosse reatar o namoro, a julgar pela expressão dela, quando ele falara sobre terem uma conversa.
- Estou curiosa, não vou negar. O que eu teria para contar a você ...?
- Se você realmente gosta de mim, ou se é por causa da possibilidade de ser a garota da promessa que você foi minha namorada durante algum tempo, e quer continuar a sê-la.
- Como... como você sabe disso ? - Naru ficou atônita ao ouvi-lo dizer aquelas palavras.
- Eu não sei nem metade dessa conversa que você teve, mas quem me contou também me assegurou que o assunto era sobre isso, e disse para eu perguntar diretamente a você. Eu acho bastante justo. A propósito, não fui eu quem estive no banho feminino, isso eu garanto. Mas não vamos mudar de assunto, certo ?
Naru olhou para Kitsune. Só contara tudo aquilo para ela, e mais ninguém. Mas ela negou.
- Não fui eu, Naru - Kitsune garantiu - Eu prometi que não contaria a ninguém, e não quebrei a minha promessa. Pelo jeito, alguém mais esteve no banho, naquela hora, e escutou tudo.
- Naru - agora era Shinobu que entrara na conversa - , se você for mesmo a garota prometida, mas seu namoro com Keitarô continuar como estava até há algum tempo atrás, você vai terminar com ele, ou, apenas por você ser a tal garota, vai querer continuar ? - perguntou Shinobu, muito séria. Aliás, séria até demais. Naru não se lembrava de tê-la de alguma vez já tê-la visto assim.
- Ora, ora... você não pode estar pensando assim, Naru. Eu sempre torci por vocês dois, e todos na Pensão Hinata sabem disso. Mas porque achava que vocês tinham sido feitos um para o outro, e que seriam felizes. E não simplesmente por causa da promessa. Porque, desse modo, é o mesmo que estar presa a ela e não querer se libertar. E com isso eu não posso concordar - agora Mutsumi também se pronunciava, e não a favor dela.
- E isso sem contar com aquela vez, logo depois que voltamos, e minha avó telefonou para mim. Ela ia me falar sobre a garota da promessa, mas aquela ligação nunca foi completada, porque, na hora em que ela ia falar da tal garota, você desligou o telefone. Está lembrada ?
- E eu vi quando isso aconteceu - Mutsumi novamente entrou na conversa - Na ocasião, eu pensei que aquele era um medo seu que seria superado com o tempo. Mas agora, depois de tudo o que foi dito, não tenho mais tanta certeza disso, Naru.
- Bom, todos nós estamos curiosos... e então ? - Kanako perguntara.
Naru não tinha mais como fugir. Ela bem que gostaria, e Keitarô notou isso. Mas estava rodeada por todos: Keitarô, Motoko, Shinobu, Kaolla, Mutsumi e até mesmo Kitsune.
- Tudo bem. Vou contar, palavra por palavra, o que foi dito naquela conversa - a custo, ela conseguiu falar.
E contou tudo em detalhes. Ninguém falou nenhuma palavra antes de ela terminar.
- É, eu já sabia de tudo isso. Você não ama Uras... Keitarô. É como você estivesse presa a essa promessa, ou se sentisse desse modo, e só por isso quer ficar com ele - Motoko fora a primeira a se pronunciar, depois que Naru terminara de falar.
- Como já sabia, Motoko ? - perguntou Naru, atônita - Você só poderia saber dessa conversa se alguém tivesse te contado, ou então...
- Ou então se eu a tivesse escutado. Foi isso mesmo o que aconteceu - Motoko confirmou - Eu estive lá por acaso, e acabei escutando toda a conversa. Eu ainda era apaixonada por ele, Naru, mas, em Moru Moru, você sabe, deixamos o caminho totalmente livre para você. Porém, depois de ter escutado essa conversa, eu avaliei toda a situação, e decidi que iria voltar atrás e tentar lutar. Vocês tinham dado um tempo, a sua grande motivação era a promessa... então, eu não tinha porque me sentir culpada.
- Então foi por isso que se aproximou tanto dele ? Pois nunca vi Keitarô ter tantos compromissos com nenhuma outra garota...
- Sim ! Não nego isso. Se eu perdesse... paciência, não se vence sempre. Mas, desta vez, eu estava disposta a vencer.
- Mas tem mais uma coisa, Narusegawa. Eu também chamei você aqui para terminar definitivamente o namoro. Porque, mesmo que essa conversa jamais tivesse sido mencionada a mim, eu não posso ficar com você. Porque agora eu amo outra pessoa.
A surpresa, diante dessa declaração de Keitarô, foi grande. E, imediatamente, todos os olhares voltaram-se para Motoko.
- Sim - ela assentiu afirmativamente - Só faltava esclarecer toda a situação com você para revelar que estamos namorando.
- Desde... desde... - abalada, Naru não conseguiu completar a sentença.
- Desde ontem. Eu já não conseguia tirá-la da minha cabeça há um bom tempo, e ontem, depois que fomos ao cinema, nós nos beijamos pela primeira vez. É por ela que eu estou apaixonado agora, e, portanto, de um jeito ou de outro, hoje eu terminaria definitivamente o namoro com você.
Algumas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela.
- Fui... fui traída... por todos...
- Se fosse traição, bastava eu não ter contado absolutamente nada do que acabei de contar. Estou sendo totalmente honesto com você.
- Naru, admita que perdeu. E, para seu próprio bem, tente ter algum amor-próprio, porque está difícil acreditar que, agora, lhe reste algum. - disse Kanako - Eu confesso que não esperava por essa reviravolta, mas se o onii-chan agora está feliz com Motoko, então eu vou ficar ao lado dele, e torcer por ele.
- Sou sua amiga, Naru, mas lembre-se, quando nós tivemos aquela conversa, eu disse que você estava errada... e aí está a prova - Kitsune voltou a falar, após muito tempo - Você só pode culpar a si mesma por tudo o que está acontecendo agora.
Naru decidiu partir da Pensão Hinata alguns dias depois. Ninguém ficou feliz com a decisão, nem mesmo Keitarô e Motoko. Mas entenderam o lado dela. Quando se amava uma pessoa, inevitavelmente a outra não receberia a mesma dedicação. E Naru não ainda não estava pronta para sentir-se nessa condição.
Motoko sentiria saudades dela, apesar de tudo. Assim como Keitarô. Mas a vida tinha que seguir seu curso. Eles agora estavam juntos, e felizes. E, mesmo que pudessem voltar no tempo e mudar algum dos acontecimentos dos últimos meses, eles não mudariam absolutamente nada.
A vida era algo realmente surpreendente. Quem diria que o fato de Motoko ter escutado aquela conversa, há tantos meses atrás, acabaria por mudar tanto o destino deles ?
- Vamos sentir falta dela... - Motoko murmurou, depois que a perderam de vista.
- É verdade - ele suspirou - Eu não queria que isso acontecesse, mas a escolha foi dela, e nós temos que respeitar isso. Mas você não se arrepende, não é ?
- Eu só me arrependeria se novamente tivesse deixado passar a oportunidade que me foi dada - respondeu Motoko, sem pensar duas vezes, ao mesmo tempo em que olhava bem no fundo dos olhos de Keitarô. Ele, por sua vez, retribuiu o olhar com a mesma intensidade, para logo depois, passar os braços pela sua cintura. Puxou-a para mais perto, e em seguida, inclinando o rosto, beijou-a com ternura.
Eles tinham todo um futuro pela frente, e, o mais importante, um verdadeiro amor que os unia.
FIM
NOTA FINAL: Como eu falei lá em cima, eu me baseei no fim do volume 26 e começo do volume 27 para escrever a fic. Agora, deixo claro que eu sei que Naru é a garota da promessa; tenho a coleção inteira. Mas no 27, nenhum dos dois tinha certeza absoluta disso (a cena do telefone existiu, mesmo, nesse volume; assim como os acontecimentos que foram citados nos dois primeiros parágrafos tinham acontecido no volume 26; o resto, saiu da minha - talvez um pouco louca - mente).
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