A/N: Esta é uma fic yaoi. Se você não gosta, não leia.

Saint Seiya e os personagens da série não me pertence. Essa fic não tem fins lucrativos.

Resumo: Iguais ou Diferentes? Palavras ou silêncio? Simplesmente, Camus e Milo.

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Cap 1 – Palavras

Bem, eu amo. O que eu posso fazer? Hoje sei disso, está claro como água. Todo o desespero que senti quando o vi tombado no fim da batalha pelo Santuário. Toda a angústia em meu peito quando o vi ressurgir, belo e imortal vampiro na noite densa, para matar aquilo que mais amava. O ódio dele, e de mim mesmo, por ter de assistir sua morte. Por minhas próprias mãos. Atena bem sabe quantas vezes esfreguei minhas mãos, tentando limpar delas o sangue dele.

E a alegria, alegria intensa de vê-lo ressuscitado, vivo pelas mãos de Atena. Agora entendo a gratidão imensa que senti naquele momento. Hoje entendo porque não fui capaz sequer de reparar que a deusa também trouxera os outros à vida. Naquele momento, não vi nada. Nada além do rosto alvo e dos cabelos vermelhos. Nada além dos olhos azuis, olhos profundos que demonstravam um sofrimento pungente.

Não senti nada. Nada além de júbilo. Nada além de adoração pela deusa e por nós mesmos. Seres capazes de mover céus e terras, de descer aos infernos e retornar. Titãs possuidores de um poder tão imenso. Homens-deuses. Guerreiros valorosos em busca da justiça. Iguais. Eu e ele. Completamente iguais.

Iguais e amigos. Amigos. Ai, essa palavra dói. Faz o peito encolher. Toda vez que o vejo, lindo... ah, tão lindo! Praticamente etéreo! Camus de Aquário... o homem que desde cedo me fez fazer as maiores loucuras de minha vida! Sim, eu sempre fui organizado. Firme. Completamente lúcido e ciente de minhas obrigações. Quanto a Camus, bem... ele sempre foi e continua sendo um espírito livre. Seu corpo segue ordens e conhece suas obrigações... mas sua alma... sua alma voa! E é capaz de me levar pelos céus junto de si.

Certo, Milo, a quem quer enganar? Minhas mãos suam e eu as esfrego uma na outra. Já repeti as palavras vinte vezes em frente ao espelho. É simples, Milo. Você sobe as escadarias até Aquário, o que faz todo dia, olha bem nos olhos azuis mais perfeitos desse mundo, e diz as palavras. Camus, não suporto mais esse sentimento me sufocando. Eu te amo. Do fundo do meu coração. Não sei o que você pensa sobre isso, mas quero que aceite meu amor. Pois ele lhe pertence. Pronto, é simples.

Uma última olhada no espelho. É melhor pentear os cabelos mais uma vez. E trocar essa calça jeans... talvez algo mais formal seja mais apropriado. Hum... não. Camus prefere assim. Ou não. Não sei. Oh Zeus, como estou nervoso! Calma, Milo, não seja idiota! Pare de andar em círculos por seu quarto! Se concentra, Escorpião.

Um... dois... três... quatro... ufa, melhor assim. Meu coração desacelerou um pouco. Devo estar ficando louco. Eu, Milo de Escorpião, com o coração disparado somente por pensar em fazer algo. Maldito Camus. Ah, agora entendo porque sempre disseram que amor e ódio são sentimentos irmãos.

Mais uma olhada no espelho. Deixa eu me apalpar, arrumar as rugas da camisa de seda. Seda preta. Até eu me acho sexy nessa camisa. Se bem que eu não conto. Egocêntrico deveria ser meu nome do meio!

Milo, Milo, a quem quer enganar? Só se for a si mesmo! Respire fundo! Gotas de perfume. Perfume bom, cítrico. Masculino. Não é porque amo um homem que deixei de ser um... não é? Ah não, nem pense nisso. Não agora. Você nem sabe se ele vai te aceitar... mas se ele não aceitar eu... ah, Milo! Você se desconstruiu!

Bem, ao menos tomei o primeiro passo. Saí de casa. Essas malditas escadas nunca me pareceram tão íngremes! Meus pés pesam. Meu coração acelera. Minha boca seca. Sim, cheguei em Aquário. E ele me recebeu sorrindo lindamente. Um dos meus maiores orgulhos: Camus raramente sorri, mas sempre está disposto a fazê-lo por mim.

Ele me convida para entrar. E me pergunta porque estou nervoso. Chega perto de mim. "Você está bem, Milo?", me pergunta em tom preocupado. Droga! O que eu tinha programado para dizer, mesmo?

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If you need a friend

Don't look to a stranger

You know in the end

I'll always be there

Se você precisar de um amigo

Não procure um estranho

Você sabe que, no fim,

Sempre estarei aqui

And when you're in doubt

And when you're in danger

Take a look all around

And I'll be there

E quando você duvidar

E quando estiver em perigo

Olhe em volta

Estarei lá para você

Zeus, Atena... o que eu faço agora? Por que esses olhos pousam inquisitorialmente sobre os meus? Bem, talvez seja pelo fato de eu estar esfregando uma mão na outra alucinadamente. Ou então por eu estar andando em círculos pela sala da casa de Camus. Ou por já ter tomado três copos d'água e continuar com a boca seca. Ou ainda pelas minhas faces vermelhas: o fogo em minhas bochechas denuncia meu estado. Vergonha? Não, não acredito que seja vergonha. Medo. Sim, medo. Eu, Milo de Escorpião, estou morrendo de medo. Atena, você me ressuscita caso ele diga não?

Tomo coragem e encaro Camus. Os olhos profundamente azuis não estão gélidos como sempre. Ele me fita como se eu fosse o ser mais estranho entre a céus e inferno. Zeus! Milo, se concentra! Pare de esfregar as mãos! Um... dois... três... quatro... assim está melhor. – Não me olhe assim, Camus! – arre!, que consegui falar alguma coisa!

Ele levantou uma sobrancelha. Hum, gesto típico de quando ele começa a se irritar. Lá vem bomba.

– Assim como? Com cara de ponto de interrogação, Milo? Você está há meia hora agindo feito um perfeito idiota. Eu te conheço há algum tempo e sei que você não é disso. Vamos, fale logo. Algo lhe aflige? Posso te ajudar? Você só pode ter vindo aqui procurar ajuda...

Certo, não foi tão ruim assim. Só um pouco. Preciso falar para ele. Dizer tudo o que eu sinto de uma vez por todas. Quais eram as palavras mesmo? – Camus, você sabe que sou seu amigo. Sempre, sempre poderá contar comigo. Por isso eu quero deixar muito claro que, aconteça o que acontecer, quero que você sempre me veja como um amigo! – mas será possível que eu não me lembro de uma palavra sequer? Eu repeti tanto em frente ao espelho! E o olhar de Camus... Zeus, não consigo decifrar esse olhar. Por que ele não fala nada? – Prometa-me, Camus, que sempre me considerará um amigo.

Ele suspira. Está pensando. Conheço todos os gestos, todos os tiques do aquariano. E ele se julga misterioso...

– Milo? Milo, estou falando com você!

– Que? – nossa, que chacoalhão! E que mãos fortes envolvendo meus ombros... Não, Milo, se concentra, Milo!

– Estou perguntando se você quer alguma coisa! Quer tomar mais água? Quer se sentar? Você não parece estar se sentindo bem!

Típico. Desviando o assunto. Ele não quer responder minha pergunta. Deixo-me levar até a cozinha. Sentamo-nos os dois, um de frente para o outro. Os olhos dele continuam a me encarar inquisitorialmente. E os lábios finos tremulam levemente. Ele titubeia? – Responda-me, Camus. Sabe que sou e sempre serei seu amigo, aconteça o que acontecer. Preciso saber se você considera o mesmo. Você sabe que arriscaria tudo por você: minha vida, minha honra. Que me culpo por não ter podido te salvar do Hyoga devido a um pedido seu. Que me culpo por ter te matado com minhas próprias mãos. Eu daria minha vida por você sem medo, Camus. Isso até me deixaria feliz. E saiba que se você duvidar, se você estiver em perigo... eu sempre estarei lá.

Ele abaixa os olhos. Ufa!, um minuto sem aquelas safiras me fitando como quem lê minha alma. Ele suspira, ajeita uma mecha do cabelo ruivo e me encara nos olhos novamente: o alívio durou tão pouco. – Você sabe que sim...

Alguém tira esse sorriso idiota de meus lábios, por favor?

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I'm sorry but I'm just of the right words to say

I know they don't sound I planned them to be

But if you wait around the world I'll make you fall for me

I promise you, I promise you I will

Me desculpe mas estou só pensando nas palavras certas a dizer

Sei que elas não soam como eu planejei

Mas se você esperar eu farei você se apaixonar por mim

Eu prometo, eu prometo que o farei

– Por que você está sorrindo feito um idiota, Milo? Aliás, por que você está agindo feito um idiota desse jeito? É alguma guerra? Alguma missão maluca? O que está acontecendo, Milo?

Ele se exaspera, levanta-se bruscamente e se debruça sobre a mesa, aproximando-se de mim. Bem, ao menos o sorriso idiota se desmanchou. Agora só sobrou a cara de idiota. Menos mal. – Camus de Aquário, sempre tão emotivo... – ironia. Essa é a chave de tudo. Ironia.

Camus se senta e cruza os braços. Bufa algo em francês. Língua linda! Tão melódica, tão sensual... Isso no meu pescoço é suor? Zeus, Milo, se concentra! Você precisa falar! Falar! Dizer tudo, confessar. As palavras... quais eram as palavras? Eu sou sempre tão metódico, por que esqueci as benditas palavras? Por Atena!

Levanto-me também. Caminho em volta da mesa e paro com as costas encostadas na pia. Ele está parado em minha frente, de braços cruzados: fechado. Nada receptivo. Mas eu preciso falar, não preciso? É, preciso! – Camus, eu vim até aqui desse jeito estranho porque há algo que eu preciso te confessar...

Nada. Ele não se mexe. Não move um músculo sequer. Somente me encara com aqueles olhos azuis inquisidores. Tomás de Torquemada não era mais controlado, não mesmo. Sei que, no fundo, ele tem vontade de me esganar. Mas está curioso. Sim, está. Os olhos dele exalam indiferença, mas os lábios tremulam levemente. E as mãos por trás dos braços cruzados suam. Ele não diz nada: somente me encara. Maldito Camus! Maldito treinamento! Se fosse o Hyoga ele cederia e perguntaria. Não pense nisso, Milo. Não pense. Sinta. Por favor. Pela primeira vez em sua vida, deixe-se levar pela emoção. Quais eram as palavras, por Zeus?

– Desculpe-me, Camus, mas estou procurando as palavras. Eu estou há dias treinando, tentando encontrar as palavras certas. Eu as tinha encontrado, mas elas se evaporaram quando pisei em Aquário. Zeus, não consigo me lembrar delas! – e ele continua me encarando impassivelmente. Que inferno!

Desencosto-me da pia e caminho até a porta da cozinha. De costas para ele. Se eu não encarar aqueles flocos de neve a que ele chama de olhos, talvez eu consiga. Deixa eu me preparar: tomo o ar e solto pausadamente. – Camus de Aquário, a verdade é uma só. Descobri que te amo. Não como amigo. Te amo, sabe? Quero ficar com você. Preciso de você. Entenda que eu precisava dizer-lhe isso... mesmo. E se você não quiser nada comigo, eu entendo. Mas espere. Eu vou fazer com que você se apaixone por mim. Eu vou. É só você me deixar ficar por perto. Eu prometo, Camus. Prometo.

Abraço meu próprio corpo como uma criança desprotegida. Ele continua atrás de mim. Imóvel, pelo que posso perceber. Maldito! Ele não vai dizer nada? Vai me deixar dessa forma, completamente idiota aqui? Nunca pensei que eu fosse capaz de fazer isso! Não eu, não Milo de Escorpião. Onde está a altivez, Milo? Onde?

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When your day is through

And so is your temper

You know what to do

I'll always be there

Quando seu dia está ruim

Assim como seu temperamento

Você sabe o que fazer

Sempre estarei lá

Sometimes if I shout

It's not what's intended

These words just come out

With no cross to bear

Às vezes se eu grito

Não é o que quero fazer

As palavras simplesmente saem

É a cruz que se carrega

Quantos segundos se passaram? Quantos minutos? E por que esse silêncio? Por que ele não diz nada? Por que não se mexe? Inferno! Milo, respire fundo. Isso. Acalme-se. E nem pense em chorar. Não torne tudo ainda mais patético. Mas pense com o coração. Não saia daqui em disparada. Não, Milo. Espere. Mais um pouco. – Não precisa responder agora, Camus. Mas só quero que se lembre. Quero que se lembre da batalha pelo Santuário. Quando você me pediu para que não matasse Hyoga. Lembra-se disso? Aquilo foi a morte pra mim, e você sabe: desobedecer uma ordem, deixar o inimigo passar por mim. Mas eu fiz. Você me faz agir de maneira que eu jamais agiria, Camus. Naquela guerra tudo estava ruim. Péssimo. E você me procurou, e a nenhum outro. Porque você sabia que eu sempre estaria lá por você. Sempre. Sempre soube que poderia contar comigo. Espero que leve isso em conta agora.

Nada. Absolutamente nada. Nada além do silêncio. E do tic tac maldito do relógio de parede, cuja presença só notei agora. Talvez porque meu coração começa a se acalmar e bater cada vez mais devagar, recuperando-se do ritmo da adrenalina. Aos poucos, começo a entender. Começo a entender que jamais haverá começo. Silêncio. Sepulcral silêncio. – Mas que MERDA, Camus, será que não mereço nem uma PORRA de palavra? Nem um desculpa, Milo, mas não dá? Nem um some daqui? Que MERDA, Camus!

Certo, estou gritando. E meu coração volta a bater acelerado, mais adrenalina é injetada em meu sangue. Será que adrenalina em excesso mata? Seria bom, não seria? Morte rápida, sem dor... porque viver assim, depois disso... ainda não o encaro, não sei como ele está. A única coisa que sei é que está imóvel. Permanece inabalavelmente impassível. Que merda! Eu não deveria, não poderia ter gritado.

– Desculpe-me, Camus. Estou nervoso, completamente fora de mim. Não deveria ter dito isso. Não mesmo. Mas também o que você esperava? Estou aqui completamente desprovido, completamente desprotegido diante de você e você não diz nada... por favor, Camus. Diga alguma coisa! Por favor...

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I am sorry but I'm just thiking of the right words to say

I know they don't sound the way I planned them to be

But if I have to walk the world and make you fall for me

I promise you, I promise you I will

Me desculpe mas estou só pensando nas palavras certas a dizer

Sei que elas não soam como eu planejei

Mas se eu tiver que andar o mundo e fazer você se apaixonar por mim

Eu prometo, eu prometo que o farei

I gotta tell you

I need to tell you

I've got to tell you

I gotta tell you

Tenho que te dizer

Preciso te dizer

Devo te dizer

Tenho que te dizer

Nada. O homem é realmente feito de gelo? Nada, silêncio. Somente o silêncio. Que droga! Que inferno! Inferno! – INFERNO, Camus! Eu precisava te dizer, que droga! Te confessar! Todo o sentimento que me corrói o peito. Todo esse amor que me sufoca, o desejo que me queima. Toda essa vontade que me faz não ser eu mesmo. Que inferno, Camus. Talvez eu não tenha encontrado as palavras certas... mas se for preciso caminhar pelo mundo inteiro, céus e inferno, eu o farei. Eu prometo, Camus, eu juro por Atena que farei você se apaixonar por mim!

Não chore, Milo. Não chore... não se deixe cair... encoste-se. Isso, encoste-se no batente da porta. Sim, e se apóie nesses braços que envolvem sua cintura. E tombe sua cabeça nesse ombro que cobre o seu. E deixe-se levar por essa boca colada a seu ouvido. Minhas pernas bambeiam, meu coração só falta arrebentar meu peito. É Camus? – Camus?

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