Ele se fez ausente, e eu me fiz indiferente. Não ligava, não queria ligar. Aquele timbre de voz me tomava por completo e me entorpecia, e depois dele não havia nada. Nunca houve.

Não me importava com cabelos bem cuidados, rostos limpos. Por dentro todos eram sujos, escuros. Eu era assim, eu era ausente.

Talvez por conta da minha ausência ele tenha se tornado tão vazio quando nós. Nunca mais fomos os mesmos, nunca mais conseguiríamos nos reconhecer depois daquilo. Talvez eu soubesse distinguir sua voz mesmo depois de séculos sem tê-lo ouvido, não por opção, mas porque sua voz se fincou na minha alma limpa assim como suas unhas arranhavam minha pele pálida.

E na verdade nunca passamos disso, de vozes arranhando almas pálidas e unhas fincando em peles limpas. Nunca fomos limpos, nem inocentes. Nunca fomos vozes e unhas. Fomos sempre Sirius e Remus, amigos. E ultrapassamos a linha tênue que destruiria isso assim que tivesse oportunidade.

E lá estavam os pedaços sujando o chão que tentamos limpar durante anos. Lá estava Sirius se ausentando de mim por um período de tempo que eu não gostaria de sobreviver, não fazia sentido viver sem Sirius, tanto quanto não fazia sentido viver sem respirar.

Ninguém nunca poderia entender, e Sirius nunca ligaria de fato. Ninguém nunca seria capaz de ME entender, nem mesmo Sirius. Era complicado enxergar as dificuldades que eu passava, me ausentava por períodos de tempo que eles poderiam compreender, mas não entediam o que era a dor que se fazia presente quando eu não estava ausente.

Era difícil ver todos lá, ao meu lado sem realmente estarem. Nunca duvidei que fossem meus amigos e nunca os deixei na mão, nem nunca pensei em fazê-lo. Mas a dor de ser diferente, de precisar da ausência para se entender. Isso eles nunca poderiam compreender, nem mesmo Sirius.

Mas a ausência de Sirius se fazia tão dolorosa que eu percebi que nunca liguei se a falta da minha presença também doeria nele. Será que o machuquei por todos esses anos? Será que fui tão egoísta e ausente que nunca nem mesmo notei o quanto ele poderia sentir minha falta? O quanto minha voz poderia ser reconfortante no vazio solitário em que por vezes ele se encontrava?

E ele sempre esteve lá por mim, me enrolando em sua voz gentil, e me puxando do fundo do poço com sua delicadeza que pertencia apenas a mim. Sirius era apenas meu e eu estava orgulhoso disso.

E só pude perceber o quanto senti sua ausência quando ele retornou, mas ele não precisou falar mais nada. Não precisou dizer que sentiu minha falta, não precisou falar. Sua voz estava lá, nos envolvendo, se misturando com a minha e mais forte do que qualquer voz. Era a voz do coração de Sirius, que nunca mais se faria ausente.


Primeira SiRem da minha vida toda, mas eu super simpatizo com eles =]

Enfim, escrita para o I Challenge Remus Lupin do 6v, e ganhei o Bronze com ela =] E ela me lembrou porque é que eu adoro tanto escrever mini draminhas e coisas do tipo. Finalmente tô voltando a escrever do jeito que eu gosto. É isso gente =3

Beijo!