De Braços Bem Abertos


Capítulo 1 – Pelo buraco da fechadura


Uma pequena abertura na cortina da janela permitia que um facho de luz insistente atravessasse o quarto e chegasse no rosto de Harry Potter.

Após mais uma noite mal dormida a notícia de que amanhecera não causava nenhum efeito no homem de 27 anos. Manhã ou noite, não fazia diferença.

Seus cabelos desarrumados, seu óculos caindo do nariz, os olhos semi–abertos... A cicatriz na testa. Estava tudo lá, mas as aparências sempre enganam.

Por exemplo, ele ainda usava uma aliança com duas iniciais: "H&H". Mas, na vida real, agora só havia um "H". E a aliança já devia ter sido jogada fora há muito tempo atrás.

Ele não estava tão deprimido quanto achava que devia, falando a verdade. E isso era o que o deixava mais preocupado.

Não era o casamento rompido que o afetava. Mas sim as mentiras que ele viveu durante quatro anos.

Devagar, saiu debaixo das cobertas, desistindo de tentar dormir. Sentou–se na cama e ponderou um pouco sobre sua vida recém criada das cinzas.

Primeiro: não tinha mais um emprego.

O Ministro da Magia agora era Percy Weasley, pelo menos até um novo ser escolhido. E estava tudo bem para Harry. O cargo nunca fora feito para ele e ele nunca quisera para falar a verdade.

Cansativo. Chato. E feito para aqueles que gostam de medidas de bordas de caldeirão.

Percy era perfeito para o cargo.

Vivendo de suas economias, Harry não queria voltar a trabalhar. Voltar a sua velha profissão de auror era a única possibilidade mais plausível mas não tinha certeza que caçar ex–comensais ou guardar a prisão de Azkaban seria bom para ele.

Segundo: tinha vendido Grimmauld Place, a casa da família Black (na verdade quem deveria ter herdado a mansão seria Narcisa Malfoy, mas após o envolvimento do marido com Voldemort, os bens da família Malfoy foram vendidos ou passados para familiares). E depois de um acordo a bela casa do ex–casal Potter em Godric's Hollow também foi vendida. Cinqüenta por cento para cada parte. E ele nem teve que falar com ela, Gina cuidou de tudo.

Estava num quarto alugado no Caldeirão Furado mas sabia que logo teria que sair de lá. Não demoraria nada para que os repórteres descobrissem seu paradeiro e o viessem atazanar.

Terceiro: sua vida parecia agora depender de Gina Weasley para funcionar. Sem ela, duvidava que sairia da cama todo dia.

Não graças a depressão ou algo do gênero. Não estava deprimido, cansado talvez, mas não deprimido. Não estava pensando em viver recluso também, só não tinha muita vontade de encarar outros seres humanos. Mas mesmo assim não tinha nada em especial para faze–lo levantar–se todo dia. Estava seguindo com sua vida, a diferença era que Gina o fazia correr ao invés de caminhar.

Harry não sabia exatamente por que ela fazia isso. Por que se importava em ajudá–lo, mas estava agradecido do mesmo jeito. Era bom não estar sozinho mas... Ao mesmo tempo, confuso.

O problema era que ele ia sempre acabar sozinho de alguma forma ou de outra, então não seria melhor se acostumar com isso ao invés de procurar consolo nos outros?

Não teve pais e por 11 anos não teve absolutamente ninguém que se importasse com ele. E tinha se saído relativamente bem, considerado tudo. Devia estar familiar com solidão, ora bolas.

O problema era que tinha ficado mal acostumado, era isso. Ficou 5 anos em lugar que o protegia da verdade. Em Hogwarts tinha Rony, Hermione e Hagrid, sua família. Depois teve Dumbledore, profa. Minerva, Lupin... E Sirius.

E ai a profecia resolveu virar tudo isso de ponta cabeça. Lembrar ele que sobreviver era seu destino. Sozinho. Ele sozinho tinha que derrotar Voldemort, não Dumbledore, não um bruxo poderoso... Ele. Harry Potter.

Não bastasse isso para isolá–lo como também a morte resolveu aproveitar a deixa e o relembrar que ela estava lá.

Dali para frente nada foi mais fácil.

Seu estômago roncou, o fazendo parar de pensar na vida e o lembrando que se quisesse ter uma vida para pensar sobre, teria que se alimentar.

Talvez fosse melhor descer para o café da manhã ao invés de ficar sozinho com pensamentos melodramáticos. Melodrama no começo do dia era um sinal que ele estava introspectivo demais para o próprio bem.

Levantou, fazendo o chão de madeira velha ranger com o seu peso. Edwiges remexeu as asas dentro da sua gaiola, cansada de procurar ratos à noite inteira. O movimento garantiu que Harry não se esquecesse de lhe trazer um petisco na volta.

Foi até o seu malão, procurando alguma coisa para usar. Resolver vestir um suéter verde e uma calça marrom. Nada bruxo, nada de chapéu coco nem capa formal.

Não se sentia particularmente bruxo no momento.

Não se sentia particularmente nada, para falar a verdade.


 Mãe, eu acho que é importante para ele. Ele anda tão sozinho. E depois, Rony pode passar o Natal com os pais de Hermione, tentando explicar como ele arruinou o casamento da filha deles Gina informou sua mãe enquanto passava manteiga calmamente em sua torrada.

Ele ainda tem que explicar para nós sobre essa história toda! respondeu irritada Molly Weasley. Isso está muito mal explicado! Muito!

O que tem para explicar, mãe? Roniquinho roubou a mulher do melhor amigo debaixo do nariz de todo mundo, já que Hermione deve querer ficar embaixo, fim da história interrompeu a conversa Jorge, um meio riso no rosto.

Não tem graça! Não faça disso uma piada, ouviu Jorge? E Fred?

Os gêmeos deram os ombros, quase ignorando o aviso da mãe.

Gina suspirou, um tanto cansada de bancar a intermediária entre todos.

Mãe, e quanto ao Harry? Ele pode vir no Natal?

Sua mãe lhe deu um sorriso triste.

Mas é claro que ele pode! O pobrezinho deve estar arrasado! suspirou. Estamos todos. Nada disso devia ter acontecido... Não sei como Rony pôde!

Molly, você sabe que o Profeta mentiu começou o pai de Gina, limpando os óculos. Hermione e ele não fizeram nada em cima da mesa, nem na sala do ministro, nem no elevador do Ministério, nem na estátua. Percy me garantiu.

Eu sei, Arthur, eu sei! Mas... Gina suspirou ao ver os olhos da mãe lacrimejarem. Eles eram tão amigos! Inseparáveis! E agora... Temos que passar o Natal separados...

Mãe, vai ficar tudo bem. Eles se ajeitam com o tempo – garantiu Carlinhos, e Gina silenciosamente o agradeceu.  Você vai ver.

Gina estava cansada de ter que cuidar de todos os lados envolvidos e ficou contente que não estava sozinha na hora de consolar parentes. Principalmente quando a Toca estava cheia deles.

Era sempre assim, todo feriado de Natal quem podia vir, vinha. Até a ex–noiva de Rony, Lilá, tinha comparecido uma vez.

A cozinha Weasley voltava a ficar lotada e confusa. Comida às vezes voando, às vezes caindo na cabeça de um ou outro. Em um clima descontraído e aconchegante que Gina sempre associava com felicidade.

Esperava que Harry também achasse a mesma coisa. Era mais uma de suas tentativas de fazer com que ele percebesse que não estava sozinho, que tinha uma família, com ou sem Rony e Hermione.

O plano era simples: passar um final de semana na Toca com todos os irmãos ruivos (e suas esposas e filhos), Lupin, Luna, Neville e Tonks. Como nos velhos tempos. Ela só esperava que Harry não notasse tanto a falta de duas outras pessoas.

Gina terminou seu café da manhã e olhou seu relógio de pulso se levantando da mesa. Combinara com Harry de procurar um lugar para ele morar naquela manhã. O quarto alugado no Caldeirão Furado não mais um lugar seguro contra repórteres.

Caminhou até a sala, se afastando do barulho de talheres vindo da cozinha e pegou um tanto de pó de flú.

Beco Diagonal disse em uma voz um tanto cansada.

Enquanto girava na lareira buscou resumir os dois meses desde a separação de Harry.

Sua busca resultou em uma frase: olhando pelo buraco da fechadura.

Era isso o que sentia que estava fazendo. Tentava entrar na vida de Harry e ajudá–lo mas ele tinha trancado a porta e ela ficou para fora, olhando pelo buraco da fechadura. Incapaz de entrar.

Ele não se abria com ela. Não como tinha feito na praia a um mês atrás. Naquele momento ele tinha revelado para ela coisas que ele mesmo não percebera até então.

Mas agora Harry voltara a se trancar. E a sete chaves.

Gina sabia que a melhor maneira de lidar com isso era esperar até que ele estivesse pronto para dar a chave para ela entrar. Mas...

Estar do lado de fora era... Doloroso demais, como se fosse um cachorro que o dono tivesse deixado na chuva durante a noite.

Uma comparação humilhante mas infelizmente próxima da realidade.

Como uma fiel amiga, o via todo dia, ajudava no que podia e se matinha ao seu lado sempre que podia. E mesmo assim ele ficava distante.

Talvez não fosse intencional. Duvidava que Harry percebesse alguma coisa. Ele era extremamente incapaz nessa área por mais que ela não gostasse de admitir. Não era egocentrismo, simplesmente ignorância.

Hermione a avisara sobre isso antes. Anos atrás ela contara a falta de tato que Harry tinha quanto a sentimentos, principalmente quando se tratava de mulheres. Cho Chang sendo uma prova um tanto bizarra disso.

Não que Gina queria se envolver com ele romanticamente, é claro. Não era isso.

Ela apenas queria que ele se abrisse com ela.

Parou de girar e também de pensar no assunto, saindo da lareira do Caldeirão Furado e cumprimentando Tom.

O dono do lugar logo lhe apontou para uma figura em uma mesa distante, sabendo quem ela procurava.

Gina se aproximou da mesa de Harry, notando como ele mexia seus ovos e bacons com se estivesse numa aula com o Prof. Binns. O interesse em comer tão próximo do interesse de prestar a atenção na aula, ou seja, zero.

Vai esfriar ela anunciou enquanto se sentava na cadeira oposta a ele.

Eu gosto frio respondeu, sem tirar os olhos do prato. Oi, Gina.

Pronto para ver alguns apartamentos encantados? Vi no Profeta um ótimo, com suíte e um sindico bruxo. Fica há algumas quadras daqui, você nem vai precisar ter que fazer o próprio café da manhã, Tom pode esfriá–lo para você.

Deprimente o modo como ela tentava puxar conversa fiada com ele. Não sabia porque continuava a tentar, era deprimente realmente.

Uh–uh – foi a resposta dele. Certo.

Gina suspirou.


Por que ele fazia isso? Por que não conversava como um ser humano e não um trasgo montanhês?

Ele não tinha a resposta.

Gina não fazia nada além de ajudá–lo e ele grunhia toda vez que ela falava com ele.

Era só que talvez... Ele... Não estava muito afim de conversar... Tentava mas...

Não queria ficar sozinho porém também... Não queria encarar ninguém, não queria encarar o fato, a realidade... Que...

– Ah, droga murmurou frustrado consigo mesmo. Dissolvendo mais uma vez os pensamentos dramáticos.

Gina levantou uma sobrancelha.

– O que foi?

Eles se encararam.

Nada finalmente grunhiu, para frustração de ambos.

Ficaram em silêncio e por falta do que fazer, e para tentar ignorar a pausa nada confortável, ele colocou um pedaço de ovo em sua boca, o mastigando como se fosse borracha. Na verdade, odiava comida fria.

Gina quebrou o silêncio, como sempre:

Espero que você ainda tenha o suéter verde que mamãe fez para você ano passado.

Ele engoliu o pedaço de ovo.

Por quê?

Ela vai ficar ofendida se você ir no Natal sem ele.

Natal? Com os Weasley? Ela tinha pirado?

Mais silêncio, ele não sabia exatamente como negar o convite... Quem sabe honestidade seria o melhor caminho?

Eu não acho que eu deva ir, Gina... Não ia me sentir bem... Junto com...

Eles não vão estar lá. Eu não burra, Harry. Não ia te convidar se eles fossem – o corrigiu, sua voz um tanto seca.

Ela estava chateada com alguma coisa, o que exatamente, ele não sabia. Talvez preferisse não saber. Já bastavam seus próprios problemas.

"Que mal agradecido eu sou" pensou enquanto soltava um suspiro.

Desculpa, Gina... Não quis dizer isso.

Foi a vez dela fazer o mesmo.

Não, Harry... Sem problemas, sem desculpas. Eu só acordei hoje com pé esquerdo. Eu que me desculpo sorriu. Termine o seu café da manhã para a gente pode ir ver apartamento. Vou falar com o Tom e já volto.

Ok.

Ele observou ela se distanciar da mesa, um tanto confuso, mordendo o último bacon sem muito ânimo.


Rony estava sentado, sorrindo para si mesmo e comendo uma torrada amanteigada.

Café da manhã para ele tinha sempre sido uma refeição ausente. Acordava cedo só quando era obrigatório. Nesses anos fora de Hogwarts, quase sempre levantava às onze da manhã, quando não tinha treinos de quadribol.

Agora isso tinha mudado... E apesar de não estar acostumado ainda, a mudança fora para melhor.

Acordava agora à seis e meia em ponto. Tomava um banho rápido, colocava qualquer roupa que via pela frente, ia para a cozinha e ficava do mesmo jeito todo o dia.

Comia uma torrada e sorria enquanto via Hermione acordar e se preparar para trabalhar.

Acordar do lado dela já era por si só uma recompensa que ele ainda duvidava que era digno. Vê–la preparar o café, ainda sonolenta e com o cabelo todo desarrumado e armado abria um sorriso gigante nele, a razão disso permanecia desconhecida. Adorava ela de manhã.

Adorava ela sempre, é claro, mas acordar com ela sempre deitada ao seu lado, o primeiro raio de luz batendo em seu rosto e cabelos... Sempre o lembrava que a noite anterior não tinha sido um sonho.

Ele estava ficando romântico demais. Mas era inevitável.

Rony estava mordendo sua torrada, observando com cuidado Hermione procurando freneticamente por café. Ela era viciada em café, umas das coisas que ele aprendeu durante os dois meses juntos. Além do fato que ela gostava de enrolar um fio de cabelo com o dedo enquanto lia... Que cuidava tanto da sua higiene bucal que era um tanto assustador, Rony duvidava que fosse saudável usar um fio dental oito vezes por dia... Sem falar que virava a colher do seu café com magia sem perceber e que fazia tudo do modo trouxa quando se tratava de cozinha. Nenhum dos dois era muito hábil com magia doméstica, apesar dela ser melhor do que ele no assunto, obviamente.

Essas pequenas descobertas só abriam um sorriso maior em seu rosto. Era bobo, ele admitia, mas saber essas coisinhas o fazia se sentir mais próximo dela.

Não que já não conhecesse várias manias de Hermione... Ah sim, ele conhecia bem várias delas. Mas esses detalhes eram de alguma forma mais íntimos.

A torrada foi terminada e Hermione desistiu de procurar o café, sentando–se a mesa.

Você viu o pacote de café? perguntou, bocejando, inocente do fato que ele se divertia com a busca dela.

Accio Café.

O feitiço trouxe o pacote do topo da geladeira para a mesa, pousando na frente de Hermione.

Você é uma bruxa ou não? riu, a lembrando do primeiro ano em Hogwarts e do visgo do diabo.

Só depois do café. Antes disso a bruxa ainda está dormindo sorriu, indo preparar a bebida. Obrigada.

De nada.

Nesse momento Pichi bicou (dezenas de vezes) a janela, anunciando a sua chegada. Rony se levantou, abrindo o vidro para que a pequena coruja entrasse carregando cartas duas vezes maiores que o corpo.

Ele pegou a correspondência e como sempre a coruja ficou voando em volta de sua cabeça da forma irritante que sempre fazia.

Valeu, Pichi. Agora, tchau Rony avisou o animal, enfático.

Assim que a corujinha desistiu e voou para fora do lugar Rony se sentou novamente, olhando as cartas em sua mão.

Nada de interessante, apenas uma carta de Gina. Ia abrir quando foi interrompido por uma voz desconhecida gritando ao seu lado.

"SUA CIRIGAITA! SE APROVEITANDO DO MINISTRO! UM ESCÂNDALO! VOCÊ TRAIU HARRY POTTER NOSSO SALVADOR, COMO PÔDE FAZER UMA COISA DESSAS SUA..."

A voz encheu a cozinha de uma forma horripilante que Rony já havia aprendido a associar com um berrador. Hermione tinha recebido um e acabara de abrí–lo, ao que parece.

A gritaria foi interrompida por uma unhada afiada de gato. E mais outra e outra, até que a voz da mulher estranha foi destruída pelos arranhões de Bichento. Hermione olhava um tanto triste enquanto o gato terminava o berrador que ela tinha jogado para ele destruir momentos antes.

Rony sentiu uma raiva aguda tomar conta. Como odiava aquelas pessoas idiotas que achavam que tinham o direito de julgar os dois!

Mesmo depois de dois meses os berradores não tinham parado. Diminuído, mas nunca parado. Culpa do maldito Profeta Diário e sua coluna de fofocas comandada por Ligia Sketeer. Sobrinha da odiosa Rita.

Malditas pessoas burras! rosnou, olhando com raiva para o que tinha sobrado do envelope vermelho. Será que nunca vão calar a boca!

Hermione suspirou enquanto mexia seu café com a colher, sem perceber.

Não ligue, Rony. Não vale a pena.

Ele bufou, frustrado.

É, eu sei.

Honestamente, eu até estou surpresa que as cartas com pus de trasgo tenham parado...

Ainda bem que sim. Não agüentava mais ter que tomar vinte banhos por dia para tirar o cheiro bufou, cruzando os braços. Quando eu descobrir quem foi que mandou aquilo... Ele e a idiota da Sketeer vão acordar um dia sentindo falta de um órgão muito importante...

Hermione preferiu mudar de assunto.

Alguma coisa boa e silenciosa na correspondência?

Rony voltou a tarefa de abrir a carta de Gina, e ao ler conteúdo, não sabia como se sentir com as notícias.

Oi, Rony!

Espero que esteja tudo bem. Adorei o presente.. .É raro ter um chapéu em forma de estátua da liberdade que tem uma conversa tão interessante, emprestei para a Luna dar uma olhada. Ela ficou fascinada daquele jeito estranho que você conhece.

Estou escrevendo também para fazer um pedido.

É meio chato... Mas...

Eu quero convidar Harry para o Natal na Toca. E, bem, não precisa ser Rowena Ravenclaw para saber que seria melhor que você e Hermione não estivessem lá também.

Não me leve a mal, Rony. Todo mundo quer passar o Natal com vocês... Mas querem passar também com Harry. É uma situação muito triste... Todo mundo está chateado.

Ele está mal, Rony. Não sei se você se importa muito com isso, mas sei que Hermione sim.

Ele precisa de um Natal feliz.

Você e Hermione podem passar depois, dia 26 e tudo mais.. .E, além disso, eu sei que você está adiando um certo encontro com os pais da Herm. Quem sabe não seria bom passar o Natal com eles e conhecê–los melhor?

Abraços,

Gina

E então? O que diz a carta? Hermione perguntou, se aproximando de Rony para olhar o pedaço de pergaminho.

Rony sem falar nada deu carta para ela, ainda incerto de como se sentir sobre a proposta de Gina. Após uma leitura rápida Hermione resolveu dar a sua opinião.

Bem... Gina está certa, Rony... Você ainda não visitou os meus pais...

Eu conheço eles e eles me conhecem. O que mais precisa? anunciou defensivamente.

Hermione levantou sua sobrancelha. Rony se acostumou a associar isso com perigo.

Eles te conhecem como Rony, aquele ruivo lá. Não como meu namorado.

"Aquele ruivo lá"? perguntou, tentando evitar o assunto. Estou comovido.

Devia respondeu seca antes de suspirar. Vamos, Rony. Não é tão ruim assim, meus pais são ótimas pessoas e sei que eles vão te receber de braços abertos.

Ele cruzou os braços com uma expressão de criança mimada. Não sabia exatamente a razão de querer evitar tanto o encontro... Os Granger sempre foram pessoas boas com ele, mas sentia que eles não gostaram nada da separação de Hermione. Harry sempre é o favorito das pessoas, sempre foi assim. Ele não podia culpar os pais dela se Harry também fosse o favorito deles... Também Rony não era exatamente o perfeito pretendente. E as teorias escabrosas que todos espalhavam sobre ele não ajudava em nada a situação. Novo Pettigrew, ladrão de esposas, destruidor de lares... Invejoso... E essas eram as menos criativas...

Hermione esperava ainda pela resposta. Ele olhou para o rosto suplicante dela e resolveu que era cedo demais para brigar. Na verdade, não resistia aquele rosto dela...

Está bem, você venceu desistiu, descruzando os braços. Eu só... Gostaria de passar o feriado na Toca.

Era verdade. Ele raramente não visitava a família no Natal... Exceto em Hogwarts, para fazer companhia para Harry...

Um meio sorriso amargo surgiu em seu rosto.

Obrigada, Ron... Eu sei que a situação é... Sinceramente, nenhum de nós está gostando de tudo isso. E Harry precisa de companhia... Sempre podemos ir lá depois.

Rony não falou nada. Preferiu não manchar mais o seu café da manhã falando sobre como Harry estava sozinho e etc e tal. Ele sabia disso e o incomodava muito. Só que ainda não tinha decidido se era por culpa ou porque estava cansado de saber de como Harry era um coitado. Dependendo do seu humor a segunda opção era a mais provável.

Hermione terminou o café dela, interpretando o silêncio do ruivo como um bom sinal. Não falaram nada por um tempo, apenas observando Bichento tomar seu leite com gosto. O gato estava muito gordo, velho e mais estranho a cada dia.

Certas noites ele fugia pela escada de incêndio do apartamento de Rony e de manhã aparecia nos lugares mais estranhos... Privada do vizinho, armário da cozinha da senhora da frente, saco de lixo da sindica... Ficava cada vez mais difícil conviver com os vizinhos, todos trouxas e pouco acostumados com amassos, a raça de Bichento. Gatos feios de morrer que podiam reconhecer animagos e eram perigosamente espertos demais para o gosto de Rony.

Ele tentava se manter longe das atenções no prédio trouxa, sendo o único bruxo do lugar mas Bichento estava complicando as coisas.

E não ajudava nada o fato que Rony tinha que ficar sozinho o dia inteiro com o bicho, já que Hermione ia trabalhar.

No dia anterior, por exemplo, Bichento caçava uma mosca na cozinha causando mais estrago que um hipogrifo raivoso. Enquanto Rony concertava os pratos e copos que sofreram com a caçada, Bichento pulou pela janela, subiu as escadas e entrou na sala da Sra. Manson (a mais fofoqueira de todas as aposentadas do prédio) e destruiu o tapete persa da mulher.

Rony, sem saber que a Sra. Manson descia para seu andar com Bichento se debatendo em seu colo, enfeitiçara uma vassoura para recolher os cacos e foi no banheiro. Quando a mulher tocou a campainha foi recebida por um utensílio de limpeza com mãos falsas e Rony correndo com sua calça caindo para tentar impedir, tarde demais, que a porta fosse atendida.

Não é necessário dizer que a mulher agora evitava Rony e Hermione como a praga. E que a culpa de todo o ocorrido foi colocada nas costas de Rony.

Como se ele pudesse controlar o demônio peludo.

Rony foi interrompido de suas memórias pela a voz de Hermione que pegava sua pasta de trabalho.

Estou atrasada, é melhor eu ir anunciou saindo da cozinha.

Ok. disse, nada animado para mais um dia sozinho com o gato.

Da pequena sala Hermione continuou a conversa.

O que você vai fazer hoje?

Rony considerou a pergunta, mas não por muito tempo, a resposta era óbvia.

Nada.

Ela voltou para a cozinha e o beijou na bochecha.

Cuida do Bichento para mim?

Ele revirou os olhos.

Como se eu tivesse escolha sorriu A bola de pêlos é pior que um velho rabugento.

Bichento o olhou indignado, descontente com a comparação.

Quem está sendo rabugento é você ela brincou enquanto fazia carinho no gato. Bichento só gosta de sair um pouco, né meu gatinho esperto? se virou para o ruivo. Coisa que você não faz.

Rony só bufou em resposta.

Hermione pegou um tanto de pó de flú e foi embora pela lareira da sala, o deixando sozinho.

Ele apontou preguiçosamente a varinha para a mesa desarrumada, fazendo os objetos levitarem e irem se lavar na pia. Depois se levantou e ficou parado alguns minutos, de pé. Sem saber o que fazer.

Queria fazer uma outra viagem longa como a que Hermione e ele tinham feito há um mês, para os Estados Unidos, pelo menos assim estaria fazendo alguma coisa além de ser babá de gato.

Mas Hermione precisava voltar a trabalhar e o dinheiro estava curto. Principalmente o dele. Mais uma vez ele se via na posição nada agradável de pobreza.

Resolvendo fazer algo de útil ao invés de pensar em besteira ele foi limpar sua vassoura de vôo, que estava empoeirada por falta de uso.

Era uma Nimbus 2000. Na época de Hogwarts uma das mais rápidas, agora mais uma vassoura de família do que de Quadribol, mas tinha servido muito bem na temporada passada. Ele conseguiu defender muitas goles com aquela belezinha. Pena que não tinha sido o suficiente para mantê–lo no time.

Deixando escapar um suspiro que não queria ele guardou a vassoura de volta no armário, se sentando.

Nunca suficiente. Nunca bom demais ou inteligente o bastante...

Bichento miou, chamando sua atenção. Passava seu corpo peludo entre as pernas de Rony, querendo alguma coisa.

Que foi, gato? Que você quer?

Quando Bichento pulou no colo dele, ele percebeu que o bicho queria era mesmo fazer o ruivo se sentir melhor. Rony passou a mão no pêlo do novo aliado, contente com a companhia incomum. Normalmente Bichento ignorava diplomaticamente Rony, sempre preferindo o colo da dona.

Só lembrar de Hermione fazendo carinho no velho gato já o fazia sorrir. Pensando bem, ele era suficiente, mais que suficiente para Hermione.

E isso bastava.

A questão era: iria ser o bastante para o Sr. e a Sra. Granger?


Nota: Bem, aí está a continuação da fic! Vocês pediram, vocês ganharam :) Obrigada a do todos que pediram:) Espero que gostem dessa tanto quanto (e, vai, até mais)gostaram da anterior.