Primeira Parte, Rose Weasley.
Os corredores estavam desertos, mas eu precisava daquele livro e sair de meu dormitório de madrugada para ir até a seção reservada da biblioteca era a única forma de pegá-lo.
- Lumos. - Ouvi alguém pronunciar baixinho no corredor à direita.
Parei, de repente, e me encostei na parede. "Nox", mentalizei a palavra e a minha varinha se apagou. Sorri, por um instante, orgulhosa por estar conseguindo fazer feitiços sem pronunciá-los aos dezessete anos, quando a maioria só o conseguia depois dos vinte e um como eu havia lido em Estatísticas do Mundo Bruxo.
Peguei o Mapa do Maroto que havia retirado da escrivaninha do tio Harry no último Natal e procurei, à luz fraca de uma vela que iluminava mal o corredor, quem estava vindo em minha direção.
Meu coração parou assim que eu vi o nome se movendo lentamente. O que ele estava fazendo fora da cama? Olhei em frente, esperando que ele passasse reto no corredor perpendicular ao que eu estava. Prendi a respiração e me mantive imóvel. Observei a luz da varinha que iluminava seus cabelos loiros e soltei o ar ao perceber que ele olhava em frente e passou sem nem perceber minha presença. Ainda que o Malfoy fosse meu amigo, era melhor que não me visse.
"Lumos". A ponta de minha varinha tornou a iluminar e eu me mantive parada enquanto observava Scorpius passeando pelos corredores do colégio pelo Mapa do Maroto. Ele parecia estar seguindo em direção ao Salão Comunal da Corvinal e isso era realmente estranho, afinal, éramos da Sonserina. Resolvi deixar pra lá e segui pelos corredores até a biblioteca.
Quando estava chegando na porta esbarrei em alguma coisa e caí no chão. Meus olhos se arregalaram, porque eu jurava que não havia nada em que eu pudesse esbarrar e de repente, ele estava ao meu lado, também no chão. Guardei o Mapa do Maroto rapidamente no bolso.
- O que você está fazendo fora da cama? - Albus me perguntou.
- Eu que devia te perguntar. Aliás, de onde você surgiu?
- Estou com a capa de invisibilidade. Peguei de James nas férias. - Ele deu um sorrisinho convencido.
- E o que você estava fazendo na biblioteca? - Eu perguntei, surpresa.
- Eu estava... Ah, Rose, eu só estava com uma garota. - Ele falou rápido demais e desviou logo o assunto. - E você?
Revirei os olhos para ele e finalmente, ele se levantou e me ajudou.
- Preciso de um livro que... Bem, que eu não posso tentar pegar durante o dia. E como você tem me ignorado, não te chamei pra ajudar a pegá-lo.
Foi a vez dele revirar os olhos.
- Não te ignoro... Mas você procura confusões demais, Rose Weasley. E ainda se arrisca. - Ele suspirou. - Vamos. - Ele me puxou pra baixo da capa e entramos na biblioteca. - Seção reservada?
Assenti com a cabeça, feliz por não ter que ir sozinha.
Um silêncio assustador parecia percorrer os corredores. Albus olhou pra mim embaixo da capa.
- Eu preciso do livro...
Quando estávamos a alguns passos da prateleira, paramos abruptamente e Albus me puxou pra perto da parede.
Algumas - talvez duas - vozes pareciam vir do fundo do corredor em nossa direção. Observamos as pessoas caminhando iluminadas por um Lumos que chegava cada vez mais perto de nós.
Percebi que era a diretora McGonagall e um outro homem que eu me lembrava de alguma das páginas de um livro. Tentei em vão lembrar do nome dele.
Percebi que Albus prendeu a respiração ao meu lado quando eles estavam a alguns metros e fiz o mesmo.
- Não sei. O último Torneio nos rendeu alguns problemas, não acho que seria bom reviver a possibilidade de algo estranho ocorrer novamente. - A diretora falou. - E a segurança dos alunos deve ser prioridade.
- Eu entendo, mas a questão é que o Lord das Trevas foi derrotado e nós não teremos esse problema novamente. Além de tudo, como a senhora sabe, fazem mais de vinte anos que o último foi realizado em Hogwarts e desenvolvemos vários feitiços para que a segurança ficasse bem mais eficaz. E tanto deu certo que nas últimas edições não houve ao menos um problema, fora alguns arranhões e machucados que até trouxas dariam um jeito. - O homem respondeu.
McGonagall olhou disfarçadamente na nossa direção estreitando os olhos, mas resolveu seguir em frente. Albus estava imóvel ao meu lado.
- Ainda há a restrição somente para os maiores de idade?
- Sim. - O homem de cabelos grisalhos deu um sorriso e pareceu animado com a pergunta da diretora. - É mais seguro que liberemos somente para os alunos mais experientes.
As vozes deles foram diminuindo até não poderem mais ser ouvidas. Albus soltou o ar ao meu lado e começou a respirar rápido. Percebi que eu já estava respirando normalmente há algum tempo.
- Vamos logo. Qual o livro?
Saí debaixo da capa e procurei rapidamente na estante. Peguei o livro e, ao passar meus olhos novamente pela prateleira, resolvi pegar mais um por causa do título. Coloquei os dois na bolsa.
Albus me puxou novamente pra debaixo da capa e fomos andando rapidamente pra porta lateral da biblioteca. Por sorte, não vimos novamente a diretora e seu convidado.
Ficamos em silêncio caminhando pelos corredores, quando resolvi checar uma coisa.
- Albus, vá logo para o Salão Comunal da Sonserina antes que arrume algum problema. - Eu dei uma pausa. - Eu preciso verificar uma coisa. Acho que deixei cair um papel importante em um dos corredores que estive.
- Deixa isso pra lá, Rose. Vamos acabar arrumando confusão de novo.
Saí debaixo da capa e ele descobriu sua cabeça.
- Eu vou sozinha. - Falei firmemente. - Se alguma coisa acontecer, a culpa não vai ser sua. Anda, vai embora. E não conte a ninguém o que ouvimos.
Ele sabia que não iria ganhar se discutíssemos, porque ele nunca ganhava, então colocou novamente a capa e desapareceu da minha vista.
- À propósito, obrigada. - Eu falei mais alto do que eu devia.
- Não por isso. - Ele respondeu e eu notei o que queria. A voz dele estava se afastando.
Segui rapidamente pelos corredores mal ilumidados e estava passando pelo banheiro do corredor que dava pra torre da Corvinal, quando ouvi uma voz. Parei antes da porta e peguei o Mapa no bolso.
Procurei meu nome e ao vê-lo, tomei um susto. Ao meu lado estava Scorpius Malfoy e Lea Wilston. Olhei para os lados rapidamente e suspirei de alívio, ao perceber que eles estavam do outro lado da parede. No banheiro.
Merda, eu não deveria ter vindo, pensei. Pelo visto os monitores não estavam fazendo um bom trabalho. Potter estava comendo alguém na biblioteca e o Malfoy, no banheiro. E eu, indo à seção reservada para pegar livros. Legal.
Um movimento no mapa me chamou a atenção. Notei que Scorpius estava saindo do banheiro com a garota e fui rapidamente para o corredor perpendicular. Descobri que tinha entrado na direção errada tarde demais. Por causa da minha burrice, eu teria que esperar o Scorpius passar para ir atrás dele para o Salão Comunal, de forma que ele não me visse. E, consequentemente, chegaria depois dele. E correria o risco de Albus ainda estar acordado me esperando e dar de cara com o Scorpius chegando na minha frente. Ele pensaria merda. Scorpius falaria merda pra provocar, afinal eles se odiavam ainda que fossem meus melhores amigos. E sobraria pra mim. Como sempre.
Suspirei. Fechei o mapa - "Mal feito feito" - guardei-o na bolsa junto com os dois livros da seção reservada e voltei minhas atenções para as vozes no corredor.
- Eu sei, Lea. Ninguém vai saber. Eu já não dei minha palavra?
- Mas é sério, Scorpius. Se uma pessoa souber, meu namoro com Joe já corre riscos. - Ela parecia desesperada pelo tom de voz.
Eles deviam estar parados perto da escada da torre da Corvinal, porque eles passaram a conversar mais baixo para que a voz não ecoasse.
- Lea, você só fala disso, porra. É lamentável ficar ouvindo essas suas conversinhas sobre o seu namorado depois de você ter feito tudo que fez comigo. Ninguém vai ficar sabendo e também não vai mais acontecer. Boa noite.
- Mas Scorpius...
Ouvi o barulho dos passos dele se aproximando e vi ele passando para o outro lado do corredor sem nem olhar pra trás - onde eu estava. Lea não foi atrás dele e eu esperei um pouco para que desse tempo pra ela subir as escadas. Depois alcancei Scorpius.
- Bonito... - Falei, em tom de desaprovação.
Scorpius levou um susto tão grande que eu comecei a rir.
- Caralho, Weasley, precisa fazer isso?
- Adoro pessoas com sentimento de culpa, elas se assustam facilmente e ficam preocupadas demais. - Parei de rir e comecei a falar sério.
- Você não...
- Sinto muito. Vi sem querer. - Expliquei logo e ele deu de ombros, como se realmente não importasse.
- Só não conte a ninguém.
- Eu não gosto dela. - Falei subitamente e percebi meu tom de voz tarde demais. Eu soava como se estivesse com ciúmes.
Ele me olhou de soslaio e deu o típico sorriso metido dos Malfoy. Minha mãe havia dito uma vez que Draco...
- Eu também não, - ele interrompeu minhas lembranças - quer dizer, gosto de como ela chupa e como faz tudo do jeito que eu mando.
- Você é ridículo, Malfoy. Sabe do que precisa? De alguém que não seja tão... tão cachorra, submissa, sei lá.
Revirei os olhos e de repente percebi que já estávamos quase no Salão Comunal da Sonserina. Albus ia definitivamente pensar merda quando entrássemos juntos. Argh.
- Sinceramente, Rose, a única garota de Hogwarts que cogita não me obedecer e tem coragem o suficiente pra me repreender é você.
Ele disse isso, a palavra-chave e abriu a porta. Eu não tinha o que responder e sabia que ele estava certo.
Scorpius Malfoy deixava qualquer uma aos pés dele com seu sorriso convencido, seu jeito arrogante e metido e seus cabelos loiros e olhos verdes. E o pior era que ele sabia como ser persuasivo e, geralmente, conseguia tudo o que queria.
Mas comigo as coisas nunca haviam funcionado dessa forma. Eu nunca teria sido amiga dele se me tratasse de forma arrogante. Nunca teria ao menos falado com ele se eu achasse que ele era só cabelo, corpo e olhos bonitos. Eu definitivamente não seria amiga do Malfoy se ele fosse comigo quem era com as outras garotas, mas era diferente. Talvez porque nos conhecíamos desde pequenos e, bem, eu não tinha outra explicação.
- Você demorou, Rose. - Albus falou enquanto se levantava do sofá e vinha na minha direção. Mas parou no meio do caminho quando viu o Scorpius.
Suspirei. Albus fez sua cara de desaprovação e eu podia jurar que o loiro tinha aberto um sorriso atrás de mim.
- Albus, por favor, não vamos discutir hoje. Eu não estava com o Malfoy do jeito que você está pensando e eu estou realmente cansada.
Ele suspirou e me deu as costas, subindo para o dormitório.
- Tenho a leve impressão, desde que nos conhecemos, que o Potter não gosta de nos ver juntos.
- Vá dormir, Scorpius. - Eu disse, querendo dizer "vá pro inferno" e subi as escadas do dormitório feminino.
