Lírio dos Vales

Era uma noite escura e estrelada, a lua iluminava a pacata cidade juntamente às estrelas naquela noite. Uma menina de cabelos negros e lisos olhava aquela imensidão noturna perto do rio no parque ecológico, recebera a notícia mais cedo de que seus pais não voltariam naquele dia.

Uma lágrima solitária caiu de seu olho direito, desenhando o trajeto do mesmo à boca; sabia que seus pais haviam desaparecido, só que seu avô e irmão apenas queria privá-la de sofrer. No entanto, mesmo sendo criança, entendia o que acontecia. Quem não entenderia ao ver seus pais serem arrastados contra a vontade até um local escuro? Depois dos tiros teve a sensação de que não os veria mais, por outro lado tinha a sensação que algo estava para mudar em sua vida.

Mal ela sabia que, na verdade, tudo fazia parte de um plano de um ser desprezível, que ataca com todas as "cartas na manga" sem jamais sujar as próprias mãos. Sabia que agora seus parentes fariam de tudo para protegê-la e para agradá-la; suspirou cansada, hora de voltar à sua vida. Por enquanto nada aconteceria, mas aos seus dezoito anos, tudo mudaria.

Capítulo Um

O dia se iniciara languidamente, os raios solares, com movimentos preguiçosos, iluminaram a cidade anunciando o início de mais um dia de lutas a serem conquistadas pelos profissionais de todas as áreas. A movimentação da cidade começara cedo, desde as cinco da manhã era possível ouvir o som de carros, bicicletas, até pessoas conversando.

Uma jovem caminhava pelas ruas, aparentemente, sem rumo algum. Seu longo cabelo negro dançava de acordo com o ritmo ditado pelo vento, a pele branca estava escondida pela roupa de frio, fazia sol, embora fosse um dia comum de inverno, os olhos azuis com um leve tom esverdeado brilhavam alegremente; estava animadíssima com o dia que estava por vir, nem sabia por onde começar. Estava para completar dezoito anos e não escondia a animação disso; como prometido ela mudaria de casa, ficaria com o apartamento que seus pais lhe disseram que um dia lhe dariam, teria a moto de seu pai e mais algumas coisas que não se lembrava no momento.

Sairia com as meninas à noite para comemorar a data. Mal podia esperar para poder curtir a nova fase de sua vida e ela mal podia imaginar que tudo estava para mudar drasticamente. Animada com todas as mudanças que haveria de fazer, nem percebeu que acabou por parar em um lugar incomum; pra dizer a verdade, aquele parque abandonado não era uma das coisas mais atrativas em Tóquio.

Estranhou ter ido ali. Provavelmente fora para ali porque... Espere aí, foi aqui que... Sim. Ela se lembrava de tudo muito bem.

FLASH BACK – ON

Ela balançava alegremente no balanço enquanto seus pais a observavam feliz. O mais novo havia ficado em casa com o pai da mulher de cabelos cor de terra molhada e olhos cor de chocolate. O homem de cabelos negros sorria, estava tudo perfeito, como sempre sonhara; chega de problemas com sua família que estava fora do país, seus olhos azuis brilharam ao ver a menina correr em direção a eles com um sorriso estampado. A jovenzinha não sabia explicar a felicidade que tinha.

De repente viu seu pai sério e sussurrar alguma coisa no ouvido da mãe, que olhou preocupada para a filha. A mesma já não entendia o que acontecia, eles a afastaram como se não a conhecessem e então... Foram levados...

- Haha-ue! Chichi-ue!

Mas eles não respondiam, tentou chegar perto deles até que...

FLASH BACK – OFF

- Kagome?

Despertou de seu devaneio rapidamente por uma voz conhecida, virou-se e encontrou Eri, Yuka e Ayumi a encarando sorrindo, segurando cada uma seu respectivo sorvete. Elas pareciam conversar sobre coisas engraçadas, uma vez que Ayumi estava com os olhos marejados e não parava de rir.

Eri tinha o cabelo curtíssimo, rosto delicado e olhos da mesma cor que o cabelo liso: marrom, mas não era qualquer marrom, era bem mais escuro que um tom de chocolate, mas não chegava a ser negro; a pele clara era iluminada pelo sol da manhã, com certeza deve ter passado o protetor, ela era a mais cuidadosa das quatro. Yuka tinha o cabelo liso dois dedos acima dos ombros, o havia pintado no tom de vinho, até combinara com seus olhos quase negros também, mas levemente puxados para o verde; a pele clara era do mesmo tom de Eri, sempre fora a mais preocupada com a beleza, então dava um jeito de manter todas arrumadas. Ayumi era a mais divertida, o cabelo enrolado cor de noz moscada estava um dedo abaixo do ombro e já anunciara que iria cortar esse "um dedo" de diferença, gostava de mantê-lo à altura dos ombros; os olhos negros brilhavam divertidos a todo o momento e era uma das mais estudiosas do grupo, a pele também era do mesmo que as outras duas. Apenas Kagome tinha a pele bem mais clara, cabelo longo até a cintura, que, mesmo sendo liso, ondulava nas pontas e na franja por conta do repicado. Era a mais alta também, com seu metro e sessenta e cinco, assim como Yuka; Eri tinha um metro e sessenta e três e Ayumi, um metro e sessenta.

- Está tudo bem, Kagome? – indagou Eri.

- Hai. Só... – voltou a encarar o balanço – Me lembrei de coisas que... Fazia tempo que não me lembrava.

- Entendo. Venha, vamos arrumar suas coisas para a mudança.

- Yoshi!

Seguiu-as até sua atual casa. Ela morava no alto de um morro que, para chegar até o topo, era necessário subir uma escadaria longuíssima, que dava acesso ao pátio do templo que era cuidado por seu avô. A família Higurashi cuida daquele lugar há tantos séculos que nem mesmo o avô dela saberia dizer. Ao lado do templo, ficava uma velha árvore chamada Goshin Boku, ela tinha uma ferida, uma marca que provava o quanto ela passou e ainda continuava ali. Kagome amava ficar perto dela, sentia-se em paz e feliz, era seu consolo às vezes quando chorava pelos pais, coisa que havia anos que não fazia.

Quando chegaram ao pé da escadaria, correram o máximo que puderam, disputando quem chegaria primeiro, costume que elas mesma criaram. E quem venceu desta vez? Eri! Geralmente era ela mesmo quem vencia, já que praticava corrida. Ela sorriu vitoriosa, zombando das outras.

- Que bando de meninas fracas! Não conseguem nem subir uma escada rapidinho. – ela dizia.

- Não vale Eri-chan! – reclamou Ayumi – Você treina e nós não.

- Qual o problema Kagome? – indaga Yuka

Kagome revirou os olhos enquanto as amigas brigava e olhou para sua casa. Que estranho! Não me lembro de ter deixado a porta aberta. Será que jii-chan saiu com Souta? Ou será que... Congelou ao pensar na possibilidade. Será que havia acontecido? Seu avô não seria tão imprudente em deixar a casa aberta assim.

Andou até a casa de dois andares e, ao chegar a porta, passou a andar cautelosamente. Fez sinal para as meninas ficarem onde estavam que ela estava indo verificar; precisava fazê-lo. Andou pé ante pé, averiguando a presença de alguém por ali, se é que havia alguém.

- Olá. – arriscou – Tem alguém em aqui? – nenhuma resposta fora dada – Jii-chan? Souta? Jii-chan?

- Olá meninas. – uma voz levemente rouca soou atrás das jovens que logo gritaram.

- UUUUUUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AA!

Assustada, Kagome olha para trás e vê as três caindo na sala de sua casa. Sem entender o que ocorrera se aproxima delas e indaga:

- Ei, o que aconteceu?

- Alguém...

- Na porta. – gaguejavam.

- Na porta? – Kagome andou até a porta e, ao identificar a pessoa sorriu – Olá jii-chan. Gomen ne, me atrasei um pouco mais que o esperado.

- Tudo bem Kagome. Suas amigas estão bem? As cumprimentei e de repente entraram gritando.

- Estranhei a porta ter ficado aberta. Achei que havia intrusos. – explicou ao senhor – O senhor esqueceu a porta aberta.

- Eu deixei aberta porque saí agorinha mesmo para pegar um amuleto no depósito. Estou fazendo um novo estudo sobre os amuletos que protegem de a casa de animais indesejáveis (inventei isso, sei lá se existe mesmo hein!).

- Entendi. Tudo bem. Onde está Souta?

- Na casa de Akio-kun, aquele menino só sabe ficar na casa dos outros!

- Calma jii-chan. Ele tinha falado que tinha trabalho de escola para essa semana.

- Está falando daquele de duas semanas atrás?

- Não, estou falando do que ele trouxe ontem.

- Ontem? Ele nem me mostrou!

A jovem riu.

- Acalme-se jii-chan. Provavelmente ele combinou tudo com os colegas.

- Ele devia me avisar.

- Ele me avisou.

- Mas a partir de amanhã você não estará aqui, se ele continuar a me esconder as coisas, como poderei cuidar dele?

Ela suspirou cansada, mais uma vez seu avô discutia sobre aquilo. Estava exausta do quanto seu avô reclamava que eles não queriam ouvir os conselhos dele e que deveriam prestar mais atenção aos mais velhos, uma vez que são velhos.

- Jii-chan, minhas amigas estão aqui e preciso dar atenção a elas. – informou.

- Claro, claro. E deixa o pobre velho aqui isolado, como sempre. – resmungou.

Não conseguiu evitar o riso baixo de ver seu avô resmungando a mesma coisa de sempre; entrou na casa e foi direto ao seu quarto no andar de cima, provavelmente as meninas estavam lá. Entrou no quarto e não encontrou ninguém, olhou pela janela e as viu descendo a escadaria. Mas o qu... Por que estão indo embora? Seu celular tocou. Verificou o que era, uma mensagem da Yuka: "Kagome-chan, precisamos ir para casa arrumar certas coisas. VVA! Bjin".

- Legal. – ironizou.

- Kagome! – ouviu a voz de seu avô – Faça o almoço!

- Já vou!

Respirou fundo, olhou para fora da janela mais uma vez. Como estariam seus pais? Cada dia menos se fazia essa pergunta, não se lembrava muito deles, nem fazia questão de lembrar. Seu avô lhe disse uma vez que se tratava de um sequestro, mas ela realmente nunca quis saber o que aconteceu. Suspirou pesadamente, precisava cozinhar. Desceu e logo estava almoçando com seu avô.

XXXXX

Em um lugar pouco afastado ali, um rapaz de lisos cabelos negros, longos até pouco abaixo do quadril observava as pessoas ali passando, sentado sobre um tronco de árvore no parque ecológico. Planejava mentalmente meios de conseguir chegar a determinado objeto que, apenas conhecera, por ter ouvido um comentário. Sabia que não era apenas boato, considerando de quem ouvira e também por ter visto tal objeto muito tempo atrás.

Apoiou a cabeça nas mãos que se faziam de travesseiro para que ele recostasse-se na árvore. Fechou os olhos, pois assim não seria incomodado, pensando em como poderia localizar o item de seu desejo. Suspirou levemente. Acordou de repente por ter sentido algo em seu pescoço, bateu no local e viu uma pulga cair, completamente amassada.

- Kuso! Não tem outra forma de chamar minha atenção?! – indagou raivoso voltando à sua posição anterior.

- Sumimasen Inuyasha-sama. Estava passando por aqui e resolvi dar uma visitinha. – pulou sorrindo no joelho do rapaz.

- Você não tinha que vigiar um túmulo? – pergunta mantendo-se em sua posição.

- Ahhh sim! Mas quis vim te ver.

O moreno abriu os olhos, desencostou o corpo da madeira e olhou desconfiado para o pequeno ser em seu joelho.

- Por que esse interesse agora?

- Nada demais. Precisava esticar as patinhas!

- Bah! Já sabe que estou bem. Agora vá, quero descansar. – disse voltando à sua posição mais uma vez.

- Tudo bem. Já sabe por onde começar a busca?

O rapaz suspirou.

- Não faço a menor ideia. Só sei que está por aqui em Tóquio.

- Espero que consiga, Inuyasha-sama! Bem... Agora vou voltar para a cova! Seu chichi-ue não ia gostar muito que o deixasse, não é?

Se é que ele queria você lá, não é jiji? Ele não pôde deixar de pensar, mas não disse nada, nem se quer permitiu que algo se passasse em seu rosto revelando o que pensara. O ambiente ficou silencioso, do jeito que ele gostava. Apesar do movimento de carros e algumas pessoas passando por ali, sentiu-se como há muito não sentia.

- Souta! Venha aqui Souta! – ele ouviu uma voz feminina gritar.

Kuso! Hoje por acaso é dia de excursão nesse parque? Endireitou o corpo e congelou ao ver uma figura feminina correr; ela estava um pouco distante, de certo não o veria, mas ele a viu e sentiu-se totalmente travado, não sabia se era raiva ou se era pela surpresa. Levantou-se, pulou alguns galhos agilmente e ficou acima da jovem de cabelo negros que se mostrava preocupada com o paradeiro do tal Souta.

- Kuso! Logo hoje Souta! – reclamava – Jii-chan vai me matar se algo te acontecer, especialmente hoje!

A fim de vê-la melhor, o moreno desceu e conseguiu a visão perfeita do rosto dela. Como parecia com aquela que ele conhecera, aquela que agora, para ele, morrera; só soube que não era ela por causa dos olhos azuis da que encarava naquele exato momento. A viu olhando em sua direção, tentou se desviar para que ela não o visse, mas acabou por cair e foi inevitável o contato.

- Você está bem? – ao ouvir a voz melodiosa ao seu ouvido a fitou, ela estava estendendo a mão para ajudá-lo – Gomen ne, te assustei?

Ele olhou a mão dela, olhou para ela e repetiu o ato várias vezes. Ela queria ajuda-lo. Não preciso da ajuda de ninguém, principalmente de uma humana fraca! Levantou-se sem dizer uma palavra, limpou-se e se pôs a andar em seu caminho.

- Hei! Espere! – não parou – Você viu um menino de cabelos negros lisos, pele um pouco mais morena que a minha e dessa altura? – indicou a altura com sua mão e ele manteve-se em seu caminho. – Ei! Seu sem educação! Poderia me dizer se viu meu otouto?

- Não. – disse por fim ainda andando – Não vi ninguém.

Ela suspirou. Que cara difícil! Ela pensou.

- Bom, de qualquer jeito – ela disse – obrigada.

Ele parou. Não esperava um agradecimento. Mesmo tendo-a ouvido sair, virou-se na direção que ela tomara. Podia parecer fisicamente com "ela", mas, com certeza, não tinha as mesmas atitudes. Quem era ela? Não negava que a curiosidade o assaltou de forma até imprevisível, no entanto não se renderia facilmente a tal impulso. Voltou a seguir seu caminho, tinha a sensação de encontraria a jovem de novo, até mais cedo do que imaginava.

XXXXX

Kagome ainda procurava Souta no parque ecológico. Onde esse menino se enfiou? Que droga! Eu avisei que tinha de comprar um vestido e ele fica se comportando assim! Nunca mais saio com ele! Suspirou e sentou-se no banco embaixo de uma árvore ali perto, queria ter aproveitado melhor a véspera de seu aniversário. Olhou para frente e viu o rapaz que vira cair, fazia algum tempinho. Ele era estranho, sem contar um completo mal educado e tão bonito... Ihhhh, não posso começar a pensar assim. Acabou por rir de tal pensamento, achar um rapaz bonito não era nada demais, não é? Já que não o encontraria de novo tão cedo, pelo menos era o que achava que iria acontecer.

Bem... mais um fic... Vamos ver no que vai dar,né? -_-'