Disclaimer: Os Cavaleiros do Zodíaco (Saint Seiya) não me pertence, e sim ao Massami Kurumada e seus respectivos colaboradores. Este é uma fanfiction (Fic), feita totalmente sem fins lucrativos. A exploração comercial do presente texto por qualquer pessoa não autorizada é considerada violação legal.
Apresentação: Sou Dréinha ou Dréia-chan, sua Ficwriter. É um prazer conhecê-los! Sejam bem vindos a segunda temporada de "Os Garotos". Uma história que começou a "rodar" na minha cabeça em 1995 e que há quase dois anos, passei a publicá-la. E me sinto muito feliz de continuar compartilhando-a com vocês, fãs que já me acompanham da primeira temporada e novos, que poderão se juntar a nossa grande família. É isso mesmo, os leitores dessa história já se tornaram tão amigos, que hoje já podemos dizer que somos uma grande família acompanhando a trajetória dessa outra família tão querida que são os nossos "Garotos"!
Boa leitura!
Os Garotos
Primeira Temporada (Resumo)
Ao término da batalha de Hades. Atena retornou viva do Elíseos, combalida pela extinção total de seus defensores. E tomada de uma forte decisão, implorou ao seu grande pai Zeus, em troca da sua própria vida, uma segunda chance àqueles cinco jovens, que haviam se doado para o bem da humanidade.
No entanto, seu onipotente pai, acataria o desejo de sua filha, devolveria a vida aos cinco cavaleiros de bronze, mas não tiraria a sua vida, apena sua memória de deusa.
O grupo de guerreiros que aguardavam o fim da batalha no Elíseos, acompanhados de Seika, a irmã de Seiya, viram seis esferas, emergirem da terra, nas cores, branca (Hyoga), vermelha (Shun), laranjada (Ikki), verde (Shiryu), azul (Seiya) e dourada (Atena) e tocarem o chão, se desfazendo lentamente, revelando os cinco guerreiros divinos, vestidos com as magníficas armaduras dos deuses. Imediatamente, os cavaleiros de bronze ali presentes, juntamente com Marin e Shina, correram em direção a eles. Atena fora a única que se movera, e ao se levantar, correu cambaleante em direção ao seu destemido cavaleiro de Pégasus, tomando-o em seus braços. Os olhares de todos em volta, eram de temor, os corpos ali deitados não tinham vida. E eles choraram então.
- Marin?
Atena a chamou, após algum tempo de silêncio, com uma voz tão melancólica, que fez a amazona estremecer. A mulher vestida com a armadura de prata de Águia se aproximou da deusa e ajoelhou-se perante ela, evitando olhar o corpo sem vida do seu pupilo.
- Sim, minha senhora?
- Caberá a você Marin, a partir de agora, governar o Santuário.
- Atena? – espantou-se a mulher.
- Esse é o meu desejo. – confirmou a deusa, apertando o falecido Seiya em seu peito, enquanto as lágrimas escorriam brilhantes por sua face. – Eu quero que Shaina e os demais aqui presentes. – se referiu ela, aos guerreiros de bronze presente, Jack de Urso, Ban de leão, Ichi de Hidra, Nachi de Lobo e Jabur de Unicórnio - Ajudem-na, na missão de reconstruir e manter em pé o meu legado. Você Marin é a partir desse momento, o novo mestre do Santuário. E Shaina será seu braço direito, a capitã da guarda. Por favor, dêem vida novamente a esses campos de batalha. Sabe como o fazer, Marin?
- Minha deusa... – chamou a mulher, com um tom de comoção na voz. Afinal, seria a primeira mulher a tronar o lugar mais imponente do Santuário. - Eu posso não saber como fazê-lo, mas prometo que darei o melhor de mim.
- Obrigado. – ela voltou-se aos demais. – E vocês, estão de acordo?
- Assim será o seu desejo, senhora! – respondem os demais, em coro.
- Minha deusa? Eles... se foram? – perguntou Marin, com receio da resposta, referindo-se aos cinco guerreiros de bronze.
- Não. – confirmou sorridente. - Eles terão uma nova chance. Só quero que me faça um último favor, Marin?
- Sim.
- Seiya, Shiryu, Hyoga, Ikki e Shun, acordaram novamente. Eu não estarei mais entre eles quando despertarem...
- Atena?! – gritaram os demais, apavorados com a idéia de que ela desfaria de sua vida.
- Não se preocupem... – continua ela, sorrindo belamente, ainda com o rosto encoberto por lágrimas. Admirando o rosto do seu amado Seiya em seus braços. - Saore Kido deverá viver. E talvez seja como deveria ter sido, apenas uma menina rica. Nada, além disso. A minha memória deverá ser perdida, esse é o preço que devo pagar, para trazê-los de volta.
Os cavaleiros se entreolham, assustados.
- Não conseguimos entender, vossa alteza. – afirmou Jabur, desesperado.
Atena ainda com os olhos em Seiya, responde tranquilamente.
- Meu grande pai, abdico nesse momento da minha memória como deusa, como é seu desejo, para que estes cinco vivam. – implorou, chorando.
E um tremor estranho abalou os céus, como se fosse um grande trovão, e um raio brilhante vindo das nuvens atingira Atena e os cincos guerreiros.
Saore se voltou para a Marin, mais uma vez, e pediu:
- Não permita Marin, não permita jamais, que eles voltem a este lugar, quero que os impeça de qualquer forma, eles devem viver suas vidas como jovens normais, jure-me?
- Eu juro!
Atena sorri e beija os lábios de Seiya.
- Eu sempre o amarei Seiya, sempre.
XXX
Algum tempo, depois, Cais do Porto, em Tóquio – Japão.
Mino anunciará a Seiya, que a casa que servia como abrigo para as crianças órfãs, seria fechada pela fundação Graad. E ela, por não ter mais a companhia das crianças, acataria a vontade dos pais adotivos, e iria se mudar, para estudar na Europa. Seiya ficara em silêncio. Sua cabeça parecia processar toda aquela informação.
- A minha preocupação maior agora, é com você, Seiya. Eu não quero partir e deixá-lo assim. Sei muito bem que o orfanato era seu refúgio depois que todos seus amigos partiram.
Seiya se encolheu ainda mais ao ouvir as palavras "amigos" e "partiram" sentindo o peito contrair dolorido, em meio a uma batalha interna, e preferiu naquele momento, estar em combate, do que lidar com àquele sentimento de abandono e solidão. E confirmou que era bem mais fácil lidar com a dor física.
- Seiya... – sussurrou Mino, puxando o rosto do amigo para que este a encarasse. E ela se choca ao confrontar os olhos de Seiya totalmente imersos e brilhantes em pequenas lágrimas que começavam a escorrer sua face morena. A dor de Mino aumentara intensamente no peito, e por alguns segundos pensou em fraquejar no seu plano, mas não foi capaz, precisava ser forte naquele momento ou caso o contrário, jamais veria o namorado feliz novamente. Ela engole em seco. - Me perdoa, Seiya?
- Você também vai me abandonar como todos os outros fizeram?
- Não Seiya, não é assim... – ela desesperou-se.
E o moreno pendeu novamente a cabeça, e respirou como se buscasse alguma força. Não, não podia fazer aquilo com a namorada, não podia ser egoísta àquele ponto, ela estava buscando um futuro melhor para si, um futuro que não teria se ficasse ali, ao lado dele. E pensando nisso, ergueu a cabeça, forçando um sorriso nos lábios e enxugando as lágrimas com as costas das mãos, pronunciou-se.
- Você não fez nada errado Mino! Na verdade, fez muito bem! – ele buscou as mãos delas, apertando-as fortemente entre as suas.
Mino havia aberto a boca para dizer algo, mas a fechara novamente ao perceber que ele continuaria seu raciocínio.
- Você fez bem em escolher seguir os desejos dos seus pais. Você é muito inteligente e bonita Mino. E sei que vai ser alguém importante no futuro. Eu vou ficar aqui torcendo muito para que alcance todos os seus desejos. E quanto a mim... – ele alarga mais o sorriso, tornando-o cada vez mais falso. – Eu vou tentar me virar, não se preocupe! Só quero lhe pedir uma coisa.
Ela faz uma cara de interrogação e ele responde:
- Não deixe de me escrever, ou vou ficar muito bravo com você!
Mino sorriu docemente, tentando segurar de todas as formas as lágrimas que nascia em seus olhos. Ela queria abraçá-lo e chorar tudo que a estava sufocando por dentro. Era exatamente essa reação que ela esperava dele, e não foi diferente. Sabia que ele jamais a impediria de fazer algo se demonstrasse sinceramente que era isso que queria. Mas também sabia, que tudo que ele estava lhe dizendo naquele momento era da boca pra fora. Afinal, ele nunca se acharia no direito de intervir na vida de alguém. Mesmo que aquela decisão lhe machucasse muito.
Os dois se abraçaram.
- É claro que irei escrever seu bobo. Mas eu ainda nem fui e você já está se achando o independente, não é mesmo? Pode tirar seu cavalinho da chuva senhor Seiya Ogowara, até segundas ordens, você é namoradinho da mamãe aqui, entendeu?
Eles riem.
- Seiya... – Mino o chamou, voltando a ficar séria - Porque não procura sua irmã?
Seiya levanta-se em um impulso.
- Para de procurar soluções pra minha vida, Mino! Eu já disse pra não se preocupar, eu vou me arranjar bem sozinho! E eu não irei atrás da Seika porque ela vive de forma diferente, tem uma nova vida! Eu não quero ser um fardo pra ela.
- Como você é orgulhoso, Seiya! A Seika deixou a Grécia, está estudando e trabalhando aqui com a ajuda da fundação, porque você não pode fazer o mesmo?
- A Seika é diferente de mim! Esquece! Eu prometo que irei pensar no assunto se você não falar mais nele, por favor?
Ela também se levanta ficando de frente a ele.
- Eu preciso ir. – anunciou.
- Quando as crianças irão partir?
- Amanhã as dezenove. Esteja lá, por favor.
- Não precisa nem pedir, sabe que eu vou estar.
- Obrigado. – a moça se aproxima de Seiya fazendo-lhe uma breve carícia no rosto e murmurando baixinho antes de lhe dar um selinho nos lábios.
- Eu amo você, Seiya.
O rapaz sente o coração disparar e o rosto ficar totalmente corado. E em seguida a observa se distanciar, até sumir no cais. Não conseguiu forças para voltar aquele trabalho sem futuro e acabara por ficar ali mesmo...
-...
XXX
Mas antes de partir, Mino fora até a fundação, falar com a tão poderosa Saore Kido.
- A senhorita Saore, irá recebê-la no escritório, por aqui, por favor. – explica o novo mordomo, que entrara na mansão para substituir o lugar de Tatsume, que agora gerenciava as fundações. Mino reparou que o rapaz parecia ser bem mais jovem e mais sério que o antigo ex-mordomo.
- Sim, obrigada. - fala ela, seguindo-o e admirando a beleza da imensa mansão. - Nossa, essa casa parece ter ficando mais luxuosa do que fora antes. - comenta Mino com o rapaz, que não lhe dera resposta nenhuma.
E após andarem por um corredor amplo e passarem por várias portas, eles param em frente da penúltima do corredor.
- É aqui senhorita. – anuncia ele, batendo levemente na porta, abrindo-a em seguida. –Com licença senhorita Kido, a jovem anunciada: Mino Akino.
- Obrigada, Saicho. – agradece ela, sem olhá-los.
O rapaz a reverencia e se retira. Ela parecia ocupadíssima revirando uma montanha de papéis em cima de sua mesa.
- Sente-se, Mino, por favor. – fala ainda sem olhá-la, como se procurasse algo no meio dos amontoados de documentos, memorandos e e-mails.
Mino se senta.
- Você quer beber algo, chá, suco, água? Ainda é bem cedo, já tomou café da manhã? – perguntou, erguendo seus olhos para encará-la pela primeira vez, parecendo desistir do que procurava.
- Eu agradeço senhorita, mas eu já tomei café.
- Tudo bem. Então, em que eu possa ajudá-la? – pergunta ela diretamente, colocando os cotovelos em cima da mesa, cruzando as mãos e apoiando o rosto sobre elas, como se estivesse muito interessada no que a empregada iria lhe dizer.
Mino abre a pasta que trazia em mãos e lhe estende as chaves e a escritura da casa.
- O que é isso? – pergunta Saore, confusa.
- São as chaves e a escritura da residência, onde funcionava o orfanato Starlite, senhorita.
Saore dá um pequeno sorriso, Mino sabia que ela era uma executiva muito famosa e inteligente. E que já deveria imaginar o porquê dela está ali.
- Bem, isso eu percebi. Mas não foi para isso que veio, não é mesmo? Se não, você teria entregado tudo disso aos assistentes, como é de praxe.
Mino sorri. Exatamente como havia pensado.
- Realmente não foi por isso que vim, Senhorita. Na verdade, vim até aqui para lhe falar sobre a situação precária que um ex-residente da sua fundação está vivendo.
Saore sai da posição inicial de interesse e joga suas costas para trás, apoiando-se na grande poltrona almofadada. Sentiu-se enfastiada. Estava prestes a ouvir uma históri tão repetida com um disco furado.
- Se vai referir-se a Seiya, esqueça. Eu mesma já lavei minhas mãos, não medi esforços para oferecer ajuda a ele e aos demais. Ajuda esta que seria suficiente para que vivessem o restante de suas vidas tranquilamente, no entanto todos eles esnobaram minha oferta.
- Se ofereceu ajuda a eles com o mesmo tom que está falando comigo agora, senhorita, eu posso compreender perfeitamente o porquê de não terem aceitado sua ajuda.
Saore ficou levemente surpresa. Não o suficiente para alterar sua expressão.
- Claro que não Mino, tentei ajudá-los sinceramente, de coração. Mas são orgulhosos de mais para aceitarem.
- Claro que são, senhorita. Além de serem homens, foram doutrinados como guerreiros da antiguidade, onde a honra e o orgulho vêm acima de qualquer necessidade. E a senhorita mais do que qualquer um deveria saber disso.
- Deveria, mas não sei. – desta vez, Saore deixa um tom de irritação ganhar sua voz. - Eu já disse a todos eles e continuo repetindo, eu perdi a memória em um acidente, no qual me disseram ser a última batalha! Eu estou recuperando ela aos poucos, eu sei que eles foram e são importantes para mim, mas essa história toda de cavaleiros e deuses me parece tão absurda!
- Eu não vim discutir isso com a senhorita. Eu vim pedir para que tentemos mais uma vez ajudá-los, se deseja isso realmente de coração, é claro.
Saore suspira.
- Sim, eu desejo ajudá-los, mesmo que toda essa história me pareça tão estranha. Mas me diz, Mino, como? Como ajudar sem ferir seus grandes egos?
- Me admira a senhorita, tão bela e inteligente, não estar agindo com a cabeça. Realmente está desmemoriada.
- Chega de conclusões óbvias, Mino! Diga-me, o que tem em mente?
- Abra a escritura e olhe na terceira página, no sexto parágrafo, leia-o em voz alta, por favor. – pede ele.
Saore a obedece, olhando-a muito desconfiada.
- Bem, aqui diz, "cláusula vinte seis, parágrafo sexto, da Constituição da Fundação Kido, fique aqui escriturado nesta norma, caso haja desocupação, fechamento, do imóvel que constitui o orfanato, deverá ser certificado que todos os residentes não fiquem em hipótese alguma desestruturados. Fica a cargo da fundação transferir, remanejar, re-alocar os órfãos ainda residentes. Certificar-se que cada ex-residente estejam apropriadamente bem instalados. Caso haja moradores que se tornaram maior para adoção, e não possuem locação própria, fica a escritura desta garantida no nome dos mesmos, como garantia para sua reestruturação dentro da sociedade acompanhada de uma pequena indenização que será vinculada a estudos conclusivos e universitários..." – Saore fecha a pasta. - Isso significa?
- Isto significa senhorita, que o imóvel onde funcionou o orfanato Starlite é por direito dos únicos residentes que não foram "reestruturados na sociedade". Nesse caso, não conta às crianças que estavam lá, já que todas foram remanejadas para outros órgãos. Eu, porque fui adotada, como aconteceram com vários; outros porque aceitaram receber ajuda da fundação em troca de prestação de serviços, como a Seika, o Jabur, o Jack, o Nachi, o Ichi e o Ban. Resumindo, os únicos que restaram e não receberam nenhum tipo de baixa dos prontuários do orfanato, foram esses. - Ela joga cinco pastas de arquivos na mesa da empresária.
- Bem, é em nome desses cinco que a escritura da casa deverá ser transferida.
Saore fica atônita olhando para os cinco prontuários em sua frente, mas não se moveram para tocá-las, já sabia os nomes que deveriam estar ali, ela volta a observar Mino, que havia se levantado.
- Acho que minha obrigação aqui esta cumprida, cabe a senhorita agora tomar as medidas cabíveis. Eu sugiro que peça para que seus advogados tomem conta do caso, assim pode evitar que eles recusem a transferência do imóvel pensando ser mais uma esmola da rica Senhorita Kido. Sumimasem (1)? – Mino caminha em direção da porta com um leve sorriso nos lábios.
- Estou impressionada com você, Mino.
A jovem se paralisa com a mão na maçaneta. Mas não volta a olhá-la.
- Cumpriu muito bem sua obrigação. – continuou Kido. - Até seu último instante como responsável pelos órfãos da fundação. Não permitindo nem mesmo que os órfãos exilados ficassem sem proteção.
- Cumpri apenas com minha obrigação, como a senhorita observou bem. Eu agradeço sinceramente o elogio, mas tenho que ir, meus pais estão me esperando.
- Vou ficar muito triste de perder uma funcionária como você. Mas fico feliz por ter vindo até aqui me nortear. – Ela sorri. – Obrigado.
- Não precisa agradecer. – Ela deixa a sala.
Saore observa as pastas na mesa, com os nomes: Shiryu, Hyoga, Ikki, Shun e Seiya.
- Seiya...
XXX
E assim, como Mino havia sugerido, Saore pediu para que seus empregados encontrassem a pessoa mais idônea do Japão, para trabalhar no caso. E encontraram a advogada e assistente social Érika Kanagawa. A mulher era reconhecida por trabalhar apenas com órfãos, adoções, e casos familiares. E o primeiro passo da advogada, após ser incumbida do serviço, fora investigar como àqueles cinco meninos estavam vivendo. E em seguida os convocariam para uma audiência.
O primeiro que ela investigara fora Seiya, o menino, após ter voltado da Grécia, morava em um quarto alugado no cais do Porto, e estava quase sofrendo ação de despejo, por não pagar aluguel, já que havia perdido o emprego no Cais do Porto, assim que a namorada o deixara. O próximo a ser investigado fora Shun Amamya, este, na situação um pouco melhor, trabalhava como assistente de um famoso diretor de cinema Soujiro Segawa. E também era hóspede, no apartamento do patrão, que era divorciado e tinha uma filha única, chamada Kalya Segawa, que era atriz, e que parecia ter interesse sentimental no empregado do pai. O terceiro a ser investigado fora Shiryu Suynama, que morava em um templo na China. Mas que estava com problemas, pois havia uma doutora alemã, que queria comprar o lugar, para torná-lo em uma clínica médica. O quarto, fora Alexei Hyoga Yukida, o jovem vivia em um vilarejo no norte da Sibéria chamado Kohoutek, e estava sendo forçado pelo ancião da vila a se casar com uma de suas filhas, o que não era o desejo do loiro. O último a ser investigado fora Ikki, deste, Erika não conseguira reunir nenhum dado, mas conseguira entrar em contato com ele que estava em uma ilha grega chamada Kanon. Assim, depois de muito custo, ela conseguira reunir os cinco, informando-os que herdaram o prédio onde havia sido um dia o orfanato Starlite e ainda receberiam um abono da fundação, caso retomassem seus estudos.
Ikki, por ser o mais velho, deveria assumir a responsabilidade pelos os outros quatros e fora o único que resistira a idéia, chamando-a "de grande palhaçada". Mas depois de muita relutância, e do pedido dramático do irmão caçula, o mais velho se deu por vencido. A doutora Kanagawa o apoiou, dizendo que ele não dividiria àquela responsabilidade sozinho, e que ela o ajudaria em tudo que precisasse. E sem que se dessem conta naquele momento, estava nascendo entre os dois, uma grande paixão.
E como prometido Érika passou a acompanhá-los, primeiro na reforma da casa, em seguida nos encaminhamentos para o teste de admissão escolar. Após o teste, descobriram que era desnecessário que Ikki continuasse seus estudos no ensino médio, e que ele deveria prestar a prova para admissão em uma faculdade. Já Shiryu e Hyoga deveriam ingressar no terceiro ano do Ensino Médio, até porque, ainda eram jovens demais para a faculdade. Já o nível do Shun fora acima do esperado para idade, enquanto do Seiya, fora abaixo do esperado. E pela idade, os dois deveriam estar no mesmo nível. Mesmo assim, Kanagawa achou que o melhor, até para que convivessem com jovens do mesmo nível escolar, que os dois ingressassem na mesma série, o primeiro ano do Ensino Médio, eles aprovaram a idéia.
Após o nivelamento, o histórico dos mesmos foram enviados para várias escolas. Shiryu e Hyoga conseguiram ingressar na segunda melhor escola de Tókio, a May Okane. Enquanto Shun, fora aceito na primeira melhor, a Kanagoe Fuji, uma escola onde só se estudava a elite japonesa, ou jovens acima da média. Infelizmente, Seiya não conseguiu ser aceito em nenhuma das seis primeiras melhores instituições. Então Kanagawa, fora intervir com a diretora da Kanagoe Fuji, uma mulher de ego inabalável, por Seiya. E apesar da mulher se mostrar relutante em aceitar um aluno fora do nível da escola. Ela mostrou interesse ao descobrir que este tinha vocação para os esportes. E concedeu que ele fizesse o teste de admissão em um dos clubes, se ele passasse, faria parte do quadro de alunos famosos da escola. E surpreendentemente, Seiya fora o melhor jogador de Futebol dos testes.
Após os quatro mais novos estarem devidamente encaminhados, Ikki começou a estudar para o vestibular, e por sugestão da doutora Kanagawa, faria um teste vocacional para saber em qual área ingressar. Ikki também estava a procura de um emprego, para que não ficassem dependentes somente do dinheiro da fundação. Mas, mesmo antes que ele conseguisse um emprego, Shiryu e Hyoga se propuseram a trabalhar em um serviço temporário em uma lanchonete das proximidades, para ajudá-lo na despesa. Shun e Seiya, também se propuseram a ajudar, dividindo os afazeres da casa. Ikki conseguira logo, um emprego de segurança em uma empresa famosa, chamada Kia Publicidades e de alguma forma estava contente. Todos os amigos estavam se empenhando, e nada tirava da sua cabeça que era graças, o apoio daquela pessoa, que começava a dominar sua mente e seu coração de forma amedrontadora. Na mesma proporção que o coração dela começava a ser invadido pelo mesmo sentimento.
E a doutora acabou convidando Ikki para tomarem chá juntos em seu apartamento. O que se tornou um erro grave, porque a vizinha dela, que era extremamente invejosa, se enfureceu ao vê-la acompanhada de um rapaz tão belo, e a denunciou para o Conselho dos Advogados, informando que ela estava se envolvendo amorosamente com um dos clientes. E após receber a visita do conselho, Érika caiu em si do erro que estava cometendo, e decidiu se afastar dos meninos. Já havia feito o suficiente, eles poderiam, a partir dali, caminharem sem ela. No entanto, o mais velho, não engoliu muito bem àquela notícia.
- Érika!Érika-sensei (2)! – gritava Ikki, enquanto tentava alcançá-la.
A advogada apertara o passo ao ouvir os gritos de Ikki, ao mesmo instante que o seu coração voltava a bater fortemente.
- Espere, Érika-sensei!
Ela entra no carro o mais depressa possível, coloca a chave na ignição, mas antes de acionar o carro, Ikki aparece na janela.
- Espere, Kanagawa-san (3)! Por favor, estou pedindo! – o mais velho nota que os olhos da advogada, estavam cobertos por lágrimas. – Porque está chorando? O que aconteceu?
- Ikki me deixe ir, por favor! Eu explico em outra hora!
Ele mostra os papéis da matricula do Hyoga e do Shiryu.
- Você precisa dar entrada nisso, é a matricula do Hyoga e do Shiryu.
- Ah! Claro! – entende ela o motivo dele tê-la seguido, e se acha ingênua, secando as lágrimas, pegando em seguida os papéis da mão dele, lançando-os no banco do passageiro. – É só isso? Posso ir? – pergunta com raiva das lágrimas que insistiam em cair.
- Não. – nega ele, abrindo a porta da caminhonete. – Será que podemos conversar um minuto?
A doutora não entendeu muito bem, mas algo mais forte que ela, a empurrara pra fora.
- Venha, vamos até a praia é mais calmo. – pede ele, colocando a mão sobre o ombro dela e guiando-a até chegarem ao gradeado que separava a praia do calçadão.
- Será que posso saber por que está indo embora? – pergunta Ikki, sem rodeios.
- Eu já disse lá dentro, Ikki. Estou indo embora por causa de problemas familiares.
- Sim, eu sei! Agora você já pode me dizer a verdade.
Érika se espanta ao ouvi-lo falar daquela forma. Já havia percebido que todos os cincos eram demasiadamente inteligentes, bem mais que do que os outros órfãos que ela já auxiliara. Em especial, Ikki, com quem havia conversado bastante. E até podia dizer, que já se conheciam muito bem. Deveria imaginar que ele analisaria qualquer desculpa que ela viesse dar.
- A verdade? – disse ela, fazendo-se ainda, de desentendida.
- Sim, a verdade. Não quer mesmo que eu acredite nessa desculpa depois de tudo que conversamos aquele dia no seu apartamento, não é?
A doutora Kanagawa engolira em seco e apertara a barra de ferro em suas mãos. Ikki não era mesmo um adolescente comum, na verdade ele já era um homem, sofrido e maduro. Sentiu que não podia enganá-lo, por isso ela buscou dentro de si coragem para lhe confessar aquela porção de novos sentimentos que nascia dentro do seu peito.
- Ikki... – chamou ela, respirando fundo. – Eu me apaixonei por você! – declarou de uma vez, sem pausas, focada, como se fosse um suspiro de alívio.
E antes que ele abrisse a boca para interrompê-la, a advogada continuou.
- E mesmo que você venha a me corresponder nesse sentimento, o que eu não acho possível, eu quero deixar claro que é proibida uma relação entre a Érika advogada e o Ikki cliente. Por isso...
Faz-se uma longa pausa.
Ambos olhando-se fixamente. Ikki tentava montar aquelas peças de quebra-cabeça em sua mente. E conseguia compreender na medida de sua pouca experiência, o que estava se passando ali. E chega a uma conclusão clara, que aquela pessoa ali, parada à sua frente, estava passando por um duro conflito interno: viver uma paixão, ou prosseguir dentro de sua ética profissional. Ele aprendera a gostar dela, talvez também não passasse de um sentimento de gratidão. Afinal, como Seiya havia dito, fora graças ao bom empenho dela em encontrar todos eles que estavam juntos agora, como uma família.
- Agora entendo porque está fugindo. – concluiu ele, secamente, sem pensar.
- Fugindo? – indagou ela, em um tom de indignação. Então, era assim que Ikki pensava, que ela era uma covarde e que estava fugindo. Serrou os punhos, irritada.
- Pra mim, isso se chama fugir, sim! – confirmou, ele.
- Eu não sei o que deu em mim em pensar que você entenderia minhas atitudes! A renúncia dos meus sentimentos e... Ah! – esbravejou. - Eu vou embora! Já vi que estou perdendo meu tempo querendo lhe dar explicações, e afinal de contas eu não tenho que lhe explicar...
Mas antes mesmo que ela conseguisse prosseguir, Ikki a puxara por um dos braços, fazendo com que os corpos dos dois se encontram em um baque. Os olhares se fixaram um no outro, e o coração da doutora começou a bater loucamente, sua respiração cessaram. E no devido instante, em que ela abriria a boca para criticar ousadia do seu jovem cliente, Ikki a invadiu com um beijo. Apertando-a ainda mais contra o seu corpo, deixando-a quase sem ar.
Os dois corpos se estremecem. Érika sentiu seu corpo arder naqueles braços tão viris, seus lábios se derreteram naquele beijo tão tenso, quente, estonteante... Seu corpo ficara inerte, não tinha como reagir e na verdade... não queria reagir. Os dois ficaram assim, se beijando por alguns minutos que pareceram estagnar no tempo, ambos saboreando o gosto um do outro. Até que uma leve e fria brisa os tocou, como se pedisse aos dois que se separassem. E assim o fizeram, calmamente, avaliando suas feições transtornadas, a dela totalmente ruborizada por causa da excitação e do calor do momento. A de Ikki, totalmente plena irradiada com a extrema beleza daquele olhar tão azul e tão penetrante. Não disseram mais nada, não havia mais nada a ser dito...
XXX
Mas apesar do belo entendimento entre o Ikki e Kanagawa, a mulher fora passar um tempo fora, até mesmo para que os olhos críticos do conselho não voltassem a atormentá-la. Mas fora, com a promessa de que um dia, os dois ficariam juntos. E assim, Ikki se viu sozinho com a responsabilidade de educar os quatro adolescentes. Até poderia ser uma tarefa fácil, afinal, todos eles passaram pelas mesmas dificuldades e tinham o mesmo grau de amadurecimento, no entanto...
No primeiro dia de aula na May Okane, mesmo antes de chegar na escola, Hyoga se envolvera em uma briga no metrô, devido a sua nacionalidade. Um garoto encrenqueiro do Colégio Militar vizinho ao seu, chamado Din Kendou, o provocara chamando-o de "Alemão". E ele só não desferira um dos seus poderosos golpes no garoto, que pesava pelo menos três vezes mais que ele, porque Shiryu o impediu. Ao chegarem na escola, a dupla descobriu que ficariam em salas separadas. E foi na sua sala, que Hyoga arrumou um admirador, por ter desafiado o tal do Din Kendou, Juashino, conhecido apenas como Juashi. O menino tinha uma aparência estranha, era magro de mais, usava muitos pircings e falava apenas em gíria. Mas apesar disso, parecia um bom garoto, e ajudou Hyoga com o grupo de Kendou, que depois da confusão no metrô, se vingaram da humilhação, dando no loiro, um banho de tinta. Na casa de Juashi, Hyoga conheceu a irmã caçula do mesmo, Kina, que ficara encantado com a beleza do siberiano. O loiro por sua vez, apesar da menina ser muito bonita, não demonstrara nenhum interesse por ela.
E Shiryu e Juashi não se deram bem, exatamente pela mania que o novo amigo de Hyoga tinha de não chamar ninguém pelo seu nome, e sim, por apelidos que ele mesmo colocava. Hyoga para ele passou a ser "Ô Loirão" e Shiryu era "Ô Cabelo". Enfim, fora através dele que Shiryu conhecera o templo Kirei, que agora era uma tinturaria, que o fez lembrar-se de sua terra, e da sua falecida Shunrei. E foi lá também que ambos descobriram que o menino com aparência fora do convencional, era apaixonado por uma jovem de família conservadora, a belíssima Kazuko-chan, que se apaixonou por Shiryu, que por sua vez, se viu apaixonado pela jovem estudante estrangeira, que estava hospedada na casa da menina, a não menos bela, Ivana Vigovic, que nascera na Eslovênia. A jovem era muito loira, tanto, que até mesmo os poucos pêlos da sua pele eram brancos e seus olhos eram azuis claríssimos. E depois de uma pequena batalha entre as duas amigas, para conquistá-lo, Shiryu descobriu que esta era comprometida, e que no findar dos seus estudos, ela retornaria para sua terra e assumiria seu compromisso com um conde. Mas, apesar da revelação desse segredo, Shiryu não conseguiu conter o que sentia, e a pediu em namoro.
E falando em disputas femininas, no mesmo instante em que Shiryu fora tão disputado por Kazuko e Iva, quase fazendo a bela amizade entre as duas se desfazerem. Shun, se tornara o alvo central de uma segunda disputada, na Kanagoe Fuji. Aliah Konomotto, a garota mais rica e mais popular do colégio, declarara guerra a estudante recém admitida, Flér Yana, que conseguira chamar mais atenção do seu já declarado amor, Shun.
Apesar de que Flér, inicialmente não mostrara nenhum interesse por Shun, e estava alheia a disputa. Na verdade, ela nem queria estudar na Kanagoe Fuji, fora sua irmã Sheena Yana, quem a forçara. As duas irmãs haviam perdidos os pais em um acidente de avião. E a partir daí, a mais velha, Sheena, passara administrar a fortuna da família, melhor dizendo, gastar a fortuna da família. E também estava com a responsabilidade de cuidar da irmã mais nova. Entretanto, Flér não suportava a superficialidade da irmã, que superou a morte dos pais, desfrutando da riqueza que os mesmos deixaram, com Shoppings, viagens extravagantes, roupas, jóias, e perfumes caros. Por causa disso, a menina decidiu fazer da vida da irmã o inferno, e se tornara uma rebelde, vivia de preto, inclusive maquiagem, o que deixava a irmã louca de raiva. E foi por causa do ar melancólico e triste da menina que Shun decidira se aproximar, algo nela, o fazia lembrar-se de alguém que gostava muito, e sentiu-se na obrigação de ajudá-la. E quando conseguiu enfim o fazer. Flér foi vitima de um plano de Aliah e suas amigas, que fizeram os dois se distanciarem. E foi então, que Flér percebeu que a irmã tão fútil, não era tão fútil assim...
A irmã de Flér, Sheena, insistia em tirá-la do quarto. Após muito esforço, em encontrar a cópia reserva da chave do quarto da caçula e conseguir adentrar o local, que estava turvo em uma densa penumbra.
- O que é isso? - assustou-se a mais velha, ao ver que as janelas estavam todas cobertas por lençóis negros que encobriam a luz do dia. E que a caçula estava envolta nos edredons dos pés as cabeças.
Sheena suspirara.
- Será que dá pra explicar o que está acontecendo, Flér-chan (4)? Esses dias eu quase pude confundi-la com uma garota normal. E de repente essa crise? – confessou a irmã, retirando os lençóis da janela.
- Não enche! – respondeu Flér, com a voz abafada embaixo dos cobertores.
Sheena sentou-se na beira da cama, repousando sua mão em cima do cobertor. Em um gesto parecido com que a mãe delas costumava fazer.
- Flér, eu sei que não venho sendo uma irmã muito atenciosa. Mas isso não signifique que eu não me preocupe com você.
- Não venha fingir que se importa comigo agora. É tarde de mais.
- Tarde de mais? Você diz "tarde de mais" como se o mundo estivesse pra acabar amanhã!
- O meu mundo acabou no momento em que o papai e a mamãe morreram. Eles eram os únicos que se importavam comigo.
- Que drama! – esbravejou a irmã. - Sabe de uma coisa, Flér?
- Não eu não sei. E não quero saber. Vai embora!
- Mas vou dizer assim mesmo. O mundo não gira em torno de uma única pessoa. Todos nós somos indivíduos. E esse termo se aplica porque cada pessoa é um ser único. Com suas próprias características, com suas próprias particularidades. Mas apesar de sermos "indivíduos" nós não vivemos sozinhos. Necessitamos do coletivo. Indiretamente ou diretamente. Indiretamente são as pessoas que estão por trás de tudo que nos rodeias. Esses lençóis horríveis que você colocou para bloquear a luz do dia tão lindo que está fazendo lá fora, foram confeccionados por várias pessoas. Por um coletivo. A cama, esse quarto, tudo que tem aqui, tem a mão de outros. Diretamente, Você não estaria aqui agora se eu não pudesse ter sua guarda. E se você estivesse sozinha na rua, ainda assim estaria submersas por pessoas.
- Desde quando virou filósofa? A garota metida que pensa que o mundo é cor de rosa. E é feito de shoppings e roupas de grifes.
- Flér... – chamou Sheena, calmamente. - Eu conheço os problemas do mundo. Mas sinceramente eu não posso viver inconformada. Envolvida dentro de um pessimismo. Se ficar de mal com o mundo resolvesse algo, se ajudasse a melhorar os problemas sociais do planeta, eu até me submeteria a viver em penitência! Mas já que isso não funciona. Eu procuro fazer a minha parte do meu jeito. Apesar de você não acreditar, eu doei, vinte por cento da minha parte da herança para um projeto de crianças órfãs que perderam seus pais em acidentes. Você acha que não sofri com a morte do papai e da mamãe? – perguntou ela, percebendo que Flér a ouvia.
- Eu sofri, Flér. E ainda sofro. Mas eu tenho certeza que eles não iriam gostar de me ver chorando por eles o resto da minha vida. Porque estamos vivas e precisamos aproveitar um pouco dessa vida. E eu não quero que chegue o meu fim, e eu olhe para trás questionando: meu Deus, o que eu fiz? E o que eu deixei de fazer? Nada! E agora o tempo acabou e eu apenas me lamentei. Flér, eles me amavam assim como amavam você. E lembro-me bem, que o papai ficava extremamente triste quando me via chorando. E toda vez que eu penso em ficar triste, eu me lembro do rosto dele preocupado comigo, e então eu sorrio, e digo pra mim mesma: "Não papai, eu vou ficar bem". E então, eu sinto meu coração aliviar.
Flér descobre o rosto lentamente.
- Porque nunca me disse dessa doação?
Sheena sorri.
- Eu não preciso que o mundo me entenda. E também não preciso ficar me vangloriando de algo tão pouco. Não é contar minhas benfeitorias que me fará uma pessoa melhor. Sabe Flér, eu li uma vez a seguinte frase: "Um dia saberemos que ser classificado como o 'bonzinho' não é bom... ". Eu não quero ser classificada como a boazinha, como a bonitinha ou a garota sensata. Não me importo com o que os outros digam, ou você mesma diga. Eu me adaptei ao mundo. Mas existem coisas que são minhas, eu acredito nas minhas filosofias e vivo conforme aquilo que acredito ser melhor pra mim. E diferente do que você pensa, eu não vivo do que a mídia, as revistas ou qualquer um diga. Eu sou louca por mim mesma, nunca ninguém me incentivou ser desse jeito.
Ela dá uma grande risada e continua:
- Está certo que gasto de mais, vivo em rodas por aí, mas faço algo que me agrada. Devemos fazer algo, Flér, que nos alivie por dentro. Seja lá o que for. Não que nos deixe para baixo. Eu posso parecer supérflua pra você maninha. Mas uma coisa eu aprendi. Não é o mundo inteiro que deve se adaptar a mim, sou eu que devo me adaptar ao mundo se eu quiser viver no "coletivo". Já pensou se o mundo inteiro tivesse que se adaptar a cada gosto, de cada pessoa tão individual? E eu digo mais, se viver de preto, ter gatos pretos, livros obscuros, cortinas negras na janela, lhe fizesse feliz, se a fizesse sorrir, se eu a visse se sentir bem com isso, tenha certeza, eu jamais implicaria com você. Porque eu não quero que você siga a minha filosofia de vida. Eu quero que você siga a sua própria. Mas que pelo menos, essa lhe faça bem. E não lhe puxe mais para baixo, me entende agora?
Flér sai dos cobertores e senta-se na cama apoiando as costas na cabeceira da cama. Revelando pela primeira sua feição abatida, destruída.
- E porque os seres humanos têm que ser tão maus uns com os outros, Sheena?
- Se eu tivesse essa resposta, meu bem, eu teria a resposta para os problemas da humanidade.
A irmã mais velha toca o rosto da caçula.
- Acho que não fiz uma boa escolha em te colocar na Kanagoe Fuji. Quero fazer algo que lhe faça bem. Então eu vou deixar você escolher onde quer estudar. Estive até pensando em pagar uma professora particular e...
- Não! – fala a menina convictamente, o que arrancou surpresa da mais velha
- Não?
- Eu acho... – disse, Flér, agora mais relutante. – Digo... eu achava que você era a supérflua, mas buscar ser feliz não é ser uma pessoa vazia. E acho que quem era vazia na verdade, sou eu...
As lágrimas ganham o rosto da menina.
- Flér...
- Não se preocupe, onee-chan! Eu estou cansada de me machucar, mas eu acho que estou dando margem para que as pessoas me magoem. Eu tratei a única pessoa que me achava decente nesse mundo como se fosse um monstro. Mas talvez, eu tenha criado esse monstro, eu tenha atraído essas pessoas ruins para perto de mim. E eu tomei uma decisão, eu não vou desistir mana. Eu vou continuar na Kanagoe Fuji, e provar que não estou vazia!
Sheena abraça a irmã, chorando.
- Se você soubesse o quanto esperei para ouvir isso de você. Era o que você precisava, Flér! Ganhar vida! Sentir que tem uma alma, um corpo e um coração batendo dentro de você. E descobrir que apesar da morte dos nossos pais tão amados, nós ainda podemos seguir em frente.
Flér sorri.
E Sheena, que nunca presenciara um sorriso tão belo da irmã, a abraça mais forte.
- Eu quero ajudá-la! E irei fazer o que me pedir! – disse a mais velha.
- Eu quero sua ajuda sim, onee-chan5... Eu quero que... Será que... Você pode me levar ao...
Sheena arregala os olhos, aguardando ansiosa.
- "Ao..."?
O rosto de Flér fica vermelho instantaneamente.
- Shopping. – pronunciou ela, timidamente, como se essa palavra fosse um palavrão.
- Flér?! – espantou-se a irmã, surpresa e incrédula. Afinal, havia acabado de presenciar um milagre.
XXX
E foi assim que Flér entrou na disputa pelo caçula da casa. Mas apesar de Shun, querer se aproximar de Flér, era apenas como amiga, que ele conseguia ver tanto Aliah como a Flér. Até parecia estranho, mas o caçula do grupo, ainda se sentia confuso, quanto aos seus sentimentos. Enquanto uma certa pessoa, tinha certeza, desde o momento em que decidiram morar juntos, sobre que sentia pelo caçula. O loiro da casa, estava completamente transtornado, por àquilo que tentava restringir, esconder, esmigalhar no seu peito, um amor incandescente por Shun. Um amor tão grande, que ao ser mandado para diretoria por causa do seu amigo Juahsi, ele confundira um menino que estava de detenção com o Shun. Ken Yameda, era o nome do menino.
Mas logo, Hyoga percebera quão grande fora sua confusão. O garoto ali presente, só tinha o corpo, o tamanho do cabelo e a feição parecida com o Shun, seus olhos eram negros, diferente dos verdes-claros do seu amado. Mas o pior de tudo fora saber que àquele menino, além de ser o jovem líder de uma gangue, tinha uma péssima educação. Ken era grosso, mal educado, falava palavrão o tempo inteiro, fumava feito uma chaminé e ainda bebia. Mas de alguma maneira, Hyoga sentiu algo de novo por àquele menino, como se este o tivesse o enfeitiçado. E quando o loiro dera por si, já estava envolvido com a gangue. Hyoga havia percebido algo de errado, porque o grupo de adolescente, eram aliciados por um homem adulto, que se dizia tio de Ken. E foi por causa disso que ele acabara se envolvendo e aceitando o convite de um desafio, para o lugar de líder do grupo.
- Faltam cinco minutos. – anunciou um dos capangas do líder. - Ele não vem mais chefe!
- Faltam cinco minutos e vamos esperar. Se ele não chegar a meia noite em ponto, começaremos com os demais e ele perderá o direito de participar do nosso processo de admissão. E perderá alguns dentes também para aprender a não brincar com Os Tenshis (6) nome da gangue.
Ken estava inquieto. Olhava de minuto em minuto o relógio, o que estava deixando o Taishou (7) do grupo ainda mais irritado.
- Parece que o seu querido mentiroso não virá, não é mesmo, Ken? – provocou o capitão.
O menino que tinha um copo de vódka não mão, entorna todo o líquido na boca, engolindo em só gole, quebrando o copo nas pedras, em seguida.
- Dane-se, você! Ele! E esse maldito desafio!
- Vou lavar sua boca com sabão seu imprestável!
- Foda-se!
Mas foi Ken dar um passo a frente, que ele esbarrou em alguém que havia acabado de chegar. Inspirou o ar, "Esse perfume...", pensou sentindo o rosto corar, tateando os dedos naquela camisa branca, como se tentasse reconhecer àquele peitoral. E ao levantar os olhos e confirmar quem era, sorriu.
- Parece com pressa? – perguntou Hyoga, retribuindo o sorriso - Onde estava indo?
- Vo- vo- vo- você veio?
- Parece que sim, não é?
O Taishou se levantou irritado.
- Eu acho que realmente, esse desafio não é só pela admissão no grupo, não é mesmo, Yukida-kun (8)?
Ken ainda com as mãos no peito de Hyoga agarrara sua camisa enfiando suas unhas no peito do loiro e puxando o tecido pra si, aproximou o ouvido do loiro dos seus lábios. Que ao sentir o hálito quente e ofegante do garoto em seu pescoço, sentiu um arrepio percorrer o corpo.
- Não ligue para o que ele diz! – sussurrou Ken, fazendo o rosto de Hyoga corar. - Sobreviva e você me terá! – confessou ele, dando um beijo no queixo do loiro, e soltando-o em seguida. Caminhando cambaleante, para o acampamento onde estava o restante do grupo.
O Taishou acendeu um cigarro, e deu um meio sorriso.
- Não se excite, loiro. O Ken é muito instável, e ele fica ainda mais, quando está bêbado.
Era verdade. Hyoga pôde sentir o leve odor de álcool exalando do menino. E durante a manhã, o mesmo, gritara irritado com ele, dizendo que seu interesse era só em meninas. E agora o beijara daquela forma e ainda dissera: "Sobreviva e você me terá". Estava confuso, o cheiro delicioso do hálito de Ken, tocando-lhe o pescoço lhe veio à mente, suas mãos firmes agarrando seu peito, àquele garoto com certeza o enlouquecera, por mais que ele não estivesse em si.
- Se atrasasse mais um minuto você perderia sua vida. – anunciou o homem, tirando-o do seu estágio de contemplação.
- E quem seria o bravo que faria isso? – desafiou, ele.
O Capitão solta a fumaça para o ar, movendo o cigarro na boca sem usar as mãos.
- Responda primeiro a minha pergunta, loiro! Essa batalha não é apenas pela admissão no grupo não é? Você tem interesse no Ken?
- Eu não costumo cobiçar o que é dos outros, Taishou. - responde Hyoga, friamente.
- Eu tenho uma proposta pra você.
Hyoga não se movera, apenas continuou fitando àquele homem horrendo, seriamente.
- Se você vencer meu desafio. – continuou, o homem. - Eu abro mão do meu cargo de líder desse bando, pra você. E melhor, com todas as regalias, inclusive, deliciosas noites de prazer com o vagabundinho do Ken. Pelo menos quando ele estiver bêbado e drogado, fará loucuras que você nem imagina. Ele é uma verdadeira fera na cama!
O homem levou um grande soco no meio da cara, após ter dito isso. E não foi por isso, mas... Hyoga aceitou, e venceu o desafio. E em seguida, mesmo não esperando, teria sua tão estimada recompensa.
O grupo todo estava reunido no acampamento, e em plena madrugada de terça-feira. Os jovens comemoravam, bebiam e cantavam ao novo integrante. Drogas de vários os tipos rolavam a solta. Fizeram o batismo de Hyoga banhando-o com garrafas de vódkas e champanhe. Hyoga que nunca bebera experimentara do líquido, no começo o achou estranho, mas logo se acostumou com o gosto. E a euforia logo tomou conta do seu corpo, sentia-se muito bem, maravilhosamente bem, parecia que toda a dor e agonia que sentia dentro do seu peito haviam se esvaecido. Ali, todos o idolatravam, as mulheres do grupo o rodearam beijando seu rosto, os homens lhe cumprimentavam, admirando-se do quanto ele era forte. Nunca pensou ser tão adorado como estava sendo, e aquela sensação o agradou e muito. E sem perceber, o loiro já estava totalmente seduzido por aquele ambiente, e em meio aos gritos de "viva ao Taishou Yukida", ele acabara experimentando do cigarro, e bebendo algo que tinha substância entorpecente. Seus olhos reviravam e ele deixou-se abater. Foi levado para uma das barracas. Passou algum tempo e foi acordado com carícias leves em seu rosto
- Que horas são? – perguntou ele, achando que já estava em casa. Tentou abrir os olhos, mas não conseguia ver quem estava ali.
- Está mesmo preocupado com as horas?
A cabeça de Hyoga rodava, a sensação de euforia havia diminuído mais seu corpo estava totalmente sensível. E aquelas mãos... Sentiu que às mesmas mãos que acariciaram seu rosto, agora corriam pelo seu corpo, por dentro da sua roupa. Ele tentou novamente abrir seus olhos e visualizou a uma imagem turva. Pensou ter reconhecido aquela silhueta, "Shun?", pensou em delírio. Ouvindo uma voz lhe falar, a voz não era do Shun.
- Lembra do que eu lhe prometi?
Hyoga tentava associar a imagem de Shun nervoso, ele havia dito algo que o havia irritado, sim, havia lhe chamado de "onii-san", odiara ter ouvido àquilo de Shun. E acabou lhe dizendo algo desagradável.
- Eu me lembro, mas... – tentou falar, sua boca estava mole. Não sabia se sua voz tinha sido ouvida.
- Então, é à hora de concretizar o que eu te prometi...
O loiro não teve tempo de dizer mais nada, apenas sentiu como se suas roupas tivessem ganhado vida própria e deixassem seu corpo, sozinhas. Havia duas mãos pequenas e brancas correndo as partes descobertas. Havia uma boca, tocando-lhe e umedecendo-lhe sua pele. Eram beijos. Os beijos desceram por sua barriga até chegarem à sua virilha. Sentiu seu membro, que estava pulsando, ser estupidamente sugado. Era boa aquela sensação, não... era ótima! Em meio aos seus delírios sentiu um corpo debruçar-se sobre si. Pôde ver um peito tatuado, suado em cima de si. Suas mãos subiram e segurarem àquela fina cintura. Sentiu de repente movimentos de subida e descida, seu membro estava sendo comprimido, evolvido. Ouviu gemidos que o extasiaram. Gemidos que viraram gritos. Logo sentiu seu corpo quente tendo espasmos, seu membro estava sendo cada vez mais contraído, sua boca salivava e de repente, algo explodiu de si, causando contrações, um líquido grosso saíra do seu corpo, preenchendo um vazio, e logo sentiu-se aliviado. Um corpo, que também estremecia, tombou cansado sobre o seu e sua boca foi beijada e então, tudo se apagou.
XXX
Mas nem tudo é tão bom quanto parece. E depois da noite de cachaçada e festa, vem a ressaca e o sentimento de culpa. Hyoga não se lembrava nem como havia chegado em casa. Muito menos da sua primeira noite de amor... com um garoto? Pois bem, quem quiser saber como essa história terminou, terá que ler os capítulos inteiros na primeira temporada, rolou muita confusão ainda. Mas, só se sabe que no final, Ken estava apaixonado de verdade por Hyoga, que ainda era verdadeiramente apaixonado por Shun, que por sua vez não sabia de nenhum dos dois. Então Ken, partiu, deixando um Hyoga, ainda mais desnorteado, com uma vontade ainda maior de esconder o que sentia por Shun.
No entanto, já dizem o velho ditado, quem dorme no ponto, perde a condução. E foi assim que Hyoga perdeu a condução para Kazuki, um dos seus companheiros na lanchonete. O menino se apaixonara loucamente por Shun quando fora visitar o loiro em sua casa, e a partir daquele instante, declarou para Hyoga, que disputaria o amor de Shun com ele.
E o pequeno, mostrou-se destemido na sua missão, e não é que ele teve coragem de pedir o Shun em namoro, que muito hesitante, aceitou. Mas o namoro deveria ser escondido, óbvio, ele não sabia qual seria a reação do irmão se soubesse do seu envolvimento com um menino, e também não estava interessado em descobrir. E até àquele momento quem namorava sério era Shiryu e Ikki. Isso mesmo, por falar no mais velho, ele não decidira ficar esperando pela doutora Kanagawa casto, não. E ao rever a companheira de orfanato, irmã de Seiya, Seika, na faculdade, nasceu em ambos uma atração muito forte, que virou namoro. Mesmo a contragosto de Seiya.
Voltando ao namoro do Shun e Kazuki, esse namoro não durou, creio eu que nem podemos considerar o que houve entre os dois, de namoro, pois descobriram que Kazuki na verdade, era um filho perdido do Imperador do Japão. E esse status, fizera com que os dois se distanciassem.
E foi quando aconteceu uma peça escolar, e Shun fora beijado de verdade, por outro menino, Spike, irmão de criação de Kazuki, e irmão de sangue de Mido Shindo, colega de classe de Shun e Seiya. Mido, que havia entrado em coma após a morte do pai, em um acidente de carro. O beijo de Spike em Shun, fora assistido por Ikki, que estava na platéia, acompanhado da namorada Seika e de Sheena, a irmã de Flér, e podemos dizer que rolou ciúmes da ruiva Seika, por Sheena. Mesmo assim, Ikki teve um ataque de histeria ao ver o irmão ser beijado por outro garoto, subiu no palco e sem pensar, desferiu seu Ave Fênix contra Spike. Mas, Shun entrou na frente do menino, levando o golpe por ele. Hyoga, que também havia matado aula pra ver a peça de Shun, agiu rápido e ajudou a amenizar o calor que o cosmo de Ikki provocara, utilizando do seu cosmo de gelo, antes que alguém percebesse. E em seguida, enquanto Ikki era chamado pra conversar com a diretora, Hyoga fora encarregado de tirar Shun do lugar. Essa cena vale à pena relembrar:
Shun apoiou a mão direita espalmada na parede do corredor e Hyoga se deteve. A professora Akura pedira para que os dois saíssem pelos fundos do teatro e assim evitassem o tumulto dos pátios da escola. Era um longo corredor no subsolo que os levaria até o prédio da enfermaria. Hyoga se deteve ao ver que Shun apertava o estômago com a mão. Receber o golpe de Ikki de frente, com certeza era suicídio.
- Está tudo bem? Shun? - perguntou ele, mostrando-se extremamente preocupado.
O caçula ainda estava muito envergonhado. E tudo, naquele momento, contribuía para aumentar o rubor do seu rosto. Primeiro estar vestido como uma frágil menina. Segundo, o fato de ter sido beijado por um menino em frente de toda à escola. Terceiro, pelo escândalo que o irmão criara. Quarto, pela companhia inesperada de Hyoga...
- Não, eu não estou bem... – foi sincero, sentindo as lágrimas margearem suas pálpebras. - Está doendo. - completou, apertando mais o estômago que revirava por causa das pontadas de dores agudas.
Sentiu-se enjoado. Ele leva as mãos na boca e se curva para frente tentando evitar o vômito, mas era tarde de mais, o bolo de sangue escorrera por suas mãos pingando no chão e em partes do vestido claro de rendas que vestia. A força do poder do irmão era avassaladora. O sangue vermelho e brilhante ganha gotas transparentes, as lágrimas de Shun.
O coração do loiro se desespera.
- Hei Shun... – Hyoga o chama, aproximando-se dele, enquanto retirava o blazer preto, largando-o no chão. Em seguida, desata a gravata rapidamente, colocando-a no bolso da calça. Desabotoa a camisa de linho branca, com o bordado da May Okane no bolso direito, arrancando-a do corpo e entregando-a para Shun. – Tome, limpe-se... - pede, tocando nos ombros de Shun e empurrando-o para se encostar na parede. - Encoste-se aqui um minuto.
Shun sente as mão do loiro o empurrar para parede fazendo-o apoiar-se. Em seguida, o irmão toca seu queixo, erguendo-o delicadamente.
- Erga a cabeça... - pediu.
Obediente, como uma criança recebendo os cuidados de um pai, Shun eleva a cabeça um pouco para cima. Enquanto limpava seus dedos com certa relutância, no tecido tão alvo em suas mãos. Hyoga puxara uma das mangas cumpridas e o ajudava a se limpar, passando o tecido no canto de seus lábios... escorregando-o levemente, por sua face branca, quase transparente, secando-a. Um gesto inconscientemente fraternal do loiro. Mas Shun sentiu um estranho conforto naquele gesto. Hyoga estava sendo tão prestativo. Seu coração estava tão nervoso, mas conseguiu se tranqüilizar ao sentir a ternura do loiro, aqueceu-se.
- Sua camisa vai ficar manchada. - observou.
- Esqueça-a.
- Hyoga?
- Hai? (9)
- Me leve para casa. - pediu Shun, em um tom choroso.
- Shun, você não está nada bem.
- Hyoga. – as mãos de Shun ganham os ombros nus do amigo fazendo-o sobressaltar. Mas o ex-guerreiro do gelo tenta se manter centrado.
- Por favor, eu não quero ir para enfermaria. A enfermeira vai saber que não foi só uma leve queda, e isso pode causar problemas. Eu vou ao médico da fundação amanhã e ficarei bem.
- Não Shun. Então vamos ao médico agora.
- Hyoga?
- O quê?
- Somos cavaleiros. - tentava Shun, melhorar seus argumentos. - Eu já recebi golpes piores.
O loiro suspirou profundamente, olhando para Shun que lhe esboçara um sorriso tão singelo, que não fora mais capaz de argumentar. Hyoga se afasta procurando o blazer no chão, ao encontrá-lo o veste, deixando-o aberto na frente.
- Então, está bem. – concorda, aproximando-se novamente do caçula, apoiando a palma da mão esquerda na parede a qual Shun estava encostado.
Os olhos do caçula dobraram de tamanho ao sentir a aproximação do irmão. Tanto, que sentira o hálito quente do loiro acariciar-lhe a face. Admirou os olhos extremamente azuis na sua frente e conseguiu ver seu reflexo assustado no fundo daquele oceano. Era impressão sua, só podia ser. Talvez o nervoso de todo os acontecidos daquele dia estavam lhe fazendo imaginar algo que não existia. A aproximação do rosto do irmão com o seu, o fazia imaginar... Não! Relutou consigo mesmo, antes de concluir o pensamento. Era mais uma sandice da sua mente cansada. Virou o rosto de lado em uma atitude idiotamente ingênua, tentando evitar aqueles olhos. Só podia estar louco, tivera a impressão que o irmão queria beijá-lo, mas...
O seu coração aumenta o compasso de repente. As mãos de Hyoga estavam em suas costas empurrando-o para mais próximo dele. Instintivamente, evitando que o irmão concluísse o que sua imaginação lhe denunciava, ele leva as mãos, fechadas em punho - por ainda segurarem a camisa branca já tingida de sangue - ao peito do loiro, na intenção de fazê-lo se afastar, se de repente sua imaginação estivesse certa e este o tentasse beijá-lo.
- Hyoga o que está... Ah! – Shun cerra os olhos, apertando-os. Um impulso o tirará do chão. Seus pés, ornamentados por um sapato de verniz branco com fitas rosa, como de uma boneca, flutuavam. Ao abrir os olhos novamente sentiu o cheiro quente do peito de Hyoga invadir-lhe. Estava em seu colo e caminhavam para fora do lugar.
Ele até quis reclamar, mas não conseguiu. Deixou-se ser levado. Pôde sentir o coração do loiro batendo desenfreado. O que aquilo significa afinal? Fechou os olhos novamente, sentiu a mente entorpecida adormecer.
-...
XXX
Apesar dessa linda cena. O casal principal da história, ainda não se entendera, completamente. Shun começou um falso namoro com Flér, sua amiga, para despistar a atenção de Ikki. Que por sua vez, fora traído por Seika, e terminou o namoro. Iva, foi embora grávida de Shiryu, para Eslovênia. E Seiya, que estava começando a gostar da Hibame, a menina com quem começara um namoro e que era capitã do time de futebol feminino da escola, sofreu de desilusão, porque a menina não podia apresentá-los para os pais. A rivalidade de Sheena e Seika terminou na noite do natal, quando Ikki e Kanagawa enfim, voltaram a ficar juntos. E como se não faltasse mais nada, Ikki e Shun, descobrem que sua mãe verdadeira, estava viva e morava nos Estados Unidos. E há muito tempo, procurava por eles. Mas Ikki, não aceitara em nada esse fato. E mesmo depois de toda a explicação dela, sobre a perda de memória, resultado da sua tentativa de suicido após descobrir que o marido a traíra, Ikki não se conformara. Muito menos se conformara em saber, que a mulher que havia morrido com o pai, na verdade, era amante dele. Mesmo assim, ela não mostrou intuito em desfazer a família que eles haviam criado com tanto custo. Ela só queria saber como seus filhos estavam, e após, passar uns dias no Japão, ela voltou ao seu país, pois estava casada com o médico que a salvara. E os dois tinham uma filha juntos, e ele ainda tinha uma filha do primeiro casamento. A mulher, só pedira que eles fossem visitá-la, o mais velho se recusou, mas Shun, disse que assim que entrasse de férias, ele iria visitá-los com certeza.
Flér, decidida a pôr fim no falso namoro entre ela e Shun, após desconfiar dos sentimentos do falso namorado pelo amigo Hyoga, ela aceitara fazer a campanha que agência de modelo, onde ela trabalhava, pediu, em Paris na França. E antes de ir, no aeroporto, ela mesmo, tenta abrir os olhos de Shun pelo sentimento que existia dentro dele, por alguém próximo, e só ele ainda, não conseguira enxergar.
Pensando no que a amiga havia lhe dito, Shun, após a ceia de Natal, decide procurar Hyoga pra conversar, e perguntara ao loiro se existia algo que este quisesse lhe dizer. O loiro assustou-se, nunca pensou que Shun pudesse ter percebido, fazia questão de esconder o que sentia. Mas... talvez já fosse o momento, e pensando nisso, ele finalmente se declarou. Só que ele jamais imaginara que Shun, passaria tão mal com o susto daquela declaração, tanto, que fora parar em um hospital.
Após o ocorrido, ambos se distanciaram, ainda havia um medo que corria pelo ar, mas Hyoga já havia se declarado, não tinha como voltar atrás. Então para ele, só restava esperar pela resposta de Shun. Só que ele não imaginava que essa resposta demoraria tanto. Alguns dias depois, todos começaram a viajar para as férias do final do ano. Shiryu viajou para visitar a China, com seu novo amigo Ryu, irmão mais novo de Kanagawa. Seiya e Seika, foram rever a Grécia. Ikki, Shun e Hyoga, foram os únicos que ficaram. Entretanto, passaram-se dez dias do ocorrido e Shun não dissera nada. E logo ele iria para os Estados Unidos ver a mãe e conhecer as irmãs. E Hyoga, iria retornar ao vilarejo Kohoutek para rever Anãn, sua tutora, Jacob e as filhas do ancião da vila em especial a danada Anina. Era o momento de se decidirem, e pensando nisso, e ao ver Shun, extremamente deprimido, o loiro decidira perguntar o que estava acontecendo. Timidamente, Shun declarou a Hyoga que também sentia algo muito forte por ele, que poderia não ser igual, ao que o amigo sentia, mas era algo que ele queria descobrir. E foi assim, que o primeiro beijo do casal, aconteceu. Para logo em seguida, os dois viajarem de férias, com a promessa de que quando retornassem, iriam pensar enfim, como viveriam juntos àquele novo sentimento.
Continua...
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Será que esse amor vai finalmente acontecer? Querem descobrir? Então mergulhem comigo e com os meus leitores, em Os Garotos - Segunda temporada!
Meu beijo coletivo!
See you next!
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Vocabulário
1 - Sumimasem – com licença;
2 Sensei – professor, doutor, mestre, etc;
3 San – sufixo acrescentado ao nome ou sobrenome, para conotar respeito. Normalmente é utilizado com pessoas mais velhas; traduzindo para o português, seria o mesmo que dizer senhor ou senhora;
4 Chan – sufixo acrescentado ao nome, que dá conotação de intimidade. É mais utilizado entre meninas, e crianças.
5 Onee-chan – irmã mais velha;
6 Tenshis – anjos;
7 Taishou – líder;
8 Kun – sufixo acrescentado ao nome, ou sobrenome masculino, dando a conotação de intimidade.
9 Hai – sim.
