Era o primeiro dia de Ikki na divisão de homicídios. Quase nem dormira à noite por causa disso, e já estava pronto para trabalhar às cinco da manhã, um pouco adiantado se for pensar que ele deveria entrar às oito.
Como já estava em pé mesmo resolveu cozinhar para ver se passava o nervoso.
- Mas o que é isso? – pergunta Shun o irmão mais novo de Ikki ao se deparar com uma mesa cheia de comida. – tá querendo alimentar toda divisão? Porque nem em uma semana nós dois íamos conseguir comer isso tudo sozinhos!
- Acordei cedo, não tinha mais nada para fazer aí ...
Shun deu uma olhada no apartamento, realmente seu irmão havia acordado muito cedo, a casa estava brilhando, não havia sequer um palito de fósforos fora do lugar.
- Devia estar pronto também, ou vai acabar perdendo sua primeira aula!
- Tá eu vou assim que acabarmos com toda essa comida.
Meia hora depois disso, os irmãos Amamya deixavam o apartamento que dividiam desde que haviam saído do Japão para tentar a vida em outro país, onde Ikki havia escolhido a vida como policial e havia se formado apenas a algumas semanas, e Shun estudava medicina.
Entraram no carro e como todas as manhãs tomavam a direção da universidade onde Ikki deixava Shun para depois ir para o trabalho.
- E aí, ainda nervoso?
- Imagina, eu nunca fico nervoso.
- Conta essa para outro, Ikki, sou seu irmão, pode falar!
- Não tem o que falar é só um emprego novo!
- Até parece, você é provavelmente o policial mais novo a entrar para divisão de homicídios da polícia!
- Eu não fiz nada de mais, agora chega de falar nisso, isso sim está me deixando nervoso. Ando meio preocupado com essa história de você e da June. Vocês me parecem cada dia mais distantes.
- Sabe que sou responsável, não vou deixar que isso atrapalhe meus estudos.
Isso era verdade, Shun nunca deixou que nada atrapalhasse suas metas, nisso eles eram muito parecidos, mas sabia o quanto ele amava June, passaram toda a infância juntos, e depois que os pais dela autorizaram o namoro nunca mais se largaram. Mas então veio a faculdade e cada um seguiu caminhos diferentes. O namoro mesmo a distância continuou, mas talvez fosse melhor para Shunt tê-la por perto, afinal June era tão provinciana, e apesar de ser uma moça de princípios, tinha medo que uma cidade como Paris a seduzisse e a afastasse de seu irmão.
- Caso queira saber June me ama de verdade irmão.
Shun parecia advinhar as dúvidas que enchiam o coração de seu irmão.
- Eu sei, vi vocês dois crescerem juntos.
- Então confie nela como eu confio.

Uns quarenta minutos depois.
Eu estou procurando o chefe da divisão, cap. Diakos- disse Ikki se dirigindo a um homem de cabelos longos ligeiramente ondulados e loiros, que usava sobre a roupa um jaleco branco.
- Bem, se você o encontrar me avise, porque eu também estou procurando por ele. Mas quem disse que aquele grego está aqui quando se precisa dele!
E saiu apressado sem dar a resposta que Ikki procurava.
- Não ligue para o Afrodite! Quando está trabalhando é a pressa em pessoa, mas é o melhor legista de toda corporação.
Ikki se assustou ao ver que aquela voz tão tranqüila vinha de um homem de mais de dois metros de altura e com o físico de um peso pesado, rosto quadrado e sobrancelhas cerradas.
- É novo por aqui, não é?
- É tão óbvio assim? – perguntou Ikki absolutamente sem graça por não conseguir disfarçar ainda o próprio nervosismo.
- Depois de um tempo fica fácil reconhecer os sinais.
- Sinais?
- Olhos determinados, aquela vontade de mudar o mundo e de fazer justiça...
- Bom, deixa eu me apresentar, sou o tenente Ikki Amamya.
- Prazer, Ikki, meu nome é Aldebaran.
- Que bom que já se conheceram – quem dizia isso era um policial que se aproximava devagar, cuja voz sonora ecoava forte. Era apenas um pouco mais alto que Ikki, tinha cabelos curtos e castanhos quase dourados.
- Ei Capitão, parece que o rapazinho aqui estava a sua procura.
- Então cheguei na hora certa. – disse ele estendendo a mão onde um anel de bacharel brilhava em seu dedo. – Capitão Aioros Diakos, você deve ser o japonês de que me falaram, Amamya certo?
- Sim, senhor. – respondeu Ikki batendo continência, ao perceber que estava diante de um superior.
- Bem, Aldebaran está pronto para cuidar do novato?
-O QUÊ? – disseram os dois em uníssono.

Numa sala pouco iluminada a fumaça do incenso dava à atmosfera um ar nebuloso. Nessa mesma sala uma jovem cheia de expectativas segurava as mãos de um homem que ela considerava quase um santo.
Assim como ela, muitas moças o procuravam em busca dos mistérios do futuro. Outras vezes eram senhoras distintas que procuravam saber através de seus cegos olhos, notícias daqueles que já se foram. E também os que vinham até ele atrás apenas de conselhos e até mesmo de um palpite de sorte.
Muitos o consideravam um charlatão, e em outros tempos ele se sentiria realmente ofendido , porém hoje ele preferia guardar seus ouvidos apenas para a felicidade daqueles que saiam de seu humilde "consultório".
Quando seu último cliente foi embora, ele deixou seu corpo cair pesadamente no encosto da cadeira, fazendo com que uma cascata dourada formada por seus longos cabelos dourados caísse para trás.
- Acabou mais um dia!
Reuniu todas as suas forças e se levantou para deixar aquele recanto e subir para os dois cômodos acima daquele, onde ele vivia.
Chegando lá retirou a longa túnica bordada, uma das muitas que usava em suas consultas, revelando o corpo de formas agradáveis que mal se percebia sob as roupas largas que costumava usar.
Vasculhou uma gaveta atrás de roupas limpas e se deparou então com uma jovem sentada em sua cama.
- O que faz aqui, Daiana? – perguntou reconhecendo de imediato a moça que ele atendeu antes de ir embora.
- Um homem sábio me disse que hoje eu encontraria o amor da minha vida, e ele tinha razão.
A moça se aproximava de maneira perigosa.
- E agora eu já sei quem é.
Ela pousou as mãos sobre o peito dele e contato das mãos quentes dela, fizeram com que uma sensação de estremecimento percorresse todo seu corpo e ele se deixou levar. Num instante estavam ambos nus sobre a cama, corpos colados, os cabelos dourados dele caindo sobre o corpo dela, os cachos castanhos se espalhando pelos lençóis revoltos.
E assim ele afastava um pouco sua tristeza.