NARUTO NÃO ME PERTENCE, NEM A HISTÓRIA! I

O sol da tarde quase não conseguia atravessar a espessa névoa de poluição que pairava como um estranho halo sobre Los Angeles, a Cidade dos Anjos. Embora fosse esse o significado do nome, não havia nada de angelical no aspecto da cidade, com seu trânsito desvairado e agressivo. O táxi em que Hinata estava ia abrindo caminho naquela confusão de veículos. O motorista "costurava" por entre os carros, tocando a buzina, xingando e dirigindo tão velozmente que Hinata a todo o momento se encolhia, prevendo uma colisão de que escapavam sempre por um triz. Um outro motorista, enfurecido, fez um gesto malcriado por ter levado uma "fechada".

Hinata encolheu-se ainda mais no cantinho do banco e fingiu não ter visto. Sabia que nunca conseguiria dirigir com tal agressividade e pensava também que sua prima Hanabi enfrentaria bem essa situação.

Ao pensar em Hanabi, Hinata não pôde reprimir um suspiro de desânimo e cansaço. Hinata ficara de voltar para casa antes do meio-dia. Sua temperamental priminha ficaria furiosa com ela. Não importava que ela tivesse ficado ajudando tia Hikari, a mãe de Hanabi, na preparação do bazar beneficente que ela costumava organizar todo ano, como também não importava que a tia tivesse oferecido seus préstimos como datilografa aos organizadores do bazar, sem ao menos consultá-la. A tia simplesmente insinuara a Hinata, de um modo ferino, que já estava na hora dela retribuir com o que aprendera no curso de secretária.

Uma onda de ressentimento invadiu Hinata. Os pais dela haviam morrido num desastre de automóvel quando ela estava com apenas sete anos. Como a mãe não tinha nenhum parente, Paul, o irmão do pai, foi quem ficou com Hinata. Ela gostava muito do tio Paul. que achava bem parecido com seu pai. Poderia ter sido uma boa solução ir morar com ele, a esposa Hikari e Hanabi, a filha única do casal, que era apenas nove meses mais moça do que Hinata. Poderia ter sido se não fosse o fato do tio estar totalmente absorvido em seu trabalho e a tia Hikari preocupar-se única e exclusivamente com sua filha única, a quem vivia cobrindo de mimos.

Apesar de ter só sete anos, Hinata era uma menina sensível e inteligente e logo percebeu que o mundo dos tios girava em torno de Hanabi. Lembrou-se das festas do tempo de criança, das ocasiões em que a tia gostava de exibir a filha e contar as proezas para as amigas, orgulhando-se toda ao ouvir os elogios. Quase sempre tia Hikari se esquecia de falar de Hinata e, quando o fazia, usava a expressão "nossa pequena órfã". Não que isso fosse uma ofensa, mas como ela já estava carente e insegura por ter perdido o afeto dos pais, a lembrança constante de seu status era como mexer numa ferida, magoava-a mais ainda. Assim, Hinata acabou se resignando a ficar sempre em segundo plano, apagada e tímida, enquanto a prima, segura e cheia de vivacidade, era o centro de todas as atenções.

Embora tivesse freqüentado as mesmas escolas que Hanabi, tivesse um quarto tão bonito quanto o dela, e aparentemente fosse tratada como um membro da família, Hinata não via a hora de terminar o ginásio para entrar num curso de secretária. Matriculou-se, mesmo contra a vontade dos tios, usando o que lhe restava do dinheiro que seu pai lhe deixara. Pretendia ter uma profissão, um meio de ganhar a vida, para não precisar depender da caridade dos tios.

Durante alguns poucos meses tudo correu bem e ela ganhou algum dinheiro, mas logo Hanabi terminou os estudos e resolveu fazer uma viagem ao Hawaii. Ela já era adulta e não tinha cabimento que os pais a acompanhassem. Mas, como eles estavam preocupados por ela querer viajar sozinha, impuseram a condição de que Hinata fosse com ela. Hinata esboçou um tímido protesto, relutante em deixar o posto de datilografa na grande firma em que arranjara emprego. Sabia que seria difícil arranjar outro emprego tão bom quanto aquele, mas o olhar que a tia lhe lançou dizia claramente que Hinata lhes devia aquela retribuição. Afinal, eles a tinham criado... e Hinata acabou se rendendo, curvando-se ao jugo da gratidão forçada.

Depois da viagem ao Hawaii, surgiu outra e no fim Hanabi acabou exigindo que os pais lhe dessem um apartamento para morar sozinha. Os pais cederam, mas exigiram que Hinata fosse morar com ela. Qualquer tentativa de Hinata se rebelar contra a decisão era logo desencorajada pelo mesmo olhar de reprovação da tia, lembrando-a de que devia gratidão eterna, além do comentário "você é que é feliz de não precisar pagar aluguel para morar", que provocava em Hinata um sorriso amargo. Ela era a dama de companhia da prima, sujeita aos caprichos dela e da tia. Estava com vinte e um anos e não tinha vida própria, nem amigos.

— Chegamos, dona— disse o motorista do táxi por sobre o ombro.

Hinata voltou ao presente num sobressalto e percebeu que o táxi estava parado diante do luxuoso edifício onde ficava o apartamento delas. Olhou de relance para o taxímetro e remexeu na bolsa, procurando o dinheiro. Pagou o motorista e, percebendo pela expressão dele que não estava satisfeito com a gorjeta, acrescentou mais uma nota. Ele esperou impaciente que Hinata achasse o trinco, abrisse a porta e descesse murmurando um tímido "muito obrigada", que ficou sem resposta.

No saguão de entrada, ricamente decorado com vasos de folhagens, o porteiro cumprimentou Hinata com simpatia.

— Boa tarde, Srta. Hyuuga.

— Boa tarde, Sr. Farber. Tudo bem hoje?— respondeu ela no mesmo tom amigável.

— Tudo bem, sim senhora.

— Estou atrasadíssima— disse ela, fazendo uma careta travessa que revelou as duas covinhas nas suas faces.— Minha prima esperava que eu voltasse antes do meio-dia e já são quase três horas!

— Parece que sua prima não está. Ela saiu mais ou menos uma hora depois da senhora hoje de manhã e tenho quase certeza de que ainda não voltou.

Isso significava que então nada tinha sido feito depois que Hinata saíra. E agora, como estava chegando antes da prima, tudo cairia sobre seus ombros. Deu um suspiro de resignação e encaminhou-se para o elevador.

Ao abrir a porta do apartamento, Hinata repeliu um sentimento de autopiedade ao constatar que estava com dor nas costas por ter ficado escrevendo a máquina por quase seis horas consecutivas. Afinal, seu futuro não era tão desesperador. Havia um certo alento. Hanabi estava para casar dali a quatro meses e isso queria dizer que ela, Hinata, estaria livre de todas as obrigações, livre para viver sua vida como bem entendesse. Entretanto, Hinata sabia que os próximos meses seriam atarefadíssimos.

A sala estava cheia de roupas espalhadas pelo sofá, poltronas, mesas e cadeiras. Esse era o método extravagante de Hanabi escolher um traje para sair. Também não deixara nenhum bilhete dizendo aonde fora nem quando voltaria, isso era típico dela. A prima suspirou, olhando aquela bagunça toda, e começou a pensar no noivado da prima e como as coisas tinham acontecido.

Tudo tinha começado há uns dois meses, quando Hanabi compareceu a mais uma das elegantes recepções de Hollywood, acalentando secretamente uma esperança infantil de ser "descoberta" e tomar-se uma atriz famosa. Hinata jamais ia a essas festas. Aquele clima artificial de superficialidades e alegria forçada deixava-a revoltada e ela não se sentia bem nesses ambientes, por isso não ia. Naquela noite Hanabi chegou mais cedo que de costume e Hinata ainda estava acordada. A prima irrompeu apartamento adentro toda eufórica, um brilho calculista nos olhos perolados.

— Acabei de conhecer o homem com quem vou me casar!— anunciou ela teatralmente.

Hinata espantou-se, pois estava acostumada com a indiferença da prima em relação aos mais ardentes admiradores, e não levou a coisa a sério.

— Não ria, eu não estou brincando— disse Hanabi, com um sorriso malicioso.— Um homem desses só se encontra um na vida e eu quero que ele seja meu!

— É que não posso acreditar que você tenha se apaixonado por um homem que acabou de encontrar e ainda nem conhece direito.

— Ah, eu não me apaixonei, é claro, mas sem dúvida ele tem tudo para que isso aconteça— disse Hanabi, largando o casaco no encosto do sofá antes de aninhar-se entre as almofadas.

— O que você está dizendo não tem o menor sentido.

— Não tem, é?— retrucou a prima, presunçosa.— Espere só para ver.

Hanabi recusou-se a entrar em maiores detalhes, preferindo deixar o assunto envolto em mistério. Na manhã seguinte entregaram no apartamento uma dúzia de rosas vermelhas com um cartão sem assinatura, convidando-a para jantar. Na hora marcada para o encontro surpreendentemente Hanabi já estava pronta e, quando tocaram a campainha, ela foi logo atender e saiu, evitando apresentar a Hinata o misterioso admirador. Depois daquela noite, todos os dias chegavam flores, sempre rosas vermelhas, acompanhadas de cartões com a mesma letra firme e decidida. Mas os cartões nunca eram assinados e nem traziam ardentes declarações de amor. As mensagens eram claras e concisas, agradecendo a companhia de Hanabi e combinando um próximo encontro.

Os dois já estavam saindo juntos há umas duas semanas quando Hinata conheceu por acaso o homem que se tornara o centro do universo da prima.

Tinha acabado de lavar a cabeça e enrolara os cabelos numa toalha enquanto passava um creme de limpeza no rosto. Nesse momento a campainha tocou e ela, pensando que Hanabi havia esquecido a chave, foi resmungando abrir a porta.

Quando se deparou com um homem alto e imponente parado no umbral, ficou boquiaberta e sem ação. Ele era elegante e bem vestido, com um terno cinza impecável que realçava os ombros largos e o corpo esguio.

Os cabelos eram negros e penteados para trás, emoldurando um rosto másculo de traços aristocráticos e arrogantes. Os olhos eram escuros e o desenho da boca insinuava uma certa impiedade.

Ela ficou constrangida e tentou ajeitar o roupão vermelho que usava.

— Quem... quem é o senhor?— perguntou nervosa, com vontade de bater a porta na cara dele.

Ele ergueu as sobrancelhas e contemplou-a com um olhar zombeteiro.

— A Srta. Hyuuga não está?— perguntou ele com voz grave, num tom baixo mas autoritário de quem está acostumado a dar ordens e ser obedecido.

— Hanabi?— perguntou ela tolamente e depois acrescentou depressa.

— Não, não, ela não está no momento. Quer deixar recado?

Ele contemplou de alto a baixo a figura desarrumada de Hinata.

— Você é a prima dela, não é?

Ela corou e ficou tão sem jeito que nem pôde responder, apenas fez que sim com a cabeça.

— Quer fazer o favor de dizer a ela que eu vim me desculpar por não poder ir ao nosso encontro de hoje à noite?— remexeu no bolso de dentro do paletó e pegou um estojo de veludo verde, estreito e longo, que entregou a Hinata, falando num tom ligeiramente cínico.— Um presentinho para a Srta. Hyuuga.

Só nesse momento é que ocorreu a Hinata que esse devia ser o misterioso admirador da prima, misterioso para ela pelo menos, que nunca o tinha visto até então. Hanabi havia feito várias insinuações de que o homem era milionário, além de muito bonito. Hinata não o estava achando bonito, embora não pudesse negar que era um tipo de chamar atenção, realmente irresistível. Um tipo másculo, sem dúvida, mas com expressão dura demais e um tanto implacável para ser considerado bonito. Contudo, possuía um forte magnetismo. Mas não era o tipo que Hinata escolheria para marido, amante ou mesmo amigo. Também, longe dela ter esse homem como inimigo, pois era perfeitamente visível que ele seria dos mais perigosos.

O caro estojo de jóia parecia queimar-lhe as mãos e Hinata tratou de devolvê-lo depressa.

— É melhor entregar a ela pessoalmente senhor... senhor... ah...

— Uchiha— completou ele com suavidade, inclinando de leve a cabeça— Sasuke Uchiha.

O nome era vagamente familiar, mas confusa como Hinata estava, não conseguia lembrar de onde o conhecia. Ele sorriu de um jeito cínico e recusou-se a aceitar de volta o estojo de veludo.

— Acho que não fará diferença para Hanabi receber o presente de mim ou através de você— disse ele —, portanto não vamos perder tempo discutindo isso. Estou com pressa. Por favor, transmita a ela o meu recado e— ele apontou para a caixa da jóia, deixando ver sua mão elegante e morena de dedos longos e finos— entregue o presentinho.

Com essas palavras ele se virou e encaminhou-se para o elevador. Hinata ficou parada na porta, olhando perplexa para ele. Duas horas mais tarde Hanabi chegou e ficou furiosa quando soube que Sasuke tinha estado lá, mas assim que Hinata entregou a ela a caixa, ela se acalmou. Nem mesmo prestou atenção à prima, que lhe dizia ter ficado com receio de que ela preferisse receber o presente diretamente dele. Abriu a caixa e deu um gritinho de alegria ao ver a pulseira de ouro enfeitada com brilhantes e rubis.

— Que diferença faz quem me entrega?— disse ela, colocando a pulseira no braço e admirando-a na luz.— O importante é que seja um presente dele.

Era exatamente o que ele havia dito. Hinata, entretanto, não concordava. Ela teria preferido receber o presente de quem o estava dando, principalmente um presente daqueles! Aliás, pensando bem, ela nem teria aceitado uma coisa assim tão cara.

— E, então, o que achou de Sasuke?— perguntou Hanabi, analisando a expressão da prima.

Hinata não podia dizer o que tinha achado de verdade, porque sabia que Hanabi não ia gostar. Respondeu com uma evasiva.

— Ele é um pouco mais velho do que eu imaginava.

— Ele não é velho, tem só trinta e seis anos!— respondeu a prima com desdém e voltou a admirar a pulseira.— E, depois, ele é rico, poderoso e bastante famoso. Não há uma só mulher que não desse tudo para se casar com ele!

Hinata pensou que ela era uma, mas não disse nada. Queria para marido um homem gentil, terno e meigo e não um dominador e autoritário, acostumado a impor suas vontades.

— Quem é ele, afinal?— perguntou, sem ter ainda conseguido lembrar onde já ouvira o nome dele.

Hanabi riu, um riso gutural e sexy, muito bem estudado para agradar aos ouvidos e não para expressar graça.

— Arr, Hinata! Como pode ser tão ignorante assim? Sasuke Uchiha é proprietário da cadeia de hotéis Driftwood, além de várias outras coisas.

Imediatamente ela se lembrou do artigo que lera no jornal outro dia, anunciando a chegada de Sasuke Uchiha à cidade, depois de ter aberto mais um de seus hotéis no México e dizendo que ele estava em negociações para construir um outro na América do Sul. Lembrou-se também que ele era muito conhecido pelo seu jeito impiedoso e rude de lidar com as pessoas e por sua inconstância com as mulheres. Entretanto, sempre escolhia as mais belas, ao lado das quais era constantemente fotografado.

Ao saber que era ele o homem que a prima pretendia levar ao altar, ela duvidou que o casamento saísse. Nas semanas que se seguiram houve mais presentes, cada vez mais caros, mais encontros com Hanabi e mais um encontro casual com Hinata, em que Sasuke praticamente a ignorou. Depois, afinal, há quase uma semana, a surpreendente notícia de que Hanabi e Sasuke estavam noivos.

Hinata não pôde deixar de achar que a prima estava cometendo um terrível engano. No dia seguinte ao do noivado, Hanabi já estava com um mau humor tão grande que nem mesmo o anel de safira com diamantes que ganhou conseguiu aplacar sua fúria, porque Sasuke se recusara a dar publicidade ao compromisso selado entre eles. E justamente o que Hanabi mais queria era ser o alvo de atenções e comentários. Hinata, entretanto, percebeu que Sasuke não era o tipo de homem que se deixava impressionar por cenas temperamentais ou por lágrimas de mulher e Hanabi acabou tendo que ceder à vontade dele. Depois teve outro acesso de raiva, dessa vez na ausência dele, quando ele lhe pediu, há dois dias, que ela fosse visitar a tia dele em Mobile, no Alabama, enquanto ele ia tratar de negócios na América do Sul. Hinata tinha uma ligeira desconfiança de que Sasuke achava que se Hanabi ficasse sozinha ali, ia acabar espalhando a notícia do noivado. Na frente dele Hanabi não disse nada, concordou calmamente com o pedido, mas assim que ele saiu fez um escândalo, gritando para Hinata que era uma injustiça e que não era direito fazer aquilo.

Sasuke tinha partido para a América do Sul na véspera e Hanabi estava com a passagem de avião para Mobile comprada para o dia seguinte à tarde. Hinata olhou o amontoado de roupas que a prima estava selecionando para levar nas malas e suspirou. Ia ficar tudo amarrotado. Com paciência, começou a dobrar peça por peça, empilhando tudo em ordem para que fosse depois colocado na mala.

Estava acabando a arrumação quando Hanabi abriu a porta da rua com um gesto impetuoso e apareceu na sala, os olhos brancos brilhando de euforia e os lábios rubros abrindo-se num sorriso largo. Era tão cheia de vida, vibrante e sensual, que Hinata sempre se sentia apagada perto dela. Em todos os lugares, por mais cheios que estivessem, assim que Hanabi entrava todos os olhares se voltavam para ela, atraídos como mariposas pela luz.

— Você nem imagina o que aconteceu! A coisa mais maravilhosa do mundo!— disse Hanabi rodopiando pela sala como se estivesse dançando, seus lindos cabelos negros balançando com suavidade sobre os ombros e a saia rodada flutuando no ar, mostrando as coxas bem-feitas.— É fantástico! Espetacular!

— O que foi que aconteceu? Puxa vida, quanta alegria!— disse Hinata, fascinada pela vivacidade da prima.

Hanabi afinal parou e ficou em silêncio alguns instantes para criar suspense, depois anunciou, enfática.

— Vou fazer um filme!

Hinata ficou boquiaberta fitando a prima com olhar incrédulo, depois bombardeou-a de perguntas.

— O que você disse? Será que entendi bem? Que filme é esse? Com foi isso?

— Ted Lambert, o diretor, me ofereceu um papel hoje!— Os olhos dela brilhavam de felicidade.— Encontrei com ele na festa em que fui com Sasuke a semana passada. Hoje ele me chamou para fazer um teste e eu fui aprovada! Consegui o papel!— Por um instante toda a sofisticação abandonou Hanabi e ela se abraçava com uma alegria infantil.— O papel não é tão pequeno. Tenho que decorar vinte páginas de fala! Ah... eu sempre sonhei com isso!

— Quando vai ser isso? Onde vai ser a filmagem? Quando começa?

— Hinata estava atônita, mal podia pensar direito.

— Tenho hora marcada para o teste de vestuário amanhã. Serei uma princesa russa da época dos Czares. Infelizmente todas as minhas cenas serão filmadas no estúdio. Que azar!

Hinata olhou para o vestido da prima, que ainda estava segurando, e depois para Hanabi com apreensão.

— Mas, amanhã você deveria embarcar para Mobile para visitar a tia de Sasuke.

Hanabi virou-se de costas.

— É, eu sei...— murmurou, perdendo o entusiasmo. Em seguida virou-se de novo num gesto rápido e fitou a prima com um olhar de apelo nos olhos castanhos.— Hinata, como é que vou fazer? Trabalhar no cinema é a coisa que eu mais desejo, desde criança. E uma oportunidade de ouro e eu não posso perdê-la! Ted disse que o papel cai como uma luva para mim!

— Telefone para Sasuke e explique o que houve. Convença-o a adiar sua visita à tia dele.

Hanabi fez beicinho.

— Eu não sei onde ele está. E, mesmo que soubesse...— ela olhou para Hinata pedindo compreensão.— Você sabe, Sasuke... ah... eu acho que ele não ia aprovar... você sabe como ele é autoritário, às vezes. Tenho certeza de que ele não vai gostar de saber que eu vou filmar. Mas, Hinata, eu quero tanto!— Os olhos dela se encheram de lágrimas.— Se... se ao menos houvesse um jeito de eu conseguir fazer esse filme! Queria realizar esse sonho que sempre tive antes de... de me casar.

— Deve haver algum modo— murmurou Hinata, comovida com a aflição da prima.

— Ted disse que as minhas cenas vão ser filmadas logo, porque vão filmar primeiro as seqüências de estúdio. Não vai levar nem três semanas...

— Hanabi falava como se estivesse pensando alto.— O mesmo tempo que eu ficaria com a tia de Sasuke.

— Por que você não telefona para ela e explica a situação?

— Para ela ir correndo contar a Sasuke? Não, aí sim é que ele ia ficar furioso comigo.— Hanabi suspirou, desanimada.— Também não poderia inventar que fiquei doente, com uma gripe ou qualquer coisa assim... Se Sasuke ficasse sabendo ia resolver vir até aqui, para me ver.

Hinata ficou sinceramente tocada com a tristeza da prima.

— Então parece que não há outra solução a não ser recusar o papel e ir visitar a tia de Sasuke, conforme estava programado— concluiu, melancólica.

— Só que tem um problema: eu já assinei o contrato para filmar.— Ela se mexeu no sofá provocando um farfalhar do vestido de chiffon,— Se eu não cumprir os termos, o estúdio pode me processar e papai também será prejudicado.

— Ah, Hanabi, essa não! Por que fez isso? Por que assinou assim, sem ao menos refletir sobre o que estava fazendo? Você se meteu numa terrível encrenca e a sua família também!

— Você tem que entender...— disse Hanabi, inclinando-se para frente e fitando a prima com olhar súplice.— Eu fiquei tão entusiasmada por ter sido escolhida para o papel que não pensei em mais nada. Quando vi, já havia assinado o contrato. Será que você entende meu dilema? Eu não quero perder Sasuke, prejudicar nosso noivado... e também não quero causar problemas para meus pais. Já pensou se o estúdio me processa?!

Como se isso tudo fosse demais para ela, Hanabi começou a chorar, mas logo depois das primeiras lágrimas parou e encarou Hinata com um olhar de determinação.

— Agora não adianta autopiedade— disse ela com firmeza.— Eu sei que me meti nessa encrenca sozinha, a culpa é toda minha, e não é justo pedir que você me ajude a sair disso, agora. Mas acho que, pensando juntas, talvez pudéssemos achar uma solução...

Hinata sorriu com compreensão mas fez um gesto desolado, como se não tivesse a menor idéia do que sugerir. Hanabi ergueu-se e foi até a ampla janela que dominava a sala.

— O que eu precisava mesmo era me partir em duas— disse ela por sobre o ombro, em tom de brincadeira— assim uma metade poderia ir para Mobile e a outra poderia fazer o filme.

— Seria o ideal se fosse possível!— disse Hinata rindo para quebrar a tensão que pairava no ar.

De repente Hanabi virou-se, o rosto luminoso, os olhos brilhantes.

— Acho que já sei como podemos fazer isso! É claro que podemos!— disse ela de um só fôlego.

— De que jeito? Você ficou maluca?!

Hanabi afastou-se da janela, correu para a prima e segurou as mãos dela tentando transmitir-lhe a mesma euforia.

— É simples, você toma o meu lugar!— Nos olhos cor de perola de Hanabi brincava um brilho maroto enquanto que os olhos semelhantes de Hinata estavam arregalados, refletindo perplexidade.— Sei que parece esquisito e até impossível, mas pode dar certo! Aliás, tenho certeza de que dará certo!

— Quer dizer que eu devo ir para Mobile no seu lugar?!— Hinata engoliu em seco.

— É tão simples! Como não pensamos nisso antes? A tia dele não me conhece, não tem a menor idéia de como eu sou. Só sabe que eu tenho cabelos castanhos e você também tem cabelo escuro. Ela não virá para o casamento e é por isso que Sasuke quer que eu vá conhecê-la agora. Portanto, não há problema quanto a isso.

— Mas Sasuke vai ficar sabendo do filme! Isso você não vai poder esconder dele!

— Ah, depois eu digo para ele que fiz o filme antes de ficarmos noivos. Você sabe quanto demora para filmar, montar e distribuir para os cinemas. Quando ele descobrir nós já estaremos casados e isso não terá mais importância, porque será algo do meu passado. Por favor, Hinata, você precisa fazer isso... se não por mim, pelo menos por papai!

Hinata sabia que ia ceder, render-se mais uma vez ao hábito de sacrificar seus desejos e opiniões para mostrar sua gratidão às pessoas que a tinham criado. Contudo a perspectiva de fazer o papel da prima era assustadora e ela ainda tentou uma fraca objeção.

— E se eu esquecer de responder quando a tia dele me chamar de Hanabi? E se eu der algum fora?

— Diga a ela que seu apelido é Hinata! Ela vai acreditar, afinal não é muito diferente de Hanabi.

— Não estou gostando nada dessa história...

— Você tem alguma sugestão melhor?!

Como não tinha, ela ficou calada e, embora não dissesse que concordava, Hanabi tomou o silêncio dela como consentimento e não perdeu tempo em pôr o plano em ação. Enquanto arrumavam as malas de Hinata, Hanabi tentava convencer sua prima de que seria divertido, seria uma aventura. Mas Hinata ficava gelada só de pensar no que aconteceria quando Sasuke descobrisse, e rezava para que ele não descobrisse.

Mais uma? Hahaha

Essa história é "O noivo da outra" de Janet Dailey, espero que gostem! Obrigada!