Resumo: John insiste que Sherlock ao menos entenda como funciona o sistema solar. Não que ele esteja exatamente disposto a isso.
Fic que brotou do nada durante um momento louco de sono. Não tem romance propriamente dito, só bromance. E, qual é, eyesex de Sherlock e John já é slash o suficiente pra qualquer um :b
Você não precisa ter exclusivamente ter assistido a série pra entender a fic. Se já leu "Um Estudo em Vermelho" (A Study in Scarlet), pode ler que vai entender do mesmo jeito ^^
Havia um mapa em tamanho grande sobre a mesa, ilustrando planetas, satélites e estrelas. Estava manchada em um canto, uma mancha meio marrom, porque aquele ponto da mesa estava sujo de chá e John não havia notado antes de colocar o mapa ali. De um lado da mesa, John Watson, a mão esquerda e a direita unidas como se rezasse – o que, de certa forma, podemos dizer que ele fazia -, encostados no nariz, enquanto os olhos observavam o homem alto (alto demais, John pensava ás vezes, incomodado) do outro lado da mesa.
Sherlock Holmes tinha a mesma posição que o colega de apartamento/trabalho/amigo (?), mas observava o mapa a sua frente. Usava um roupão azul-marinho por cima dos pijamas brancos listrados de azul, o cabelo preto e cacheado todo desgrenhado, os olhos cinzentos demonstrando certo sono.
Em seu rosto, nada além de tédio.
Ele preferiria simplesmente desenhar um rosto na parede da sala e atirar nele ou qualquer coisa razoavelmente mais interessante e útil no momento, mas Watson insistira. E, ultimamente, Watson andara aprendendo a insistir muito bem. E esconder seu revólver ajudava bastante, também. Então, ali estava ele, Sherlock Holmes, consultor investigativo, único no mundo, em diversos aspectos um gênio.
Estudando o Sistema Solar.
John não queria ouvir quando Sherlock argumentara. Não importava se Holmes só pensava em trabalho, se o Sistema Solar não importava para investigação e consultoria criminal ou se aquilo era só "lixo que atrapalhava as coisas importantes". Era simplesmente inconcebível, para Watson, que Holmes soubesse identificar se a lama na bota de alguém era de Yorkshire ou Liverpool só de olhar, e não soubesse a diferença entre Netuno e Urano.
E estava na hora de ele colocar alguma normalidade dentro daquele apartamento no 221B da Baker Street.
Holmes ergueu os olhos e notou que Watson o observava. Ergueu uma sobrancelha, e o colega fez o mesmo. Não mudaram de posição em nenhum instante, se encarando longamente sem interromper o contato visual. Eles poderiam ficar ali o dia todo, simplesmente se encarando – ou ao menos era o que parecia -, mas Watson interrompeu o silêncio repentinamente.
- E aí? – perguntou, sem tirar os olhos de Sherlock.
- E aí o que? – disse Sherlock de volta, ainda imóvel.
- Entendeu alguma coisa?
- Não, você não explicou nada – disse Holmes, como se o fato fosse óbvio. E era.
- Eu pensei que você fosse um gênio da dedução, então eu deduzi que você conseguisse entender isso sozinho. – disse John, erguendo a outra sobrancelha.
- Exatamente, eu sou o gênio da dedução aqui, não você. – replicou Holmes, sem conseguir evitar abrir um leve sorriso triunfante.
John se limitou a encarar fixamente o colega, com um olhar assassino nos olhos castanhos. Depois de encarar Sherlock por mais alguns instantes, desistiu, suspirou e se debruçou sobre a mesa, começando a explicar o significado das bolas coloridas no papel.
- Essa coisa gigante aqui no canto é o Sol. A Terra, que é onde nós estamos...
- Eu não sei como funciona o sistema solar, mas também não sou totalmente estúpido, John. – comentou Sherlock, também se recostando na mesa. John ergueu os olhos semicerrados pra ele.
- Você percebe como essa frase não faz sentido nenhum? – comentou ele. Sherlock ponderou por alguns segundos, e em seguida deu de ombros, em concordância.
- Enfim – John soltou um suspiro e continuou. – A Terra gira ao redor do Sol, e pra dar essa volta ele demora um ano. Ela também dá voltas ao redor de si mesmo, e essa volta dura 24 horas. Essas bolas coloridas aqui – e apontou vagamente para Marte, Júpiter e Saturno, tentando incluir todos os outros em sua indicação. – são os outros planetas do Sistema Solar. Eles fazem a mesma coisa que a Terra, giram ao redor de si mesmos e ao redor do Sol, em períodos de tempo diferentes. São oito planetas, em sequência: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno.
Sherlock assentiu continuou observando o mapa, ainda claramente entediado. Holmes não via nenhum objetivo naquilo – como diabos o Sistema Solar vai influenciar em seu trabalho, no fim das contas? Sherlock explicara a John milhões de vezes que o trabalho era a única coisa que importava para ele – mas Watson parecia colocar algodões imaginários nos ouvidos sempre que o detetive fazia aquele discurso. Ou então ia comprar leite ou qualquer coisa do tipo.
Observando o mapa, Holmes franziu a testa. – E o que é isso daqui? – perguntou, apontando para um ponto cinzento no mapa, próximo aquele canto sujo de chá. A legenda dizia "Plutão".
- É um planeta-anão, Plutão.
- E por que não contou com ele?
- Porque ele não é um planeta, é um planeta-anão.
- Se não é um planeta, porque tem "planeta" no nome?
- Porque é um planeta, mas é um planeta-anão. Não é considerando, cientificamente falando, um planeta como os outros, mas um planeta-anão.
- Você percebe como essa frase não faz sentido nenhum? – John não pode se segurar e riu. Por mais que, no fundo, estivesse querendo jogar Holmes no asfalto da Baker Street e deixá-lo lá pra sempre.
- O que importa é que não é um planeta igual os outros, certo? – disse Watson, impaciente.
- Tá, pode ser. Mas o que ele está fazendo no mapa?
- O mapa é de antes que descobrissem que era um planeta-anão.
- Tinha um planeta que era menor que todos os outros e eles não supuseram que aquele planeta era anão?
- Astrônomos não são gênios da dedução. – e foi a vez de Sherlock rir, mas o mais discretamente que pôde.
- Entendeu agora por que saber sobre Astronomia é tão inútil pra mim? – disse Holmes, se espreguiçando preguiçosamente na cadeira. Watson ajeitou a postura e olhou fixamente para o colega.
- E se aparecer um serial killer que, sei lá, assassina pessoas usando padrões astronômicos? – perguntou John.
- Não vai acontecer. – O detetive (ok, ok, consultor investigativo) deu de ombros.
- E como você tem tanta certeza?
- Serial killers não se interessam por coisas inúteis.
- O Sistema Solar não é inútil!
- Me dê duas razões pelas quais alguém vai querer saber, em sua vida, se Netuno é vermelho e rochoso.
John ponderou. Não pode deixar de pensar em como Sherlock não devia ter prestado uma mínima atenção no que dissera sobre o mapa estirado sob a mesa, mas continuou poderando. E pensando. E refletindo.
E quando não conseguir pensar em nenhuma razão plausível, ele se levantou, irritado, observado por um Sherlock Holmes de sorriso irônico e debochado. Abriu a geladeira e simplesmente murmurou:
- Você não comprou leite. Como espera que eu tome chá sem leite?
